When we were young escrita por Bibela


Capítulo 2
Parte II




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— Não tenho nada pra conversar com você, Harry - cuspi as palavras no tom mais rude que consegui - deixa de ser ridículo e abre logo essa porta.

— Não, nós vamos conversar - ele me olhou decidido, sem se deixar abalar pela minha grosseria.

— E você quer conversar o que? - eu levantei a voz, já bastante irritada - quer me contar como você superou nossa separação e amou outra pessoa tão rápido? Ou melhor, quer me contar como foi lindo seu casamento e como vocês são felizes? - eu olhei pra ele e encontrei um Harry surpreso, me olhando com a sobrancelha arqueada - antes de você jogar sua vida perfeita na minha cara, deixa eu te contar como foi para mim durante esses malditos anos – eu disse dando um passo em sua direção.

— Gin, não faz assim... - ele tentou encurtar nossa distância, mas eu voltei um passo para trás.

— Que droga, já falei pra não me chamar assim! - eu gritei enquanto joguei os braços para o alto - foi um inferno Harry, um inferno! Você levou tudo de bom embora com você - eu suspirei e me aproximei dele, parando a poucos centímetros do seu rosto - me mudei da casa dos meus pais e me afastei da minha família, porque não eu conseguia ficar em um lugar onde tudo me lembrava de você – cega de raiva, eu espalmei as mãos em seu peito em um gesto violento e o empurrei pra trás fazendo com que ele batesse as costas no balcão atrás de si.

— Ginny me escuta, por favor? - ele tentava a todo custo manter a calma enquanto segurava meus pulsos com as duas mãos, me impedindo de me mexer e me fazendo olhar pra si.

— E qual vai ser o assunto, Harry? Seu casamento feliz e realizado? - eu sorri irônica, sem desviar os olhos - ou melhor, vai me contar como você me esqueceu tão depressa?

— Eu perdi um filho, Ginny, você consegue imaginar o que é isso? - ele soltou meus pulsos e se afastou de mim, sentando na poltrona ao fundo do cômodo - meu casamento foi bom, mas nada comparado aos anos que vivi aqui com você, e muito menos o conto de fadas que você imagina que foi - ele afundou o rosto nas mãos, evitando me olhar - não estava tudo tão bem, mas tínhamos nos acertado e tentamos ser felizes, fazendo planos para o bebê, até que em uma noite a Cho passou mal e quando chegamos ao hospital ela já estava perdendo nosso bebê.

Ele fez uma pausa e olhou de volta pra mim. Os olhos marejados dele despertaram em mim uma vontade imensa de deixar toda essa raiva de lado e abraçá-lo forte, dizer que essa dor logo iria passar, no entanto, eu apenas olhei para os meus pés e permaneci em silêncio, eu não sabia o que dizer diante dessa revelação que me pegou de surpresa. Percebendo que eu não ia dizer nada, ele se levantou e parou a poucos centímetros de mim, continuando seu relato.

— Foi terrível, Ginny, você não imagina o quanto dói perder um filho - ele enxugou uma lágrima que não conseguiu controlar - A Cho não soube lidar com a perda do bebê, nosso relacionamento ficou ainda mais complicado e decidimos que o melhor seria o divórcio – ele estava visivelmente desinquieto, bagunçando o cabelo o tempo todo.

— Sinto muito pelo seu filho - eu o encarei e senti que apesar de toda tristeza que ele estava sentimento, seu olhar de desejo ainda me fitava, me fazendo queimar por dentro.

— Sei que foi difícil pra você - ele me encarou com ternura e voltou a se sentar onde estava - tive notícias suas durante esses seis anos, Gin – eu me aproximei de onde ele estava sentado, permitindo que meus joelhos encostassem em suas pernas. Meu corpo todo pulsava ao sentir seu calor perto de mim e então eu respirei fundo - só não pense que minha vida foi maravilhosa, porque não foi.

— Não foi o que me pareceu - eu dei dois passos pra trás e ele se levantou, eliminando a distância que eu tinha colocado entre nós.

— Quando você estiver de coração aberto, vou adorar te contar toda a história - ele afagou meu rosto e eu não consegui segurar o suspiro com seu toque em mim depois de tantos anos longe - agora tem uma coisa que...

— Você fala demais Harry - eu disse, eliminando a pouca distância existente entre nós enquanto grudava meus lábios nos seus.

Eu não raciocinei sobre o que estava fazendo, perdi a consciência assim que ele encostou a mão inocentemente no rosto em uma demonstração de carinho e deixei que o desejo e a saudade que eu sentia me consumisse por completo.

Harry respondeu ao meu beijo imediatamente. Assim que encostei meus lábios nos dele pude sentir seus braços ao redor na minha cintura, me apertando contra si ao mesmo tempo em que minhas mãos foram agarrar seus cabelos. O beijo logo se tornou faminto e intenso, e não queríamos permitir nenhuma distância entre nós, fazendo com que nossos corpos estivessem cada vez mais grudados um no outro.

Nos poucos segundos que consegui raciocinar, pensei que esse beijo não estava nem perto dos que trocávamos quando éramos jovens, e percebi que o Harry deve ter amadurecido muito sexualmente falando. Esse pensamento me encheu de expectativa e fez meu desejo triplicar de tamanho.

Fomos nos afastando, sem desgrudar nossa bocas, e quando percebi o Harry estava sentado na poltrona e eu encaixada em seu colo com a pernas flexionadas ao redor da sua cintura. Nos separados apenas pra olhar a posição em que estávamos, e pude sentir o Harry ofegar ao pressionar ainda mais meu corpo contra o dele, para logo depois infiltrar sua língua sem nenhuma delicadeza na minha boca, explorando cada parte que ele já conhecia tão bem.

Minhas mãos adentraram sua camisa, arranhando seu peito sem nenhum pudor, e arrancando dele um sonoro gemido que pareceu uma música aos meus ouvidos assim que ele desgrudou sua boca da minha.

Harry desceu os beijos pelo meu pescoço enquanto eu ofegava e abria o botão da sua calça jeans. Ele intensificou chupadas e mordidas em meu pescoço, enquanto eu me pressionava ainda mais sobre seu quadril, sentindo sua ereção mostrar que ele já não estava mais sob o controle do próprio corpo.

Me inclinei em sua direção e comecei a distribuir beijos em seu pescoço e na linha do seu queixo, contornando sua boca enquanto ele apertava sem nenhuma delicadeza minha bunda, subindo as mãos com fortes apertões pelas minhas contas. Estávamos ofegantes e nosso olhar transparecia todo desejo que sentíamos um pelo outro nesse momento.

Voltei a atacar sua boca novamente, e senti o Harry aprofundar o nosso beijo enquanto enfiava a mão por dentro da minha camisa, apertando meus seios sem nenhuma delicadeza.

O gesto dele, tocando minha pele num local tão sensível e sem nenhuma barreira, me fez interromper o beijo e pular de cima do colo dele no mesmo instante, o coração acelerado e os olhos arregalados. Harry levantou e me olhou ofegante enquanto fechava o botão da calça jeans e passava às mãos pelos cabelos, tentando arrumá-los. Evitei a todo custo olhar pra ele enquanto arrumava minha roupa no lugar e tentava limpar a mancha de batom que certamente estaria no meu rosto, devido à intensidade dos nossos beijos.

Harry se encostou ao balcão de frente pra mim, e mesmo sem olhar pra ele eu podia sentir o sorriso de satisfação estampado no seu rosto, enquanto eu me xingava mentalmente por ter caído em tentação. Quando me senti segura o suficiente, olhei pra ele, mas encontrar seu olhar de satisfação e desejo em um sorriso de canto fez tudo dentro de mim sair do lugar de novo.

— Me passa chave da porta - fui direta e estendi a mão em sua direção, sem demonstrar nenhuma reação, esperando que ele me devolvesse a chave para sair daquele cubículo onde o ar exalava desejo, mas o que recebi foram os braços do Harry ao redor da minha cintura, me grudando contra seu corpo de novo.

— Eu tenho que ir embora, Harry – eu disse, tentando me soltar de seus braços, que se prendiam cada vez mais forte ao redor da minha cintura.

— Não precisa, não – ele exibiu um sorriso safado – agora é minha vez – ele disse enquanto me arrastava para o lado, invertendo nossas posições e me prensando entre ele e a parede.

Antes que eu pudesse questionar alguma coisa, Harry tomou meus lábios para si em um beijo faminto e voraz, ao mesmo em que se encostava cada vez mais no meu corpo, fazendo com que sua ereção roçasse com vontade o meio das minhas pernas, o que me fez soltar um gemido entre o beijo, sem que eu pudesse controlar.

Desistindo de resistir, deixei minhas mãos escorregarem das suas costas e pararem em sua bunda, apertando com vontade, ele liberou meus lábios e atacou meu pescoço, distribuindo beijos que desceram para o meu colo, fazendo com que cada parte do meu corpo se arrepiasse de desejo.

Infiltrei minhas mãos por debaixo de sua camisa e arranhei suas costas sem nenhuma delicadeza, enquanto o sentia abrir o botão da minha calça jeans e escorregar sua mão para dentro, alisando o fino tecido da minha calcinha rendada. Tentei me afastar, mas com a mão livre ele pressionou minha cintura contra parede e voltou a me beijar intensamente, sua língua invadindo minha boca e fazendo com que fosse difícil respirar.

O senti sorrir entre o beijo quando notou minha calcinha molhada sob o toque dos seus dedos, instintivamente desci minha mão por seu corpo e apertei firme sua ereção, me assustando com o volume que encontrei ali. Harry voltou a beijar meu pescoço enquanto acariciava o meio das pernas, gemendo com os apertões que eu destinava à sua parte mais sensível, já novamente visível sob a calça jeans.

Perdi a noção de quanto tempo ficamos nos beijando loucamente e fazendo carícias mais íntimas um no outro, eu não tinha forças para afastá-lo de mim. Suas mãos me apertando nos lugares certos me parecia tão errado, mas ao mesmo tempo tão gostoso, que me entreguei sem pensar ao nosso momento de prazer.

Harry me beijava como se sua vida dependesse disso, distribuindo mordidas nos meus lábios, minha orelha e meu pescoço, estávamos os dois ofegantes demais. Subi minha mão que estava arranhando suas costas para dar leves puxões em seu cabelo, enquanto minha outra mão permanecia dentro de sua roupa, acariciando seu membro. Harry parou de me beijar com esse gesto inesperado e me olhou intensamente, um sorriso extremamente sexy brotou nos seus lábios enquanto ele me direcionava aquele olhar que me fazia perder a noção de onde eu estava.

Ele continuou com uma carícia tão gostosa no meio das minhas pernas, por cima da calcinha, que eu me vi obrigada a retribuir o tesão que ele estava me proporcionando, e sem pensar muito, enfiei minha mão dentro da sua cueca e o massageei em um movimento de vai e vem, lento e torturante, mas ele retribuiu minha investida, acelerando o movimento de sua mão em mim e intensificando nosso beijo.

Ao sentir meu toque se intensificar, sem nenhuma barreira, Harry parou de me beijar e me olhou assustado, se esforçando para controlar a respiração ofegante.

— A gente precisa conversar, Gin - ele me disse mais uma vez, tentando esconder o constrangimento diante da situação em que nos encontrávamos, sem desgrudar seu corpo do meu.

Eu não queria conversar, minha cabeça não queria pensar em nada que não fosse as mãos dele apertando meu corpo e sua boca na minha. Se isso era um impulso, seria um impulso consciente, porque cada parte do meu corpo deseja que esse momento fosse consumido por completo.

— A única coisa que a gente precisa é terminar isso, Harry - ele abriu a boca para me responder, mas antes que as palavras saíssem grudei minha boca na dele, empurrando-o para se sentar de novo na poltrona no fundo do cômodo.

Harry não disse nada, apenas me olhou com os olhos ardendo de desejo enquanto eu me livrava da minha calça e calcinha, para logo depois abaixar sua calça e cueca de uma vez só e me sentar em seu colo.

Ele continuou não dizendo nada, palavras não eram necessárias nesse momento, então grudei minha boca na dele em um beijo faminto, me encaixando sobre seu membro e sentindo-o entrar completamente dentro de mim.

Levantei os olhos e encontrei um Harry sedento de desejo, exibindo um sorriso de lado, irresistivelmente sexy. O que encontrei quando nos encaramos foi o jovem Harry, que me desejou tantas e tantas vezes. Sem adiar mais o momento, comecei a me movimentar em cima dele, sentindo sua mão pressionar ainda mais minha bunda contra seu quadril.

Aumentei a intensidade dos meus movimentos, arrancando gemidos de nós dois. Harry enroscou sua mão no meu cabelo em um puxão sutilmente sexy, mordendo meu lábio inferior para logo em seguido grudar nossas bocas em um beijo quente, cheio de malícia e desejo.

Intensifiquei um pouco mais as investidas sobre ele, recebendo um apertão delicioso nos seios, por baixo do sutiã, em que momento as mãos do Harry foram parar dentro da minha blusa eu não sabia dizer. Nos movimentamos em um ritmo delirante e intenso, querendo proporcionar o maior prazer possível para o outro, e minutos depois senti meu corpo amolecer quando meu ápice chegou, acompanhado instantes depois pelo do Harry.

Sem forças para sair de cima dele, encostei minha cabeça em seu peito, tentando normalizar minha respiração. Senti que Harry apertou minha bunda em seguida, enquanto depositava um beijo carinhoso na minha testa e subiu a mão para acariciar meu cabelo, em um gesto nítido de carinho.

Assim que meu coração voltou a bater em um ritmo aceitável e minha respiração se normalizou, saí de cima de dele, vesti minhas roupas jogadas no chão e dei uma ajeitada no cabelo, encarando o reflexo pelo vidro da cristaleira do meu pai. Quando olhei em sua direção, ele já estava devidamente vestido, encostado no balcão de frente pra mim e me olhando de um jeito diferente, era como se ele estivesse surpreso por tudo que acabou de acontecer.

No momento em que estávamos os dois entregues às nossas vontades, eu desejei poder esquecer tudo que aconteceu e permanecer sempre em seus braços, no entanto certas feridas não são cicatrizadas com um sexo maravilhoso.

Ele sorriu pra mim e continuou encostado da mesma forma descontraída, esperando que eu começasse a falar. Não sei se foi coisa da minha cabeça, mas senti que ele direcionava a mim um olhar apaixonado. Tentei agir como se nada tivesse acontecido, dei dois passos em sua direção e estendi o braço em sua direção mais uma vez.

— Me dá a chave, por favor? – fiquei com o braço estendido, olhando pra ele como se nada tivesse acontecido.

— Gin, você vai mesmo fingir que nada aconteceu aqui? – ele arqueou a sobrancelha enquanto me questionava.

— Me devolve a porra dessa chave logo, Harry – eu já estava ficando sem paciência. Não queria ter conversa nenhuma, tínhamos satisfeito nosso desejo e isso já era o suficiente.

— A gente precisa conversar – ele me olhou sério e eu percebi que não tinha intenção de me devolver a chave. Me aproximei e, num movimento repentino, enfiei a mão no bolso que estava a chave e tirei de lá de dentro.

— Prontinho – segurei-a na sua frente e dei um sorriso de vitória, me virando para sair daquela maldita adega logo.

—Você não vai sair daqui até a gente conversar - ele segurou meu braço e me virou de frente para ele – você não pode ignorar o que acabou de acontecer aqui - ele estava visivelmente inconformado com minha atitude.

— Isso foi uma coisa sem importância, Harry – forcei um sorriso – vai me dizer que você nunca se divertiu assim antes? - arqueei a sobrancelha, mostrando para ele que não era nada demais.

— Isso não foi uma coisa sem importância, você sabe disso – ele soltou meu braço e sorriu – a gente ainda se ama e o que aconteceu aqui foi a prova disso - ele sorriu vitorioso.

— Cala a boca, Harry! Isso não fez diferença há seis anos, por que faria agora? - eu gritei irritada – quem você pensa que é para exigir alguma coisa de mim? Você vai embora fazer a droga da sua faculdade de medicina em outro país, se casa, quase tem um filho, volta divorciado depois de seis anos e acha que é fácil assim?

— Gin, deixa eu te explicar - ele se aproximou de mim e tentou me puxar pra um abraço, mas eu me afastei.

— Eu não quero saber de nada Harry, nada - gritei outra vez - não sou mais a menininha boba e apaixonada que você deixou para trás - eu cuspi sem piedade e ele me olhou como se pedisse desculpas - Isso tudo que aconteceu aqui foi porque eu quis, você quis, para matar nosso desejo, nada mais - essas palavras o atingiram em cheio, porque o olhar de tristeza que ele me direcionou o entregou - nunca mais chega perto de mim - disse apontando o dedo pra ele e virei as costas, abri a porta e o deixei ali sozinho, tão perdido quanto eu estava.

Saí daquela adega mais desorientada do que entrei, mas o Harry não precisava saber disso. Estar nos braços dele outra vez foi como ir ao céu e voltar ao inferno, foi intenso e pareceu que nunca houve distância nenhuma entre nós. Eu virei mulher e ele virou homem, amadurecemos e nossa vida deu não sei quantas volta em seis anos, mas no momento em que estivemos juntos nos braços um do outro, pareceu que não havia passado tempo nenhum. Ainda éramos os mesmos jovens impulsionados por um louco amor.

Eu não sabia o que pensar, muito menos o que sentir, mas tinha certeza que não queria ter a conversa que ele tanto insistiu pra ter. Seja lá o que tenha acontecido na vida dele, não me dizia respeito mais há muito tempo. Eu não queria mais nenhuma explicação, seis anos e muita vida passou, ele foi embora e eu fiquei aqui, demorei tempo demais para juntar meus pedaços e reconstruir minha vida para deixá-lo levar tudo embora outra vez.

O que aconteceu entre nós foi puramente carnal, um desejo reprimido por anos que foi saciado e foi maravilhoso, mas acabou ali. Dizer que não senti nada, que ele não me deixava mais com as pernas bambas, seria uma grande mentira, mas eu estava magoada demais para ouvir o que quer que seja que ele tenha para falar.

Eu estava decidida a deixar tudo o que houve entre nós dois enterrado dentro daquela adega, minha vida estava organizada demais para eu permitir que ele tirasse tudo do lugar outra vez. Eu morava em outra cidade agora, estaria longe e a presença dele não ia me incomodar mais depois que eu fosse pra casa no fim daquele dia.

Claro que eu ainda amava o Harry, nunca deixei de amar, mas eu não queria que ele fosse parte da minha vida outra vez, ele tinha me machucado demais e isso eu não ia conseguir esquecer tão fácil.

Assim que coloquei os pés na sala de jantar, encontrei com o Ron e a Mione vindo em minha direção, de mãos dadas e com um sorriso cúmplice no rosto.

— Você viu o Harry, Gin? - meu irmão me questionou enquanto enlaçou minha cunhada em um abraço carinhoso.

— E porque eu saberia dele, Ron? - rolei os olhos em sua direção.

— Porque vocês dois desapareceram faz um tempo já - ele soltou uma gargalhada alta demais, mas ganhou da minha cunhada um cutucão na costela.

— Acho que o vi ali na adega - sorriso abertamente em sua direção - vou procurar a mamãe - disse enquanto passava pelos dois, indo em direção ao jardim. Eu percebi o olhar desconfiado dos dois, mas preferi ignorar.

Encontrei minha mãe conversando animadamente com a Lily, em uma das mesas dispostas em nosso jardim, e me juntei a elas em uma conversa animada, explicando os objetivos da minha pesquisa com crianças portadoras de microcefalia, que teria início na semana que vem.

Pelo que me pareceu um tempo muito longo depois, o Harry e o Ron adentraram no jardim e acompanharam meu pai e o James em um conversa animada sobre futebol, de onde eu estava conseguia ouvir as apostas e o dia que marcaram para assistirem juntos ao próximo jogo.

Harry evitava olhar em minha direção o tempo todo e isso estava engraçado, ele tentava fingir que nada havia acontecido, mas os olhos dele me procurando por todo canto que eu ia o denunciavam. Meu humor mudou drasticamente e tive certeza que esse dia de ação de graças foi o mais agitado que eu tive em muitos anos.

Quando o sol já apresentava sinais de que estava se pondo, fui em direção ao meu quarto pegar minhas coisas para ir embora, mas no meio caminho ouvi a conversa do Ron, Harry e Mione e parei para ouvir.

— Porque sua irmã ta agindo desse jeito, Ron? Já tentei não sei quantas vezes conversar com ela hoje - o Harry se lamentava para o meu irmão.

— Você achou mesmo que a Ginny ia facilitar alguma coisa para você, Harry?- minha cunhada o questionou, e antes que ele pudesse dar uma resposta passei por eles sem dizer nada e continuei meu caminho.

Eles ficaram em completo silêncio quando eu passei, e enquanto subia as escadas consegui ouvir meu irmão dizer para ele me dar um tempo, fiz uma nota mental para me lembrar de agradecer ao Ron por isso depois. Peguei minhas coisas e, assim que voltei à sala, encontrei meus pais, meu irmão, minha cunhada, James, Lily e Harry reunidos, procurei agir o mais naturalmente possível.

— Mãe, eu já estou indo - disse enquanto me encaminhava para me despedir dela.

— Está escurecendo, Ginny, fica para ir amanhã - ela me prendeu em seu abraço.

— Não posso, mãe, trabalho muito cedo amanhã - aproveitei a deixa e abracei meu pai e meu irmão também.

— Dirija devagar, pimenta - Ron me disse assim que me soltou de seu abraço.

Me despedi de todos na sala com a promessa de voltar logo. Harry me olhava ansioso, pois ele tinha ficado sem um abraço de despedida, tive que me esforçar para não rir da cena que se desbravava na minha frente, ele com certeza não estava sabendo lidar com a situação.

— Tchau, Harry - apenas acenei para ele e me virei em direção à porta. Todos na sala tentaram fingir que não tinha nenhum desconforto no ar.

— Gin, espera aí - ele me chamou e eu o olhei - vamos conversar - ele se encaminhou para perto de onde eu estava.

Eu apenas rolei os olhos e continuei meu caminho. Ouvi a risada contida do Ron e minha cunhada, o repreendendo, e tive vontade de rir junto. Harry, não satisfeito, veio atrás de mim, me chamando até eu chegar ao meu carro.

— Harry, pelo amor de Deus, isso está ficando chato - eu disse enquanto destrancava meu carro.

— Ginny, são só cinco minutos - ele me olhava impaciente.

— Eu não me interesso por nada que você tenha para me falar, Harry - afirmei enquanto jogava minha bolsa no banco do carona - tchau! - entrei no carro e bati a porta.

— Gin, espera aí... - antes ele pudesse dizer mais alguma coisa, dei partida no carro e o deixei parado sozinho no meio da rua, sem nenhuma resposta.

Voltei pra casa no fim do dia exausta demais pra pensar em alguma coisa, eu só queria deitar a cabeça no meu travesseiro e aquietar a confusão em que estava minha cabeça. Depois de tomar um banho rápido, me joguei na minha cama e adormeci instantes depois, dormi um sono tranquilo, e para minha surpresa sem sonhar com aqueles olhos verdes que me furam a alma.

Os dias que se seguiram foram os habituais da minha rotina e não tive nenhuma notícia do Harry. Tive que fazer um esforço enorme pra não ligar para o Ron e matar minha curiosidade sobre o que ele ia fazer da vida agora que tinha voltado pra casa. Como neguei o pedido dele diversas vezes sobre me explicar tudo que aconteceu, seria bastante contraditório perguntar isso ao meu irmão e eu tinha certeza que ele não me contaria nada, pois segundo ele já somos grandinhos o suficiente pra resolver nossos problemas sozinhos.

Os últimos preparativos para o início da minha pesquisa consumiu todas as minhas energias, e quando chegava em casa por volta das oito da noite, eu só conseguia pensar em dormir. Essa agitação toda me impediu de pensar no Harry e eu fiquei agradecida por isso, não me sentia preparada pra trazer esse assunto a tona para a minha vida ainda.

No entanto, conhecendo o Harry como eu conhecia, eu tinha certeza que ele não ia aceitar esse meu silêncio tão fácil, ele nunca foi uma pessoa que desiste rápido dos seus objetivos, e a prova disso chegou no sábado de manhã.

Acordei perto da hora do almoço e resolvi ir ao mercado comprar umas coisas que estavam faltando em casa, eu não tinha nada além de leite e bolacha no armário e almoçar fast food mais uma vez essa semana estava fora de cogitação. Me troquei rápido e deixei a cama para ser arrumada quando voltasse. Peguei celular sobre o criado mudo e me deparei com uma mensagem de um número desconhecido.

"Pedi seu número pro Ron, não briga com ele! Precisamos conversar Gin, deixa de ser cabeça dura e me escuta, por favor? Harry P."

Eu estagnei diante da mensagem, embora já esperasse que isso fosse acontecer em algum momento. Pensar do Harry fez minhas pernas ficarem bambas e uma saudade imensa me dominar, depois de muito tempo sem sentir falta dele foi impossível controlar o turbilhão de lembranças que me dominaram. Saber que ele está tão perto e tão longe ao mesmo tempo me fez ser tomada por uma enxurrada de lágrimas que eu nem sabia de onde vinha.

Era muita coisa para assimilar, muito sentimento em jogo e duas vidas que se perderam no decorrer dos anos. Eu amava o Harry desde os nove anos de idade e isso não tinha mudado no decorrer desses quinze anos. Estar nos braços dele depois de tanto tempo longe foi maravilhoso, pareceu que nunca existiu distância entre nós, ainda nos conhecíamos da mesma maneira, mas eu estava magoada demais para sentir qualquer outra coisa além do prazer que ele me proporcionou.

Eu não sabia se queria ouvir o que ele tinha a me dizer, não sabia se a mágoa que sentia do Harry seria dissipada de mim algum dia.

Me apaixonei pelo Harry quando ainda era uma criança, nossos pais são amigos desde adolescência e crescemos juntos nos considerando da mesma família como sempre fomos ensinados pelos nossos pais. O Harry e o Ron são melhores amigos desde criança e essa convivência constante com meu irmão fez com o que eu estivesse sempre perto dele e inevitavelmente, acabei me apaixonando pelo garoto que sempre me considerou uma irmã mais nova. Fui invisível aos seus olhos durante muitos anos, mas quando Harry me beijou pela primeira vez foi o dia mais feliz da minha vida. Começamos a namorar quando eu tinha quinze e ele dezessete anos, nossos pais ficaram realizados com nosso namoro e empolgados para futuramente compartilharem os mesmos netinhos e terem um vínculo eterno em comum.

Tivemos um relacionamento maravilhoso, compartilhamos tantas experiências únicas, éramos amigos e parceiros. Sonhávamos em casar, ter três filhos e viver perto dos nossos pais. O Harry sonhava em ser médico oncologista e foi essa ambição que trouxe nossa separação.

Estávamos felizes e nosso namoro estava na melhor fase possível, até que o Harry recebeu sua carta de aprovação em Harvard, a melhor faculdade de medicina do mundo nos Estados Unidos, a milhares quilômetros de distância de mim.

Claro que fiquei feliz, sonhamos muito com essa conquista dele, mas pensei que ele fosse querer estudar aqui perto de mim e não do outro lado do mundo. O dia que ele veio em casa me contar que ia aceitar a bolsa, foi o pior dia da minha vida, todas minhas esperanças, meus sonhos e minha felicidade foram arrancados de mim de uma vez só. Eu não conseguia entender, o Harry tinha me prometido tantas coisa e porque agora queria me deixar sozinha por não sei quantos anos? Nossa vida estava aqui, nossa família estava aqui e eu nem tinha terminado o colegial ainda. Ele propôs namorar a distância, mas eu não aceitei. Seria mais doloroso ainda esperar por um namorado que nunca chegaria, se ele queria mesmo ir embora, então iria embora da minha vida também. Foi a decisão mais difícil que já tomei, mas foi a coisa certa pra nós dois na época - pelo menos pra mim.

Eu fiquei destruída, o Harry ficou destruído e nossa família não se aguentava de tristeza. Duas semanas depois ele foi embora e eu sentia como se tivessem me tirado o chão. Foi horrível, eu não conseguia comer, não parava de chorar, não queria ver o James e a Lily pra não me lembrar dele, não queria dormir no meu quarto mais. Eu fiquei só o pó, emagreci oito quilos e achei que não ia conseguir superar essa tristeza que me dominava, mas a vida veio e mostrou que sou mais forte do que imaginava.

Assim que terminei o colegial, fui aprovada em fisioterapia na King's College of London, em Londres, e resolvi sair de casa. Morar sozinha foi o maior desafio da minha vida e viver longe dos meus pais e meu irmão foi a coisa mais difícil que já fiz, mas eu precisava dar esse passo para me recuperar. Precisava ficar longe daquela cidade, daquela casa e de todas aquelas pessoas cheias de lembranças para poder ser feliz de novo.

Foi quase impossível no começo, mas depois de um tempo se tornou suportável. Eu não me lembrava mais do Harry com tanta frequência e os horários apertados fizeram com que eu me sentisse viva de novo. Percebi que longe de casa eu me sentia quase inteira outra vez e com isso me afastei da minha família.

O tempo foi passando, fui conhecendo gente nova, me envolvi com outros caras, a vida foi seguindo e eu conseguir continuar. Eu não era uma pessoa completa e realizada, mas estava estável e feliz, e isso era o suficiente para mim.

Quando me formei consegui um emprego excelente, o que me permitiu comprar meu apartamento, meu carro e garantir minha completa independência. Minha carreira profissional era mais bem sucedida do que eu um dia almejei e, depois de seis anos, eu estava iniciando meu projeto de mestrado em uma das melhores universidades do país.

Eu mantinha as lembranças da minha vida com Harry guardadas e ainda me lembrava dele em alguns dias de nostalgia, mas não sentia mais sua falta, a mágoa que eu tinha não me permitia sentir nada além da decepção por ele ter mudados os nossos planos sem pensar no quanto isso me afetaria. A última vez que eu tinha chorado por ele foi quando recebi a notícia de que iria se casar. Saber que ele havia seguido em frente enquanto eu nunca tinha conseguido manter um relacionamento sério ou me apaixonar durante todos esses anos me afetou demais, e depois desse dia eu passei a sentir raiva também.

Tudo ia bem, minha vida estava nos eixos até eu encontrá-lo na casa dos meus pais naquele maldito feriados de ação de graças, e ele bagunçar tudo dentro de mim outra vez. Eu não esperava me encontrar com ele na minha casa, nunca imaginei que ele fosse voltar para a casa dos pais sozinho e com uma história tão conturbada na bagagem.

A vida dele não deve ter sido fácil esse tempo todo, mas isso não me dizia respeito mais. Claro que senti coisas estando perto dele, compartilhamos um momento de total entrega e intimidade, meu coração bateu forte por ele mais uma vez, no entanto isso tudo era muito pouco perto da mágoa que nutri por ele todos esses anos. Eu ainda não me sentia preparada para estar com ele e esclarecer todos os erros que cometemos e que bagunçaram toda nossa vida.

Depois do que me pareceu uma eternidade relembrando o passado e derramando as lágrimas presas há muito tempo, limpei meu rosto e voltei para a programação normal do meu dia. Se eu queria que ele continuasse fora da minha vida eu deveria começar ignorando sua mensagem, e foi isso que fiz.

Me encaminhei ao banheiro para limpar o rosto vermelho e, assim que me recompus, peguei a chave do carro e saí para a manhã gelada, a fim de começar o meu dia. Se o Harry queria me dar uma explicação, ele teria que se esforçar muito mais do que enviar essa mísera mensagem para me convencer a ouvi-lo.

Os dias transcorreram no mesmo ritmo de costume, eu trabalhava, estudava e chegava tão esgotada à noite em casa que mal conseguia tomar banho e jantar antes de adormecer. No entanto, dessa vez nem mesmo minha vida agitada me impediu de pensar no Harry durante a semana, a curiosidade sobre o que ele estaria fazendo, se estava trabalhando e onde estava morando borbulhavam minha cabeça várias vezes durante o dia, e a conversa que ele tanto queria ter comigo começou a me deixar intrigada.

Na terça-feira eu deixei a curiosidade me vencer e resolvi ligar para o Ron, se o Harry tinha o direito de pedir meu telefone para ele, eu também teria a algumas informações, seria mais que justo.

— Alô? - meu irmão atendeu no segundo toque, provavelmente estranhando minha ligação fora de hora.

—  Oi Ron - eu tentei soar o menos ansiosa possível - está podendo falar?

—Aconteceu alguma coisa? - ele me perguntou com a voz preocupada, e não pude deixar de achar carinhosa essa preocupação toda dele comigo.

— Não, está tudo bem - eu sorri.

— Ah, que bom - ele suspirou aliviado - você nunca me liga essas horas, achei que tivesse acontecido algo.

— Não se preocupe, está tudo em ordem - eu fiz uma pausa procurando uma forma sutil de começar - só queria te perguntar uma coisa.

— É sobre o Harry, não é?! - ele sorria no final da frase, e eu podia imaginar as sobrancelhas arqueadas e o ar de superioridade que ele com certeza estava ostentando do outro lado da linha.

— Você é um insuportável sabia?! - eu não consegui segurar e gargalhei junto com ele - já que você passou meu telefone pra ele, acho que também tenho direito a umas perguntas.

— Só passei seu número porque tinha certeza de que era isso que você queria – ele suspirou - como foi a conversa?

— Não teve conversa e você sabe muito bem disso, Ron - eu disse no meu melhor tom acusador - mas vamos ao que interessa - respirei fundo antes de começar - ele está trabalhando?

— Vai ser um interrogatório então? - ele sorriu - vamos lá - ele suspirou - Harry começou na segunda-feira a residência no hospital de referência no centro de Londres, e antes que você pergunte, sim, é na oncologia e ele está muito realizado - ouvi seu sorriso e percebi que ele estava visivelmente orgulhoso do amigo.

— Não ia perguntar como ele se sente - tentei parecer desinteressada

— Considere como um bônus - ele riu de novo e percebi que estava se divertindo à minha custa - próxima.

— Ele está morando com a Lily e o James? - me esforcei pra não parecer interessada demais.

— Não - ele foi objetivo, e depois de um tempo vendo que não falaria mais nada espontaneamente, continuei.

— Onde então?

— É tão bom te deixar curiosa - ele gargalhou enquanto disparei vários insultos contra ele - ele alugou um loft perto do hospital, posso te dar o endereço se quiser - ele soava extremamente irônico.

— Obrigada Ronald, era tudo que eu queria saber - não me esforcei para disfarçar minha irritação com ele tripudiando em cima de mim.

— Só mais uma coisa, Gin - percebi que ele estava escolhendo as palavras para usar - essa residência do Harry é de três meses só, então durante esse tempo ele vai resolver se fica aqui definitivamente ou se volta pros Estados Unidos.

Então era isso, ele ainda não tinha resolvido nada, não sabia o que fazer. Não consegui deixar de pensar se essa decisão em aberto tinha alguma coisa relacionada com a conversa que ele insistia em ter comigo, e uma pontada de esperança quis brotar em mim.

— Gin? - meu irmão me chamou, e percebi que já fazia vários segundos que eu estava em silêncio.

— Oi - respondi sem alongar o assunto, eu não teria muitas explicações para dar.

— Faz alguma coisa antes que seja tarde demais outra vez - ele me interrompeu antes que eu argumentasse - e não precisa me responder - ele sorriu - preciso desligar agora, até mais Gin, beijos.

Eu não consegui me despedir porque ele desligou o celular logo em seguida. O Harry tinha uma decisão a tomar e isso mais uma vez me embrulhou o estômago, por mais que eu sentisse uma boba esperança de que dessa vez pudesse ser diferente, o medo de ser deixada pra trás outra vez me paralisou e resolvi não fazer nada. Se ele quer que as coisas sejam diferentes dessa vez, ele encontraria uma forma de vir até mim, afinal quem precisa se redimir é ele.

Com esse pensamento, terminei minhas atividade do dia e, como em todos os anteriores, me joguei na cama e adormeci antes de conseguir atualizar minhas redes sociais. O fim de semana se arrastou, resumindo-se a pizza, brigadeiro e filmes de romance no Telecine, mas dessa vez tive certa dificuldade em deixar o Harry fora dos meus pensamentos.

A conversa que eu insistia em deixar pendente começou a me assombrar, e a expectativa do que poderia acontecer fazia as malditas borboletas voltarem a dominar meu estômago incansavelmente.


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Notas finais do capítulo

E então, o que vocês acharam da conversa nem um pouco comportada dos dois? Será que a Ginny vai fazer alguma coisa pro Harry ficar? Me contem o que vocês estão achando! Beijos e até o próximo



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