Ela sabia que nem dali ela era, nunca havia visto olhos como aqueles, tão negros que ela mal conseguia distinguir de sua íris, e cabelos azuis. Sua pele tinha um tom azulado como estes, ela com certeza não era dali, poderia ser uma miragem? Ela tinha ficado louca?

A esta altura seu corpo já estava com todos os pelos arrepiados, ela estava plantada no chão e se esquecera de como se mover, não sabia mais os comandos básicos e se perdera em si mesma, até que a estranha garota começou a se mover para mais próxima da porta, prestes a encostar as mãos no vidro a fim de ver melhor...

Então como acordada de um sono profundo e ruim ela agiu o mais rápido que pode, fazendo o feitiço apenas em si mesma esperando funcionar, não entoou e apenas se sentiu desaparecer dali, se sentiu deixando o lugar, sem de fato fechar os olhos ou se concentrar como sempre fazia, estava sem tempo. E esperava ter conseguido, mesmo porque em si mesma era mais fácil.

A menina varreu o ambiente com os olhos, Kaya soava frio e não movia nenhum músculo prestando atenção em tudo tentando absorver melhor, não era uma miragem, não era coisa de sua cabeça, aquela menina estava ali, quem era ela? E como havia chegado ali? Ela vestia uma calça preta grudada em pernas torneadas fortes e moletom grosso com o dobro de seu tamanho também escuro encapuzado, porém estava descalça. Seu rosto era jovem, achava até que mais jovem que ela, parecia mais alta que ela da mesma forma.

— Eu sei que você está ai – ela finalmente falou, sua voz era muito doce para o que aparentava – eu não vou machucar você, preciso de ajuda.

Kaya não se moveu, não falou, permaneceu onde estava ainda observando a estranha menina querendo que ela fosse embora, pensando em chegar ao armário da cozinha, pensando em tudo e ao mesmo tempo em nada. Tudo que havia cogitado fazer caso esse tipo de coisa acontecesse nos últimos dias simplesmente haviam sumido de sua cabeça e ela havia congelado, perdido a fala. E quando viu, ela havia entrado.

A menina abriu a porta devagar sem nenhum esforço, estourando a tranca como se não fosse nada e sem se importar muito com isso, apenas murmurando um “desculpe” e fechando depois atrás de si. Parou onde estava e olhou para todos os lados, passou os olhos por ela e rapidamente desviou, parecia que o feitiço funcionava no fim das contas.

— Eu não vou fazer mal a você, já disse – ela se pronunciou novamente mostrando as mãos como um sinal de paz, mas Kaya podia ver além de uma mochila em suas costas, cintas em suas pernas e coisas em seus bolsos que podiam facilmente ser armas – eu... eu sou Gwen.

Seu coração batia tão rápido no peito que ela tinha impressão que ela poderia escutar de onde estava e estava rindo por dentro, sabia onde ela estava, podia vê-la e estava zoando com a cara dela antes de leva-la.

— Certo, eu vou esperar aqui então – devagar ela tirou a mochila azul marinho das costas e se sentou no chão com as pernas cruzadas, colocando a mochila no colo e apoiando a cabeça nas mãos – você pode aparecer quando quiser, eu não vou embora.

Era extremamente desconfortável e estranho o jeito que isso parecia, ela imaginou milhões de vezes sendo levada, sendo morta, sendo surpreendida, mas isso não havia imaginado em nenhuma de suas paranoias mais loucas. Ficou pensando no que ela queria, e no que deveria fazer, ela não tinha nem certeza de que poderia se mexer e nem se ela não escutaria seus passos.

Decidiu testar antes de se entregar, falando, pelo menos assim teria mais uma arma para caso algo desse errado e poderia fugir dessa maneira.

— Já que você não vai embora poderia começar dizendo de onde você veio – a voz vacilou, e saiu mais rouca do que ela pretendia.

A menina continuou parecendo entediada, brincava com a alça da mochila, e ela não achava que ela seria tão ótima atriz para ignora-la desse jeito, tentou andar. Foi até a frente da menina e sentou sob as pernas dobradas, olhou atentamente para ela, parecia bem mais nova na verdade, tinha traços delicados e parecia cansada, por baixo de todo pano escuro ela tinha um aspecto frágil, como alguém prestes a chorar, como ela.

Afastou o feitiço, sabia que ele funcionava como uma arma extra, estava perto da cozinha e essa era sua casa, ela sabia para onde correr e onde se esconder, e estava se sentindo mais sozinha do que nunca.

Gwen pareceu se assustar quando percebeu sua presença, mas tentou parecer como quem já esperava por aquilo, e de fato Kaya achava que ela sabia, só não sabia se ela esperava por aquilo tão perto dela.