Letras e Vinhos escrita por PriscilaRoza


Capítulo 30
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Eu voltava da consulta com a médica que me atendeu durante toda a minha adolescência. Durante a consulta eu pude sentir o olhar de reprovação, não estava explícito, mas eu conseguia perceber. Ela me disse que eu estava grávida de gêmeos. Não sabia se eram meninos ou meninas, ou os dois, mas ela tinha certeza que eram dois. Por isso minha barriga tinha aparecido tão rápido. Eu sempre fui muito magra, o peso a mais era todo deles. Ela me passou vitaminas e marcou consultas e mais consultas. Eu voltei para casa com o resultado do exame e eu só conseguia focar naquela palavra. Positivo. O resto eu não entendia muito bem. Mas daquilo eu tinha certeza. Era de verdade.
Eu entrei em casa e fui direto para a cozinha comer alguma coisa. Eu na mesma hora senti saudade da comida do acampamento e até dos sucos do Olimpo que eram maravilhosos. Eu decidi começar a fazer o jantar então prendi meu cabelo e coloquei uma música. Piquei os ingredientes e separei. Quando fui me virar para colocar a panela no fogo, eu congelei. Se fosse imaginação ele não estaria daquele jeito. Ele estava lindo, com seu terno preto alinhado e os cabelos caindo no rosto, mas o olhar era triste. Eu quase deixei tudo que estava segurando cair no chão e fiquei sem palavras durante um tempo. Então ele começou a falar.
—Como você me achou aqui? O que você veio fazer aqui?
—Sofia. Eu vim aqui por que você precisa me ouvir. Eu não aguento mais ficar longe de você. Isso não está certo. Eu já vivi muito tempo da minha vida sem você. Me perdoa, eu sei que fui um idiota por deixar Ariadne me beijar aquele dia.
Eu me aproximei dele devagar e parei na sua frente. Coloquei minha mão em seu rosto. Quando eu o senti, sua pele, seu cheiro. Eu sabia que aquilo era real. Nós dois. Sempre foi...amor. Eu toquei o rosto dele e ele suspirou cansado como se finalmente pudesse respirar depois de muito tempo. Eu não queria aquilo pra nós. Eu via em seus olhos que ele sofria tanto quanto eu.
—Me conta o que aconteceu naquele dia.
—Ariadne simplesmente apareceu no nosso quarto. Ela queria voltar comigo por que o marinheiro com quem ela estava a deixou para fugir com outra pessoa. Eu disse a ela que nunca voltaríamos e que eu estava com você. Ela devia ter visto que você estava ali antes de mim. Eu estava com tanta raiva dela. Ela se jogou nos meus braços e me beijou, eu a afastei na hora, mas já era tarde demais. Perdi você.
—Você promete que isso nunca mais irá acontecer?
—Eu prometo, Sofia.
—Nós podemos ser deuses mas nós nunca vamos trair um ao outro. Você promete?
—Sim. Nunca.
—Eu te perdôo.
—Eu te amo, Sofia.
Ele me pegou no colo e me colocou na bancada da cozinha, beijei seu cabelo, sua testa, seus olhos e seus lábios. Eu estava com tanta saudade dele que nem sabia o que fazer primeiro, mas lembrei de uma notícia.
—O seu terno é muito bonito.
—Afrodite que escolheu. Ela me arrumou para eu vir aqui. Tinha que ver como eu estava antes, eu parecia um mendigo.
—Eu não quero ver não, prefiro você assim. Eu tenho uma coisa pra contar pra você.
Ele beijava meu pescoço e de repente ficou parado e me encarou com medo.
—O que foi? Aconteceu alguma coisa com você?
—Na verdade, sim. Mas eu vou ficar bem.
—Me conta Sofia, não gosto desses mistérios.
—Tudo bem então, sem mistérios. Eu estou grávida.
—O que? Grávida?
—Sim. Eu descobri hoje.
—Mas...o que...como que...
—Eu estou com dois meses pelo exame de sangue que eu fiz. E a dois meses atrás aconteceu aquilo tudo. Inclusive aquela noite maravilhosa em Paris.
—Ah Sofia. Deuses, eu não consigo entender, como eu estava tão triste antes e agora estou explodindo de felicidade. Eu te amo tanto.
Ele me tirou da bancada e me rodou em seu colo.
—Ei, calboy, vai com calma aí. A gente não roda uma grávida desse jeito.
—Me desculpe, desculpe. Eu machuquei você? —Ele disse arrependido me colocando no chão.
—Não Di...Eu estava brincando.
—Que saudade de você me chamando assim.
Ele segurou minha cintura e beijou meu pescoço devagar. Eu estava muito tempo longe dele, se continuasse assim eu não ia durar muito tempo. Eu peguei ele pelo braço e subi as escadas. Eu precisava dele tanto quanto ele de mim. E nós merecíamos isso.

Eu estava deitada na cama e Dioniso tinha descido dizendo que faria um banquete para mim. Eu estava muito feliz para me mexer. Tudo parecia muito bom depois de muito tempo de tristeza. Eu estava passando minha mão pela barriga e pensava se o parto era diferente para uma deusa. Eu teria de conversar isso com Afrodite. Eu daria a notícia a ela, mas agora, só queria ficar numa bolha com Dioniso.
Ele apareceu no meio do quarto me dando um susto.
—Um dia desses você vai acabar me matando aparecendo assim.
—Eu voltei com o seu banquete, mademoiselle.
—O que você quer dizer com isso? — eu perguntei enquanto via as coisas na bandeja. Era comida francesa. —Di, onde você comprou isso?
—Num restaurante muito bom, eu adoro.
—Que fica aonde exatamente?
—Come amor. Você tem que comer muito. Meus filhos vão nascer grandes e fortes como o pai!
—E a mãe. E eu vou comer, mas você tem que prometer que vai parar de roubar comida daquele restaurante da França. Eles precisam ganhar dinheiro.
—Ai eu acho que não vou conseguir seguir essa promessa, meu bem. Aliás, eu não fui só em Paris, também passei em casa para pegar uma coisa.
—O que foi? —Eu perguntei sem levantar os olhos da comida. Depois de um tempo de silêncio achei que ele tivesse desaparecido para outro lugar. Quando levantei o rosto, Dioniso estava de joelho no chão segurando uma caixa preta. Eu praticamente desmaiei. Eu coloquei a bandeja do lado na cama e levantei, puxando ele para cima.
—Levanta seu bobão.
—Não, eu vou ficar aqui até você aceitar meu pedido.
—Você já sabe qual é a minha resposta.
—Eu quero ouvir você.
—Eu escolhi você, lembra? Sim, meu amor. Eu aceito.
Ele colocou um anel com uma pedra roxa no meu dedo. Eu o levantei e beijei seu rosto até ele começar a rir.
—Vamos. Agora você precisa comer.


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