Atrelados escrita por Tyke


Capítulo 1
Capítulo 1




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A garotinha parda cresceu de pele escura, cabelos lisos e olhos afiados. Seu nome uma homenagem celestial. Nascendo inglesa é obvio que Angelina foi para a escola de magia. No seu primeiro ano em Hogwarts ela conheceu dois garotinhos idênticos de cabelos cor de ferro enferrujado. Eles se intitularam Fred e George, mas quem era qual a garota ainda não sabia.

Com mais alguns anos eles se tornaram amigos. Angelina sabia diferencia-los após conhecer cada um. Fred poderia ser comparado a um devastador furacão e George a rio veloz que arrasta quem lhe invadir, mas cava pacientemente as rochas ao longo de milênios. Entretanto eles também possuíam diferenças físicas que Angelina só descobriu após estar próxima o bastante de ambos. Os olhos de Fred eram um azul intenso e escuros e os de George eram parecidos, mas ele possuía pintinhas verdes circundando a pupila. Assim por algum motivo, que a garota nunca soube explicar, sempre se sentiu mais atraída por George do que pelo outro.

Todavia, foi Fred quem a convidou para o Baile de Inverno e foi com esse que ela acabou namorando no ano seguinte. No fundo do coração Angelina dava de ombros dizendo a si mesmo que não fazia diferença qual dos dois beijasse, mesmo sendo o outro quem ela queria. Bastava fechar os olhos e eram praticamente a mesma pessoa.

Ela se arrependeu profundamente desses pensamentos de descasos infantis quando teve que presenciar George chorar, devastado, no velório de Fred Weasley. Eles não eram a mesma pessoa! Passavam muito longe de ser. Angelina, com o coração pesado em arrependimento, se aproximou do amigo de escola e o envolveu em um abraço.

— Eu sinto muito, George.

Ele retribuiu a apertando de volta, mas durou pouco. Logo ele a afastou e saiu andando na direção dos familiares. Angelina permaneceu no mesmo lugar observando a pessoa que sempre quis para si se afastar.

Infelizmente ela fez as escolhas erradas quando era mais nova.

***

Ficar com ele de repente parecia um crime. Ambos sentiam isso quando seus corpos estavam juntos, conectados e erradamente apaixonados. Provavelmente era a culpa que batia, a culpa que pairava diante a morte de Fred.

Faziam dois anos que aquele Weasley se fora, mas ele ainda permanecia vivo na memória da família e na imagem física de George. Então ela chorou embaixo de seu amante e ele não se sentindo nada bem se afastou. A culpa pesava e cortava ambos os corações ao meio.

George levantou da cama se perguntando como chegaram naquela situação. Apenas se lembrava do magnetismo que sentiu por ela e quando se deu conta encontravam-se no amor. Saiu pelo quarto catando suas roupas e as vestindo. Por que tinha que ser assim? Ele sempre amou a garota que seu irmão levou ao baile. Acontece que ele tinha vergonha na época, timidez da adolescência, até mesmo para revelar isso ao seu gêmeo. George acreditava que Fred sempre soube de seus sentimentos por Ange, mas mesmo assim a namorou para provoca-lo. Seria o perfil de Fred fazer algo assim. Todavia agora ele estava morto e não se pode pensar negativamente de pessoas enterradas.

O Weasley deu uma última olhada para a garota sobre a cama que cobria o corpo com o lençol. Tão linda! Perfeita! Reluzente. Mas não podiam, pois Fred não estava mais ali para dar permissão e, por esperança, dizer que não se importaria.

***

Angelina estava de frente para um grande espelho. O vestido branco contornava sua cintura e caia solto pelo quadril até os pés, seu cabelo estava preso e decorado com rosas, o buquê em suas mãos também eram de rosas. Aquele era o seu dia feliz. Seu dia perfeito.

Quando caminha em direção ao altar e era observada por todos,  não podia deixar de pensar em uma pessoa específica. Fred, se estivesse ali, estaria feliz pelos dois ou os amaldiçoando? Doía pensar na segunda opção, aquela antiga culpa, que custaram superar, retornava para vanguarda do coração. Nunca saberiam, pois Fred jamais diria sua opinião.

Os olhos de George estavam emocionados ao vê-la, tão bonita, caminhando direto para ele. Nunca em sua juventude imaginou que chegaria a se casa, nunca se imaginou "amarrado" a alguém. Claro que não! Adolescentes travessos não se preocupam com o futuro, vivem o momento e naqueles momentos era somente George e Fred. Agora era George e Angelina, pois seu irmão não podia estar presente como seu padrinho ou como a pessoa que interrompe o casamento dizendo "Seu padre, eu tenho objeções". Fred não podia tomar sua posição.

Naquela noite de festa eles se amaram com o olhar, disseram seus votos confiantes sobre suas escolhas, dançaram, selaram sua união. Mas a presença de Fred nunca os deixou, estava sempre sobre suas consciência, por mais que tentassem ignorar. Mesmo no momento que se conectavam e suas cores criavam um contraste bonito, ela estava ao lado observando.

***

No dia que o bebezinho moreno nasceu não se teve dúvida de como chama-lo. O nome foi concebido junto com a criança. Fred Weasley II, era a prova viva do amor que George e Angelina sentiam pelo falecido amigo... ou seria culpa? Ou uma tentativa de trazê-lo de volta? Não importava no final. Eles tinham um filhinho e era isso que relevava. Ninguém na família questionou o nome da criança. Assim o pequeno cresceu um indivíduo completamente diferente do falecido Fred.

George o amava. Aquela história de ser pai e não amigo, não cabia a eles. Amizade era inevitável e assim, no final, o adulto não tinha a menor autoridade sobre seu filho. Sobrou para Ange educar o que seu marido estragava. George costumava envolver seu menino em travessuras com os vizinhos e o incentivava a fazer todo tipo de traquinagem. Isso gerava brigas, Ange não concordava com tal atitude.

— Ele é seu filho não seu irmão!

Foi um erro dizer isso. A dor nos olhos do ruivo foi poderosa. Naquela noite ele dormiu na Toca, no beliche que costumava dividir com Fred. Fechou os olhos e imaginou o peso do corpo do irmão que afundava levemente o cochão de cima, imaginou o resoar suave da respiração dele quando dormia, imaginou o calor que emanava de seu corpo, imaginou sua risada ecoando pelo quarto quando conversavam até de madrugada... gotas salgadas e suaves escorreram pelos cantos dos olhos de um George mais velho e mais sofrido. Chorando ele adormeceu.

No dia seguinte ele estava em casa, evitava Angelina e esta se sentia mais culpada do que se podia sentir. Ele brincou por horas com seu pequeno primogênito e então não pode mais evita-la. Os adultos se encararam, ela sussurrou aos prantos um pedido de desculpa e ele a envolveu aconchegando-se a ela. Não limpou suas lágrimas pois elas mereciam cair, mas aceitou o pedido pois sabia estar errado em tratar o II como se fosse seu I.

***

A decisão de ter mais uma criança nunca foi tomada. Roxanne veio sem pedir permissão. Em nove messes ali estava a menininha de grandes olhos e nariz fofinho, nos braços dos pais. Entretanto pode-se garantir que ela veio para findar a culpa. Com a chegada dela, deixaram de ser : Fred, George e Angelina atrelados ao passado. Passaram a ser algo mais, muito maior, algo novo. Ela trouxe a diferença e a compreensão ao gêmeo esquecido em vida pelo outro: George era um pai e seu primogênito era sua criança assim como a pequena Roxy.

As brigas, consequências das confusões psicológica de George, cessaram. Agora ele sabia sua posição naquela família, por mais que ainda incentivasse que suas duas crianças fossem um terror para os vizinhos, ele compreendia que deveria deixar seu irmão ir e não prende-lo na figura de Fred II.

Assim Fred Weasley se foi. Deixou ambas as consciência em paz e eles seguiram em frente como a família divertida que eram. Não que fosse escolha do falecido ainda estar presente por tanto tempo, ele não escolheu ser preso por seus amigos que viviam ancorados no que ele pensaria de suas escolhas. Mas a verdade é que Fred não pensava nada, sua mente estava muito além dos problemas mundanos. Ele pregava peças em um plano superior e jamais desejaria menos que felicidade ao seu irmão e à sua amiga.


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Notas finais do capítulo

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