Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 46
Arco e flecha | Atire em sua escolhida


Notas iniciais do capítulo

Hoje agradeço à "Sugar Babyy" pela recomendação maravilhosa! Amei cada palavra. Muito obrigada ♥

Aqui está o penúltimo capítulo.

Boa leitura ❤



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Estamos juntos em minha cozinha. Eu e David. Não tive muito tempo para organizar as minhas coisas, então minha casa não está muito bem apresentável. 

Me senti péssima por não ter nada para lhe oferecer. David se encostou em minha mesa, ficou quase sentado em cima dela, enquanto eu abria alguns armários, procurando por qualquer coisa para oferecer a ele. E se ele ainda estiver com dores? Será que precisa de algum remédio?

— Os meninos sabem que você voltou? — Perguntei, abrindo outro armário, vendo que o outro estava quase vazio.

— Foram os primeiros a saber. Deveria ter visto a reação deles.

Sorri enquanto continuava com os braços levantados, torcendo para encontrar alguma coisa para comermos.

Fiquei levemente triste porque os rapazes não vieram. Logo encontrei um saquinho de chás, abri um sorrisinho.

— O que acha? — Mostrei os saquinhos para ele, que apenas aceitou com um aceno. Coloquei a água para esquentar enquanto o ouvia dizer mais algumas coisas.

Quando me virei, ali estava ele, encostado em minha mesa, tão bem... Era tão bom vê-lo seguro. Fiquei feliz por ver que ele estava melhor, forte, não parecia ter lutado. Continuava irresistível, sem nem mesmo fazer esforço.

— Você parece bem. — me aproximei dele.

— Durante todos esses dias estive me recuperando. Jurei que iria morrer, mas então, em um dia, um superior me buscou, e me ajudou, principalmente no alívio das dores nas costas. Pelo o que sei, foi uma ordem do nosso chefe.

Fiz uma careta, tentando encaixar as peças.

— Por que ele faria algo assim? Por quê nos caçaria e depois nos enviaria de volta? Nada disso faz sentido.

— Estou tão confuso quanto você. — David suspirou. Observei cada expressão sua, cada gesto, o peito subindo e descendo, e a frustração.

— Não entendo o motivo de não deixarem Bruce voltar... Ele não fez nada errado. — Voltei a ficar cabisbaixa, imitei o gesto do David e cruzei meus braços. Ambos estávamos ali, contemplando o silêncio de minha cozinha, enquanto a água fervia.

— Falei com Bruce antes de voltar. — Assim que David disse isso, levantei minha cabeça e o olhei, curiosa. — Tivemos pouco tempo, mas acho que ele me disse tudo o que ele queria.

— O que ele te disse?

— Que estava feliz com essa decisão — suspirou. — Que sentiu que sua missão foi finalmente cumprida.

Fiz mais uma careta. Bruce me disse isso também, mas é difícil de aceitar.

Sorri. Bruce sempre foi assim, sempre acreditou na Stacy e nunca suportou vê-la sofrendo por caras que não mereciam. Ele entrou em sua vida para fazê-la mudar de ideia, para fazê-la lutar por ela mesma! 

— O que acha que vai acontecer conosco? Digo, você ainda é um cupido? — Olhei para ele, com medo.

Ele voltou a me olhar e afirmou que sim.

— Ainda sou um cupido, mas talvez não por muito tempo. Acredito que vou ser procurado outra vez. Talvez eu me torne um superior.

Não quero ficar longe dele, de nenhum deles!

— Desculpe, Cassie, por esconder tantas coisas. Por fazê-la passar por isso, por não contar sobre o nosso chefe e sobre outras coisas. Eu só não queria que você fizesse parte disso, desse sistema e dessa história tão confusa. Por isso estou aqui, me pergunte o que quiser e eu responderei.

Preparei o nosso chá e iniciamos a nossa conversa.

➴ ➵ ➶

Fiz inúmeras perguntas para ele, e tentei não ser muito curiosa. Eu lhe perguntei sobre suas antigas escolhidas, e ele me contou sobre elas. Jennie e Susanna. Era incrível a história de cada uma delas, e de como seus escolhidos foram encontrados em diferentes períodos de tempo. Ele me contou que encontrar o escolhido de uma garota pode durar até mesmo 50 anos! Ou então rápido demais, e em algumas ocasiões... Pode nunca acontecer. Elas podem morrer sem o seu amor. 

Falamos também sobre sua antiga esposa, aquela que o traiu, e por quem ele morreu por amor. Perguntei se ele a superou, e ele me disse que sim, apesar de doer quando se lembra do dia em que morreu.

Enquanto eu bebericava meu chá, ele me contou cada detalhe de tudo, ainda encostado em minha mesa, me olhando.

Ele também me contou algo que me deixou boquiaberta: somente cupidos podem tirar a vida de outros. Um mortal não tem poder sobre eles, fazendo jus à sua imortalidade.

— Acha que existe um motivo concreto sobre a amnésia não ter funcionado comigo? Eu não me esqueci de nada, mas Stacy sim. Funcionou com ela, mas não comigo. Até mesmo Eros não conseguiu entender!

— Nenhuma resposta. Eles deixaram muitas pontas soltas, talvez nunca saberemos o motivo.

Aquilo me matava! 

— Certo... E sobre o Dean? — Tentei mudar o assunto.

David deu uma risadinha. 

— Até agora estou tentando acreditar que deixei ele me enganar. Nós cupidos não sabemos muitas coisas sobre os superiores, inclusive que eles podem se infiltrar como humanos, perdendo o olhar e a essência de um cupido.

Aquilo explicava muita coisa.

— Acha que ele vai morrer? — Perguntei.

— Não me deram respostas sobre ele, mas acredito que terá o que merece, tudo o que eu soube por lá não foi o suficiente. Mas ele já desrespeitou muitas regras, Eros não vai permitir que ele volte, e se ele não pode voltar, significa que não há motivos para continuar sendo um superior. Dean, ou Richard, vai ser eliminado.

Aquilo me preocupou. Quero com todas as minhas forças que Dean pague por tudo o que fez, e nunca mais volte.

Notando que eu não me senti confortável, David finalmente se desencostou da mesa e veio em minha direção. Quando ele colocou as duas grandes mãos em meu rosto, eu me arrepiei instantaneamente.

— Dean nunca mais tocará em você. — Prometeu, tão perto que se eu me inclinasse um pouco, poderíamos nos beijar.

Foi exatamente o que eu fiz. Estava com saudades disso. Não trocamos um só beijo desde que ele apareceu, e seria idiotice continuar adiando.

Sentir sua boca foi como ter certeza mais uma vez de que ele voltou para mim. As lágrimas passadas estão sendo recompensadas agora. Meu cupido não está morto, ele está de pé, e em minha casa, e me beijando, dessa forma tão quente e que só ele sabe como fazer.

As coisas foram ficando para trás. Nosso beijo se tornou mais intenso, e quando senti sua língua e seus movimentos tão bem calculados, nós voltamos àquele momento, quando estávamos no quarto da mansão. 

➴ ➵ ➶

David abriu a porta do meu quarto com um chute, sem deixar de me encher de beijos, em seguida fechou a porta com outro chute.

Rapidamente tirei a minha blusa, e ele me ajudou, e assim que a joguei no chão, seus olhos me contemplaram sem blusa por alguns segundos até ele voltar a me beijar, com a mesma intensidade.

Nos jogamos na cama, e foi naquele momento que eu respirei fundo. Estava acontecendo, mesmo sabendo que não deveria, que foi exatamente por isso que tudo começou.

Mas era o nosso momento, e eu não deixaria que nada o atrapalhasse. 

Senti cada parte dele, seu abdômen, seu corpo quente... Enquanto ele estava em cima de mim, de repente deixou de me beijar porque eu tentei tirar a sua blusa.

Naquele momento ele pareceu menos voraz. 

Eu me ajeitei na cama, me sentando. Eu estava apenas de calça e sutiã.

— Está tudo bem. — Garanti a ele. Tive certeza de que ele hesitou que eu tirasse sua blusa por causa das asas. O corte que fizeram.

Ele estava com medo? Com vergonha de que eu visse os cortes?

Novamente aproximei minhas mãos dali, decidida, e então suavemente puxei o pano macio de sua blusa para cima, e ele deixou que eu o fizesse. 

Rapidamente dei de cara com quase todo o seu peitoral enfaixado.

A luz da lua entrava pela minha janela, estávamos pouco iluminados, mas eu podia ver a sua silhueta ali em minha cama, sentado. Meu coração se apertou e eu senti vontade de beijá-lo, relembrando da sua dor quando cortaram as suas asas, sua palidez, o seu sangue...

Sorri para ele e toquei em suas costas enfaixadas. Tão lindo, os ombros largos e fortes, a sua respiração e o peitoral coberto. Sem dizer nada eu me preparei para tirar a sua faixa, engatinhei por trás dele, bem devagar, e ele ficou imóvel, como se estivesse lutando para permitir aquilo.

Lentamente desenrolei a faixa, que estava um pouco coberta com sangue, David soltou um leve gemido de dor.

Assim que tirei, pude ter a ampla visão da tatuagem, e o que mais chamava a atenção: os dois cortes. Eles ainda pareciam sangrar, apesar de já estar se recuperando. A área parecia sensível e estava muito vermelha.

Deslizei meus dedos perto do local e depositei um beijo ali, delicadamente. David soltou outro gemido, mas acho que dessa vez não foi de dor.

Ele se virou para mim e me pegou tão rápido que mal tive tempo de me preparar, então nos olhamos nos olhos. Suas pupilas estava dilatas, e seu olhar esbanjava desejo e um milhão de coisas. Rapidamente me joguei na cama, deitada de frente para ele. David subiu em mim, com as duas pernas entre minha cintura, me imobilizando.

— Vou ter que quebrar a minha promessa.

— O que? — Eu ri.

— Quando prometi que nunca mais tocaria em você... Nós dois sabíamos que não era verdade, não é?

Tentei me levantar para voltar a beijá-lo, mas ele não deixou, me fazendo cair sobre a cama outra vez, ainda em cima de mim. Foi ele quem caiu sobre mim, e voltou a beijar a região do meu pescoço, arqueei as minhas costas, enquanto ele subia com seus beijos, até chegar em minha boca. Fechei meus olhos, ansiando que ele me tocasse mais.

Assim que tirei meu sutiã e ele viu a tatuagem, um sorriso abriu em seus lábios e ele tocou ali, contornando o desenho de arco e flecha. Não consegui conter o arrepio do contato do seu polegar com minha pele.

Naquele momento éramos só nós, e se tornou a noite mais importante de toda a minha vida. Foi indescritível, e David sabia exatamente como transformar cada toque em algo sobrenatural.

Finalmente, ali estava o meu cupido, em minha casa, em meu quarto, criando outra memória inesquecível.

➴ ➵ ➶

Já é de madrugada. Nós adormecemos. Não faço ideia de que horas são, mas o céu ainda está escuro. 

Ele está ao meu lado, bem perto, virado para mim. Seus olhos estão fechados e eu estou contemplando cada traço do seu rosto. Os lábios bem esculpidos, o seu cabelo escuro...

Tenho vontade de tocar seu rosto, mas tenho medo que ele acorde. Eu queria ficar assim por bastante tempo. 

Não me contive e levei minha mão até seu rosto e toquei com carinho, sentindo a barba rala, que já está começando a crescer.

Ele abriu os olhos. Os lindos olhos escuros. Não pude evitar de sorrir, estávamos nos encarando, e cada memória dessa noite voltou à minha cabeça. Agora estou me dando conta e ainda mais certa do quanto eu o amo, e do quanto tenho medo de perdê-lo outra vez, de ficar longe para sempre.

Ele devolveu um sorriso para mim. Tão lindo e cheio de ternura. O reflexo da lua pela janela está refletido em seus olhos, eles estão brilhando.

— Você parece tão recuperado. — Toquei a região da sua sobrancelha, onde tinha um corte há um tempo atrás. Em seu rosto já não havia sinal algum de qualquer machucado.

— Sou um cupido. — Respondeu, a voz saiu rouca — Vou ficar ainda melhor quando amanhecer, principalmente depois dessa noite. 

Revirei os olhos para ele, ainda sorrindo.

— Já que estamos revelando segredos... Acho que devo dizer como eu me sentia quando te via todos os dias na lanchonete.

Ele pareceu curioso.

— A minha alegria de ir trabalhar todos os dias era saber que você estaria lá. Você era o meu rapaz misterioso, e eu já tentei conversar com você tantas vezes, mas nunca tinha coragem o suficiente.

— Rapaz misterioso? — Ele levantou uma sobrancelha, tirando sarro.

— Eu não sabia o seu nome. Você nunca falava, e eu não era corajosa o suficiente para pedir, acredite, nem todas as garotas são uma Hayley corajosa. Eu sempre quis saber quem era você, e se era mesmo tão misterioso quando aparentava...

— E eu sou o que você esperava? — Me olhou, fazendo uma expressão de galã. Eu ri.

— Você é ainda melhor.

Ele me roubou um beijo rapidamente, e depois disso começou a me olhar intensamente.

Imediatamente tive uma ideia.

— Tenho uma coisa para te mostrar. — Me levantei da cama, somente vestindo a parte de baixo.

Senti o olhar do David me seguir o tempo todo, enquanto eu procurava o que queria mostrar. Não demorou muito, então voltei até a cama, bem pertinho dele e mostrei.

Ele focou o olhar ali, e franziu a testa.

— Uma pena? — Perguntou, enquanto eu a girava bem em sua frente.

— Sim. Sua pena. — Falei, com orgulho — Eu guardei no dia em que você me levou para casa, no primeiro dia, quando eu descobri sobre tudo.

Não consegui decifrar o que ele pensava naquele momento, mas acho que ele gostou. Era uma parte dele, uma parte que foi tirada, e eu guardei.

— Ela esteve comigo durante todo esse tempo. Na sua casa e dos meninos, na mansão, na casa do Dean... Era como se eu tivesse uma pequena parte sua para mim.

Seu olhar, tão inquietante, e aquele sorriso orgulhoso que ele abriu, me fez querer abraçá-lo.

— Quero te pedir uma coisa. — Ele ficou sério, de repente.

— Qualquer coisa.

— Que quando encontrar o seu escolhido, você realmente o escolha. 

Franzi minha testa para ele. Não acredito que estava falando disso! Não quero falar sobre nenhum outro que não seja ele!

— Quero que tenha certeza de que ele te ama, e que vai tratar você da forma que você merece. Não quero que ele te faça sofrer ou chorar. Não quero que aconteça com você a mesma coisa que aconteceu comigo e com Judith. 

—  Não quero falar...

— Não adianta o cupido escolher o seu escolhido se você não o escolher também, Cassie. O amor não deve vir da parte de um, mas de ambos. — Falou seriamente, e meus olhos marejaram. Eu me lembro de quando ele me disse isso uma vez. Desviei o olhar.

— Por que está falando como se não fossemos nos ver mais? — Perguntei, brava.

— Eu estou quebrado. — Confessou. — Já não tenho mais minhas asas e os superiores não confiam tanto em mim. Me tornei fraco, Cassie.

— Não é verdade.

— Estou te dizendo isso porque quero que saiba de tudo. Talvez eles venham me buscar, talvez essa seja a última vez.

Balancei minha cabeça, negando. 

— Eu escolho você. — Falei.

Ele pareceu surpreso com o que eu disse.

— Escolho você. Não quero outra pessoa. — Falei de novo, e ele notou minha voz falhando.

Imediatamente ele me envolveu com seus braços e eu me aninhei a ele, sentindo o contato do seu corpo nu com o meu. Sua pele, cada parte. Eu envolvi minhas mãos em torno dele, e evitei tocar as suas costas. Coloquei minha cabeça próxima ao seu peito e sentindo o seu perfume tentei não chorar, ainda segurando a sua pena.

Adormeci ali, em seus braços.

➴ ➵ ➶

 Acordei um pouco assustada, com medo de abrir os olhos e não ver David ao meu lado. Mas ele estava ali. Nós voltamos a dormir, e tudo parece normal.

 Mas tenho um péssimo pressentimento.

 Dou um leve pulinho de susto quando ouço um barulho vindo do lado de fora. Isso me fez estremecer. 

Não é nada, não é nada...

Ouço o mesmo som mais uma vez e então olho em direção da janela. Nada. Posso ver que o sol está começando a nascer, o céu está levemente claro.

Volto a fechar os meus olhos, ignorando. Mas quando os abro novamente, acabo gritando.

Um superior, dentro do quarto, abaixando as gigantescas asas e segurando algo. Rapidamente me sento na cama e me cubro com o lençol, enquanto David acordou com o meu grito.

Assim que ele viu o superior, ele ficou alerta, mas não assustado como eu. Era como se ele já esperasse que algo assim fosse acontecer.

Muitas coisas se passaram dentro da minha cabeça naquele momento. Ele veio buscar o David? Veio me buscar também? Olhei para o David, assustada, esperando que ele fizesse alguma coisa.

— Venho em paz. Ordens do chefe. — O superior disse, com o olhar direcionado para baixo.

Acho que o superior estava um pouco desconfortável por me flagrar deitada com o meu cupido.

Após suas palavras, descansei um pouco, mas ainda assim não pude evitar de sentir medo e desespero.

— O escolhido dela foi encontrado. Tenho uma ordem de entregar isto. — O superior se aproximou, com passos rápidos, e entregou nas mãos do David algo parecido com uma carta.

 O meu escolhido foi encontrado?

Ele pegou, sem entender.

— E isso. — Então o superior tirou das suas costas o arco e flecha que carregava, e colocou nas mãos do David.

Não consegui tirar os meus olhos da ferramenta, ou arma. Era linda, como a do Colin quando vi uma única vez. 

— Meu arco arco e flecha? — David pegou. — Vou poder continuar como um cupido?

— Acho melhor ler a carta. — O superior respondeu, se afastando. — Você tem um dia para cumprir o que o chefe pede na carta. Eu vou voltar para verificar, boa sorte. — Em seguida levantou suas asas, e voou tão rápido pela minha janela que mal tivemos tempo de responder.

Eu e David nos entreolhamos, ele estava tão confuso quanto eu. David rapidamente pegou sua calça preta que estava ao seu lado e a vestiu, em seguida se levantou da cama e ficou de pé pelo meu quarto, enquanto lia a carta.

Eu o observei ali de pé, maxilar tenso, uma má expressão no rosto, sem camisa, lendo a carta impacientemente.

Me desesperei e continuei imóvel na cama. 

Quando David terminou de ler, parecia não acreditar no que viu. Em seguida se aproximou de mim e me estendeu a carta.

Puxei de suas mãos rapidamente e li:

—------------------------------

Não há nada que eu aprecie mais do que o amor. Contra ele eu não posso lutar.
Escrevo esta carta para um dos meus fiéis cupidos, David, e para
a garota humana, Cassandra. 
É a primeira vez que algo assim acontece, e demorei a perceber o que estava debaixo dos meus próprios olhos. Estou encantado e totalmente intrigado com essa situação.
Então, devolvo o seu arco e peço que atire a flecha na garota, e se não entendeu as minhas palavras e o rumo que elas estão tomando, esta é a minha declaração de que pela primeira vez, um dos meus cupidos é o verdadeiro escolhido de uma garota da Terra.
Eu sou a prova disso. E precisei de tempo e algumas situações para comprovar. Vocês são o primeiro casal que interrompeu meu sistema, e talvez algum dia hajam outros. 
Cassandra Drayton é a prova viva de que uma garota humana não pode se esquecer do seu escolhido. Essa é a resposta para tantas dúvidas que me cercaram, tirando o meu sossego.
Seu trabalho como um cupido está completo, atire na última garota e ganhará sua liberdade, assim, poderão ficar juntos, porém não se lembrarão de nada do que aconteceu até aqui.
Nós ainda somos um segredo.

Eros    

—------------------------------

A letra da carta era incrivelmente bela, e a borda do papel era feita com ouro. 

Assim que terminei a leitura, deixei que a carta escorregasse da minha mão, e tentando acreditar no que li, olhei para o David, para ver o que ele achava disso.

Ambos estávamos incrédulos, mas depois um sorriso se abriu em meu rosto, e meus olhos instantaneamente ficaram inundados.

— Isso é verdade? — Perguntei, olhando para ele.

David sorriu inesperadamente e rapidamente veio até mim.

— Por que não seria? — Sua voz estava cheia de esperança, ele veio até mim e deu um selinho demorado, com um sorriso estonteante.

— V-você é o meu escolhido? — Comecei a tremer, tentando assimilar.

— Somos os primeiros da história, Cassie. — Riu, e se emocionou comigo. Trocamos mais dois selinhos e então ele pegou a carta de novo, ficou de pé e começou a ler outra vez.

Enquanto ele lia, coloquei uma mão em minha boca, e pensei em inúmeras coisas. Isso está mesmo acontecendo! Eros nos enviou uma carta, afirmando que David é o meu escolhido, e pedindo para que ele atire em mim!

— Então era por isso? A amnésia não funcionou porque você é o meu escolhido! 

Ele veio até mim.

— Eu deveria saber. Uma escolhida não pode se esquecer de nada relacionado ao seu escolhido. Porém, se ela for atingida por uma flecha ela pode se esquecer, porque esse amor vai persegui-la para onde quer que ela vá. Sempre senti que seu escolhido estava por perto, e... Sou eu. — Olhou para os meus lábios e depois para os meus olhos.

Após vestir minha blusa às pressas, abracei meu cupido naquele momento, bem forte, e me senti a pessoa mais sortuda de todo o mundo. Não precisaremos nos separar! As peças finalmente estão se encaixando!

Nos largamos, então voltamos a ler os últimos parágrafos da carta, onde dizia que não nos lembraríamos de mais nada.

— Eu vou me esquecer de você e de todos os outros? — Perguntei, olhando em seus olhos.

Ele demorou a responder, mas logo assentiu.

— Ele não permitiria que guardássemos esse segredo. — David concluiu. — Mas não se preocupe. As memórias serão apagadas para que nós construamos outras, e dessa vez, eu não serei o seu cupido, mas sim um humano, Cassie, como você.

Não quero me esquecer deles... Não quero me esquecer dos meninos, de tudo o que passamos. Do Colin e seu senso de humor, a forma como me alegrava naquela casa, a sua obsessão por estragar os presentes de amor que o Dean enviava para mim, era o melhor amigo que tive, tão acolhedor...

E Louis! Queria tanto acompanhar a sua evolução, ouvi-lo contar sobre sua antiga namorada Lilian e estar ao seu lado sempre que tivesse qualquer dúvida. Era meu confidente, e não quero perdê-lo, não quero que se culpe pelo o que aconteceu com ele!

Franklin... Eu não conseguiria descrevê-lo com tão poucas palavras. O complexo Franklin. Um enigma. Eu sinto que ainda existem tantas coisas que eu preciso descobrir sobre ele, tantos sentimentos, tantas histórias. Eu não quero me esquecer dele, não quero me esquecer do loiro oxigenado! Ele é a pessoa mais incrível que já conheci, e sua história é tão marcante.

Bruce. Sinto vontade de chorar só de me lembrar do seu nome. O irmão mais velho. Ele era o cérebro do time, o mais responsável, e ainda assim, o mais teimoso. Eu o guardaria em meu coração, bem lá no fundo, mesmo sendo forçada a me esquecer de tudo. Nossas discussões, a forma como ele se preocupava com todos, e como amou e cuidou da Stacy. Não existirá outro cupido como ele.

Haviam tantas coisas para se pensar naquele momento, tantos motivos para chorar e para sorrir.

Respirei fundo. Ainda estou abalada pela ideia de que tudo isso é real.

— Isso significa que Bruce não era o escolhido da Stacy, não é? Já que ela não se lembrou... — Olhei para o David.

— Sinto muito por eles. — Ele ficou tão deprimido quanto eu.

Era difícil de aceitar, eles se amaram tanto... 

— Temos pouco tempo, Cassie. — David voltou a me transmitir confiança, o lindo sorriso voltou. — Preciso atirar em você.

— O que vai acontecer quando... Quando eu me esquecer?

— Não se lembrará de absolutamente nada relacionado a nós. Será como um dia normal, como se nada tivesse acontecido. Cada acontecimento será apagado, inclusive sua família não se lembrará do que aconteceu. É como se... O dia em que nos conhecemos nunca tivesse existido.

Foi como um tiro. Era tamanha injustiça, e eu não poderia fazer nada para protestar.

Mas a resposta para tudo estava ali, eu não poderia ter me esquecido do David sem que ele me atirasse com uma flecha. Assim que ele atirar, eu estarei pronta para me esquecer de tudo.

Tive medo. Era como dar permissão para alguém apagar a melhor parte de toda a sua vida. Eu vou me esquecer dos rapazes, das asas, e vou me esquecer desta noite.

Não deixei que os pensamentos ruins me dominassem. David e eu fomos feitos para ficar juntos, ele morreu, perdeu Judith e se tornou um cupido, e tudo isso para me encontrar! Estávamos fadados a isso! Eu estava destinada a flagrá-lo com as asas naquele dia!

Nós precisávamos nos encontrar, de alguma forma.

— Eu quero que atire em mim agora. — Pedi, e ele me olhou assustado.

— É isso mesmo o que quer? 

— Sim. Acho que precisa começar logo, sem mais despedidas, eu acho que não vou aguentar. — Pedi, tocando o seu ombro.

David me olhou, orgulhoso, voltou a tocar meu rosto.

— Eu vou te encontrar, Cassie. Não importa o que aconteça.

Assenti, enquanto ele se abaixava para seu rosto ficar mais próximo ao meu.

— Eu vou me esquecer de tudo também, Cassie. Vou me tornar um humano, e à partir do momento em que a flecha cravar em seu coração, nós nos encontraremos, não importa o que nos separe. Estaremos destinados um ao outro.

— Já estamos. — Garanti.

Nos beijamos uma última vez, lentamente, e eu pude sentir o quanto ele me amava, a cada toque e cada palavra que dirigia a mim.

A flecha foi preparada, ele manuseou perfeitamente o arco em uma mão, e com a outra pegou a flecha, tão bonita e afiada.

Fiquei ali, na cama, de repente revivendo cada momento, cada lágrima e cada risada. As vozes dos meninos estavam misturadas em minha cabeça...

— Eu te amo. — Sussurrei.

— Eu te amo, Cassie. — Ele repetiu.

 Em seguida atirou a flecha, ela voou tão rápido em minha direção que me fez estremecer.
        Senti uma pequena pontada, como se algo houvesse penetrado a parte mais profunda de mim, mas foi indolor.

— Cassie? — Assim que David disse meu nome, tudo começou a se ofuscar, sua voz ficou distante e fui perdendo a minha visão, que foi tomada por uma imensa claridade. Minha última memória foi ele, meu querido cupido.

➴ ➵ ➶

 Estou dormindo em um dos assentos vermelhos da lanchonete. Fico surpresa quando vejo Dolph se aproximar, em seguida encher uma xícara com leite quente em cima da mesinha. Coço os meus olhos e abro um sorrisinho para ele.

Acho que trabalhei tanto da última vez que acabei dormindo na lanchonete. É a terceira vez que isso acontece, e Dolph odeia me acordar, então sempre deixa que eu passe a noite aqui.

Estou vestida com a minha roupa preferida. Minha blusa azul com a estampa de âncora vermelha e por baixo a blusa de mangas listradas. Ainda estou de tênis e avental.

A luz do dia está atravessando as janelas do Kismet Diner. Me espreguiço, esticando as mãos e as pernas.

Acho que Dolph acabou de abrir a lanchonete. Sinto o cheirinho de café, a manhã está começando. Faço força para me levantar e em seguida fico sentada e apanho a xícara quente. 

Está uma delícia, bem quente e exalando fumaça.

— Cassandra, vou precisar da sua ajuda! — Meu chefe me chamou de lá da pequena cozinha.

— Já estou indo. — Bebi meu leite outra vez, e em seguida me preparei para mais um dia na lanchonete.

Espero que hoje o rapaz misterioso apareça. 


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Notas finais do capítulo

Nos vemos no último capítulo?

Até lá!

E se quiserem, não se esqueçam de deixar um comentário ♥

Beijos!



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