Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 35
Ela me matou


Notas iniciais do capítulo

Chegueeeeeeeeei

Boa leitura, seus lindos ♥ ♥ ♥



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O céu estava mais escuro quando Franklin resolveu aterrissar. Fiquei surpresa quando vi que pousaríamos no meio da floresta de pinheiros, e não na casa dos cupidos.

Cuidadosamente ele me colocou no chão, então suas grandes asas se abaixaram lentamente, em seguida elas desapareceram.

— O que estamos fazendo aqui? — Essa foi a minha primeira pergunta, em seguida ajeitei minha blusa e olhei para os lados. Estava muito escuro e eu já podia ouvir o canto de alguns animais e insetos. Não pude deixar de ofegar.

— Você não pode sair daqui. Não ainda. — Ele falou, olhando para os lados, procurando por alguma coisa.

— O que aconteceu lá? Como soube que eu precisaria de ajuda? — Me aproximei dele rapidamente, suplicando por qualquer informação. Eu ainda não conseguia entender o que estava acontecendo.

— Olha, tudo o que você precisa saber é que agora, mais do que nunca, você não pode ficar por aí. — Ele foi seco, e aumentou o tom de voz.

Me calei e o encarei. Franklin não parecia nada bem, então me virei e respirei fundo, me lembrando dos passos do Dean subindo as escadas e arrombando a porta.

— Ele queria me matar. — Falei por fim. — Acho que era de mim que ele estava falando. — Olhei outra vez para o Franklin. Ele continuava calado e inquieto. — Por que me salvou? O que está acontecendo, Franklin?

— Fique aqui. — Franklin começou a andar, me deixando para trás, sem nem mesmo me dar ouvidos.

Corri com passos apressados atrás dele.

— Vai me deixar aqui? No meio da floresta? — Falei alto, querendo alcançá-lo, e com muito medo.

Ele continuou andando, sem responder.

— Franklin!

— Escute! — Ele se virou para mim bruscamente. Levei um susto e me calei

 — Apenas obedeça, se não quiser morrer. — Franklin segurou um braço meu. O tom de sua voz, o olhar penetrante e sombrio. A fúria nas pupilas dilatas e a respiração acelerada.

Ele soltou meu braço e voltou a andar. Os passos fazendo barulho conforme pisava nas folhas secas do chão. Fiquei imóvel depois disso, no mesmo lugar. As asas do Franklin reapareceram, e foi assustador e incrível. Com um único impulso ele subiu, e desapareceu por entre as árvores.

Continuei parada ali, ainda assustada, hiperventilando, o peito subindo e descendo. A vontade de chorar voltou. Foi naquele momento que me perguntei no que a minha vida se tornou e se eu ainda continuaria viva nos próximos dias.

A floresta já estava um pouco mais escura. O vento balançava as folhas dos pinheiros e eu me senti em um filme de terror. Árvores para todos os lados e a escuridão cada vez mais intensa. 

Me aproximei de um tronco e lentamente escorreguei até cair no chão. Ali fiquei sentada, abracei minhas próprias pernas e esperei que a escuridão dominasse todo o local.

➴ ➵ ➶

O céu está cheio com estrelas, e a lua apareceu. É a única coisa que está iluminando. Ainda estou sentada no chão da floresta, e já parei de chorar. Estou ouvindo uma coruja fazer um barulho esquisito e cada vez que uma folha cai eu levo um susto. Posso imaginar Dean surgindo, tocando em meu ombro subitamente.

Franklin me salvou e me deixou aqui. Queria pedir para ele chamar ajuda. Trazer o David.

Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas com certeza foram horas. A temperatura caiu drasticamente, e apesar de estar usando a minha blusa preferida com estampa de ancora vermelha, eu gostaria de ter vestido outra coisa. Só para não sentir esse frio.

Me surpreendendo, uma luz por entre as árvores apareceu. Cerrei os olhos para identificar, então vi Franklin se aproximando, segurando uma lamparina em uma das mãos, e algo parecido com uma mochila pendurada no ombro.

Quando o vi, me levantei rapidamente e corri até ele. Não pude evitar de abraçá-lo. Ele quase caiu quando pulei nele.

— Você voltou. — Sussurrei, aliviada.

— Ok. — Ele me empurrou devagar, pedindo espaço.

— Chamou o David? Os meninos sabem que eu estou aqui? — Perguntei, desesperada, e extremamente feliz em ver a lamparina. Luz, finalmente.

— Você vai passar essa noite aqui. Eu trouxe isso. — Ele me estendeu a lamparina para que eu segurasse, e em seguida mostrou o que pareceria ser uma mochila, mas logo depois reconheci o que era. Uma barraca.

— Por que não posso ir para outro lugar? 

— Ainda pergunta.

Resolvi não fazer outra pergunta. Por enquanto. 

➴ ➵ ➶

Fiquei sentada no chão enquanto Franklin montava a barraca. Ofereci ajuda mas ele não quis. Estava calado, pensativo e parecia furioso. 

Ele era muito bom naquilo. Não demorou muito para que a barraca ficasse pronta. Enquanto a luz da lamparina nos iluminava, pude notar o suor em sua testa. Me perguntei como alguém conseguia suar em meio ao frio daquelas árvores.

Franklin estendeu um cobertor macio ali dentro, e rudemente pediu para que eu entrasse. Obedeci, e ele colocou a lamparina ali dentro da barraca.

Me abaixei e entrei. Ali dentro era bastante espaçoso. Não era pequena. Fiquei me perguntando como Franklin conseguiu uma barraca. E uma lamparina.

Dentro da barraca estava mais quente. Fiquei sentada, com as pernas cruzadas. Na entrada, Franklin se abaixou e olhou para mim, mas não disse nada. Ficou apoiado, na mesma posição, com as pernas abertas.

 — Não contei nada ao David. — Falou por fim. — Nem aos outros.

— Por quê?

— É o melhor, por enquanto. 

— Desde quando você quer o melhor para mim? — Cerrei os olhos.

— Quem disse que é para você? — Levantou uma sobrancelha. — Só fique aqui, garçonete. Amanhã verei o que posso fazer.

Assenti.

Franklin respirou fundo, frustrado, e como se lutasse contra si mesmo, disse:

— Vou ficar aqui.

Me surpreendi. Achei que ele me deixaria sozinha outra vez.

— O que os rapazes acham disso?

— Não sabem que eu estou com você. Pensam que estou com a minha escolhida. De qualquer forma, tenho que ficar. Alguma coisa pode acontecer.

Franzi a testa. Franklin sabe o que está acontecendo!

— Tente dormir. — Foi a única coisa que ele disse, em seguida saiu da minha vista, fechando a entrada da barraca com um zíper.

Me deitei de lado, sentindo cheiro de terra e folhas secas, enquanto Franklin vigiava a barraca do lado de fora.

➴ ➵ ➶

De madrugada a temperatura caiu um pouco mais. Acordei com muito frio e assustada. Tive algo parecido com um pesadelo. Me levantei rapidamente, com medo de que Franklin tenha me deixado para trás. Abri o zíper da barraca e coloquei minha cabeça do lado de fora.

Ele estava ali, sentado, em meio a escuridão. Parecia estar com um canivete nas mãos, tirando lascas de um galho para construir algo parecido com uma estaca afiada.

— Franklin?

Ele me olhou.

— Aqui tem espaço.

Não pude ver a sua reação, ainda estava muito escuro do lado de fora. Mas ouvi algo parecido com uma risada, que ele soltou pelo nariz.

— Não tente dar uma de boa moça. Não preciso de ajuda. 

— Só quero dizer que aqui fora está frio. 

Ele não respondeu. Então voltei para dentro, mas deixei a entrada aberta.

➴ ➵ ➶

Franklin entrou na barraca e tirou a camisa. Pensou que eu estava dormindo.

Aquilo me deixou confusa, mas logo me lembrei que Franklin é muito diferente de mim, e talvez não sinta frio da forma que sinto. Ele é um cupido e possui muitos segredos.

Me movi e abri meus olhos. Ele notou que eu estava acordada e revirou os olhos. Ele estava sentado ao meu lado. Eu me levantei também e fiquei sentada. 

— Obrigada. — Falei, e a luz alaranjada da lamparina iluminava todo o local.

Franklin me olhou, e me surpreendendo ele deu uma risadinha e levantou uma sobrancelha, me olhando ironicamente. Me senti uma idiota.

Meus olhos esbarraram em seu peitoral forte, como o dos outros cupidos. Uma tatuagem me chamou a atenção. Era uma caveira preta, com dois ossos formando um X logo abaixo. Fiquei me perguntando se ele fez a tatuagem quando ainda era um humano ou depois que se tornou um cupido. 

Desviei o olhar rapidamente.

— Se soubesse a história toda não me agradeceria. — Respondeu.

Fiquei confusa outra vez. Tem tanta coisa que eu ainda não sei...

— De qualquer forma, obrigada por me salvar quando pulei do telhado. Me pergunto o que teria acontecido.

Ele riu outra vez.

— Quebraria uma perna. Ou braço. Como consegue ser tão burra? — Ele me olhou, mas falou aquilo brincando. 

— Eu tive medo. Senti que precisava fazer isso, ou então... Dean me alcançaria.

Franklin levantou as sobrancelhas, fez bico e olhou para frente.

— Você ainda não me falou o que fazia lá. Estava me vigiando? 

Ele continuou calado, na mesma posição. Uma perna esticada, e a outra levantada, enquanto apoiava um braço na mesma. 

— De nada. — Ele disse, mostrando que não queria falar sobre o assunto. 

— Ok... Você não quer falar sobre isso. — Me aconcheguei um pouco mais, me sentando de uma forma mais confortável. — Então podemos falar sobre outra coisa. Então... Por quê nunca gostou de mim?

Franklin agora estava sério, me ouvindo atentamente.

— Todos os rapazes sempre me trataram tão bem. 

— Não sou como eles.

— Eu sei! Na verdade, são todos diferentes uns dos outros, mas... Ainda assim, você sempre foi o único a não me suportar. Sei que você não é obrigado a gostar de mim, mas, poderia ao menos me dizer o motivo?

Silêncio.

— Mas se não quiser falar sobre isso, não tem pro...

— Outono. Pensei que aquele estava sendo o melhor dia da minha vida. Haviam se passado alguns dias depois que me casei. Estávamos nós dois andando em uma rua estreita, durante a noite. Estávamos abraçados.

Naquele momento notei que Franklin estava me falando da sua antiga namorada. No caso, esposa. Me preparei e não o interrompi. Era com certeza um momento raro, Franklin me contando sobre o seu passado.

— Dois caras apareceram. Eles não estavam muito bem disfarçados, às vezes me lembro do rosto deles. Na verdade, um deles era um amigo meu. Era ele quem tinha me apresentado a ela.

Franklin se recusava a dizer o nome da garota.

— De início pensei que fosse um assalto. Mas quando reconheci meu amigo, fiquei sem entender. Ele tirou algo parecido com uma faca da cintura. E o outro cara também. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi proteger ela. Eu a abracei, enquanto os dois se aproximavam. Não consigo me lembrar do que eu disse para eles. Só não conseguia acreditar que meu amigo estava tentando me matar, por algum motivo. Mas meu foco principal era ela. Não queria que a machucassem, então, enquanto ela estava em meus braços, fui me afastando dos dois, levando-a comigo. Só não entendi quando... Senti aquela dor. Olhei para os dois, meu amigo parecia assustado, apesar de estar querendo me matar. Olhei para baixo e me toquei enquanto minha mão se enchia com sangue. Minha barriga sangrava. — Ele franziu a testa.

— Franklin...

— Olhei para o lado. Ela carregava um canivete cheio com sangue em suas mãos. Aquelas mãos delicadas, que coloquei uma aliança. Ela parecia assustada, mas ainda assim, fez aquilo. Os idiotas a chamaram, e ela se afastou de mim, correndo até eles e abraçando meu amigo. O outro se aproximou de mim e terminou o que ela havia começado.

— E-eu... — Tentei procurar palavras, tentei consolar Franklin, mas aquilo era tão... Devastador. 

— Acho que eu teria me defendido e lutado, se não fosse pelo fato de que ela me feriu. Mesmo sangrando, eu não queria acreditar que era verdade. Nós tínhamos acabado de nos casar... 

Franklin então se deitou ali, enquanto olhava para cima e se lembrava da cena. Em seguida disse:

— Ela me matou.

— Sinto muito.

— E fez isso para ficar com o meu amigo e provavelmente com todo o dinheiro que eu tinha. Aposto que planejavam fazer isso desde o dia em que ele me apresentou para ela. De qualquer forma, sei que eles ficaram juntos depois que eu morri. Às vezes me pergunto se ele era o escolhido dela.

Toquei o ombro do Franklin. Ele estava quente.

— Quando você chegou, significava que era encrenca. Você e o David. Nosso sistema funciona assim, se descobrem sobre a gente, nós matamos... Mas os caras fizeram de tudo para que você ficasse. Isso significava que uma hora ou outra, seríamos descobertos, e todos pagaríamos um preço por isso. Inclusive eu, por ser um cúmplice. Tive medo que a sua presença na casa me impedisse de voltar a ser um humano.

Aquilo fez muito sentido.

— Você quer voltar a ser um humano?

— Pode parecer idiota, mas quero. Talvez eu dê sorte dessa vez. É a minha segunda chance. 

Sorri.

— Mas se os superiores souberem que eu e os caras estamos escondendo você... Vamos todos pagar um preço, e possivelmente, não voltaremos a ser humanos.

— Eu não queria causar isso. De verdade.

— Fica fria, garçonete. Nós vamos dar um jeito.

Assenti.

Após isso, foi a vez do Franklin me surpreender com uma pergunta.

— David. O que você sente por ele?

Olhei para ele de lado, assustada com a pergunta.

— C-como assim? Eu gosto dele, como eu gosto de todos...

— Não vem com essa. 

— Ok. — Franklin me contou uma parte importante da sua história. Talvez eu deva contar da minha também. — Antes de saber quem era o David, eu... Observava ele secretamente quando ele ia até a lanchonete. Ele tinha alguma coisa. Eu o chamava de "rapaz misterioso".

Franklin fez uma careta para mim, como se dissesse "que nojo".

— Ele era o motivo de eu ir trabalhar tão feliz. E quando ele não aparecia, eu... Simplesmente me sentia decepcionada. Então no dia que ele apareceu no Kismet junto com o Bruce, eu me aproximei e segui os dois na hora de ir embora. Foi assim que flagrei as asas.

— São uns idiotas, mesmo.

— Depois aconteceu todo o resto. David me levou até a casa de vocês... E desde então eu sou uma fugitiva. 

— Então quer dizer que você estava apaixonada por ele mesmo antes de conhecê-lo?

— Eu não disse isso!

De repente Franklin ficou sério.

— Você sabe que não vai dar certo, não é?

— O que quer dizer? Eu e o David não...

— Pode ser difícil, mas tente ficar longe dele. A punição para um cupido que fica com a sua escolhida é mais severa do que você imagina.

Assenti e garanti ao Franklin que eu e David não temos nada. Mas ainda assim, meu coração disparou quando ele mencionou meu cupido. 

Depois do silêncio, Franklin me pediu um favor.

— Não conte a ninguém sobre a minha trágica história. Você é a única que sabe.

— Nem mesmo os...

— Nem mesmo eles. — Respondeu, em seguida virou de costas para mim.

➴ ➵ ➶

Quando amanheceu e os pássaros me acordaram, Franklin já não estava mais dentro da barraca. A lamparina estava apagada. Puxei o zíper e saí. 

Franklin apareceu pouco tempo depois, e disse que precisávamos ir.

— Ir aonde? — Pergunto.

— Vou te levar até o David. E deixe o resto comigo. Eu vou dizer a ele o que aconteceu.

➴ ➵ ➶

Nós fomos caminhando. Voar durante o dia é um tanto arriscado. Apesar de o voo ser invisível na maioria das vezes.

Quando chegamos, encarei a porta da casa dos meninos. Um arrepio correu por minhas veias. Estou aqui, outra vez, depois de pensar que nunca mais voltaria.

Franklin abriu a porta e eu entrei. Não havia ninguém na sala inicial. Franklin chegou gritando o nome do David. Ele devolveu o grito do andar de cima e pouco tempo depois desceu.

Quando eu o vi, corri e o abracei, bem forte, sentindo seu perfume, seu peitoral forte e seu corpo quente. David devolveu o abraço, surpreso e confuso,  enquanto Franklin nos olhava.


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