Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 29
Revelações


Notas iniciais do capítulo

Hoje agradeço a minha querida "Emili Jackson" pela recomendação que fez para a história ♥ aaaaaaaaaaaa, que coisa mais linda! Estou lendo e relendo, é o maior gesto de carinho que recebo de vocês. Muito obrigada, Emi ♥

Boa leitura, amores.



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— Bruce?

O sol acabara de nascer. Olhei para a cama e Stacy estava acordada. Ela me viu de pé, vestindo a minha calça, me preparando para ir. Eu não queria que ela acordasse. Não quero que pareça que estou fugindo outra vez.

— Vai mesmo fazer isso? — Ela se levantou um pouco e ficou apoiada em seu travesseiro. — Ir embora sem se despedir?

Evitei olhar para ela. Admito que estou sem o controle da situação. Depois que matamos os cupidos superiores, eu deveria evitar Stacy e nunca mais fazer contato com ela. Deveria estar procurando o seu escolhido agora. Mas acabei passando a noite aqui. Estou tornando as coisas mais difíceis.

— Preciso ir. — Foi a única coisa que consegui dizer após levantar a calça.

Ela suspirou. Estava péssima. Havia chorado quase a noite toda.

— Antes que vá, eu preciso te contar uma coisa.

Olhei para ela.

— Estou tentando contar a você já faz um tempo. É sobre... O meu passado. — Seus olhos encheram com lágrimas instantaneamente. Ela brincou com os próprios dedos para se distrair.

Fiquei de pé, ainda a encarando. 

— Há bastante tempo, quando eu fiz treze anos... — Sua voz falhou. — Minha mãe fez amizade com o nosso carteiro, então, toda manhã ele aproveitava a ausência dela em casa, e... Me obrigava a fazer coisas que eu não queria. Da primeira vez fiquei com tão assustada, que tive medo de contar a ela. Pensei que não iria acontecer de novo. Mas ele conquistou a confiança dela, e aos poucos  foi ganhando poder na casa. — Stacy estava lutando para falar. E dizia as palavras rapidamente, com vergonha. — Minha mãe se apaixonou por ele. Foi tudo muito rápido. Ele se mudou para minha casa e ficou mais perto de mim. Todos os dias, quando minha mãe não estava em casa, antes de sair para entregar as correspondências, ele me obrigava a fazer tudo o que eu não queria. — A esse ponto, as lágrimas escorriam. — Eu saí de casa aos quinze anos, para ficar longe dele. 

Não consegui olhar para minha Stacy. Tudo o que eu via era uma garotinha fraca, cheia de machucados, se escondendo por trás de toda uma personalidade forte. Eu não estava presente nessa época da vida dela, e me senti culpado.

— Eu achei que sair daquela casa seria melhor. Mas depois tudo só piorou. Namorados abusivos, drogas e festas. Eu fui muito mais infeliz do que imaginava ser um dia. E quando eu estava indo bem e encontrei um cara legal e iniciamos um namoro, ele me traiu com a vadia da minha colega de trabalho. — Ela riu enquanto chorava. — Eu estava tão feliz e ele acabou com tudo. Larguei meu trabalho e passei meses me drogando nas esquinas, de madrugada. — Stacy se levantou da cama, amarrou seu roupão branco ao corpo e devagar caminhou até mim, agora abrindo um sorriso. — Mas eu encontrei você, Bruce. Prometi que não depositaria a minha confiança em mais ninguém. Jurei me tornar uma justiceira e matar todos os bad boys do planeta. — Agora ela sorria. Se colocou em minha frente e envolveu os braços em volta do meu pescoço. — Mas você parecia me conhecer tão bem... E tinha algo diferente de qualquer outro cara que conheci. Você me faz sentir segura. Com você eu me esqueço do meu passado. Acho que você precisava saber disso, eu confio em você, Bruce. Mesmo quando você insiste em esconder o que realmente se passa dentro de você. Inclusive o seu próprio sobrenome e quem é a sua família.

Não sabe o quanto eu quero te dizer, Stacy... Mas como posso revelar que sou seu cupido? Como posso dizer que não podemos nos encontrar mais e que essa foi a última vez? Eu não quero precisar apagar a sua memória.

Eu devia dizer a ela que precisava ir. Mas ao invés disso a abracei forte e novamente nos jogamos em sua cama.

➴ ➵ ➶

CASSIE

Pensei em dar meia volta, mas Hayley já tinha me visto. Tentei encontrar um motivo para Dean Trent estar ali naquela mesa, acompanhado dela. 

Eu precisava enfrentar a situação, então caminhei até os dois, tentando parecer segura. Não pensei que eu veria o Dean novamente depois de observar os cupidos agredindo ele.

— Cassie. — Hayley abriu um sorriso sereno e logo se levantou para me abraçar. Nos cumprimentamos e olhei de relance para o Dean. Não falei com ele, e me sentei ali, tentando ficar o mais longe possível. — Estávamos te esperando para fazer o pedido.

— Não estou com fome. — Falei rápido. — Eu... Não sabia que teríamos companhia. — Forcei uma risada.

— Eu o convidei. Lembro que você me disse que ele era um cara legal... — Ela levantou as sobrancelhas maliciosamente, e o tom de sua voz mudou. — Então... Pensei que seria bacana trazê-lo para jantar conosco. Falando nisso, cadê o David? — Hayley perguntou.

Aquilo era inacreditável. Hayley estava tentando me juntar com o Dean? Mesmo depois de eu ter dito que não havia dado certo? O que ela tem na cabeça? Talvez essa foi uma tentativa fracassada de recriar o duplo encontro que tivemos há alguns meses atrás. Eu e Dean, ela e David.

— Ele não pôde vir. Eu disse a ele que seriamos só nos duas.

— Que pena. — Ela se mostrou triste. — Mas tudo bem. E então? Não vão se falar? — Ela olhou para mim e para o Dean.

— Não tem problema. — Disse Dean.

Aquela era a pior sensação que eu poderia sentir. Dean passou a me causar calafrios depois do "presente" que me enviou. Ainda me pergunto como ele conseguiu o óculos da minha mãe e o avental do Dolph.

— Vamos pedir. — Hayley pegou o cardápio, animada.

— Não. Eu não estou com fome, Hayley... Eu vim por um motivo. Quero te pedir uma coisa.

— Sim! Eu sei qual é! — Ela estava tão animada que estava me assustando. Carregava um sorriso desde que cheguei. — David havia tocado no assunto. De inicio eu pensei que não fosse uma boa ideia, mas daí, eu pensei no Dean. Ele me passou o número dele e nós conversamos da última vez.  

— O que quer dizer com isso? — Franzi minha testa e olhei para os dois.

— Vamos comer alguma coisa! — Hayley insistiu.

— Hayley? — Perguntei.

Ela olhou para o Dean, sem saber o que fazer.

— Cassie, se acalme... Só vamos fazer uma proposta.

— O que está acontecendo aqui? Desde quando vocês se conhecem? 

— Só nos vimos naquele dia do seu encontro, eu juro. — Hayley falou. — Mas não podemos iniciar essa conversa sem beber alguma coisa. Por favor. — Ela dobrou as sobrancelhas e fez a sua melhor expressão de suborno.

Acabei aceitando, mesmo querendo sair correndo dali. Hayley pediu três martinis, sem nem mesmo perguntar o que eu queria. Quando as bebidas chegaram, ela aceitou continuar a conversa.

— Eu gostaria muito de hospedar você em minha casa — ela falou, e senti que não era verdade. — Mas minha meia-irmã já está morando comigo, e ela tem dois filhos. Tem sido complicado e não acho que seria confortável. Então... Quando eu toquei no assunto com o Dean, ele se ofereceu para te hospedar na casa dele! — Ela disse empolgada, como se aquilo fosse normal.

Eu mal sabia o que dizer. Fiquei petrificada. 

— Isso é uma brincadeira? — Perguntei e olhei para o Dean.

— Cassie, é uma sugestão. — Dean falou.

Tentei me retirar da mesa, mas Dean cuidadosamente colocou uma mão em meu braço.

— Por favor. — Ele pediu.

Respirei fundo e me sentei outra vez.

— É a única opção que você tem, Cassie. Dean é um cara legal. — Hayley tentou me convencer. — Mas se não quiser, você pode procurar outro lugar. Afinal, por quê você quer sair da casa do David?

Ela e o Dean me lançaram olhares questionáveis e me senti desconfortável, pensando em uma resposta.

— Eu... — Pigarreei. — Acho que os rapazes precisam de mais espaço. Ser a única garota no meio de cinco deles é um pouco difícil. Acho que está na hora de sair de lá.

— Mais um motivo para você dar uma chance ao Dean! Ele mora sozinho e não iria se incomodar!

Quem a Hayley quer enganar? Está claro que ela quer me ver longe do David. Por isso está me ajudando.

— Desculpem. Isso não vai dar certo. 

— Eu vou ao banheiro. Aproveitem para conversar, por favor. — Hayley se retirou e levou a sua bebida junto.

Foi terrível ficar sozinha com o Dean. Ele perdeu todo o respeito que eu tinha por ele. Já não o reconheço mais. Como ele acreditou que eu poderia ir morar com ele?

— Me diga o que eu fiz para você? — Foi o que Dean perguntou quando Hayley saiu. — Na verdade, acho que você me deve uma explicação. Não entendo porquê se afastou de mim sem nem mesmo dizer o motivo.

Olhei para ele e senti vontade de jogar meu martini em sua cara.

— O que você fez? Você foi um otário! Por quê me enviou aquilo? Acreditou que eu te daria atenção se fizesse isso?

— Bom, eu pensei que sim. Sempre funcionava com as garotas que eu saía.

Eu ri e me remexi na cadeira, inconformada e desconfortável.

— Cassie, era só me dizer que os presentes não te agradavam. Então eu não enviaria mais. — Ele se aproximou. Dean estava incrivelmente bonito naquela noite. Seu visual despojado o deixava muito bem.

— Não foram os presentes. Foi a caixa com... Os pertences. O óculos da minha mãe e o avental do meu chefe. Você me assustou.

Dean franziu a testa e me encarou como se eu tivesse dito algo de que ele não sabia.

— E você acha que eu te enviei isso?

— Seu nome estava na entrega. Eu também vi quando os rapazes bateram em você. 

— Acredite em mim, eu nunca faria isso com você. Alguém fez isso para me prejudicar!

Dean parecia falar sério. Mas não acreditei nele. Eu não tinha provas.

— Acha que eu faria algo assim e marcaria com o meu nome? O que eu ganharia com isso além do seu ódio? — Dean falava com convicção. — Cassie, você sabe mesmo com quem está lidando? Não acha que alguém me odeie o suficiente para me colocar contra você?

Desviei meu olhar e pensei em um milhão de coisas.

— Se precisar, eu estarei aqui. Acho que você está fazendo a coisa certa em sair daquela casa. Eu posso te ajudar.

Me levantei rapidamente.

— Não fale comigo, Dean. — Andei com passos rápidos, me afastando dele. Dean me deixou confusa. 

Hayley saía do banheiro naquele momento, e me viu fugindo. Nenhum dos dois vieram atrás de mim. Me encontrei na estrada vazia, frustrada, quase chorando. Caminhei por um longo tempo até encontrar carona.

➴ ➵ ➶ 

No quarto do David, trancada, pensei na hipótese de Dean Trent ser inocente diversas vezes. Alguém me enviou aquela caixa. Dean diz não ter sido ele. David me perguntou como foi a minha conversa com a Hayley, eu disse que ela me pediu desculpas e que não poderia me hospedar. Ele respondeu dizendo que encontraria um apartamento para mim, mas eu recusei e o evitei.

Depois do nosso beijo, nos mantemos afastados. 

Agora eu não sabia no que acreditar. 

Durante a noite do dia seguinte os cupidos foram ao Bar dos Cupidos. Eu fiquei sozinha com o Franklin. A minha maior surpresa foi quando ele apareceu na sala, e tentou conversar comigo.

— Garçonete?

— Sim?

— Você tem um minuto? — Ele se juntou a mim na sala e se assentou afastado de mim.

— Claro. — Sorri.

— Eu acho que você precisa saber. — Apoiou os braços nas pernas e parecia se preparar para dizer algo importante. — Vamos lá... — Suspirou.

— O que está acontecendo?

— É sobre o seu cupido. — Franklin me olhou nos olhos e disse. Ele estava sério, e aquilo me assustou mais ainda. Será que ele viu quando eu e David nos beijamos? Naquele momento meu coração disparou.

— O que tem o David?

— Ele tem enganado você. — Foi curto e grosso, e parecia estar falando sério. — Não parou para pensar que isso tudo é estranho? O carinho excessivo que ele tem por você, a proximidade, não quis te matar quando você viu as asas...

— O que quer dizer com isso, Franklin? Eu sei disso. Ele se importa comigo, assim como os outros. Desculpe, mas a culpa não é do David se você é o único cupido que trata mal a sua escolhida. David sabe ser gentil. — Me opus.

— Calma! — Ele riu. — Vejo que está decidida a defender seu cupido com unhas e dentes. — Parou de rir e voltou a ficar sério. — Mas você não faz ideia do que está acontecendo de verdade. Tudo o que você sabe sobre nós é só a ponta do iceberg.

Me remexi no sofá e me calei.

— Seu cupido é um maluco que se importa só com ele mesmo. E eu descobri isso com o tempo. Venho juntando algumas pistas, e cheguei a uma conclusão. 

— Qual?

— David já encontrou o seu escolhido há bastante tempo. — Franklin abriu um sorriso malicioso.

Primeiro eu ri, depois notei nas expressões do Franklin que ele realmente falava sério. Aquilo me assustou.

— Está dizendo a verdade? — Perguntei, tentando não demonstrar o quão assustada eu estava. Ficar sozinha com o Franklin de repente não pareceu uma boa ideia.

— Ele só está tentando esconder isso de você porque sabe que vai te perder quando você iniciar um relacionamento com o seu escolhido. 

Continuei calada.

— Vai me dizer que não notou a forma como ele te olha... Como te protege... — David contava nos dedos os gestos de carinho que David tinha por mim. — É um louco! Não pensou em você e na sua segurança. Ele não liga se você pode morrer ou não.

— Franklin, você está dizendo algo muito sério.

— E acha que eu não sei? Por quê você acha que eu não me dou muito bem com ele? É por causa disso! David é o cupido mais experiente entre nós, ele sabe muito bem como enganar alguém. Principalmente garçonetes tímidas e inexperientes.

— Por que está me dizendo isso se nem gosta de mim? Você nunca se importou, Franklin! Me diga, qual a sua real intenção me dizendo isso?

— Acha que estou fazendo isso por você, garçonete? — Ele deu outra de suas risadas. — Estou fazendo isso por mim. Minha vida está em jogo também. Acha que eu não vou ser punido se os superiores souberem que eu sou cúmplice do David e do Bruce? Eu faço parte desse jogo, e preciso me defender. É muito mais sério do que você pensa... Você não faz ideia do que eles fazem com cupidos que quebram as regras.

— Quem é o meu escolhido? — Perguntei, já em choque.

— Quem mais seria? Dean Trent. O louco das correspondências. — Franklin riu, eu fiquei sem reação. — Por essa você não esperava, né? Mas não se preocupe porque eu sei como você pode se livrar dessa...

Ignorei o Franklin, me levantei e apressadamente caminhei até o quarto. Aquilo não podia estar acontecendo... Depois de tudo o que passamos, agora descubro que David, meu cupido, o rapaz misterioso da lanchonete, estava me enganando esse tempo todo? Era por isso que ele nunca se dava bem com o Dean? Era por isso que ele sempre procurava me manter aqui em sua casa?

Esse tempo todo David estava tentando me separar do meu próprio escolhido?

Me sentei em sua cama, ofegante, e pensei em tudo. Talvez Franklin esteja falando a verdade. Quando beijei Dean, David desapareceu no outro dia. Parecia irritado, e depois falou que Dean não era o meu escolhido. 

David me beijou... E o que senti foi de verdade. Talvez foi um plano do meu próprio cupido me fazer ficar apaixonada por ele. 

E talvez... Foi David quem me entregou a caixa com o óculos da minha mãe e o avental do Dolph. Ninguém me conhece tão bem quanto ele.


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