Eu e David estamos passando mais tempo juntos, para tratar de "negócios". Sinto que ele ficou bem mais à vontade depois que dei um chute no Dean. Agora ele parece mais disposto a me ajudar. Além disso, depois que todos descobrimos que Bruce e Stacy estão tendo um caso, as coisas estão ficando mais rígidas. Estou saindo da casa com menos frequência. Só saio para ter um encontro ou então para ir ao bar dos cupidos, de vez em quando.

— Como está a Hayley? — Perguntei ao David. Estamos em seu quarto. Estou organizando algumas coisas enquanto ele está sentado na cama, me observando, vestido todo de preto, o visual habitual dos cupidos.

— Hayley? — Ele franziu a testa — Por que quer saber da Hayley?

— Não sei. Ela nem falou comigo quando eu estava no bar dos cupidos. Acha que fiz algo errado? Porque ela me disse que gostaria de ser minha amiga.

David não se importou, apenas soltou uma rápida risada.

— Não se preocupe com a Hayley, Cassie. Ela é assim, sempre se afasta quando se sente ameaçada.

— Ameaçada? Por mim? — Ri. — Eu não sou uma ameaça. O máximo que posso fazer é jogar café quente na blusa dela.

David riu outra vez.

— Pois eu acho que você é capaz de fazer muito mais. — David se levantou da cama, e com passos lentos e discretos caminhou até mim, que estava encostada em uma cômoda.

— Ah, é?

— Sim. — Ele assentiu e ficou bem próximo .— Essa casa não era a mesma coisa sem você. É como se você tivesse dado vida a esse lugar. Colin acha você incrível, Bruce me falou que você é a única amiga que ele tem, Franklin pode parecer um idiota, mas eu tenho certeza que ele gosta de você, e o Louis... O cara estaria perdido se você não estivesse aqui. Entende o que eu quero dizer? É como se você trouxesse cor a esse lugar.

— Eu acho que está exagerando. — Ri, tentando ir para trás, mas não dava. A cômoda estava atrás de mim, e David muito perto, cada vez mais.

— Não estou. Nós costumávamos beber toda madrugada e conversar sobre o quanto somos fodidos. Mas com a sua chegada, esses caras têm se comportado muito mais, se esforçado mais. Acho que te respeitam e te admiram, Cassie.

— E-eu acho que sim...

— E eu... — David envolveu sua mão em minha nuca, inesperadamente. Sentir seu toque sempre fora uma sensação nova para mim, sempre me causa surpresa e calafrios, e talvez seja esse o problema... Até a ideia de tocá-lo me soa perigosa. — Eu estaria perdido sem você. — Sua voz saiu rouca e estava tão próxima. Aquilo era tão indescritível, algo que nunca senti antes em toda a minha vida, estar tão próxima assim de um cupido, sentir sua respiração e seu olhar tão de perto. Naquele momento entendi todas as garotas humanas que iam ao Bar dos Cupidos todos os dias.

Os cupidos têm um calor diferente, algo muito distinto do ser humano. É como se exalassem desejo! Naquele momento pensei: Por que os cupidos são tão atraentes? Isso não dificulta ainda mais o trabalho deles? As garotas caem matando em cima de cada um deles, o que os atrapalha em sua missão. Então é por isso que são tão atraentes. É para o trabalho deles ficar ainda mais difícil.

Por quê eu tô pensando tanto!?

Naquele momento, eu não fazia ideia de como escapar daquela situação. Que raios David estava fazendo? Já não basta Bruce estar indo contra as regras por sua escolhida, agora David decidiu fazer o mesmo? Será que ele sabe o quanto isso me enlouquece?

Apesar de tudo, das regras, de todo o sobrenatural, apesar de ser o meu cupido, ele ainda é o meu rapaz misterioso.

David ainda é para mim o rapaz que me olhava secretamente, sentado na última mesa do Kismet Diner. O rapaz que me fazia querer levantar todas as manhãs somente para vê-lo. Ele me fazia passar madrugadas acordada imaginando qual seria seu nome. 

Porém agora, tudo mudou, principalmente à partir do momento que aceitei essa minha nova realidade.

David é meu cupido. E isso muda tudo.

— Eu vou te tirar dessa. — David se afastou, me mandando um sorriso sereno. Era como se ele soubesse exatamente o que eu estava pensando. 

Naquele momento percebi que David não faria nada que fosse me prejudicar. Ele não levou nossa conversa afundo porque sabia que era errado. Além disso, ele me fez uma promessa.

— Até depois. — Ele saiu do quarto.

Tentei parar de pensar no David pelo resto do dia, mas não deu certo. Apesar de gostar muito dos rapazes, isso me fez querer que as coisas andem logo, que meu escolhido apareça de uma vez por todas, para que nenhum de nós cometa uma loucura.

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Durante a tarde passei um tempo com o Louis. Ele estava me contando sobre as coisas que tem aprendido, e sobre como teve que entrar na casa de sua escolhida sorrateiramente, para poder vê-la pela primeira vez.

— Ela estava em seu quarto, em sua cama, com um notebook nas mãos. Ela parece ser uma garota incrível, Cassie. Apesar de se esconder do mundo, o dia todo, no escuro do quarto, eu consegui ver tanta coisa boa nela... Além disso, ela estava visitando a rede social de um garoto. Olhava para as fotos dele e sorria.

— Talvez esse seja o escolhido dela! — Sorri, empolgada.

— Estou pensando em uma forma de tirá-la do quarto. Vai ser difícil, mas estou disposto a fazer isso.

— Que bom.

— Foi bem difícil entrar na casa dela. Como ela estava sozinha, entrei sem precisar usar a invisibilidade. Depois, quando entrei em seu quarto, consegui ficar. Acho que estou pegando o jeito. Também descobri algumas coisas novas.

— Como o quê?

— Cada garota no mundo tem um escolhido. E não importa como, um dia ou outro, ela vai conhecê-lo. Ele pode até mesmo estar do outro lado do mundo, se ele for seu escolhido, ela vai encontrá-lo. O trabalho do cupido é apenas analisar, e quando ele souber que aquele é o cara, basta apenas atirar. — Louis fez um gesto, como se estivesse atirando com arco e flecha.

— Atirar? Como?

— Não sei, ainda não cheguei nessa parte. Mas tenho quase certeza de que é com arco e flecha.

Fiquei curiosa. Se os cupidos têm arco e flecha, por que nunca me mostraram? Talvez seja proibido.

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De tarde, enquanto eu estava no sofá, remendando uma de minhas blusas, alguém tocou a campainha. Como eu não podia atender a porta, Colin surgiu da cozinha, abocanhando um sanduíche e foi ver quem estava na porta.

— Entrega para você, Cassie. — Colin falou de boca cheia e fechou a porta, e eu fui correndo para ver.

Colin me entregou um buquê de rosas vermelhas, com o mesmo olhar malicioso que ele fez quando viu a caixa de bombons. O sorriso malicioso dele, com a boca toda cheia de sanduíche, deixava a situação ainda pior.

Peguei as flores, sem reação. Àquela altura eu já fazia ideia de quem havia enviado.

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Eu te amo tanto.

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Havia um bilhete ali. 

— Eu te amo tanto... — Colin leu em voz alta.  — Você definitivamente tem um admirador secreto.

— Não tenho! É o Dean! — Falei, fingindo não me importar. — Eu falei para ele que não quero nada. Então por quê essas flores?

— Acho que o cara não desistiu de você. 

— O que eu faço com isso? — Reclamei. 

— Dá para mim. Eu curto queimar flores de vez em quando, é legal.

Olhei para ele, horrorizada.

Amo flores e seria maldade deixá-las nas mãos do Colin. Porém, eu já tinha o ursinho de pelúcia que Dean me deu e não podia colecionar todos os seus presentes. Além disso, nunca fomos um casal de verdade. Estávamos apenas nos conhecendo. Então joguei as flores nos braços do Colin.

— Pegue, antes que eu me arrependa.

— Valeu. — Colin sorriu e saiu mordendo seu sanduíche, vitorioso com o buquê nas mãos

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Durante a noite, estavam todos os cupidos em casa. Tinham cumprido sua tarefa hoje. Franklin disse que sua escolhida estava na casa da avó, e raramente vai encontrar o escolhido dela enquanto estiver lá. Ele falou que ela prefere ficar o tempo todo comendo as refeições que a avó prepara. A escolhida do Colin foi dormir um pouco mais cedo hoje, então ele veio para casa. Bruce não nos contou como está Stacy, mas tenho certeza de que ela está em casa e bem. Louis também está aqui porque sua escolhida pegou no sono enquanto assistia um série de TV, então ele a deixou sozinha. E David... Bem, podemos dizer que eu sou a única escolhida que está com seu cupido, no momento.

— Isso é incrível. — Comentei, e todos eles me olharam. — Vocês são muito mais do que cupido dessas garotas! São como anjos da guarda! — Falei, e me lembrei de quando David me defendeu dos marginais enquanto eu estava saindo da lanchonete. Se ele não tivesse aparecido, algo muito ruim teria acontecido comigo. — Me digam, alguma vez já livraram suas escolhidas de algum mal?

— Eu já. — Colin se pronunciou. — Certa vez minha escolhida foi para uma festa e bebeu todas que esqueceu o próprio nome. Nenhum amigo se importou de levá-la para casa, ela estava inconsciente, então eu a peguei e levei para casa em segurança. 

Todos os cupidos bateram palmas para o Colin depois do discurso. Mas bateram palmas tirando sarro.

— Meu herói. — Franklin gritou, acariciando a cabeça do Colin.

— Obrigado. — Colin fez uma reverência com as mãos.

— Certa vez Stacy estava dirigindo enquanto teclava no celular. Ela não prestou atenção no caminho e quase bateu o carro. Eu estava presente ao seu lado, e fui eu quem virou o volante. — Bruce contou.

Sorri, maravilhada com ambas as histórias. Então, Franklin decidiu contar a sua história, e fiquei ainda mais animada. 

— Certa vez a minha escolhida estava andando pelo chão escorregadio, quase escorregando. Então eu fui lá e empurrei ela. Ela levou um tombo feio.

Os caras riram. Até mesmo o David e o Louis! Eu fui a única que defendeu a escolhida do Franklin, mas ainda assim, acabei rindo. Pobrezinha, com toda certeza ela sofre nas mãos dele.

— Ok, vamos falar de uma coisa mais legal. — Franklin continuou, depois de rir feito louco com os outros cupidos — Quem aí já espiou a escolhida enquanto ela tomava banho?

Todas as risadas pararam e houve um silêncio. Não acreditei na audácia do Franklin e abri a minha boca.

— Qual é? Podem falar. Quem nunca? É típico de todo cupido. Todos nós já fizemos. Principalmente observá-la enquanto ela troca de roupa. Não dá para evitar. — Franklin disse aquilo numa boa, tranquilo e relaxado no sofá.

— Não posso negar, irmão. — Colin soltou e eu gritei.

— Vocês são tarados!

— Garçonete... Você também não está livre dessa, ou acha mesmo que David nunca te viu pelada? Toda vez que algum objeto da sua casa cai sem ninguém tocar, ou quando você ouve um barulho estranho quando está sozinha. Somos nós. — Franklin prosseguiu.

Ruborizei. Naquele momento eu quis abrir aquela porta e sair correndo, gritando pelo nome do Jason para que ele me pegasse. Olhei para o David e mal pude ler suas expressões, porque nem mesmo consegui olhar para ele por muito tempo.

Isso é muito injusto!

— Do Bruce nem precisamos suspeitar. Ele com certeza já explorou a escolhida dele. — Franklin olhou maliciosamente para o Bruce. Bruce colocou a língua para fora e a mexeu, insinuando um gesto muito feio.

— Já chega, seus virgens. — David falou para eles.

Louis estava tão horrorizado quando eu.

— Espera aí que eu vou pegar uma coisa. — Colin saiu correndo e voltou com o buquê de flores que recebi do Dean. Todos ficaram intrigados. — Cassie recebeu isso do admirador secreto. Será que a nossa garotinha está prestes a encontrar seu escolhido?

— Isso é sério? — David perguntou, com um sorriso travesso no rosto, e pediu para o Colin lhe entregar as flores.

— Foi o Dean. — falei, fingindo não me importar. — Acho que ele ainda tem esperança de acontecer alguma coisa.

David leu o bilhete que havia ali e franziu a testa, logo em seguida me olhou. Ao contrário do que eu pensava, David ainda carregava o sorriso travesso nos lábios bem esculpidos. 

— Esse cara é um idiota. — David falou, sem se importar.

A noite terminou assim. Colin, Franklin e Bruce arrancando as pétalas das flores e dizendo "bem me quer, mal me quer". Definitivamente, eles humilharam o presente que Dean me deu.