Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 18
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Notas iniciais do capítulo

Mai um cap. para vocês.
E quero agradecer ao Luk. Que recomendação maravilhosa, eu amo esse garotooo!
Muito obrigada.

Beijos e boa leitura a todos ♥



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Como dizer ao meu cupido que não quero mais obedecer às ordens dele? Como posso dizer ao David que cansei de ser uma fugitiva, que quero a minha vida normal de volta e que quero voltar à trabalhar na lanchonete do Dolph?

Em seu quarto, como de costume, tranquei a porta e fiquei ensaiando inúmeros argumentos para convencê-lo a me deixar livre, mesmo que isso custe minha morte. Eu precisava ao menos tentar ter minha vida não-sobrenatural de volta. Eu queria parar de pensar em paixões e em corações partidos. Ser apenas Cassandra Drayton uma outra vez, a garçonete.

Enquanto eu montava o discurso mentalmente, ouvi alguns gritos vindos da sala, e não eram gritos que os cupidos soltavam quando seu time preferido fazia um gol, mas eram gritos desesperados. Rapidamente destranquei a porta e corri feito louca até o andar de baixo.

Não acreditei no que vi.

Havia um rapaz muito bonito na sala, porém desesperado. Ele estava sem camisa, e sua calça jeans, toda rasgada. Parei em um dos últimos degraus da escada, com medo de avançar. A parte que mais me chocou foi ver o grande par de asas do rapaz sem controle algum! As gigantescas asas dele batiam sem parar, e ele não sabia o que fazer, enquanto Franklin, Bruce, Colin e David tentavam domá-lo.

 — Fica quieto, desgraçado! — Colin gritou, sem controle. Eu nunca vi Colin tão zangado daquele jeito, logo ele, um dos cupidos mais serenos que já conheci.

— Tente sentir suas asas! — Bruce gritava, enquanto o cupido novato batia as asas e praticamente estapeava o rosto do Bruce com as mesmas.

— Acho melhor você voltar para o quarto. — David me alertou, se desviando das asas teimosas do cupido.

— Não querem ajuda? — Gritei, assustada.

— Quer saber, eu vou resolver isso agora. — Franklin correu para a cozinha por algum motivo. Ele também estava extremamente zangado e impaciente, assim como os outros.

— Odeio pagar de babá dos cupidos novatos. — Bruce murmurou, já cansado de tentar ajudar.

Inesperadamente Franklin surgiu com um balde de água gelada e jogou sobre o mais novo cupido da casa. Ele abaixou as asas instantaneamente e tentava abrir os olhos enquanto todo o líquido escorria por seu rosto.

 Boa. — Colin riu.

— Que merda é essa? — O novo cupido gritou, indignado.

— Guarda a droga dessas asas e se prepare para a burocracia, irmão. — Franklin apontou um dedo para o novo cupido, enquanto David vinha até mim.

➴ ➵ ➶

Os cupidos estão reunidos na sala de estar. Todos eles. Demorou um tempo para o novo cupido se acalmar. O nome dele é Louis. É uma das únicas coisas de que ele se lembra. Seu primeiro nome. Até agora ele não compreendeu o que está acontecendo. Ele mal faz ideia de que morreu. Será agora que os rapazes vão explicar a ele o que aconteceu. Eu decidi fazer um chá para acalmá-lo, e também para esquentá-lo, já que o Franklin deu um banho de água fria no pobrezinho. Com todos esses acontecimentos, acabei deixando o assunto de ir embora daqui para um outro momento. Eu sentia que o novo cupido precisava de mim, por algum motivo.

— Então eu morri. — Ele concluiu, com base no que os outros cupidos disseram a ele — morri por amor e agora ganhei asas. — disse com desdém, logo em seguida riu — Vocês são loucos. 

— Você viu as asas. — Colin disse, impaciente.

— É, eu vi. Isso deve ser um pesadelo, porque não consigo me lembrar de quase nada. Nem mesmo de quem eu sou, por mais que me esforce muito. Só consigo me lembrar da...

— Sua antiga namorada. — Franklin falou e revirou os olhos.

— Sim. — Ele ficou surpreso ao ver que o loiro oxigenado acertou a resposta. 

— Do que mais consegue se lembrar? — David perguntou. Parecia o mais paciente dali, assim como eu.

— Apenas do meu nome. E da minha namorada. E... Gritos. Acho que são os gritos dela.

Franzi minha testa.

— Tem mais lembranças?

— Fogo. Muito fogo... Uma casa pegando fogo. — Observei o garoto. Olhos claros e cabelo castanho. Os olhos de Louis transmitiam o mesmo incomodo que de todos os outros cupidos. Mas era como se eu pudesse ver a cena refletida nos olhos dele. Sua namorada gritando, e muito, muito fogo.

— Ah, não... — Franklin começou a rir.

— Consigo me ver subindo escadas em meio ao fogo, e posso até sentir a fumaça. As lembranças estão embaçadas. — Louis se apertou um pouco mais ao cobertor que cobria suas costas — Eu a salvei. Tirei Lilian pela janela, enquanto a casa estava desmoronando, e por algum motivo não consegui sair de lá. Acho que desmaiei.

Naquele momento meu coração se partiu e faltou muito pouco para que eu começasse a chorar. Louis era um herói! E achei tão maravilhosa a forma com que os cupidos se lembravam apenas de seus nomes e o nome da amada. Era a prova do quanto essas garotas eram importantes para esses meninos.

A risada do Franklin se agravou.

— Cara, você morreu tentando tirar a sua namorada de um incêndio? Você pensa que é o que, o aquaman? 

— Franklin. — O repreendi, e ele não se importou.

— Você poderia ter evitado isso. — Franklin continuou.

— Louis, está tudo bem. — Falei. Senti que precisava dizer isso.

— E você é quem, hein? Alguma deusa ou coisa assim? Vocês são um bando de estranhos. — Louis me respondeu. 

— Não. Sou uma pessoa comum, e estou aqui para te ajudar, se precisar. Eu sei como é ter que enfrentar essa realidade tanto quanto você.

Ele abriu um sorriso triste para mim, e assentiu. Aquilo foi um obrigado.

— Três escolhidas. — David disse, de repente — Serão apresentadas para você milhares de garotas solteiras por todo o Brooklyn. Você escolherá uma, e sua missão será encontrar o cara perfeito para ela. O escolhido dela. A pessoa com quem ela passará o resto da vida. Quando completar essa missão, você deverá acertar uma flecha no coração dela, sem que ela perceba. — David explicava atentamente, enquanto todos os outros rapazes ficavam em silêncio para ouvir. Até mesmo eu. Era bom saber um pouco mais sobre como tudo funcionava. — Logo depois deverá escolher mais duas garotas, e fazer a mesma coisa com elas. Quando sua missão estiver completa, poderá enfim, voltar a ser um humano. Será um recomeço. Você morreu por amor, e essa será a sua segunda chance. Porém, caso não deseje voltar a ser um humano, pode optar por se tornar um cupido superior. Então você não poderá, nunca, voltar a ser um mortal. Dedicará sua vida a ser um cupido superior. Os cupidos superiores são encarregados de manter a ordem. São eles quem punem os cupidos que quebram as regras, e eles estão em toda parte. 

— Isso é muito louco. Muito. — Louis não se conformava — Lilian está bem? Ela se feriu durante o incêndio?

— Louis, ouça. Esqueça sua namorada. Você está morto e ela não poderá te ver outra vez. Concentre-se na sua missão.

Louis pareceu querer chorar. Aquilo era tão doloroso... Não era a toa que todos os cupidos escondiam um passado extremamente triste.

— Sua recompensa será uma vida quase imortal. Você raramente será afetado por alguma doença. Poderá gastar com o que quiser, porém o necessário. Obterá alguns poderes que pode usar em benefício à sua missão, tais como eliminar memórias da sua escolhida, velocidade, força, invisibilidade, entre outros. Use suas asas somente quando necessário, e não se esqueça de mantê-las invisíveis aos olhos humanos.

Me lembrei de como peguei David e Bruce no flagra. Eles haviam se descuidado. E também me lembrei de quando David tentou apagar a minha memória, para me esquecer daquilo, mas acabou não funcionando.

— Você terá beleza em abundância durante todo seu percurso como um cupido, e poderá ter quantas garotas quiser, exceto, sua escolhida. — David continuou, e quando disse isso, houve uma troca de olhares pela sala toda. Bruce me olhou e eu olhei para ele — Se quebrar essa regra, será penalizado. Mas vamos com calma. Em outro momento falaremos mais sobre isso. Seu quarto será o porão, Colin vai apresentar a casa para você. — David terminou o discurso, se levantou do sofá e saiu dali. Ele parecia muito frustrado, então, aproveitando a oportunidade de que ele ficaria sozinho em seu quarto, pedi licença aos meninos e o segui.

➴ ➵ ➶

A porta estava semi-aberta, então fui entrando.

— David?

— Ei. — Ele sorriu.

— Você está bem?

— Estou. — Respondeu normalmente. Mas não era isso o que eu sentia.

— Estou com muita pena do Louis. 

— Ele vai superar. — David arrumou a gola de sua camiseta. 

Cruzei meus braços e fiquei o observando.

— Andou procurando por meu escolhido? — Decidi perguntar — Porque acho que já passou da hora de, sei lá, retomar a minha antiga vida e ir embora daqui.

David me encarou.

— Isso pode levar um tempo, Cassie. Não é uma tarefa fácil.

— Eu sei. — Respirei fundo, e pensei em dizer a ele que queria ir para casa, e dizer foda-se para toda a sociedade de cupidos, porém me reprimi.  — Mas quero logo ir para casa, falar com o Dolph... Quero deixar de sentir medo.

— Não sinta. Não deve temer nada, Cassandra.

— Então encontre meu escolhido, David. Eu estou cansada de me esconder. — Fui rude e me virei de costas. As coisas logo mudariam, eu tinha completa certeza disso.

➴ ➵ ➶

Estive conversando com Louis e explicando a ele algumas coisas que ele não sabia. Ele ficou chocado quando contei que sou a escolhida do David e que estou me escondendo na casa dos cupidos, para não ser pega pelos cupidos superiores. Estávamos nós dois conversando na sala de estar, ao meio dia. Louis está sem camisa e com as gigantescas asas expostas, e eu estou admirando-as há um tempo e o ajudando. Também passando as mãos, de vez em quando. As asas dele são lindas, como a dos outros rapazes. Mas parecem um pouco mais brancas.

— Você foi muito corajosa. — Louis me disse — E muito curiosa, também.

Soltei uma gargalhada, e naquele momento alguém bateu na porta.

— Eu atendo. — Corri até lá. Eu sabia que não podia atender a porta, porém acabei me arriscando. Quando a abri de fininho, para ver quem era, estufei meus olhos, e ele provavelmente se assustou com a cena dos meus olhos se esbugalhando na fresta.

Era Dean. Dean Trent!

— Dean?! — Abri a porta um pouco mais, só para poder ir para fora, mas cautelosamente, para que Dean não visse as asas do Louis. Sim, era ele! O cara que me fez ter um mínimo de esperança e depois sumiu, sem nem mesmo me dizer o porquê!

— Cassie. — Sorriu. Ah, como ele consegue ser tão lindo? É quase como um cupido.

— Que bom ver você.

— Digo o mesmo. Você tem um tempo sobrando para mim?

Assenti repetidas vezes. 

— Sim, claro!

➴ ➵ ➶

— David! — Entrei na casa gritando euforicamente, fazendo os outros cupidos se incomodarem e reclamarem dos meus gritinhos. Subi até o quarto do David, empolgada.

Ele me olhou.

— Adivinha quem veio me ver?

— Dean. — Ele respondeu sem hesitar. Meu sorriso se apagou imediatamente.

— Como sabe?

— É um palpite. Mas e então?

— Temos um encontro. Um encontro amanhã à noite. E tem que ser definitivo, David. Amanhã você tem que nos analisar, saber se eu e ele fomos feitos um para o outro. Isso tem que acabar e eu estou sentindo que vai dar certo. — Bati algumas palminhas.

David assentiu, não muito empolgado, mas feliz por mim.

— Tudo bem Cassie, amanhã. Vou procurar ficar longe da vista dele. 

— Sim, ok. Mas e aí? Vou precisar fazer alguma coisa? Perguntas ou algo assim?

— O que você achar necessário. Só tente ficar perto o bastante dele, assim fica mais fácil para mim.

— Ótimo. — Dei meu último suspiro de medo e ansiedade. — Agora saia do meu quarto. — Exigi, segurando uma risada. David me olhou, balançou a cabeça negativamente enquanto sorria, e saiu.

Eu ainda me sentia mal por ter tomado posse de todo seu quarto. Mas... Tinha lá suas vantagens.

➴ ➵ ➶

Encontro com Dean Trent. 

Ele disse que era surpresa, e realmente me surpreendi quando vi que seria em um estacionamento abandonado, onde alguns casais vinham sempre para contemplar a bela vista dos subúrbios do Brooklyn. Era incrível. 

Dean me explicou o motivo de ter desaparecido por tanto tempo sem entrar em contato e disse que sentiu minha falta e precisava me ver. 

— Você me intrigou, Cassie. Pode até parecer uma garota normal, simples, ao olhos de qualquer outro. Mas consigo ver algo em você. É uma garota bem mais forte do que imagina. — Sorriu. — Estive pensando em você nesses dias. Pensei que nunca mais seria atraído por uma garota novamente, então, você apareceu. — Ele abriu outro sorrisinho e encostou o polegar e o indicador em meu queixo. Dean Trent era um galã. Aposto que sempre fazia isso com as garotas com quem saía.

— Obrigada. — O encarei. Ele tinha algo. Dean Trent tinha algo diferente nos olhos. Não era lá tão incomodo quanto olhar nos olhos de um cupido, mas algo diferente.

David estava por aqui. Eu também podia sentir isso. A brisa gelada da noite estava soprando sobre mim e Dean e o silêncio reinava. David está nos observando. 

Me lembrei de suas palavras. Quanto mais perto, melhor.

Então, decidi ousar naquele momento. Um beijo. Um beijo com toda certeza significaria muito mais que um aperto de mão ou um abraço. Era disso que eu e Dean precisávamos, só assim David poderia nos analisar da melhor forma. Sem hesitar, me aproximei do Dean e deixei que ele me beijasse. 

Se ele realmente for o meu escolhido, o cara com que passarei o resto da minha vida, eu vou aceitar isso. Vou aceitar e vou poder voltar para casa. Dean é um cara legal e David finalmente estará livre. É a melhor saída.

Senti os lábios de Dean Trent preencherem os meus, e o calor do seu corpo me esquentou naquela madrugada fria. Estava acontecendo. Meu cupido estava nos analisando. 

O beijo não durou muito. Mas significou muito. Nunca pensei que meu destino inteiro fosse depender de um único beijo. Dean foi compreensível e o melhor pretendente com quem saí. Ele estava no topo da minha lista.

Quando terminamos, olhei ao meu redor. O encontro estava encerrado, e David estava presente. Não podíamos vê-lo, mas ele estava ali, analisando meu pretendente. Eu podia sentir o meu cupido.


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Notas finais do capítulo

O que acharaaam? Tem muita coisa vindo aí. Se preparem que em breve eu volto.
Beijos ♥