— Se você continuar com essa forma de porquinho vai acabar perdendo para os seus kouhais, Yu-ri~

Viktor sabia que estava pegando pesado com ele.

Na verdade, estava começando a mata-lo por dentro todas as vezes que Yuri lhe dirigia os olhos chorosos com os seus xingamentos e provocações. Viktor estava se sentindo um verdadeiro monstro. Mas ele dizia para si mesmo que era só provocação, e que estava fazendo isso pelo bem dele.

Viktor mais do que ninguém sabia que Yuri não podia competir estando acima do peso. Não era puramente uma questão estética, estando fora de forma Yuri não conseguiria alcançar os seus melhores resultados, e pior ainda, se ele permitisse que Yuri saltasse o japonês poderia se lesionar gravemente. E isso ele não deixaria acontecer de jeito nenhum.

Por isso ele dizia para si mesmo que estava ajudando Yuri a se recuperar, a se esforçar mais para voltar à toda forma para os próximos campeonatos. Afinal, ele não havia desistido da temporada e voado de Moscou até o Japão atoa. Ele estava aqui por Yuri, e ele iria ajudar Yuri, custe o que custar.

Mas ser técnico de alguém estava sendo um desafio e tanto, e eles mal começaram a treinar.  Viktor nunca teve que lidar com o emocional de outra pessoa além dele mesmo. E ele via claramente o quanto Katsuki Yuri sofria com isso. Era um nível de ansiedade que ele, particularmente, não conseguia compreender pois sempre conseguiu se manter tranquilo nas suas apresentações – óbvio que não totalmente, afinal nervosismo era mais do que comum antes de se apresentar – mas não ao ponto de estragar tudo que planejou como acontecia com Katsuki. Ele tinha todo um emocional a ser trabalhado, a comida era somente consequência de não conseguir lidar com a ansiedade e falha, assim entrando num ciclo vicioso até alterar a sua forma física. Não que Viktor não tivesse plena consciência que isso poderia acontecer com as pessoas, principalmente de mente mais fraca, mas era diferente quando ele que estava lidando com isso diretamente.

Então ele xingava, provocava, humilhava, com o sorriso mais inocente do mundo, mas sabendo no fundo do coração o quanto isso o feria. Ele não queria feri-lo, não quando a cada dia que passava se via cada vez mais obcecado pelo japonês. Viktor queria vê-lo crescer, superar seus obstáculo, ele queria o ver se sucedendo. Ele também queria que Yuri o deixasse dormir em seu quarto, que ele não fugisse dos seus toques, e ele queria tanto tocá-lo e acariciar o seu corpo.

— Por quê você me trata assim, Viktor? – ele o ouviu choramingar após mais uma série de provocações e droga, Viktor detestava ver pessoas chorando, mais ainda sendo ele, o katsudon que roubou a sua atenção e o fez cometer uma completa loucura ao deixar a Rússia.

— V-Você não gosta do jeito que eu sou, eu j-já entendi, m-mas não precisa falar assim comigo...

Viktor olhou para o seu rosto choroso, os olhos estavam marejados mas ele se esforçava para as lágrimas não caírem. As maçãs do rosto estavam vermelhas, e o óculos antiquado e nada sexy contribuíam para a sua mente traçar uma imagem tão adorável de Katsuki Yuri que ele mal conseguia se conter. Viktor, sinceramente, não se importa com a sua forma. Em outra situação ele não teria poupado esforços para seduzi-lo. Aliás, era isso que ele vinha fazendo desde que eles se conheceram nas termas, mas por incrível que pareça Viktor Nikiforov estava se contendo para não agarrá-lo o tempo inteiro.

Ah, Yuri... Se ele soubesse o quanto era delicioso como um prato de katsudon não estaria derramando essas lágrimas. Se ele soubesse o quanto Viktor se continha para não se inclinar exatamente como estava fazendo agora, e depois acariciar a sua pele, sentindo o seu perfume oriental exótico exalar da pele branca do pescoço, uma mistura de lírios e arroz doce, provar das suas bochechas redondas como um delicioso prato quente, e então morder a pele branca, que se tornava vermelha, e saborear a maciez das bochechas. Ah, Katsuki Yuri, você não sabe o quanto é mais delicioso que um prato de katsudon...

— Vsukno...

— KYAAAAAAAAH! VIKTOR!

O japonês pulou para trás, assustado com o movimento repentino de Viktor. O russo mesmo mal havia percebido o que ele tinha feito até Yuri se afastar com um grito. Demorou alguns instantes para ele perceber o sabor em sua língua, a expressão envergonhada de Yuri, e a marca bem feita e nítida de seus dentes no rosto do japonês.

Ah, ele havia mesmo mordido Yuri.

E sinceramente, não estava nenhum pouco arrepedindo.

Viktor abriu um sorriso, um sorriso até então pouco visto: era um sorriso de pura malícia e perversão. Do tipo que só um autêntico russo poderia dar.

Ele voltou a diminuir o espaço que Yuri impôs ao saltar para trás. Apoiou com força a mão na parede atrás do japonês mais baixo, deixando o outro completamente vermelho e sem ar. Aproximou o rosto, deixando no seu ouvido as seguintes palavras:

— Se eu fosse você teria cuidado, Yuri. Se não deixar essa forma de porquinho eu vou devorá-lo inteiro e ensopado.

Dizendo isso, Viktor deixou o recinto. Se ele não se controlasse, acabaria devorando o japonês ali e agora mesmo. E não poderia fazer isso com Yuri agora. Em outra ocasião, talvez. Ele só devia ser paciente e deixa-lo pensar que ele era um técnico rigoroso. O seu pequeno katsudon seria o seu prêmio depois.

E Yuri...

Yuri nunca desejou tanto ser ensopado.