O Cavaleiro das Trevas Ressurge - Contos de Gotham escrita por Ubathuba


Capítulo 1
Capítulo 1 - Sarjetas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/715568/chapter/1

Passos silenciosos seguiam pelo Bowery chutando papéis e sacos jogados pela calçada. O bairro que nunca foi muito amistoso jamais esteve tão ruim, não pelas pichações ou pelo abandono e sim pelo terror do último mês. Das janelas dos apartamentos Selina sentia olhos desconfiados de pessoas amedrontadas fitando-a e o vento gelado empurrando suas costas rua acima. Entrou no saguão de um grande conjunto habitacional, agora moradia de viciados amontoados em fogueiras ou dormindo encostados em paredes. Viu que um homem dormia sobre o papelão, mas estava usando um caríssimo casaco de pele como cobertor e lembrou as palavras de Bane: “os espólios serão divididos”.

Pichações de flores e folhas eram as mais freqüentes, seguidas por outras de liberdade e frases contra opressão e ecologia pintadas no chão, nas paredes dos prédios e nos carros sucateados. Entrou em um prédio gradeado em que estava escrito em vermelho ao lado da entrada: Homens são proibidos. Os corredores eram escuros e elevadores não estavam funcionando. Todas as portas estavam fechadas e apenas as lâmpadas de emergência estavam acesas, mas foram pintadas de vermelho. No sexto andar, uma mulher esperava Selina atrás de uma grade, que ela abriu em silêncio, olhando com malícia. Selina seguiu pelo corredor quando sua recepcionista trancou o portão e disse:

— É aí, ela está esperando você.

Ouvia-se uma música abafada do outro lado da porta. Quando ela abriu, a luz de grandes janelas de vidro quase cegou seus olhos enquanto passava por aquele cômodo, onde uma estufa fora montada. Um rádio fora colocado no canto em uma mesa tocando musica instrumental dos anos vinte, e uma mulher mal encarada com uma espingarda que estava sentada ao lado indicou uma porta do outro lado da grande sala. O outro cômodo era tão iluminado quanto o primeiro, e lá estava Pamela Isley deitada em um sofá cercada por suas capangas.

Selina retirou o capuz da cabeça e sem dizer uma palavra, as seguranças da Hera Venenosa se foram.

— Oi, Hera! Como vão os...

— Sente-se Selina! É bom te ver aqui. Tem chá na mesinha.

Pamela estava deitada olhando para o teto e não olhou para Selina nem quando apontou um sofá velho, perto da janela. Um vento contínuo entrava nas janelas abertas levantando as cortinas e o barulho seguia relaxante. Fez-se silêncio e por um momento, Selina se sentiu segura, pronta pra se espreguiçar enquanto olhava sua anfitriã serena balançando as pernas no ar. Selina conhecia muito bem o temperamento da Hera, e sabia o quanto era inteligente e desconfiada e ficou muito satisfeita em vê-la de bom humor. Na verdade ficou aliviada, pois desde a queda da prefeitura, restaram poucos lugares seguros para qualquer um. Ter uma velha amiga poderosa era uma boa vantagem, e Pamela estava indo muito bem na “nova era de Gotham” como os criminosos mais crédulos chamavam.

— Faz muito tempo que eu não te via. Você continua linda Selina! Andar por aí é perigoso!

Agora Pamela estava olhando ela com um sorriso bobo e olhos vidrados. Seu cabelo era volumoso e bagunçado, seus gestos e fala eram lentos como em um sonho.

— Se quiser, posso te conseguir um emprego aqui, comigo. As ruas não são mais como antigamente, você sabe.

— Eu me viro...

— Tenho certeza que sim! A última vez que eu vi você foi quando veio me dar a notícia da queda do seu... amigo.

— Eu nunca soube notícias suas, até semana passada. Não passam muitas informações pelo exército do grandão e eu estive meio ocupada. Não podia arriscar entrar em um território de alguém...

— Não importa mais! Agora tenho uma boa e segura operação aqui! Sabe Selina, as coisas não são mais como antes. Fomos todos libertadas!

Agora Pamela estava em sentada e com os braços abertos sob o sol. A conversa seguiu entre devaneios e frases desconexas. Selina se sentiu cada vez mais desconfortável, enquanto ouvia Hera explicando como a união entre as mulheres oprimidas de Gotham enfraqueceu os piores criminosos dominando o mercado do crime na cidade.

— Mas porque só mulheres? Perguntou Selina e a resposta veio imediatamente:

— Porque nós nos importamos Selina! Por isso! Não é claro? Os homens, eles só querem poder, dinheiro e dominação! Estamos lutando pela esperança de Gotham! É isso! Juntas podemos tomar a cidade, e até salva-la!

Essa versão da história poderia fazer sentido para Hera Venenosa, que era apenas uma botânica que visitara o mundo do crime antigamente fabricando drogas, enquanto alguém experiente como Selina via essa ingenuidade como algo muito perigoso. Ela acompanhou na verdade a trajetória de Hera neste último mês e sabia o que estava escondido nas entrelinhas do seu discurso otimista: Mulheres espiãs infiltradas em várias organizações desmembrando a cadeia de comando, assassinando os chefões, organizando ataques armados espalhando caos sob bandidos que Bane ignorava. Hera acolhia os menos favorecidos, especialmente homens viciados nas drogas que ela mesma produzia. Eles tornavam-se sua infantaria, escravos da droga e mulheres recrutadas tornavam-se suas guarda costas, assassinas e espiãs.

Selina se distraiu pensando sobre o que havia acontecido com a pobre Pamela, comandando uma das maiores organizações criminosas da cidade, não conseguindo ver o perigo que ser tão visada representava. Olhava para Hera e não via mais uma velha amiga, mas um produto da corrupção da cidade. Foi pega de surpresa sendo encarada também por Hera que falou:

— Você me chamou de Hera... Esse foi o apelido que você me deu quando eu vendia metanfetamina na faculdade. Eu o adotei novamente nesses últimos tempos. Nós nos divertíamos tanto! Vamos trabalhar juntas novamente? Você está tão bem! Essa cidade pode ser nossa! Pense nisso!

— Até logo Hera, em breve volto pra te visitar. Vou pensar sobre isso.

Selina se levantou rapidamente e andou em direção a porta quando foi chamada novamente por Hera:

— Não saia por onde entrou. Vai chamar muito a atenção. Desça para o porão, tem uma saída especial bem mais discreta. Vou te esperar Mulher Gato.

Hera piscou para Selina, que sorriu sem jeito, lembrando do velho apelido de juventude. Fechando a jaqueta, colocou o capuz e desceu as escadas, seguiu pelo velho estacionamento escuro, abaixo do prédio até uma área fechada com grades. Um corredor terminava em uma porta e dos dois lados jaulas de barras de aço guardavam homens amarrados. Dentro de uma sela, um homem muito sujo e magro disse:

—Hey moça, veio trazer o cristal?

Ela virou rapidamente os olhos para frente e o homem não obtendo resposta voltou a ficar encolhido no canto escuro da jaula. Ela seguiu com as mãos nos bolsos passando por aquelas pessoas encarceradas, enquanto sentia a esperança murchar. Ele disse: “Vamos devolver o controle da cidade ao povo”. “Mas que tipo de louco iria querer o controle de uma cidade horrível como essa?” pensou ela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu não sei onde continuar essa história. Estou discutindo com várias pessoas sobre, que tipo de conteúdo continuar. (estou lutando contra erros de português e gramática também)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Cavaleiro das Trevas Ressurge - Contos de Gotham" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.