Certa Incerteza escrita por Gaabytwinkle


Capítulo 1
Capítulo único




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Eu subi no ônibus e lá estava ela. Uma garota de mais ou menos 1,60 cm, cabelos curtos e ruivos que contrastavam com a pele clara, olhos castanho escuros e semblante sério. Usava uma camiseta com a estampa de várias câmeras fotográficas, jeans claros, sapatos pretos e bolsa marrom de franjas. Notei uma âncora tatuada em seu braço que logo remeteu ao papel de parede do meu celular que diz “Me recuso a afundar” e ao lado tem a imagem de uma âncora sendo levantada por um balão vermelho.
Fiquei parada alguns centimetros atrás dela, me segurando ao mesmo mastro no qual ela apoiava as costas. Hora ou outra ela passava as pontas dos cabelos inconscientemente pelos meus dedos, me causando uma sensação inexplicavel. O vento circulava e fazia com que seu perfume chegasse até minhas narinas, era doce, mas forte ao mesmo tempo.
A única coisa que me preocupava, era que eu sabia que hora ou outra, uma de nós deceria, e pode ser que eu nunca mais a veria novamente. Fiquei pensando em maneiras de começar um assunto, sem parecer estranha ou incoveniente. Com uma pergunta ou uma piada talvez? Eu não sei. E foi quando olhei para seu reflexo na janela, que notei o quanto estava interessada nas músicas que escutava com seus fones brancos, e resolvi não perturbá-la, mas apenas admirá-la.
Não sei quanto tempo se passou, se foram horas ou segundos, eu não sei dizer. Mas quando cheguei ao meu ponto e vi que desceu ao meu lado, não pude esconder certa felicidade. Eu já havia decidido não iniciar uma conversa, mas pelo menos poderia imaginar que estavamos caminhando juntas.
Logo à nossa frente, havia uma multidão parada em frente à uma igreja evangélica. Tentei atravessar e em algum momento me esqueci que estava acompanhada. Só quando cheguei do outro lado, e olhei para trás que percebi que estava sozinha. Supus que aquele era seu destino e com uma pontinha de infelicidade, me dirigi ao meu.
Não sei se voltarei a vê-la algum dia, se poderei lhe perguntar seu nome, idade ou endereço. Não sei se teremos a oportunidade de conversar por segundos, minutos ou horas. Não sei se você vai rir da minha tímidez ou me achar atraente, talvez. Não sei se vamos trocar telefones e combinarmos de conversar outra hora. Não sei se vamos descobrir que temos gostos parecidos ou rir das diferenças. Não sei se vou te arrancar um sorriso ou lágrimas. Não sei ao menos se vou chegar a descobrir qual as músicas que conseguiram prender tanto a sua atenção. Eu não sei de nada, e gostaria de saber. Moça ruiva do 087, eu não sei se voltarei a te ver, mas sou grata por ter me inspirado, mesmo que sem saber a escrever esse texto. Mas acho que de certa forma, é assim que a vida funciona. Não sabemos se nada vai dar certo ou errado, se nossas amizades são eternas, se nossos amores ou paixonites de ônibus vão permanecer, se nossos sonhos vão se concretizar, se vamos morrer daqui a 100 anos ou daqui a 1 segundo. E é isso que deixa tudo mais emocionante, não saber. Essa certa incerteza.


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