O Vestido escrita por Mineko Chan


Capítulo 1
O Vestido.




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— Jeane, vamos parar, por favor! Isso não tem graça!

— Sério que você está com medinho daquela casa? Achei que você fosse mais corajosa, Lana.

Eu não queria estar ali, não queria mesmo. Ana sempre foi de me desafiar quando eu demonstrava sentir algum medo, mas dessa vez eu não deixaria ela zombar de mim. Entramos em uma casa abandonada próxima a cidade que morávamos. Se eu soubesse que seria assim, eu nunca teria aceitado sua provocação.

— Aquela casa é perfeita! Se você realmente não é medrosa, você vai comigo ver o que tem lá, e descobrir o que porque diabos todos dizem que nenhuma garota volta pra contar a história! – Ela me lançou um olhar desafiador.

— Não sou medrosa, mas também, se há avisos de “não se aproxime”, tem realmente algo assustador ali. Talvez um estuprador... – E desviei o olhar que ela lançava para mim enquanto me encolhia.

— Qual é! É só uma história que todos dizem tanto para atrair turistas, quanto para ninguém sair da cidade facilmente. Então, não há nem chances de você tentar evitar que eu investigue isso. Cai entre nós, também é uma ótima maneira de você provar que não é medrosa. – Ela deu uma risadinha abafada, típica de provocação.

— Não sou medrosa! – Retruquei bufando.

Ela voltou a andar em direção a casa.

Era uma casa bem velha, porém realmente grande, com um grande jardim com flores já murchas e grandes moitas que aparentavam não ser podadas há muito tempo. Estávamos próximas à porta e por um breve momento senti um forte cheiro de erva doce no ar. Será que ela também está sentindo isso? Era uma das minhas maiores dúvidas até que Jeane conseguiu abrir a porta.

Um grande hall principal foi à primeira visão que tive quando a porta velha de madeira foi aberta, dando de cara para uma escadaria de canto com um tapete bem desbotado por causa do tempo. Aos lados, o que parecia a entrada da cozinha e uma sala. O clima era frio, típico de um local abandonado.

— Uau, realmente, é maior do que eu esperava! – Jeane olhava espantada – Quem morou aqui, devia ter muito dinheiro no bolso. Vamos para o andar de cima, estou curiosa! – E foi andando na frente.

— Não acho uma boa ideia, melhor irmos embora. – Tentei puxa-la pelo braço, mas ela saiu mais rápido do que eu pude perceber. – Jeane, espera! Pode ter algo ruim se você for sozinha!

— Para com isso garota! É só uma casa velha! Não tem nada de ruim aqui dentro! – E ela voltou ao seu rumo.

Não pude evitar e continuei a segui-la, não queria deixar minha amiga sozinha. Enquanto subíamos as escadas, senti novamente o forte cheiro de erva doce subir no ar, ficando mais forte a cada passo que dávamos. Quando chegamos ao topo, um corredor com uma porta muito peculiar estava bem a nossa frente. Comecei a me sentir mal, uma tontura agonizante começou a me atingir.

— Jeane, espera um pouco, estou me sentindo tonta. – Tentei segurar sua mão para que me esperasse.

— Olha quatro olhos, não tenho tempo para suas desculpas de medinho, então ou você vem logo, ou vou sozinha! – Seu tom ignorante era fora do comum, nunca havia visto ela daquele jeito. – E então, o que vai ser?

— Esta bem, vamos logo... Você quer ver aquela porta não é? – Disse meio para baixo e ainda segurando sua mão.

— Olha só, como você é vidente! Vamos logo. – Como sempre, usando seu tom sarcástico.

Ela soltou minha mão e fomos andando em direção à porta no fim do corredor, minha visão foi ficando embaçada, o cheiro de erva doce era forte demais no momento. Quando abrimos a porta, tivemos uma visão surpreendente de dentro daquela sala úmida e iluminada apenas pela luz do luar que vinha das janelas, um belo vestido negro com detalhes em renda, apoiado a uma grande poltrona vermelha e um símbolo de uma flor desconhecida com uma coroa em cima. Por algum motivo, deixei de lado meu mal estar e fiquei vidrada naquela formosura de pano bem a minha frente.

— Inacreditável! Olha isso! Esse vestido... Sem dúvida, é a coisa mais maravilhosa que já vi! – Jeane estava novamente maravilhada, mas senti algo diferente vindo de sua voz.

— Sim, realmente é muito bonito... – Um calafrio subiu minha espinha – Já podemos ir não é? Acho que já é o suficiente por hoje.

— Eu quero prová-lo.

— Como é? – Virei para ela inconformada.

— Eu o quero para mim!

— Sem chance, esse negócio sem dúvida tem algo de ruim, se não ele não estaria aqui. – Peguei sua mão e ela olhou para mim com raiva.

— Me solte agora. Esse vestido me pertence, eu o achei. – Seu tom de voz era feroz.

— Jeane, o que você está dizendo? Apenas encontramos esse negócio aqui, no meio do nada! Não vê como está tudo estranho? Esse cheiro, o vestido aqui... Pare com isso agora e vamos para casa! – Puxei seu braço novamente e sua outra mão voou em direção ao meu rosto. Senti a ardência do tapa no mesmo instante. – Jeane... Vamos embora agora!

— Me deixe em paz! – E com toda a força que tinha, ela me empurrou contra a parede.

Eu caí... Tudo escureceu...

***

Acordei com aquele mesmo cheiro novamente, algo roçava minha mão, levantei meu rosto para ver o que era. Ainda meio tonta, percebi que era uma planta carnívora... Não... Várias delas! Mas como? Era impossível isso, estávamos no segundo andar!

Peguei meus óculos logo ao lado e me levantei. Assustei-me com a horrível visão que tive de minha amiga, com uma aparência quase esquelética usando aquele vestido maravilhoso.

— Jeane! Oh céus, o que você fez?!

— Lana... Ah... É você... Oi... – Sua voz era fraca, quase um sussurro.

— Céus, não creio que você colocou esse vestido... Por que fez isso!? – Lágrimas de desespero começaram a rolar, embaçando meu óculos.

— O vestido... Ele... Instigou-me a fazer isso... Desculpe-me... Lana... – Ela me deu sua mão, com todo o esforço que lhe restava. Sua aparência ficando mais e mais esquelética a cada segundo que se passava.

— Por favor, Jeane, por favor, aguente! Não me deixe aqui!

Pó...

Tudo o que havia restado da minha amiga, era resumido a pó... Eu não posso acreditar... Aquele vestido... Foi ele não é? Ele quem tirou ela de mim! Espere... O cheiro de erva doce, assim como as plantas carnívoras, o cheiro foi para atrair a presa... Aquele belo e fabuloso vestido... Era um predador... Por isso que nenhuma mulher voltava viva...

O ódio subiu minha mente junto ao odor agonizante da erva, as lágrimas corriam no meu rosto. Não acredito...

Eu tenho...

Eu tenho que...

Eu tenho que destruí-lo...

Isso mesmo...

Para que ninguém o use novamente, para que ninguém tenha o mesmo destino da Jeane...

Mas...

Ao menos... Uma prova...

Afinal...

É um belo vestido...

Fim.


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Notas finais do capítulo

Ok, não é um dos melhores textos, mas creio não ter sido o que vocês imaginavam não é? Mas espero que tenham aproveitado!



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