Bulletproof Wings escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 24
Leve-me para o céu


Notas iniciais do capítulo

Annyeong!
Aqui está nosso "capítulo todo em itálico". Espero que gostem!



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A sala de jantar onde Jin estava começou a ser tomada, de um lado a outro, por uma sombra. Jin não entendia o que estava acontecendo, mas não demonstrou nenhuma reação, a não ser olhar para os lados e tentar compreender. Quando tudo estava quase completamente escuro, ele notou uma frase na parede: Você precisa sobreviver.

 

 

Namjoon não conseguia imaginar como seria o outro mundo; só conseguia se imaginar acordando e encontrando os cinco meninos ao seu redor, recebendo-os com sorrisos. Mas não foi exatamente o que aconteceu.

Ele acordou em um container que era estranhamente parecido e, ao mesmo tempo, estranhamente diferente do container onde morava com Taehyung. Ao mesmo tempo em que tudo em seu interior era diferente, ele sentia que estava em casa, e estava sozinho. Namjoon não sabia o que estava acontecendo, era como se estivesse revivendo seus últimos dias de outra forma. Chegou a cogitar que ainda estivesse no manicômio, tendo alucinações.

Sentado no canto da parede, segurava um envelope. Ele o abriu, e encontrou o desenho de uma águia. Soube intuitivamente que era o perdão de Jungkook, o perdão que ele tanto queria, mas não conseguia acreditar que aquilo era real. O perdão de Jungkook não podia ser real, porque Namjoon, embora o quisesse, não se achava digno dele. Descobriu, assim, que não era aquilo que ele precisava. Usando os aparelhos que encontrou por ali, ele tatuou o desenho em seu próprio braço; estava tentando perdoar a si mesmo. Depois, queimou o desenho, já que não precisava dele, e jogou dentro de seu copo de whisky, tomando-o sem seguida. Por fim, desmaiou.

Enquanto estava desacordado, o desenho ganhou vida e o tomou, colorindo seus braços. Aquilo que ele tomou simbolizava sua primeira tentativa de suicídio, que não dera certo. Ao mesmo tempo, ouvia-se o som de uma chamada telefônica incompleta. Era a lembrança de Jungkook tentando falar com ele, e sendo ignorado; a tentativa de alguma conexão que não existia mais: fosse Jungkook, fosse Taehyung, fosse qualquer um dos meninos. Eles estavam mortos.

Namjoon acordou mais uma vez, no mesmo container, se sentindo acabado. As coisas estavam dispostas de modo diferente, deixando-o confuso. O desenho, e até mesmo o colorido haviam sumido: aquele perdão não era real. Por mais que tentasse, Namjoon não conseguia se perdoar pelos seus erros.

As paredes laterais do container haviam virado espelhos. Isso projetava a imagem de Namjoon repetidas vezes, pra onde quer que olhasse. Mas ele não queria olhar pra si mesmo. Ele se odiava. Ele queria tanto conseguir se perdoar, se amar... Mas era impossível. Ele ficou no canto e tapou os ouvidos, como se isso pudesse fazê-lo esquecer de seus erros, e esquecer dele mesmo. Não queria olhar pra si mesmo. Ele se odiava.

Os espelhos se estilhaçaram. O céu ficou vermelho. Aquilo era a representação da explosão do incêndio, que o conduziu ao hospital, e finalmente, à verdade: Ouviu-se um som de telefone tocando. Namjoon afastou as mãos dos ouvidos aos poucos. Havia alguma ligação possível? Como? O som vinha do outro lado do container. Namjoon percorreu o container estilhaçado, correndo, na tentativa de alcançar. Ele estava desesperado por alguma ligação.

Finalmente, se viu em um lugar escuro. O único ponto iluminado era uma cabine telefônica, de onde vinha o som. Mas estava acorrentada, era impossível abri-la. Namjoon tentou de todo jeito, mas não conseguiu. Jin estava inacessível, exatamente como ele estivera para Jungkook. Fatalmente, se lembrou: ele nunca seria capaz de se perdoar por ter ficado intencionalmente inacessível. Ele tinha mentido para seu maknae, apenas para se divertir pichando por aí. A cabine o mostrou isso, pichando, em vermelho, a palavra “mentiroso” no vidro. Depois de muito tentar, ele se virou, encostou na cabine e cobriu o rosto com as mãos. A partir dali, não havia mais nada que Namjoon pudesse fazer.

 

 

Na próxima vez que acordou, tudo era diferente para Namjoon. Ele estava deitado em uma cama de casal muito confortável. O quarto era grande, claro e aconchegante. Ele sentia-se extremamente bem, ao contrário de quando estava no container escuro. Tudo estava silencioso e tranquilo.

Namjoon se levantou e explorou o quarto. A cama estava no canto. No centro, havia um belo sofá com uma manta listrada no canto. Bem próximo a ele, havia uma mesinha redonda de vidro. Alguns livros estavam pelo chão, ao redor do sofá, o que agradou muito a Namjoon. Além da cama e do sofá, havia uma lareira, um criado-mudo, uma escrivaninha e alguns outros móveis. As paredes eram cobertas por um papel que já descascava em alguns pontos, e tinha arandelas e decorações, como um macabro crânio de cervo. Namjoon tentou abrir as portas e janelas, mas estavam todas trancadas. No entanto, ele não conseguia se sentir tão incomodado com isso. Por algum motivo, sentia que era isso o que deveria acontecer. Ele tinha que esperar alguma coisa, mas não sabia o quê.

 

 

Já fazia algum tempo que Yoongi estava andando em uma estrada deserta, no meio da noite, seguindo o som do pássaro que ouvira. Era Jungkook, ele tinha certeza. De repente, um carro apareceu em alta velocidade, mas ele desviou a tempo. Seguiu o carro com o olhar, até que o carro bateu na pequena loja de música onde ele estivera mais cedo, tentando chamar por Jungkook. Tinha saído para procurá-lo. Aquela batida simbolizava o acidente de Jungkook, o acidente que Yoongi queria impedir. Ele correu atrás do carro, com muita angústia, até que o alcançou. Dentro da loja, o piano, que era a amizade deles, pegou fogo. Yoongi queria fazer algo para impedir que queimasse, mas não havia nada que pudesse fazer. Então ele só o observou queimar.

 

 

Sentado no sofá, Namjoon olhou fixamente para as portas do quarto quando as maçanetas começaram a se mexer. Alguém estava tentando entrar. Depois de algum esforço, conseguiu; a porta se moveu. Namjoon teve medo do que veria, mas sorriu quando Jungkook colocou seu rosto na fresta entre as duas portas.

— Kookie — disse ele, quase sem acreditar. Nem conseguiu se mover para recebê-lo, mas não foi preciso. Jungkook simplesmente entrou e fechou a porta, com expressão indecifrável. Estava segurando um pirulito azul. Namjoon teve um pouco de receio do que aquela visita significava, mas finalmente ele sorriu.

— Até que enfim te achei. Não vai me dar um abraço?

Namjoon se levantou rapidamente. Mal podia acreditar no que seus olhos viam, mas o abraçou ternamente durante longos segundos.

— Onde estamos? — Perguntou Namjoon, e Jungkook o soltou.

— Temos muito o que conversar, hyung — disse o maknae, indicando o sofá. Os dois sentaram. — Esta é a casa do Juízo. É onde acontecem todos os julgamentos.

— Julgamentos? Não sabia que tinha isso.

— Achou que tudo seria flores depois de morrer? Eu também. Mas não é bem assim. Ficamos durante algum tempo sendo testados. Existem duas formas de teste. A primeira e ser submetido a uma situação nova, como foi o meu caso. No segundo, revivemos lembranças, podemos agir de modo diferente para tentar mudar a situação. A verdade é que nunca se consegue mudar o que aconteceu, mas o que conta é a tentativa.

— Como sabe disso tudo?

— Fácil: fiz amizade com um espectro.

— Que espectro?

— O que me traz as notícias. São os criados da casa, está cheia deles. É uma das punições possíveis: perder toda a memória, até mesmo a aparência, e servir ao Juízo.

— Então você recebe notícias? Do espectro?

— Claro. Ainda não recebeu nenhuma?

— Não. Que tipo de notícias?

— Exemplo: o última notícia que recebi foi que seu julgamento havia acabado, e que eu deveria vir te ver. Foi a primeira vez que me deixaram sair do meu quarto. Não podemos transitar livremente pela casa do Juízo.

— Vamos ficar aqui pra sempre?

— Não. Neste mundo, há muito além da casa do Juízo, eu vi da janela do meu quarto. Estamos apenas esperando.

— Esperando o quê?

— Uns aos outros. Nós sete estamos ligados. A casa está nos fazendo um favor, permitindo que esperemos os resultados. Eles sempre me trazem notícias sobre os julgamentos, mas nunca me deixaram ver ninguém.

— E como estamos até agora?

— Eu fui o primeiro a ser salvo, mesmo sendo o quarto a morrer...

— Terceiro — corrigiu Namjoon.

— Shhh! — Jungkook olhou para os dois lados e sussurrou. — O Juízo não sabe que Jin Hyung está vivo, e ele também não.

— Como você sabe?

— Porque eu o vi no hall, quando estava vindo pra cá!

— Sério?

— Sim. Mas não me deixaram falar com ele. Ele está em coma, não está?

— Está. Eu estive com ele.

— Que sorte. Descobriu ainda vivo. Nós tivemos que morrer pra saber.

— Por que o Juízo não deveria saber que Jin Hyung está vivo?

— Eu não sei. Pode ser perigoso. Eles podem expulsá-lo.

— Então ele acordaria?

— Não dá pra saber. Poderiam fazer qualquer coisa, puni-lo, até.

— Puni-lo? Mas não há motivo!

— Eu sei. Mas o Juízo é estranho. Às vezes, eles tomam decisões erradas.

— Mas isso não deveria acontecer!

— Eu sei. Mas o espectro me disse. Muitas pessoas que deveriam ser salvas são punidas. E muitas punições são intensificadas sem razão.

— Isso é muito errado.

— É, mas não podemos fazer nada. Temos sorte de estar sendo salvos. O que nos leva de volta à sua pergunta.

— Sim. Por que você foi salvo primeiro, se morreu depois?

— Porque o tempo dos julgamentos é confuso. Por exemplo, se fez seu teste em cinco minutos, não significa nada. Para a casa, isso pode durar dias. Além disso, alguns julgamentos dependem que alguma coisa aconteça no primeiro mundo.

— Que loucura. E depois de você ser salvo, o que aconteceu?

— Pois é, a parte boa de ter sido o primeiro é que eu sei de tudo. Pouco depois que eu cheguei, o espectro apareceu e me disse que Jimin Hyung havia sido salvo. Depois disso, um intervalo maior, e Hoseok Hyung foi salvo. Pouco depois, recebi a notícia de que Taetae Hyung estava morto, depois, que você estava morto. E agora, você foi salvo.

— E Tae? E Yoongi Hyung?

— Ainda estão sendo julgados. O deles têm demorado mais, não sei o motivo.

— Bom, os dois se suicidaram. Deve pesar mais... — Opinou Namjoon, preocupado. — E Tae...

— O quê?

— Ele cometeu um erro — Namjoon não quis dar mais detalhes sobre o assassinato. Mas não precisou desconversar, pois uma forma humana transparente e sem feições apareceu no quarto. — Acho que seu amigo chegou.

Jungkook se virou. Sua expressão de satisfação informou a Namjoon que estava certo.

— O julgamento de Min Yoongi terminou. Ele foi salvo.

Jungkook fechou os olhos, aliviado. Já Namjoon ainda tinha sua mente em Taehyung.


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Notas finais do capítulo

Tivemos algumas explicações interessantes, e um grande reencontro. ♥
No próximo capítulo, teremos menos itálicos, o que só pode significar uma coisa... Coisas importantes acontecendo no mundo dos vivos. *-*

Ah, queria saber o que vocês acham de mais de 2K de palavras, porque em breve teremos um capítulo com quase 3K, que não dá pra cortar...



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