Bulletproof Wings escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 21
Viva a sua vida, viva a sua vida


Notas iniciais do capítulo

Heeeey
Esse é um cap simples, mas eu achei tão ♥
Cara, já tô alguns capítulos à frente... Tô LOKA pra mostrar pra vocês. Voltando aos tempos de "se fosse um filme seria maravilhoso".

Ah, claro, agora que você morreu, Feliz Aniversário, Tae!



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Namjoon assistiu com temor o trabalho dos paramédicos. Perdeu a conta das massagens cardíacas e respirações boca-a-boca que foram feitas. Mas, depois de tantas tentativas de reanimá-lo, acabaram desistindo.

O garoto teve vontade de chorar. Tinha falhado em sua única missão, que era manter Taehyung vivo. Nunca poderia se perdoar. . Olhou para os lados, contendo o choro e tentando pensar no que faria dali em diante. Ele precisava agir como adulto.

A primeira coisa que pensou foi em ligar para Yonseo. Foi à caminhonete, pegou o número dela no celular de Taehyung e ligou do seu próprio celular.

— Alô. — Disse ela com a voz baixa.

— Yonseo? Aqui é o Namjoon.

— Namjoon?

— Amigo do Taehyung.

— Ah — disse ela, secamente. — Olha, eu não posso falar muito, porque estou no velório, então...

— Velório?

— ...se puder dizer logo o motivo da sua ligação...

— Espera, que velório?

— Do meu pai.

— Seu pai? Como assim?

— Você não sabe? Seu amigo não te contou? Ele matou o meu pai na minha frente.

— O quê? Taehyung... — Namjoon apoiou a cabeça na mão. — Taehyung fez isso? Quando?

— Duas manhãs atrás. Enfim, como eu disse, não posso falar muito. Se você ligou por causa do seu amigo, pode dizer pra ele que eu nunca vou perdoá-lo.

— Isso... Não será possível, tá? Taehyung está morto. Foi por isso que eu liguei, mas já percebi que não está interessada. Sinto muito pelo seu pai. Adeus.

Namjoon desligou o telefone e o deixou cair no banco. Cobriu o rosto com as duas mãos. Não podia acreditar que a situação era mais grave do que ele pensava.

Abriu a porta e saiu do carro. Se Yonseo não queria saber de Taehyung, ele teria que se responsabilizar. Deu seu nome aos paramédicos, que lhe informaram que Taehyung seria levado para ser examinado, e depois seria liberado para os ritos. Aconselharam Namjoon a cuidar dos preparativos o quanto antes. Namjoon disse que o faria e entrou na caminhonete. Deu uma última olhada para o corpo de Taehyung sendo coberto, antes de partir do píer.

Namjoon deu umas voltas. Passou pelo endereço do velório de Yoongi, mas não viu o carro dos Park, então foi à sua próxima opção, depois de um suspiro. Não estava animado para estar com a família de Jeon Jungkook.

Estacionou a caminhonete próxima ao carro da família Park e entrou. Havia uma foto de Jungkook na entrada. Estava um pouco mais novo e vestia um suéter colorido, mas Namjoon não encarou a foto por muito tempo. Deu poucos passos no salão, esperando não ser notado. Alguns desconhecidos o viram, mas felizmente não foram falar com ele. Para seu alívio, quem o notou foi o senhor Park. Ele tocou o ombro da esposa, que esboçou um sorriso triste ao vê-lo.

— Namjoon — disse ela ao se aproximar. — Que bom que conseguiu vir. Deixou Taehyung em casa?

Namjoon acenou negativamente, enquanto uma lágrima atravessou seu rosto.

— Ele se foi. — Informou ele, sem encará-la. Ela cobriu a boca com as mãos, mas um segundo depois o abraçou muito forte. No ombro da senhora Park, Namjoon se permitiu chorar de verdade. — Eu estou sozinho agora — disse ele, enquanto o senhor Park repousava a mão em suas costas.

— Ah, querido. — Disse a senhora Park, lacrimejando. — Eu sinto muito.

— Sente-se um pouco, Namjoon — sugeriu o senhor Park, indicando o caminho da mesa onde estavam sentados. Namjoon caiu sobre a cadeira, e os Park se sentaram, cada um a um lado dele. Namjoon tentou enxugar as lágrimas, mas elas não cessavam. Pensou por um momento como aquilo estava destruindo sua imagem de líder responsável, mas não havia mais ninguém para liderar.

— Eu estava com ele — lamentou Namjoon, quando as lágrimas pareceram dar uma trégua. Sua voz ainda estava afetada. — Eu podia ter evitado.

— Não, não faça isso, Namjoon — disse o senhor Park, ternamente. — Não pode se culpar por tudo.

— Mas a culpa é minha. Eu não posso fingir que não é. Não é só um capricho. Eu era a única pessoa que Taehyung tinha, eu deveria ter sido melhor para ele, mas... Eu sou o pior amigo que já existiu nesse mundo.

— Pare de se torturar — pediu a senhora Park, com voz doce e olhos marejados. — Eu não sei o que você fez Namjoon, mas não importa agora. Culpar-se não trará os meninos de volta!

— Ela está certa — disse o senhor Park, com tom racional. — Tudo o que você pode fazer agora, Namjoon, é melhorar daqui pra frente.

— Melhorar pra quê? Eu não tenho mais ninguém para quem possa ser melhor. Taehyung era minha última chance, e ele partiu.

— Você ainda pode fazer algo por ele — disse a senhora Park. — É para isso que servem os ritos. E quanto a Jungkook e a Yoongi, você ainda tem até as 16h.

— Até as 16h? Eles... serão enterrados no mesmo horário?

— E no mesmo lugar — informou o senhor Park. — Nosso antigo terraço.

— Conseguiram mesmo convencer a família Jeon? Uau, estou um pouco surpreso. Espere, “antigo terraço”?

— Ah, nós tivemos que mudar o nome — disse o senhor Park. — Não faz sentido um lugar se chamar “Terraço da Família Park” quando abriga apenas um membro da família Park, e tantos outros de outras famílias.

— Como... Como é o novo nome?

— Você vai ver, Namjoon — disse a senhora Park. — Vai ao enterro, não vai?

— Está nos meus planos — disse ele, ainda secando as lágrimas. — Mas eu fiquei responsável pelos ritos de Taehyung, então posso estar ocupado.

— Por que você ficou responsável? — Perguntou o senhor Park.

— A família não quer saber dele — Namjoon não deu mais detalhes. — O caso é que eu não pretendo fazer muita coisa.

— Por que não? — Perguntou a senhora Park, em tom de solidariedade. — Se o problema for dinheiro, nós podemos ajudar — disse ela, e o senhor Park concordou com a cabeça.

— Eu não tenho dinheiro, de fato, mas não é só isso. Existem alguns motivos. Não faz sentido fazermos três dias de ritos fúnebres se provavelmente só nós iremos. E... Eu não quero passar três dias pensando nos meus erros. Eu prefiro... Prefiro enterrá-lo hoje. Junto a eles. Se puderem ceder um espaço, claro.

Os Park se entreolharam, surpresos com a proposta de Namjoon, que lhes parecia esplêndida.

— Mas é óbvio que podemos — disse o senhor Park. — Também providenciaremos o caixão e as outras coisas, e fazemos questão.

Terraço da Família Bangtan — dizia a pequena placa de metal fixada no muro, ao lado do portão de ferro. O terraço ficou cheio com a família Jeon, a família Min, o pai de Hoseok, o senhor e a senhora Park e Namjoon, além da equipe responsável pela cerimônia e pelo enterro propriamente dito.

Namjoon ficou encarando os três caixões cobertos de flores e não prestou nenhuma atenção à cerimônia, exceto no momento em que lhe foi oferecido falar alguma coisa. Ele, de fato, desejava dizer últimas palavras a seus amigos, mas não fazia questão que aquelas pessoas soubessem, então recusou.

Um por um, os caixões foram descidos aos túmulos, enquanto os parentes jogavam lírios. Os coveiros jogavam terra sobre os caixões, e Namjoon apenas observava aquilo tudo acontecer. Nunca fora dado a cerimônias.



Namjoon tentou viver a vida como era possível. Voltou ao posto de gasolina, e teve que explicar ao chefe o motivo de sua ausência nos últimos dias.

— Eu estive muito doente — mentiu.

— Podia ter ligado para avisar.

— Eu sinto muito, senhor. Trabalharei por dois turnos nos próximos dias para compensar.

— Não seja tolo. Não vai aguentar trabalhar dois turnos do jeito que está. Sugiro que faça poucas horas a mais, por mais dias.

— Está certo.

O trabalho no posto era mais amargo durante a madrugada. As pessoas eram mais frias e ásperas, tratavam Namjoon como inferior. Ele só tinha passado por aquelas situações na época em que estavam juntando dinheiro para a viagem de Jungkook, mas era diferente. Ele tinha um objetivo, tinha fé em alcançá-lo. E, no fim de cada madrugada, ele podia sorrir com Jin. Eles iam juntos para casa e podiam observar os meninos dormirem. E ali, não havia nada. Só havia xingamentos, buzinadas, coisas voando pela janela, e a solidão. Depois, andava até o carro, dirigia até os containers e ficava lá sozinho. Enquanto tentava dormir, pensava nos seus erros, em sua culpa, na saudade que sentia dos meninos, e torcia para que não tivesse pesadelos. Mas sempre tinha. Revia cenas que não queria rever, ouvia os meninos dizerem coisas que ele não queria ouvir e observava eles serem destruídos de diversas formas, sem nunca poder fazer nada.

Namjoon aguentou aquilo por vários dias. Aguentou a ignorância, o desrespeito, a culpa e a solidão. No entanto, era como uma banheira, e aquilo tudo era a água que descia pela torneira, e um dia transbordou.

Foi em uma madrugada onde tudo ia aparentemente bem. Namjoon estava chupando um pirulito. O posto estava mais vazio que o normal, o que dava a ele a oportunidade de pensar. Namjoon odiava ter essas oportunidades, porque sua mente sempre lhe levava a lugares que não queria. Sempre o levava a pensar nos meninos, e naquele momento, pensou em como estariam as coisas do outro lado. O que estaria acontecendo com eles? Eles estariam bem?

Um carro apareceu, e Namjoon executou seu serviço com precisão. Talvez, se trabalhasse bem, as chances de ser desrespeitado diminuiriam. No entanto, ele observou parado o dinheiro cair pela janela. Logo depois, o carro partiu.

Namjoon se cansou daquilo. Aquele lugar onde estava não havia sentido. Ele havia tentado continuar a vida normalmente, mas o que ele estava vivendo não era algo que desejava. Não havia nada de bom naquele mundo sombrio. Ele não sabia o que havia do outro lado, mas não deveria ser pior do que aquele inferno.

O garoto levantou no ar os dedos do meio das duas mãos. Estava cansado daquilo tudo. Tirou o pirulito da boca e o jogou no chão. Em seguida, acendeu um cigarro e o fumou durante algum tempo, até que finalmente o jogou no chão, sem apagá-lo, na intenção de causar uma explosão.

E conseguiu.


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Notas finais do capítulo

Calma.
Ainda não é hora de pânico.
#entendedoresentenderao



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