Bulletproof Wings escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 15
Eu não sei muito sobre a tristeza


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo com mais de 2K de palavras.
Cuidado com a overdose. XD
Ah, prepara muito o core. Se você que acompanha a teoria do BCK tá se perguntando "é ainda nesse capítulo"?, sim, é ainda nesse capítulo TT^TT



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No fim dos três dias, Namjoon resolveu mandar uma mensagem para Yoongi, com o endereço do novo terraço da família Park: "Caso queira aparecer". Yoongi não respondeu.

O enterro aconteceu normalmente, com muita emoção. No fim, os Park conduziram o Sr. Jung para o carro. Os outros familiares que vieram de fora partiram, deixando apenas os três garotos. Depois de alguns minutos, Yoongi apareceu, usando roupas descoladas e óculos escuros de marca e segurando dois lírios.

— Resolveu vir? — Perguntou Namjoon, sério.

— Vim só ter certeza de que você não tava curtindo com a minha cara. Não achei que fosse possível.

— Também não achamos — esclareceu Taehyung. Jungkook não se atrevia a dizer nenhuma palavra.

Yoongi deixou um lírio para cada um. Depois, virou-se para ir embora. Os outros o seguiram, o que não pareceu incomodá-lo. Namjoon tomou a frente e os levou para o carro. Os quatro foram para casa. Assim que entraram, Namjoon chamou Yoongi.

— Hyung.

— Que foi?

— Eu conversei com o Taetae e... nós decidimos que não dá mais. Nós vamos embora.

— Sério? — Perguntou Yoongi, indignado. — E vão me deixar sozinho com ele? Logo com ele?

Namjoon olhou para Jungkook, confuso, e de novo para Yoongi.

— O que tá acontecendo com você? Por que tá fazendo isso com o Jungkookie?

— Ah, você não vai querer saber, Namjoon, vai por mim. Fique à vontade pra pegar as suas coisas e sumir daqui. E eu que estava achando isso tudo uma tortura… A tortura começa agora.



Namjoon e Taehyung se mudaram para os containers naquele mesmo dia. Tentaram esquecer tudo o que tinha acontecido, como se só eles existissem. Faziam de tudo para que sua vida sem os outros parecesse suficientemente divertida, e por quatro dias tudo foi bem. Já na casa, as coisas estavam cada vez piores.

Jungkook não sabia o que fazer, se sentia sozinho e não tinha ninguém com quem dividir sua dor. Yoongi dormia durante toda a manhã, saía para trabalhar à tarde e voltava depois das seis e meia, sempre trazendo no mínimo duas garrafas de cerveja, que passavam tilintando na sacola entre Jungkook e a televisão. Às vezes ele tentava desenhar alguma coisa, mas sua inspiração não andava nada bem.

No quarto dia, Yoongi teve insônia, e acordou cedo. Jungkook já estava de pé quando ele saiu. Voltou apenas alguns minutos depois, dessa vez com mais garrafas, e uma delas era de vodka. Ele bebeu sozinho na cozinha, e Jungkook, por mais que odiasse aquela situação, tentou ignorar o quanto pôde, mas Yoongi começou a bagunçar. Jogou seu copo longe, derrubou as coisas da mesa, gritava sem parar. Jungkook foi atrás dele e segurou seu ombro.

— Para com isso, hyung! — disse ele com a voz firme, como se ordenasse, como se fosse o mais velho.

Yoongi cerrou os dentes e se virou bruscamente, livrando-se de Jungkook.

— Parar? Você destruiu a minha vida, Jeon Jungkook, o mínimo que pode fazer é me deixar beber pra esquecer!

Jungkook correu até ele e o abraçou, em parte querendo impedi-lo de continuar fazendo aquilo, em parte porque queria seu verdadeiro amigo de volta.

— Eu não fiz isso, hyung! — Disse ele, segurando-o com força e ignorando a risada irônica de Yoongi. — É você quem está fazendo!

— Hipócrita! — Gritou Yoongi, empurrando Jungkook para a parede com toda sua força. Jungkook arquejou ao bater nela, e tentou respirar. Suga recuava lentamente. — Ainda quer fingir que não é culpa sua? — Yoongi tirou algo leve do bolso e jogou em Jungkook. — Talvez isso abra seus olhos! — Jungkook abriu o pedaço de papel amassado. Era uma foto dele com Yumii. — Sabe onde achei isso? No píer, no dia que o Jin morreu, amassado desse jeito. — Jungkook ergueu o olhar para Yoongi, como se não acreditasse. — Como acha que foi parar lá? Você fez isso, Jungkook. Você matou Jin, matou Jimin, matou Hoseok…

Ao ouvir os nomes de seus amigos sendo pronunciados daquele jeito, ao ver Yoongi jogando na cara dele tudo o que ele não queria ouvir, ele avançou em Yoongi e lhe deu um soco forte que o projetou para longe, mas se arrependeu imediatamente. Yoongi caiu, e muito sangue saiu de sua boca.

— Ainda por cima — disse ele, limpando o sangue. — É um covarde que não sabe ouvir a verdade sobre ser um assassino.

Jungkook o puxou para cima e o segurou pelo casaco, querendo chorar.

— Para com isso, hyung — pediu ele. — Eu não quero brigar com você. — Embora estivese quase caindo, Yoongi segurou Jungkook pelo casaco da mesma maneira, dando a ele a esperança de que estava parando. — Não quero que nossa amizade acabe!

— Que amizade?! — Gritou ele, jogando Jungkook, que caiu no chão perto do sofá. Jungkook se contorceu de dor. — Eu não sou, não sou amigo de um assassino! — Ainda em seu estado de raiva e embriaguez, Yoongi pegou um banco. Jungkook teve medo de que Yoongi fosse jogá-lo contra ele, mas o mais velho o lançou na direção do espelho da sala, quebrando-o completamente ao mesmo tempo em que berrava. — Eu te odeio!

Dizendo isso, Yoongi simplesmente saiu da casa, batendo a porta com tanta força que fez parecer que a casa ia desabar. Deixou Jungkook completamente sozinho, lembrando de todas as coisas divertidas que aconteceram naquela casa que fora tão cheia, e tinha se esvaziado de forma tão rápida e triste. Jungkook não sabia muito sobre a tristeza, mas ele a sentia, e ela doía como uma ferida perpétua.



Yoongi saiu cambaleando pelas ruas, sem conseguir entender pra onde estava indo. De alguma forma, se deu conta de que não iria muito longe sozinho, então chamou um táxi, que o levou diretamente para o motel. Pegou uma chave qualquer no armário e subiu, demorando alguns minutos para encontrar seu quarto. Tirou o casaco e se jogou na cama. Sua cabeça doía, e ele sentia muita raiva. Parecia estar pegando fogo.



A noite parecia cair lentamente em Seoul.

Taehyung e Namjoon saíram nas ruas com a mochila onde guardavam as latas de tinta. Mesmo que a diversão só começasse na escuridão, eles ainda queriam andar por aí.

Yoongi começava a se recuperar no quarto de motel. Sua raiva diminuía aos poucos, ao mesmo tempo em que sua sobriedade chegava e o fazia lembrar de tudo o que tinha feito, de tudo o que tinha a Jungkook; o fazia se dar conta de que ele tinha sido completamente estúpido. Ele nunca deveria ter dito a Jungkook que sabia o motivo do suicídio de Jin.

Sozinho na casa, Jungkook tentava esquecer o que estava acontecendo, mas era impossível. Na cozinha, lembrava de Jin; No banheiro, lembrava de Jimin; Nos quartos, lembrava de Hoseok; Na sala, lembrava da briga com Yoongi. Ao mesmo tempo, em qualquer cômodo, lembrava dos momentos de diversão, e também de Namjoon e Taehyung que estavam longe. Sempre tivera tantos amigos, e não tinha mais ninguém. Ele não aguentou mais. Vestiu um casaco e saiu da casa, em direção aos containers. Decidiu ligar para Namjoon para avisar, mas ele não atendeu. Tentou o celular de Taehyung.

Os dois meninos andavam pelas ruas de Seoul, que escureciam. O celular de Taehyung tocou.

— É o Kookie — informou ele a Namjoon, que andava com velocidade à sua frente.

— Agora? Não é hora pra isso, Tae. Temos que ir rápido.

— Será que aconteceu alguma coisa?

Sem parar de andar, Namjoon olhou para trás. Notando a preocupação de Tae, resolveu ceder.

— Não demora com isso.

Taehyung atendeu o celular, sem diminuir o passo.

— Fala, Kookie. O que houve?

— Não aguento mais essa casa. Eu briguei com o hyung. Estou indo pros containers.

— Pros containers? — Perguntou Taehyung. Namjoon negou com a cabeça, indicando a ele o que fazer. — Não, não estamos nos containers, Kookie.

— Onde vocês estão? — Perguntou Jungkook.

— A gente tá… — Taehyung começou a falar, mas Namjoon virou e colocou o dedo sobre a boca, indicando que ele não deveria contar. — ...indo pra minha casa.

— Sua casa? Quer dizer, a casa do seu pai?

— É. Mas você não deve ir. Fique aí, e vá para os containers de manhã.

— Mas…

— Kookie, eu tenho que desligar. Annyeong.

Taehyung não esperou respostas ou protestos. Guardou o celular e apertou o passo.

Jungkook olhou para a tela do celular, sem entender. Decidiu ir até a casa de Taehyung, mesmo que o hyung não quisesse, pois não queria voltar pra casa, não aguentava mais ficar sozinho. Ele precisava ter ao menos um de seus amigos de volta.



O bairro de Taehyung era bastante conturbado. Jungkook sempre ficava confuso quando ia lá e ficava andando pelas passarelas que ligavam os dois prédios. Finalmente, Jungkook achou a casa de Tae, e ficou olhando de longe, mas não gostou do que viu pela janela. Nem Taehyung, nem Namjoon estavam lá, mas ele viu a família de Tae. O pai e a irmã estavam brigando.

Jungkook já colocou seu capuz sobre a cabeça, para evitar ser visto e abaixou na passarela do outro lado. Pegou seu celular e mandou mensagens para Taehyung: “Estou aqui, hyung”. “Cadê vocês?” e, ao se dar conta de que eles realmente não estavam por perto, “As coisas não estão nada bem aqui, hyung. Por favor, venha logo!”. Finalmente, desistiu e saiu dali, quando já tinha anoitecido completamente. Andando pelas ruas, ainda com seu capuz, pensou em várias coisas. Pensou nos amigos mortos, e em como sentia falta deles. Pensou nos amigos que ainda estavam ali, mas que pareciam tê-lo abandonado. Pensou muito em Yoongi e em suas palavras duras, que lhe confidenciaram o que ele não queria ouvir: a culpa por ele estar sozinho naquele momento era dele mesmo. Seu espírito juvenil e apaixonado tinha causado efeitos irreparáveis. Aquela garota, parecia tão doce, mas era tão má… Aquele amor parecia doce, mas era amargo. Ele não a atendia nem respondia suas mensagens desde a morte de Jin. Pensou em ligar para ela e xingá-la, mas não era aquilo que ele sentia vontade. Não sentia raiva dela, apenas tristeza, aquela tristeza sobre a qual ele nada sabia.

Perdido em seus pensamentos, Jungkook não prestava atenção a nada. Esbarrara em alguns meninos que andavam no sentido contrário, mas não eram simples meninos. Eles eram valentões, encrenqueiros do tipo que Jungkook tinha medo do colegial, e a julgar pelo hálito estavam todos alcoolizados. O álcool, ah, sempre o álcool. Ele estava tentando fugir do álcool de Yoongi, do álcool que o pai de Taehyung consumia, segundo os relatos do mesmo ainda na época do colégio, e até mesmo na rua, que era o único lugar que lhe restava, estava o álcool.

Os meninos olharam para Jungkook como se fosse uma ousadia ele andar na mesma calçada que eles, como se esbarrar neles fosse um crime imperdoável.

Eles puxaram Jungkook para uma ruela logo ao lado, que na verdade era como um shopping a céu aberto, cheio de lojas fechadas. Um deles empurrou Jungkook para o portão de ferro de uma das lojas, exatamente como Yoongi fizera horas antes. Dessa vez, ele não teve nenhuma reação. Aquilo tinha machucado sua cabeça, mas não doía mais do que a ferida que Yoongi tinha feito em seu coração.

—  O que você tá pensando? — Perguntou o garoto em tom áspero. Levou a mão ao pescoço de Jungkook, ameaçando sufocá-lo. Jungkook afastou a mão dele, deixando claro que não queria aquilo, mas não disse nada, porque sabia, pela experiência anterior, que era inútil discutir com um bêbado. — Você tá se achando, né? Acha que manda aqui, bebê? Vamos mostrar quem manda.

O estranho puxou a cabeça de Jungkook pra baixo, para jogá-la com mais força contra o portão de ferro. Em seguida, o jogou para o outro lado da ruela, fazendo o bater em outro portão, e o chutou. Ali teve início o inferno da noite de Jungkook. Aqueles meninos continuaram batendo nele, socando-o, chutando-o, jogando-o de portão para portão sem dar a ele a chance de se defender. Foi impossível não reagir, não cerrar os dentes, não sentir-se cansado, mas aquela dor física continuava não podendo ser comparada à dor emocional, causada pelo ódio de Min Yoongi, nem à dor psicológica, causada pela culpa. Ele não poderia julgar aqueles jovens… Ele também era um criminoso.

Jungkook permaneceu por mais de uma hora depois que os meninos o abandonaram ali, desejando que a morte o levasse como uma onda. Quando sentiu que tinha o mínimo de energia para tanto, levantou-se e continuou a vagar. Não sabia onde estava, nem para onde estava indo, mas sabia para onde queria ir: para o lado de seus amigos.

Felizmente para ele, conseguiu uma carona ao atravessar a rua ainda perdido em seus pensamentos. Não prestou atenção ao carro que vinha, mas quando olhou para o motorista, que já estava perto demais, só teve tempo para fazer-lhe um agradecimento silencioso em sua mente. Aquele motorista se parecia com Kim Seokjin, uma ilusão que pareceu muito bela a Jungkook. Fosse ou não fosse seu amigo, aquele cara estava lhe fazendo um grande favor.

Em nenhum momento, Jungkook tinha tomado a decisão de partir, mas aquilo não foi preciso naquela noite em Seoul.


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Notas finais do capítulo

Comentário da mana: QUE HORROR, JÉSSICA.
Espero ansiosamente o de vocês ♥

P.S.: Essa semana teremos um pequeno hiatus, por causa das últimas provas, que estão realmente bem difíceis, mas voltamos ainda essa semana (quinta ou sexta). Vocês estão mesmo precisando de uma paradinha, se não o coração não aguenta.



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