Nos conhecemos em um bar, quando eu havia acabado de atingir a maioridade e queria beber meu primeiro drink pra comemorar. Ele estava ali, com uns amigos e eu me senti atraída por ele no instante em que o vi. Foi mútuo.

Depois disso, a gente se encontrou cinco ou seis vezes e ele me pediu em namoro. Eu tinha certeza sobre aquilo. Afinal, eu o amava. E ele me amava também.

No terceiro mês de namoro, eu não atendi a uma ligação. E ele me bateu. Mas ele se disse arrependido, me mandou flores e estava tudo bem. Afinal, eu o amava. E ele me amava também.

"Tudo bem, mãe, eu apenas tropecei. É uma marca roxinha pequena, não se preocupe", eu menti. Mas eu não precisaria mentir de novo, certo? Ele prometeu que não faria de novo. Afinal, eu o amava. E ele me amava também.

Mas algumas semanas depois, ele viu umas mensagens de um amigo no meu celular. Por mais que eu dissesse que era um amigo, ele insistia em dizer que era mentira, e que eu o estava traindo. Então, ele me bateu mais uma vez. Depois, me pediu desculpas, apareceu com chocolates, e prometeu que não faria isso novamente. Eu acreditei, e estava tudo bem. Afinal, eu o amava, e ele me amava também.

Um pouco de maquiagem sobre a marca no meu rosto, e estava tudo bem. Era a última marca que eu precisaria esconder. Afinal, ele me prometera, e não ia mais acontecer.

Ele já não me batia mais. Apenas mandava que eu trocasse minhas roupas quando elas estavam mostrando demais. Mas ele estava certo, não é? Afinal, eu namorava, e não podia usar um shorts curto demais.

Um dia ele me disse que eu estava gorda, e minha aparência estava horrível. Me disse que eu tinha sorte por tê-lo como namorado, afinal, ninguém mais além dele ia me querer. Ele estava certo, não é? Afinal, eu deveria mesmo me cuidar mais, ou eu ia perdê-lo. E então, ninguém mais iria me querer.

Mas, quando completamos um ano de namoro, ele me bateu de novo. Alegou que eu o estava traindo, que estava escondendo coisas dele, e eu não fazia ideia do que ele dizia. Mas não adiantou. Ele me bateu de novo, mas não como das outras vezes.

Ele me bateu até eu cair na inconsciência. Até minha boca sangrar, até eu mergulhar em uma escuridão imensa. Eu já não sentia mais dor, nem pensava em mais nada. Depois, eu acordei, e estava estirada no chão gelado, com meu corpo todo doendo, e ele me viu de olhos abertos e tudo aquilo começou de novo. E eu gritava por ajuda, mas ela nunca veio. Pelo o menos, não a tempo.

Minha família me encontrou uma hora depois. Eu estava deitada no chão, machucada, e gelada. Totalmente imóvel. Eu já não estava mais viva.

Será que ele me amava mesmo? Será que ele fazia aquilo para o meu bem, como ela me fazia pensar?

Não, não. Não era amor. Era uma obsessão doente, que estava me matando lentamente. Mas, como eu poderia perceber? Eu o amava, e ele me fazia acreditar que me amava também. Ele me pedia perdão, e repetia, e me pedia perdão. Como eu ciclo sem fim, e eu o aceitava de volta, todas as vezes. Eu estava presa naquilo, eu me obrigava a acreditar. Eu não queria ver.

Eu percebi tarde demais que estava em uma armadilha. Eu percebi tarde demais, a gente sempre percebe tarde demais.

Eu estava presa em um relacionamento abusivo. Eu não sabia o que fazer. Eu não sabia como sair disso. Eu já não entendia nada mais.

Pra ele, nunca foi amor. E eu morri pois ele me convenceu a pensar o contrário.