Eu estava tendo uma manhã normal, com nenhuma novidade sem ser as notícias do jornal naquela terça-feira. As vezes, morar em Londres é bem pacato, basicamente chove e a vida continua, como se a chuva não fosse um empecilho e você realmente descobre que a chuva não é um empecilho.

Eu não moro exatamente em Londres, na verdade moro em Angel, que é um lugar legal do subúrbio, bem familiar, para ser sincero. O meu único problema é o horário do comércio, que fica até 19:00 e como paro de trabalhar as 16:00 – isso nos finais de semana somente – ficou tentando ignorar o burburinho da loja de Assad Rasoya, o dono do apartamento em que eu moro e que fica encima da loja dele.

Encima da loja.

Enfim, saí para andar de bicicleta logo depois tomar meu café da manha e só voltei para tomar um banho e pegar meu equipamento. Fui andando até a estação, o que não leva mais de 5 minutos e usei meu Oyster, e bem, não peguei nenhuma linha, simplesmente parei em uma das áreas delimitadas para cantores de rua.

Sim, eu canto na rua, mas é só meu hobby. Eu trabalho como professor de música em uma escola de East End e meu horário só começa as 13:00.

Arrumei minhas coisas, pluguei meu teclado ao microfone e cliquei no botão em que fica as batidas das músicas da minha playlist.

Fiquei cantando até meio dia, algumas pessoas deixavam dinheiro na pequena caixa que eu deixava no chão, e outras aplaudiam e eu ficava feliz. Quando estava perto do meu horário de saída, comecei a arrumar minhas coisas até que a mulher me abordou.

— Oi, você faz shows para casamentos? - me ajeitei e virei para ela, e como era bonita, os olhos cor de mel combinavam com os cabelos e a pele rosada.

— Faço, aqui o meu cartão. - tire um do bolso da camisa.

— Obrigada… – ela leu o cartão – Perseu.

— Pode me chamar de Percy.

Ela repetiu me apelido, sorriu e saiu andando abraçada a uma garota e eu acabei de arrumar minhas coisas e fui a caminho de East End para dar minhas aulas, felizinho. Talvez conseguisse alguma coisa com ela.

…

Nós conversamos mais algumas vezes, seu nome era Calipso e que ela era noiva.

Eu sou muito azarado, mesmo. Não sei porque fiquei decepcionado, estava na cara que ela era noiva, eu que sou burro mesmo, achando que seria a madrinha solteira.

O casamento dela seria em duas semanas, então conversamos bastante sobre o local, número de convidados, até porque eu precisaria saber por causa das caixas de som, se teria que chamar meus amigos para fazer uma banda de última hora, coisas desse tipo.

Acabou que seria num local pequeno e fechado, até porque era inverno, com poucas pessoas e eu poderia chegar cedo e sem banda, já que a cerimonia seria na Igreja do bairro.

Antes mesmo de começar o show, os convidados já vinham me pedir para tocar uma música ou outra e tinha uma garota loira que ficava me olhando de longe, as vezes parecia que viria falar comigo, mas hesitava volta a se encostar na pilastra perto do extintor de incêndio mordendo a ponta do dedão. Aquilo estava me deixando nervoso, queria ir até lá e disser: “Garota, diz logo a música que você quer!”. Eu juro que se ela continuar com isso eu vou lá.

— Perseu, está na sua hora. - a cerimonialista me disse.

Acenei em concordância, acabando de comer uma salada que me deram e corri para o palco. Conferi se tudo estava em seu devido lugar e preparado para uso, ajeitei o microfone e comecei com uma breve apresentação, começar já cantando seria muito mal educado.

— Boa noite a todos. Antes de começar, gostaria de parabenizar os noivos e agradecer por terem me escolhido para fazer esse momento da vida deles mais especial. - pessoas aplaudiram e gritaram em concordância – A primeira música da noite será: Love Is All You Need , dos Beatles.

A festa foi boa, como era um casamento maior parte das músicas eram românticas, por pedido da noiva, o que não foi má ideia, as pessoas cantavam junto e dançavam.

A menina loira que ficava me observando veio falar comigo. Mas foi esquisito.

“- Oi, macarrão você gosta?

— Que?”

Depois disso ela saiu e foi falar com a noiva. Eu quis rir, ela se enrolou toda para falar comigo, achei fofo. De verdade.

…

Se passaram semanas desde aquele casamento em que eu queria pegar a noiva, e a convidada loira tímida.

Acabou que depois daquele casamento, eu não parei de pensar naquela menina, só prestei atenção nos seus cabelos, eram lindos, principalmente em contraste com aquele vestido preto rodado e o batom rosa, que não era tão claro, assim como não era tão escuro, era na medida certa.

E é claro, sua pergunta, tão enrolada como meus pensamentos sobre ela agora.

Fiquei tão intrigado pela moça que a procurei no facebook de Calipso, virei seu amigo agora, o que era bom - os amigos dela eram bem legais - enfim, demorei quase um mês para começar a pensar em procurar por ela numa rede social ou algo do tipo.

Decidi não fazer isso e perguntar a Calipso. Que só me deu seu nome para procurar no facebook.

Annabeth Chase, inglesa de origem sueca. Nunca namorei uma inglesa, apesar de morar em Londres a dois anos. Só namorei escocesas até hoje e de Edimburgo também. Imagino se minha avó descobrir que estou gostando de uma inglesa, ela vai querer me matar, do jeito que ela é nacionalista.

Porém, não tenho esperanças de reencontrá-la, ela pelo visto mora em Birmingham, isso são 202,4 km de Londres até lá. Não estou dizendo que nunca mais vou vê-la, só que será muito mais difícil.

Era um sábado, um dia em que Angel fica mais vazia e o centro de Londres bem mais cheio, pessoas da França, País de Gales e várias cidades da Inglaterra e até da Escócia vinham para cá fazer compras, isso faz com que meu rendimento seja menor, mas depois que eu acabo de fazer minha apresentação posso passear pela cidade e fugir do barulho da loja do Sr. Rasoya.

E quando estava só contando o dinheiro que deixaram no malão do meu teclado, sou abordado por uma mulher, pela voz e jeito de falar sorri antes de me virar.

— Você…sair… comigo…de mim…lembra?