" Eu quero desaparecer..."

Seu corpo clamava por isso. Suas feições clamavam por isso. Tudo em Min Yoongi tinham apenas aquele único e simplório desejo: Desaparecer da atmosfera terrestre. Sumir completamente daquele bloco social e socialista que chamamos de humanidade. Ele queria voltar à ser o que um dia foi a mil anos atrás. Um mero nada. Uma cópia simplificada e perfeita do vazio mais profundo. Do inexistente.

Naquele momento, Min Yoongi queria ser cego. Sim, cego para não ser capaz de observar sua imagem refletida no espelho velho e quebrado do vestiário masculino. Sentiu seu estômago embrulhar, e pela vigésima vez naquele dia, sentiu nojo de si próprio. Teve a obscena  vontade de começar a rasgar a própria pele até que alcançasse um ponto mais profundo que a própria epiderme, apenas para piorar o que não podia ficar pior. Apenas para que, inutilmente, sentisse que não habitava mais o corpo daquele ser fracassado que residia em si.

O rapaz de dezesseis anos se obrigou a encarar a própria imagem repugnante. A pele, de um tom mais claro que o estritamente necessário, agora se apresentava mais pálida do que se estivesse com  anemia - o que, a propósito, ele estava - . As cores roxas e escuras de seus hematomas brigavam por espaço naquele tecido antes imaculado, mas que agora, parecia querer apodrecer. Os olhos pequenos e sem pálpebras, que antes sorriam para a vida cheia de oportunidades que um garoto de dezesseis anos esperaria, agora estavam baixos, caídos, deixando um explícito rastro de cansaço. Este que era ainda mais notável devido as olheiras profundas que demarcavam o local, como uma espécie de prova de suas noites sem dormir por conta das dores musculares, provocadas pelas infames sessões de espancamento e violência física que sofria diariamente. A clavícula afundada e os ossos da costelas que insistiam em aparecer apenas confirmavam o que era completamente visível, mas que a sociedade se negava a notar; ou, se notava, não dava a mínima;

Depressão.

Tudo em Min Yoongi exalava depressão. Até seu cheiro parecia diferente. Os cabelos tingidos em uma tonalidade loiro escuro combinariam perfeitamente com sua pele viril, se estes fios não estivesse tão ressecados por conta dos descolorantes. Os rosto e o corpo anêmico pareciam lutar para a manter a beleza natural do garoto. Mas, convenhamos, o pobre jovem estava um caco. Era difícil se manter bonito naqueles circunstâncias. E, para falar a verdade, Min Yoongi gostaria de não ter toda aquela beleza inebriante. Talvez, se fosse feio, seus colegas não o abusassem.

E lá estava ele. De frente para o espelho rachado do vestiário masculino, encarando seu reflexo asqueroso. O reflexo de um jovem que só vestia uma calça moletom, a parte de baixo do uniforme de educação física. A alma corrompida, esmagando-lhe a vida que foste tirada tão cruelmente.

Porque Min Yoongi podia estar respirando. Mas isto não significava que estava vivo.

E, novamente, secou as lágrimas que faziam um pedido mudo de socorro, estampando no rosto um sorriso cercado de falsidade, lástimas e reprovações.

Porque ele era forte. Mas estava cansado.

Porque, em seu âmago, sonhava com o dia em que pularia de um parapeito qualquer, e levaria consigo toda dor.

Colocou um par de fones de ouvidos, se dirigindo para fora do vestiário.

Ele preferia a música. Porque sabia que se ficasse sozinho com seus pensamentos, estes poderiam lhe matar.

Matar fisicamente.

Porque Min Yoongi já sabia...

Que por dentro, ele já morrera há muito tempo...