I'm the king of everything and oh, my tongue is a weapon

There's a light in the crack that's separating your thighs

And if you wanna go to heaven you should fuck me tonight

1.

Christian Madden sentiu os joelhos arderem e os ossos reclamarem ao finalmente, mudar de posição e deixar-se sentar no chão. Havia passado as últimas horas de joelhos dobrados, a testa quase tocando o chão enquanto recitava suas preces. Em sua alma, sabia que prece, oração, ou reza não seriam palavras suficientes para explicar; era uma súplica, um pedido desesperado que não podia evitar que todo o seu ser desejasse, cada pedacinho de seu corpo e alma gritava. Não o tire de mim.

If there's a light at the end, it's just the sun in your eyes

James Braxton permanecia sob a cama onde Madden o havia deixado. Chamar de cama talvez fosse um exagero, mas os lençóis no chão e mochilas como travesseiros faziam um trabalho suficiente na situação em que encontravam-se. Braxton observou-o entrar na cabana e esboçou um sorriso fraco ao ver que seus olhos fitavam as pontas de cigarro que o rodeavam.

“Por favor, poupe meu oxigênio com reclamações que eu não ouvirei sobre cigarros.”

O exorcista sentou ao seu lado no chão. James apoiou a mão em suas costas quando o viu franzir o rosto pela resposta de dor de seu corpo. A dor é mais profunda, Madden pensou, mas ignorou ambos.

“Eu não sei o que fazer, James, eu não sei o que fazer,” as lágrimas desciam de seu rosto antes que ele pudesse sequer saber que elas viriam “Ele não me escuta, deu-me um propósito e agora tira de mim a única coisa boa que eu consegui encontrar na vida”

Braxton o puxou para que deitasse ao seu lado e passou os braços ao seu redor.

“Christian Madden, eu passei toda minha vida sabendo qual era o meu destino, eu não vou fugir dele agora”

“Você deveria!” Madden vociferou enquanto desvincilhava-se dos braços de Braxton e o ouvia tossir atrás de si. Uma tosse constante e que ele sabia que machucava a garganta do outro.  

Ficou em silêncio até que a crise de tosse do outro parasse e sua respiração normalizasse. Braxton ficou sério. “Dizem por aí que há uma luz no fim do túnel. Para um seguidor da fé, você está em falta no quesito acreditar”

Madden parou. Seus olhos passaram pelas gotas de sangue no travesseiro e na camiseta do outro. Ele repassou mentalmente os últimos meses. Desde o dia em que Braxton aparecera no seu acampamento, no momento em que saíram numa missão junto a outras seis pessoas, até esse momento, onde havia apenas os dois e uma guerra desenrolando-se lá fora que havia causado tudo aquilo, que havia liberado forças maiores que todos estavam acostumados. Uma luta pelo poder, pelo trono que ambos deveriam participar, mas que no momento lutavam por algo mais. Não o tire de mim.

Ele segurou o rosto de James entre as mãos e depositou-lhe um beijo tenro sob os lábios. Tantos beijos e toques já haviam passado, e aquela sensação de ansiedade e primeira vez permanecia cada vez que seus lábios roçavam uma parte do corpo do outro. Continuou-o beijando devagar, sentindo seu gosto, sabendo que sangue misturava-se a sua saliva e a maculava. Sorriu passando os dentes de leve sob o lóbulo da orelha de James, lentamente, deixando que sua respiração acariciasse sua pele e seu cheiro entranhasse-se dentro de si e então ouviu James sussurrar: “A luz no fim do túnel é o fogo do Inferno”.

Não lembrava a última vez que tinha visto James chorar, mas quando Madden virou para retirar sua camiseta, as lágrimas desciam pelo seu rosto sério.

“Vamos fazer dessa noite memorável.” James disse, sua voz rouca pelo choro. Madden não sabia se podia responde-lo sem querer gritar aos céus mais uma vez, Não o tire de mim, então apenas assentiu.

James Braxton não conseguia recordar com clareza a última vez que sentiu-se com tanto medo. A felicidade te dá algo para perder. E naquele momento, ele estava feliz. Feliz enquanto ignorava a dor e deixava seus lábios tocarem cada ponto do corpo de Christian Madden, enquanto apoiava suas mãos sobre seu peito e sua boca ia cada vez mais baixo, mas seus dedos podiam sentir, sentir a vibração da vida correndo dentro de seu corpo, um coração batendo. Christian Madden vivo.

Madden o trouxe para cima logo após a boca de James Braxton ter encontrado seu pênis. Seu corpo gritava mais, mais do que lábios, mais do que língua, mais. Queria senti-lo dentro de si, queria que ele o tomasse por completo e então sussurrou “Se você quer ir pro céu, deve foder-me esta noite.”

E quando James apoiou sua testa contra a dele, e separou um pouco mais suas pernas para penetrá-lo, Christian clamou a quem estivesse ouvindo, não me deixe, não me deixe, não o tire de mim.

A porta da cabana foi arrancada pouco depois, o barulho de unhas afiadas indo contra o chão de madeira. O rosnar inconfundível e James ainda em cima de Christian. Já haviam chegado ao seu ápice, vezes o suficiente em dois quartos de hora, mas não parecia o suficiente. As lágrimas de ambos misturavam-se conforme o rosnado aproximava-se. Incontrolável. James tentara se afastar do exorcista mas esse o segurara pelas mãos. Não o deixarei.

Quando as garras do cão do inferno acertaram as costas de James, o sangue escorrera sob o rosto de Christian. A expressão de dor no rosto de Braxton estava marcada e seus olhos refletiam o fogo a que estava condenado.

Christian o abraçou, abraçou seu corpo enquanto o cão do inferno vinha mais uma vez e agarrava sua perna, tentando levar o corpo para longe. Ele tentou segurá-lo, mas a forças não comparavam-se e logo o corpo de James afastado do seu era abocanhado por forças invisíveis e rosnados que destroçavam o seu corpo e fazia seu sangue respingar em cada parte do corpo desnudo de Christian Madden.

O exorcista passara as últimas semanas em constante busca, desde o dia em que James Braxton fizera um pacto para salvar sua vida das consequências da última missão. Desde que James Braxton oferecera sua alma em troca da vida de Madden. Passara em constante busca de uma maneira de salva-lo, mas o destino não cooperava e Deus, o Deus a quem Madden seguia rigorosamente o havia abandonado assim como ao resto do mundo que sucumbia a guerra ao trono que Eleonora disputava.

A guerra desenrolava-se lá fora, mas a dor de Madden vinha de dentro. De um ódio profundo e descontrolado que resultaria na morte de todos aqueles que começaram com essa guerra.

Não sentia-se mais como um jovem deus que James havia brincado em chamá-lo, cada pedaço de seu corpo respondia como um novo demônio em busca de vingança.