Pokemon Coração de Prata escrita por Eterno Ronin


Capítulo 2
Primeiros passos


Notas iniciais do capítulo

Anteriormente eu já havia postado um começo diferente para a historia, todavia de ideias esse novo cap tem muito mais a cara do que quis escrever desde o inicio dessa fic.



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O início de minha jornada não foi previamente planejada. Diferente de boa parte dos garotos de minha idade eu não nutria o sonho de me tornar campeão Pokémon. Tudo começou quando o Prof. Elm pediu minha ajuda em algumas pesquisas de campo, já que seu assistente demitiu-se um dia antes. Elm é e provavelmente continuará sempre sendo alguém difícil de lidar. Ele não possuía o carisma ou as grandes conquistas de seus companheiros cientistas. Passar a vida ofuscado pelos outros o tornou um homem ríspido, amargurado, que jamais sorria. Quando escolhi a Chicorita dentre os pokémon's oferecidos ele ironizou que era um “Pokémon de menina”.  Apesar de tudo, sou imensamente grato ao Elm. Graças a aquele cientista ranzinza um mundo novo se abriu para mim.

Fui incumbido de ir até Cherrygrove pegar uma encomenda com um colega do Prof. Elm. Chegando a casa ao norte me surpreendi ao encontrar uma lenda vida, o Prof. Oak, o mento do lendário Red. Minha surpresa foi maior ainda quando ele perguntou se eu era um garoto ou uma garota. Aquele velho precisava de óculos, não soube nem definir meu sexo. Recebi um ovo de uma espécie desconhecida de Pokémon (mais tarde nasceria um Togepi dele). Ao voltar para o laboratório em New Bark tive minha primeira batalha. Já havia enfrentado pokémon’s selvagens, mas não o de outro treinador até então. Era o garoto ruivo que mais cedo estava espionando pela janela o laboratório do Prof. Elm. A voz dele ressoou forte e intimidadora assim que me viu: “Saia do meu caminho, pedaço de merda”.

Ele sacou uma poké-bola e eu fiz o mesmo, embora minhas mãos tremessem tanto que quase a deixei cair antes mesmo de arremessá-la. Minha Chicorita teve que enfrentar um Cyndaquil raivoso com chamas nas costas e no olhar (mesmo que os olhos dele fossem tão puxadinhos que pareciam fechados).

─ Espalhe o sangue verde nojento dessa plantinha pelo chão, Cyndaquil! ─ ordenou com um sorriso sádico que transparecia certa ansiedade.

Aquela era tanto a minha primeira batalha quanto a dele, a diferença é que eu não estava tão ansioso tampouco sedento por sangue. Por um instante hesitei em passar o comando e minha Chicorita sofreu um ataque. Cyndaquil subiu em cima da minha pokémon e desferiu vários golpes. Fiquei paralisado diante daquela brutalidade. Tentei falar, passar os comandos, mas minha voz não saia. Cyndaquil abriu um rasco na folha da Chicorita e o sangue verde dela começava a forma uma poça embaixo de seu corpo. Nunca esquecerei o medo que senti ou os grunhidos de dor de minha companheira. Antes que o golpe fatal fosse desferido, uma lembrança a muito guardada no fundo de minha memória veio à tona.

Enquanto voltava da escola certa vez vi dois garotos tendo uma batalha. O vencedor da batalha abraçou seu Squiter e o beijou várias vezes, depois beijou uma garota desconhecia na plateia que o assistia, e levou um tapa que deixou uma marca vermelha tão forte em seu rosto que até hoje não teve ter saído. Eu pensei: “Por que ele está tão feliz Só por vencer uma batalha Pokémon?”. Não importa o quanto eu tentasse senti desprezo por aquele garoto, tudo o que preencheu meu coração foi inveja. Naquela época eu achava que para ser feliz era necessário ter boas notas, ser elogiado pelos adultos, depois ter um bom emprego e renda estável. Aquele garoto quebrou minha visão de mundo com seu sorriso idiota, até hoje invejo a sinceridade aquele sorriso.

Forcei um sorriso no meu rosto amedrontado, tentei imitar a expressão daquele garoto no meu passado, mas mais devia parecer que eu estava com dor de barriga, então gritei:

─ Revide, Chicorita! Ainda podemos vencer!

Chicorita balançou o caule em sua cabeça e arremessou com sua folha o Cyndaquil para longe.

─ Você e seu Pokémon de bicha deveriam ter ficado quietos e aceitado a derrota, sofreriam menos dessa forma ─ apesar da arrogância de suas palavras a voz dele continha vestígios de medo. Ele não esperava por reação.

─ Tá se achando demais, ruivinho. Com uma mijada apago as chamas de seu Cyndaquil ─ disse tentando ser tão inimitador quanto ele, mas pronunciar tais palavras doem mais em mim do que nele as ouvindo.

Ordenamos juntos:

─ Cyndaquil, mande-a para o inferno!

─ Chicorita, Ah... bate muito nele!

Nossos pokémon’s correram um em direção ao outro e atacaram com mordidas, coices e patadas. Eles ainda não conheciam muitos golpes, o que não diminuiu a violência do combate. Meia hora se passou, então uma hora e meia. Sangue verde e sangue vermelho se espalharam e misturam-se pelo chão. Ambos foram levados ao limite e foram além. O tempo parecia ter parado e o mundo inteiro longe dali não passava de um distante sonho. Tudo o que existia para nós era aquela batalha e o desejo ardente pela vitoria.

Meu rival riu exageradamente transbordando fúria e pavor.

─ Desistam de uma vez, fracotes! Pedaços de lixo como vocês deveriam ser fáceis de derrotar! Por que diabos não consigo te vencer?! ─ ao fim da frase ele já estava chorando.

─ Quem pensa que é para nos chamar de lixo?! Meu nome é Ethan! Eu e a Chicorita não vamos aceitar outro resultado além da vitória!

Chicorita e Cyndaquil se ergueram sem forças e partiram um para cima do outro uma última vez. Antes que a batalha pudesse ser decidida e o último golpe de ambos fosse dado, uma enorme sombra surgiu no chão e um Gengar saiu de dentro dela segurando pelas mãos ambos os nossos pokémon’s iniciais.

─ Idiotas irresponsáveis! ─ Bradou a voz de uma bela mulher de cabelos prateados. Ela trajava um vestido curto e negro com um colarinho na garganta enfeitado por uma joia anil.

Após o choque inicial reconheci a linda mulher. Era Karen da elite dos quarto. Uma das mais notórias treinadoras de toda história. Muitos diziam que o próprio campeão de Johto, Lance, o Dragão, não era páreo para Karen da Alma de Prata, especialista em tipos noturnos e famosa por defender que treinadores devem usar os Pokémon com base em afinidade, não em status.

─ Como ousa interromper nossa batalha?! ─ meu rival disse furioso, mas assim que Karen o direcionou um olhar de reprovação ele abaixou a cabeça ciente de que seu nível como treinador era ridiculamente menor.

Dois treinadores tão irresponsáveis quanto nós sequer podíamos encarar alguém como Karen, ainda mais logo após negligenciarmos o bem estar de nossos pokémon’s.

─ Vocês de fato não merecem os pokémon’s que possuem. Se eu não estivesse por perto para impedir vocês, garotos idiotas, os deixariam morrer nessa simples batalha estupida ─ Karen falou de forma calma sem que isso aliviasse a dureza de suas palavras.  Nunca imaginei que uma mulher tão linda quanto ela pudesse ter um olhar tão rígido que transmitisse tanta autoridade.

─ Esse cyndaquil é meu e eu faço aquilo que... ─ meu rival perdeu as palavras ao encarar Karen séria e seu Gengar sorridente. As expressão de ambos formavam um contraste prefeito, no entanto compartilhavam a mesma forte presença.

─ Quando nos encontrarmos novamente, se nos encontrarmos, espero que tratem melhor seus pokémon’s, caso contrário não os tolerarei uma segunda vez.

Gengar depositou gentilmente Chicorita e Cyndaquil no chão e logo depois gargalhou e pulou para dentro da sombra de Karen. Enquanto a lendária treinadora se distanciava e sua sombra se entendia no horizonte tudo o que fizermos foi observa-la pelas costas incapazes de pronunciar quaisquer palavras.

Karen foi minha maior inspiração como treinador. Queria ser como ela. Mostra-la que eu havia aprendido a lição e trataria meus pokémon’s melhor daquele dia em diante. Na verdade, desde aquele diz que a conheci a amei. Um amor tolo e platônico. Não pude resisti ao seu encanto. A admirei de todo o meu coração. Continuo ainda agora a ter por ela esse mesmo sentimento difícil de descrever ou de revelar.

Dos inúmeros fatores que me fizeram um treinador pokémon, Karen foi o mais forte e intenso. Enquanto eu lembrasse de sua silhueta se distanciando ao horizonte jamais desistiria de meus objetivos. Mais do que a qualquer outro, quis a alcançá-la, Karen da Alma de Prata.

─ Hey, idiota ─ meu rival quebrou o silencio. ─ Essa batalha terminou como embate. Saboreie esse resultado medíocre enquanto pode. Na próxima vez, Eu, Silver, irei te derrotar!

Voltando a New Bark descobrir que Silver havia invadido o laboratório do Pro. Elm e roubado Cyndaquil de lá. Na época o Prof. Elm ficou irritado como nunca antes o vi, mesmo assim ele não deixou de ironizar ao me ver, dizendo que o ladrão por ter levado um tipo fogo tinha um gosto melhor que o meu para pokémon’s. Muito tempo depois soube que uma antiga paixão que deu um pé na bunda do Elm possuía uma Chicorita de estimação, por isso ele detestava particularmente aquele pokémonzinho do tipo planta.

Alguns policiais me pediram uma descrição do suspeito, já que eu não só o vi como batalhei contra ele, respondi que ele se chamava Silver, mas que talvez não fosse seu nome verdadeiro.

Tudo em casa e na minha pequena cidade estava igual e diferente ao mesmo tempo. Conforme vamos vivendo mudanças acontecem e nunca mais voltamos a ser os mesmos. Eu havia mudado após receber minha Chicorita, ao ter minha primeira batalha e especialmente quando conheci Karen. New Bark se tornou um lugar monocromático, onde eu sabia que nada aconteceria.

Uma semana após os acontecimentos de antes, disse a minha mãe que faria uma caminhada. Andei ao lado de minha Chicorita toda enfaixada que ainda se recuperava dos ferimentos. Enquanto seguíamos sem rumo pela campina me veio à mente: “Até onde eu seria capaz de ir?”. Então comecei a correr junto da minha Chicorita em direção ao horizonte. Este foi o início de tudo.


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Notas finais do capítulo

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