Quando me juntei às Caçadoras, tinha me ficado claro que eu não deveria ter relacionamentos amorosos com nenhuma pessoa do sexo oposto. Porém, não havia nenhuma restrição para relacionamentos amorosos com pessoas do mesmo sexo que eu.

Eu sempre achei esse pensamento deveras estranho. Ele surgira na minha mente num momento de ócio, e desde então nunca mais saíra da minha cabeça. Uma centelha de esperança havia se acendido em mim.

Bom, imagino que as coisas estão um tanto embaralhadas. A questão é que de uns tempos para cá, meus sentimentos por Annabeth não eram simplesmente amizade. Tinha algo a mais nisso.

O dia estava calmo; o sol brilhava na imensidão azul do sol, porém o seu calor era inibido pela ventania gelada que se espalhava; Caçadoras andavam frenéticas para todos os lados; Lady Ártemis estava parada no topo de uma montanha, admirando a paisagem que se entendia abaixo. Suspirei e caminhei até ela. Uma ideia um tanto mirabolante havia se formado na minha cabeça. Eu precisava tentar.

De longe, Ártemis já havia notado minha presença. Virou-se para mim e sorriu. Sorri timidamente em resposta.

— É um lindo dia, não é mesmo, Caçadora? — ela comentou.

— Sim, sim. — concordei, nervosa. Ela notou meu nervosismo, e seu olhar se tornou um tanto compreensivo.

— O que te preocupas, Thalia?

Engoli em seco. Aquele era o momento.

— Lady, sei que é um pedido equivocado, mas eu queria ir ao Acampamento Meio-Sangue, visitar Annabeth, minha amiga. — me atropelei nas minhas próprias palavras. Ártemis sorriu docemente.

— Claro que podes, minha Caçadora. Tu podes enviar uma Mensagem de Íris para o Acampamento, e poderás, amanhã mesmo, ir para lá. Só peço que não demores.

Meu coração começou a bater mais rápido. Afobada, agradeci a Ártemis e então dei meia-volta e fiz o que era necessário.

No outro dia, já de manhã, Argos me levava ao Acampamento. O dia estava lindo, e em outro caso, eu ficaria por horas observando-o, mas a ansiedade que me consumia era tão grande que eu não conseguia ficar olhando para um lugar fixo por muito tempo.

Peguei o meu quase esquecido Ipod, coloquei os fones no ouvido e coloquei uma música qualquer. Mal prestei atenção na música, então desliguei o aparelho depois de algum tempo. Eu acho que nunca tinha me sentido tão nervosa na vida, nem quando me juntei às Caçadoras. O tempo parecia passar mais devagar. O carro parecia estar andando a 10 km/h.

Depois do que pareceu um século, chegamos na tão familiar Colina Meio-Sangue.

Lar. Lar doce lar. Mal agradeci a Argos, já estava correndo para o topo da Colina. Aquele lugar me trazia muitas recordações – boas e ruins – mas não importava. Eu tinha ido ali por outro motivo. Meu coração batia descompassado e quando cheguei na Colina, olhei ansiosa para o Acampamento, procurando uma pessoinha de cabelos loiros que há tanto vinha me encantando. Não precisei procurar muito.

— Annabeth! — minha voz pareceu ter se perdido no ar, e eu tive medo de que ela não tivesse escutado. Mas eu devo ter gritado como nunca, pois ela abriu um sorriso e veio correndo na minha direção. Fiz o mesmo. Parecia aqueles filmes toscos de romance, onde o cara nunca viu a garota na vida, e de repente, os dois se vêem encharcados debaixo da chuva, olham um para o outro e mesmo com uma ameaça de pneumonia, se beijam na chuva. Sempre achei isso patético. E era engraçado ver que eu estava na mesma situação.

Ela me abraçou. Era um abraço de amizade, mas que se dane, aquela sensação era boa.

A sucessão das coisas que aconteceram a seguir eu simplesmente não raciocinei direito.

Uma troca de olhares. Uma inquietação no estômago. Proximidade. Nossos lábios juntos. O mundo inteiro parecendo sumir. Exclamações assustadas. Os dedos trêmulos dela no meu pescoço. Meus braços ao redor da sua cintura. Falta de ar. Separação. Mais uma troca de olhares. Sorrisos.

— Eu te amo, Annabeth. — murmurei.

— Eu também te amo, Thalia.

Acho que nunca na minha vida, cinco palavras soaram tão harmonicamente nos meus ouvidos.