Emma estava sentada em seu camarim com o script em mãos e tentando processar tudo o quê havia lido. Esse era o terceiro filme que iriam gravar e ela não conseguia entender o motivo do diretor ter escolhido aquele final.

Sua personagem Léia descobriria que amava a personagem Wilma, interpretada por Regina Mills. Emma sabia que os fãs que acompanhavam a trilogia torciam para esse casal, mas ela de fato não acreditava que pudesse acontecer, não até receber o script da cena. Havia algo naquilo que mexia com ela mais do que ela pudesse entender.

Estavam preparando o set para a gravação quando Regina entrou no camarim já com as roupas da sua personagem.

— Você leu? – perguntou animada retocando a maquiagem no espelho. – Arthur me surpreendeu dando esse final para as nossas personagens. Ele deve ter lido algumas Fanfics que os fãs produziram, ele parecia tão resistente quanto a isso.

— Eu achei estranho. – jogou o script na poltrona ao lado, em seu rosto uma expressão séria.

— Como assim? Pra mim faz todo sentido. Nossas personagens viveram salvando uma a outra durante a trama, elas merecem esse amor.

— Eu não vejo dessa maneira. – Emma a fitou. – Eu as vejo grandes amigas, mas Arthur é o Rei por aqui, então vamos lá.

— Olha, se o seu problema for ter que me beijar...

— Regina. – a loira a interrompeu soltando um pequeno riso. – Não diga bobagens. Eu já vou para o set, te vejo lá.

***

Arthur estava repassando as coordenadas para os câmeras e Emma estava sentada um pouco afastada apenas esperando as gravações iniciarem. Foi quando sentiu a morena se aproximando e sentando-se próxima a ela.

— Você não gosta muito de mim, ou de gravar comigo, não é mesmo?

— O quê? – a olhou confusa.

— Você adora gravar todas as suas cenas de ação, de romance, mas quando o assunto são as nossas cenas você sempre tem algo contra. – Regina não encarava a loira, afinal Emma também não a olhava. – Eu não sei se você me acha uma péssima atriz ou...

— Olha, não sei de onde você tirou isso, eu só me apego bastante aos personagens que eu interpreto e eu só acho que esse final não era o mais adequado para ela. Só isso.

— Hey garotas, vamos gravar? – Arthur as chamou e a loira rapidamente levantou-se e o seguiu. Regina ainda permaneceu alguns segundos apenas a observando antes de também ir.

***

— Vocês entenderam, certo? – o diretor confirmou com os atores que estavam prontos para a gravação. – O personagem do David vai chegar com a personagem da Regina a ameaçando, ela quase é baleada e então sua personagem Emma a resgata e vocês se beijam, correto?

— Correto! – responderam em uníssono.

— Então vamos lá. – cada um se posicionou em seu local e o diretor autorizou a gravação. – Luz, câmera... ação!

O carro estacionou lentamente e dele desceram David – ou no caso James – segurando Regina – Wilma – e com uma arma na mão. Em sua frente estava Emma – Léia – também segurando uma arma e na outra mão uma maleta.

— Léia, por favor, fuja. – Regina foi quem deu início as falas.

— Solta ela, seu desgraçado.

— Me passa o dinheiro e eu te passo ela, como combinamos. – David tentava não machucar Regina enquanto apertava o braço em seu pescoço.

Emma se agachou e colocou a maleta no chão e a fez deslizar em direção a David, Arthur comemorou o fato de o objeto não ter parado no meio do caminho.

— Agora ela.

David soltou Regina, pegou a maleta do chão, mas antes de entrar no carro, atirou – um efeito muito bem produzido – contra a morena.

— Não! – Emma gritou correndo em direção ao corpo de Regina que estava caído no chão. – Wilma. – por um segundo Emma quase chamara pelo nome de Regina quando a tomou nos braços.

— Eu estou bem. – o microfone se aproximou para captar a voz baixa de Regina. – Foi só um susto, foi só de raspão. Mas por que você está tão desesperada? – a loira forçava para que alguma lágrima lhe escorresse pelo rosto.

— Eu só acho que acabei de perceber algo, agora que quase te perdi.

— O quê?

— Eu acho que te amo, Wilma! – sua mão puxou o rosto da morena para perto de si e os lábios se tocaram.

Se beijo técnico existia, Emma e Regina naquele momento ignoraram por completo, pois o beijo foi real e mais longo do que o necessário para aquela cena. Em algum momento pareceram ter se esquecido de que aquilo era apenas uma gravação e de que elas naquele momento eram Léia e Wilma. Quando separaram os lábios e fixaram os olhares, enxergavam Emma e Regina.

— Corta! – Arthur gritou vindo na direção delas aplaudindo, mas ainda demoraram um pouco para se levantarem. – Parabéns garotas, ficou melhor do que eu imaginava, vocês passam muita realidade na atuação de vocês. Foi incrível.

Regina pensou em dizer algo para Emma, mas quando deu por si, a loira já havia sumido em direção ao camarim.

***

Emma estava terminando de colocar sua jaqueta para ir embora, afinal já havia feito todas as gravações do dia, quando viu pelo espelho a morena entrar.

— Acho que o fandom vai ficar muito contente. – disse sem jeito.

— Sim, no fundo... no fundo acabou fazendo sentido para mim. – virou-se ajeitando a gola da roupa. – Regina, sobre o que me disse antes da gravação, eu não te acho uma péssima atriz, na realidade eu te acho a melhor atriz desse cast, não é isso.

— É o que então? – se aproximou sentindo a batida do seu coração saindo do ritmo.

Mas nenhuma palavra mais foi proferida e nenhuma das duas ao certo soube dizer quem teve a iniciativa, mas logo seus lábios já haviam se encontrado de novo e agora eram elas mesmas quem se beijavam.

— Regina... – a loira a empurrou. – Você está noiva e eu tenho namorado, isso... isso não está certo.

— E se eu não estiver feliz e quiser terminar com tudo isso só para poder te beijar de novo? – sentia um nó lhe apertar a garganta. – E se eu gostar de você, Emma?

— Droga... – passou a mão pelos cabelos em sinal de nervoso. – É por isso que eu não gosto de gravar com você, porque tem esse imã que me leva até você e eu não sou capaz de resistir.

— Mas você resiste.

— Porque... – balançou a cabeça desviando o olhar. – Eu não sei, Regina. Eu acho melhor eu ir. – e saiu deixando a morena para trás.

***

Ainda gravaram algumas cenas juntas depois daquele dia, mas quase não conversaram, apenas Léia e Wilma. E desde o fim das gravações não se viram mais, até a noite de lançamento do filme.

O grande tapete vermelho se estendia na entrada no local, Emma já estava lá ao lado de seu namorado Killian quando a Mercedes estacionou e Regina desceu deslumbrante em seu vestido vermelho que deixava a mostra cada uma das suas perfeitas curvas.  Curvas que Emma secretamente observava nos bastidores.

O olhar das duas se encontrou e Regina ficou hipnotizada com a beleza da loira contrastando com o vestido preto longo que usava. Mas desviou o olhar assim que viu Killian ao seu lado. Segundos depois quem desceu do carro foi Robin, o noivo da morena. Dessa vez foi Emma quem desviou o olhar.

Durante a festa toda as duas se olharam de longe. Regina só queria entender o que havia acontecido entre elas e se pudesse, queria que aquilo continuasse, mas Emma permanecia uma incógnita. Regina não amava mais seu noivo e sustentava o noivado apenas porque não queria ver seu nome estampando manchetes de todos os jornais. E Emma, não conseguia ver amor emanando dela para Killian e não era porque gostava dela, mas a própria loira uma vez deixara escapar que não sabia se estava feliz ou apenas acostumada com aquela relação. Talvez também estivesse sustentando o namoro.

A morena estava no banheiro ponderando se deveria ir embora ou continuar ali, mesmo que fosse obrigada a ver Emma ao lado de Killian, mas foi retirada de seus pensamentos quando a loira entrou no local.

— Você está linda! – disse parando ao lado da morena.

— Obrigada, você também! – sorriu de lado sem encará-la.

— Seu nome é um grande favorito a concorrer ao Oscar, sabia?

— Nossa. – acabou rindo. – Eu realmente não esperava. – fixou seu olhar no da loira. – Tem um grupo de fãs lá fora gritando o nome do nosso ship, parece que elas gostaram das fotos promocionais e entenderam o que vai acontecer.

— Eu dei alguns autógrafos, tirei algumas fotos e neguei spoilers. – as duas riram.

— Eu queria era entender o quê vai acontecer entre nós. Se você não vai deixar esse imã ser mais forte que você, só me fala e eu... eu sigo em frente.

— E o seu noivo? E o Killian?

— Eu não amo mais o Robin, e você... você ama o Killian? – franziu o cenho e a encarou.

Mas Emma não respondeu com palavras, a loira a beijou, a mão tateando o corpo perfeito e marcado pelo vestido colado. E dessa vez foi a morena que quebrou o toque.

— Alguém pode entrar, e eu não quero que nosso nome seja envolvido em um escândalo de traição. Eu vou terminar meu noivado de qualquer maneira, seja por você ou não.

— Regina eu... eu não sei o quê eu sinto.

— Mas eu sei. – a voz saiu como um sussurro. – E é por isso que eu vou embora.

Limpou o batom que havia borrado em sua boca e saiu sem dizer mais nada, ao passar por Robin este a segurou pelo baço confuso.

— Onde vai?

— Eu vou para casa. – sentia as lágrimas querendo sair.

— Eu vou com você.

— Não Robin, você não vai, eu quero ficar sozinha e não é só hoje, eu quero ficar sozinha na minha vida mesmo. Desculpa. – e virou-se antes de sair correndo o deixando ainda mais confuso para trás.

Emma continuou no banheiro respirando fundo e pensando em tudo. Não amava Killian, estava mentindo para ele e para si mesma. Mas Regina, com ela era diferente. Talvez sentisse medo de assumir a sexualidade para o mundo todo, talvez tivesse medo de se machucar e de machucá-la, mas não queria perder a oportunidade de tentar, não com a mulher mais incrível que já conhecera em toda sua vida e que despertara em si os sentimentos mais verdadeiros.

Saiu do banheiro correndo e procurando pela morena, passou por Killian e o abraçou antes de dizer:

— Kil, desculpe, você é um dos meus melhores amigos, só não da mais. – e saiu correndo em direção a saída.

— Emma, espera. – passou a mão pelos cabelos sem entender o que estava acontecendo, mas ela já havia partido.

Quando a loira chegou do lado de fora, a única coisa que conseguiu ver foi a Mercedes da morena em frente ao local, desceu as escadas correndo, mas fora tarde de mais, por que o carro saiu rápido e logo já havia sumido no horizonte. Emma ainda correu atrás, mas tudo que pode fazer foi parar no meio da rua e chorar.

“Say you'll remember me
Standing in a nice dress
Staring at the sun set, babe
Red lips and rosy cheeks
Say you'll see me again
Even if it's just in your
Wildest dreams...”

“Diga que vai se lembrar de mim
Ali parada em um belo vestido
Olhando para o pôr do sol, querida
Lábios vermelhos e bochechas rosadas
Diga que você vai me ver de novo
Mesmo que seja apenas em seus
Sonhos mais selvagens…”

***

Regina estava sentada no chão e encostada na porta chorando. Não sabia que rumo tomaria na vida naquele momento, mas doía saber que não seria ao lado da loira, estava mais envolvida do que podia imaginar.

Foi despertada de seus devaneios pela campainha tocando. Levantou-se enxugando as lágrimas do rosto, não queria ver ninguém, mas pelo olho mágico constatou ser a última pessoa que ela esperava ver. Emma Swan.

Abriu a porta lentamente e a encarou sem entender nada. Queria lhe dizer muitas coisas, assim como Emma também queria, mas tudo que a loira fez foi entrar e tomar Regina nos seus braços antes de beijá-la. A porta foi fechada e tudo o que aconteceria daquele momento em diante seria apenas o desejo de seus corações e de seus sonhos mais selvagens.