Fiquei calada, ignorando os olhares de todos em cima de mim e tentando fazer as visões voltarem. Josh não pode ter matado aquele homem, ele sabe que a gente não pode chamar atenção e que matar um inocente é contra as regras da alcateia, ele normalmente é o que mais defende os humanos. Nunca o vi daquele jeito, ele parecia apavorado com o sangue nas mãos, suas roupas imundas e os olhos lacrimejando, eu realmente não queria ter visto aquilo.

O carro parou bruscamente e, sem pensar duas vezes, passei por cima do alfa que era da minha idade e corri para dentro do clube. Tudo que eu vi foi uma garota de casaco verde perto do corpo. Olhei em volta e, no fundo, vi os olhos amarelos de Josh brilhando no meio da escuridão, sumindo em seguida. Caminhei lentamente até onde a garota estava, e no meio disso Stilinski chegou junto com os outros, mas eu não parei e cheguei mais perto da garota, então olhei para o posto dos salva-vidas e lá estava o corpo.

Por um momento eu desliguei, como se todo o meu corpo estivesse lá, mas minha mente tivesse sumido. A imagem de todos os corpos que já estiveram nas mãos do meu pai, o sangue que se espalhava por toda a cidade quando moramos aqui e todos aqueles caçadores atrás dele, enquanto eu e meu irmão mais velho limpávamos a sujeira dele. Meu pai costumava fazer isso quando ele e minha mãe brigavam por algo que eu achava estúpido, então eles se separaram e ele se mudou, parando de matar inocentes.

— Você está bem? — ouvi alguém falar e logo uma luz apareceu na minha cabeça, me despertando. Mãos macias foram postas uma no meu ombro e outra no meu pulso, me fazendo virar.

— Anh, sim… — falei e o olhei com uma sobrancelha levantada.

— Isaac. — o garoto de olhos incríveis falou, enquanto esboçava um sorriso pequeno. Sorri sem mostrar os dentes por alguns segundos, tentando apagar de vez as imagens da minha mente. — Eles são Derek, Scott e Lydia. O Stilles você já parece conhecer.

— É, eu já conheço ele. — falei fazendo uma careta, recebendo uma risada baixa em troca.

Antes que eu falasse qualquer outra palavra, o tal Derek pareceu farejar algo e isso me assustou.

— Scott, ele esteve aqui. — Derek falou com uma feição fechada e séria, então Scott virou para olhá-lo, me deixando alerta. Droga.

— O lobo da escola? — Scott perguntou e o mais velho assentiu.

Meus olhos se arregalaram por alguns segundos, mas tentei me normalizar, o que não deu muito certo já que Isaac percebeu quando me olhou.

— Você tem certeza, Derek? — Isaac falou me olhando, mas quando direcionou seus olhos para Derek, o mesmo o mandou um olhar irritado pelo garoto estar duvidando. — Tá, você tem certeza.

Os três lobos começaram a discutir, então fui até o corpo do salva-vidas, o olhando junto com Stilinski. O garoto me olhou de relance quando me aproximei, mas depois ignorou minha presença e continuou a verificar o corpo. Ele fazia algumas caretas enquanto olhava para o cadáver, enquanto eu tentava segurar a vontade de rir.

— Stiles. — falei, fazendo o mesmo me olhar surpreso por eu ter o chamado pelo primeiro nome. — Pode guardar isso?

Entreguei um anel que estava na mão do morto com a palavra “Pureza”. Stiles me olhou por alguns segundos, mas logo pegou o anel e guardou no bolso. Continuei olhando o cadáver, até que Derek me chamou.

— Como você sabia sobre o corpo, garota? — ele perguntou e eu revirei os olhos, o que o fez rosnar um pouco, mas não me importei.

— Ele tem razão, como você ficou sabendo? — Isaac falou e todos já olhavam para mim.

— Do mesmo jeito que a ruivinha soube. — falei apontando para Lydia e a mesma me olhou com raiva.

— Quer dizer que você também acha corpos. — Lydia falou cruzando os braços.

— Sim, eu sou uma caçadora de cadáver, assim como você. — falei com um sorrisinho irônico.

Depois de um tempo, Stiles chamou o pai dele e logo a polícia chegou - se é que eu posso chamar aquilo de polícia. Enquanto todos estavam ocupados explicando como acharam o cadáver, fui para o lado de Stiles e peguei a chave do “carro” dele, então sai o mais rápido possível daquele lugar. Eu detesto policiais desde que morava aqui com meus pais, eles não querem saber se você é culpado ou não, só querem alguém para pôr a culpa e falar que fizeram o trabalho. Fui até o “carro” do Stiles e antes de entrar escrevi na areia que entregaria o seu carro no dia seguinte, então entrei no “carro” dele e dei partida pra fora daquele clube.

Quando eu cheguei, abri a porta lentamente e pude ver Josh sentado no sofá enquanto olhava para as mãos, ele também parecia confuso pelo que aconteceu e isso tirou todas as minhas dúvidas, ele não matou aquele cara. Ele parecia apavorado, então fui até à cozinha e peguei um pano molhado, voltando para a cozinha depois.

Josh virou, me encarando com os olhos molhados e um pouco inchados. Fiz um sinal com a cabeça o chamando e ele caminhou até à minha frente, me abraçando forte. Pude sentir uma umidade no meu ombro, então percebi que ele estava chorando novamente e isso era horrível, já que era difícil vê-lo chorar.

Retribui o abraço, segurando minhas lágrimas. Vê-lo assim é triste, mas não posso agora, não com ele nesse estado. Tudo que eu queria era ligar para o papai e pedir para ele nos buscar, mas a nossa mãe ficaria sozinha novamente e meu pai nos deixaria de castigo pelo resto da vida.

— Eu não fiz nada, eu prometo. — ele disse e nos soltamos.

Peguei uma das mãos de Josh e o puxei para o sofá, fazendo ele se sentar e em seguida sentando na frente dele. Peguei um pano e comecei a limpar as mãos dele, enquanto ele apenas me encarava esperando alguma resposta, mas eu não sabia o que falar. Quando terminei, nos encaramos e eu soltei um sorriso pequeno, tentando acalmá-lo.

— Eu sei, Josh. Eu sei que você não fez isso, mas alguém fez e eles pensam que foi você. — falei o abraçando novamente, encarando a parede branca atrás dele. — A gente vai achar quem está fazendo isso com você.... Eu prometo.