Damned escrita por IS Maria


Capítulo 27
Epílogo




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(...) A vida pela qual eu havia  lutado estava segura de novo. Minha família estava reunida (...)

                                                                                                           — Bella, Amanhecer. 

 

Azul claro...ou vermelho?

Correu a ponta dos dedos por entre os dois tecidos distintos à sua frente enquanto tentava escolher. 

Vermelho. 

Deslizou-o pelo corpo sentindo-o se encaixar perfeitamente em cada pedaço de si, fino e sutil, ajustando-se como se fizesse parte de sua pele. Olhou-se no espelho enquanto ajeitava as mechas de seu cabelo, permitindo-o cair até sua cintura em uma densa e intensa cascata castanho-avermelhada. 

Seu corpo não poderia mudar e estava petrificado daquela maneira pelo resto da eternidade, no entanto, ainda que nada houvesse mudado, sentia-se diferente. 

Seria estranho se não se sentisse. 

Ele não havia deixado nada para trás para que se lembrasse dele, nada do que pudesse ver ou tocar. Porém, nada lhe gritava mais forte do que a marca que havia deixado nela. 

O toque de seu celular foi a única coisa capaz de puxá-la de seus pensamentos a quem, com afinco, havia se entregado. 

— Alô. — Respondeu ao atender, passando, enfim, a terminar de se arrumar. 

— Kate. — Katerina não demorou para reconhecer a voz do outro lado da linha. 

— Seth? — A alegria em ouvir aquela voz em específico era o suficiente para terminar de a trazer de volta para a realidade. 

— Nessie me contou que estão indo para a primeira festa de vocês… como está indo a faculdade? 

— As aulas começam amanhã...— Katerina sentou-se na cama, pequena demais para ser considerada uma, mas, desnecessária para ela de qualquer maneira. — Até agora tá tudo bem…moramos perto o suficiente para que não precisemos viver no dormitório...o que é bom.  

— Eu tenho certeza de que vai dar tudo certo, se você conseguiu terminar o Ensino Médio, eu não duvido de que consiga terminar a faculdade. — Katerina ouviu-o sorrir. — Jacob pretende visitar Nessie no próximo feriado e eu estava pensando…

— Eu adoraria que você viesse também. — Katerina o interrompeu. 

— Não é legal entrar na cabeça das pessoas…  — Katerina quase pôde o sentir revirar os olhos para ela. 

— Eu não precisei entrar na sua cabeça, Seth. — Katerina sorriu. — Na verdade, eu não sei se consigo fazer isso por telefone…. Pense em alguma coisa. 

— Pronto. 

— Você está pensando no quanto eu sou incrível e no quanto sente minha falta? 

— Não! — Ele riu, alto desta vez. — Perto, na verdade foi “batata frita,” mas eu sinto sua falta sim… 

— Eu também sinto a sua… as pessoas aqui não são tão legais. 

— Nem deu tempo para conhecer ninguém, você também não gostava de mim no começo. 

— Conhecer gente nova não está nos meus planos. 

— Tenho certeza que mudará de ideia… eu preciso ir agora, mas vejo você logo? 

— Vejo você logo… e não esqueça o casaco.

— Eu não preciso, eu sou quente demais para isso. 

Katerina revirou os olhos. 

— Até.

— Até. 

Ouviu-o desligar. 

Olhou as horas, percebendo então que haviam se passado dez minutos desde a última vez em que notou que já estava atrasada. A julgar pela quantidade de mensagens que Nessie havia deixado, Katerina não seria perdoada se a deixasse mais um segundo sozinha. 

A festa onde deveria estar não era longe dali, perto o suficiente para que ouvisse a música tão bem quanto se estivesse tocando bem próxima aos seus ouvidos. Não olhou para o endereço que tinham a mandado e apenas seguiu a música, sentindo-a se tornar mais alta a cada passo. 

Avistou a multidão que se formava em frente a uma das casas da rua que seguia quando finalmente parecia ter alcançado a música.

Hesitou por um instante antes de os enfrentar. 

Aquilo sempre a deixaria nervosa, aparentemente, mesmo que já tivesse total controle sobre seu corpo. 

— UOU. — Um garoto para a sua frente, impedindo-a de prosseguir. — Seus olhos são de verdade? 

Katerina abaixou a cabeça por alguns segundos, lembrando-se então do tom de âmbar avermelhado que agora carregava. Sua dieta havia mudado, mas com o tempo, a cor de seus olhos deixou de mudar nunca deixando-a ter o dourado que os Cullen carregava, mas permitindo-a não ter olhos tão sobrenaturais quanto aos vermelhos que estava acostumada. 

— São sim. — Sorriu. 

Não o permitiu dizer mais nada, aproveitando a brecha que seu corpo parecia ter feito, para esquivar-se dele sem que ele notasse, mas não rápido o bastante para assustar quem a observasse de longe. 

O cheiro de Nessie era característico e se diferenciava de qualquer outro humano, por isso, não foi difícil a encontrar, mesmo que ali estivessem mais cabeças do que poderia contar. 

Mas, ela não lhe parecia tão desesperada quanto deu a entender em suas mensagens. Na verdade, nem sequer estava sozinha. Katerina revirou os olhos antes de sorrir. 

— Você disse que eu precisava vir para não a deixar sozinha. — Katerina chamou sua atenção. 

— Mas você demorou tanto tempo que as meninas se aproximaram, o que estava fazendo hein?

— Oi. — Katerina cumprimentou aquelas que ainda não sabia o nome. — Eu estava…

— Pensando? Nele? De novo? 

Katerina mordeu o lábio inferior, impedindo-se de admitir a verdade.

— Não… tentando decidir o que vestir.  — Olhou para o chão para evitar o olhar de Renesmee. 

— Você mente tão bem quanto Jacob. — Nessie revirou os olhos. 

— Tanto faz…

— VOCÊS DEVEM ESCUTAR MUITO BEM PARA ESTAREM SE ENTENDENDO COM ESSA MÚSICA. — Uma das garotas gritou procurando vencer a música com sua voz. 

Katerina e Renesmee sorriram sem poderem dizer nada. 

— Vamos dançar...— Renesmee a puxou pelo pulso. 

Se entregar a música não era difícil, não depois de tudo o que já tinha visto e vivido. Agora era mais fácil viver as pequenas coisas da vida, depois de quase a perder...duas vezes. Suas preocupações não eram mais as mesmas e seus problemas, na maioria das vezes, pareciam não existir. 

Seu único problema era estar presa a uma memória de quem não parecia mais fazer parte da sua vida. 

Carlisle tinha precisado finalmente se mudar de Forks e o Alasca tinha sido a melhor e mais segura escura. Antes de se mudarem, enquanto pôde, tinha o procurado em todos os lugares que pensava onde poderia estar e quando percebeu que talvez ele não desejasse ser encontrado, demorou mais ainda para aceitar a verdade. 

O pensamentos constante dele fazia-o tão presente quanto se estivesse ao seu lado, mas a necessidade que seu corpo sentia e a ânsia que possuía por ele, sempre que se lembrava, isto era, o tempo todo, não lhe faziam bem. 

Por alguns segundos, decidiu desligar-se dele. 

Somente enquanto aquela música durasse.

Somente enquanto seu corpo dançava. 

Sentiu mãos pousarem contra seu quadril e moverem-se junto a ele em meio à melodia, permitindo-a perceber o quanto desejava ser tocada. Jamais havia lhe ocorrido o quanto seu corpo inflamava em desejo. Porém, aquele toque lhe parecia vazio, tanto que mal o sentia. 

Seu corpo não o desejava. 

Ela não o desejava. 

Estava condenada. 

Condenada. 

Virou-se para ver quem era. Seu rosto era bonito e seus olhos entregavam que era alguém bom. 

— Desculpa. — Removeu as mãos dele. — Eu tenho namorado. 

Afundou os dedos na mechas do cabelo e fechou os olhos por um instante, mais uma vez. Ela tinha mesmo alguém? De repente, seu peito se tornou pesado fazendo-a se esquecer de onde estava. A memória dele, mais uma vez, tinha tomado conta de si, tão forte que era como se pudesse o sentir por perto. Mas, a ilusão criada por sua vontade não a enganaria mais uma vez. 

— Nessie… — Disse contra o ouvido de Renesmee. — Eu já vou, tudo bem? Lembrei que preciso organizar algumas coisas para amanhã.

Mas, ela e Renesmee sabiam que essa não era a verdade completa. 

— Tem certeza?

— Tenho.

— Tá tudo bem? — Nessie a segurou pelo braço por mais um instante e a olhou nos olhos. 

— Vou ficar. — Katerina sorriu procurando a confortar. 

***

— Se precisarem de alguma coisa, meu consultório não fica longe daqui. — Carlisle disse para Renesmee e Katerina enquanto as deixava no escritório de Administração da faculdade. 

— Tudo bem… tudo bem...— Renesmee respondeu, distraída demais para sequer ter escutado direito. 

— Sério...um telefonema só e…

— Vamos ficar bem, Car..— Katerina o interrompeu. 

— O que eu lhe disse sobre como deve me chamar? — Foi a vez dele de a interromper. 

— Vamos ficar bem… pai. — Katerina sorriu, timida diante à palavra. 

— Vejo vocês depois? 

— Certo. — Katerina e Renesmee responderam. 

Os corredores era grandes o suficiente para fazerem os da escola parecerem uma casa de brinquedos. Tinha mais pessoas ali também, o que seria um desafio a mais. Pouco havia mudado no comportamento de Katerina desde seu despertar, o que significava que ela ainda era mais do que estranha para alguém que não fosse nem lobo, nem vampiro. 

A parte mais difícil era fingir que todos os livros que carregavam realmente pesavam alguma coisa. 

— Qual é a sua primeira aula? — Renesmee a perguntou enquanto olhava para o próprio horário. 

— História da Arte. — Katerina sorriu, ansiosa. Tinha decorado o seu horário de aulas a essa altura. 

— Ah claro… você escolheu cursar História… e eu ainda não sei o porque. 

— Porque eu pude escolher. — O sorriso de Katerina se tornou ainda maior. 

— Sabe, para alguém que nem queria ir para a escola, você até que se transformou em uma nerd de mão cheia. 

Katerina então avistou a indicação que procurava, sabendo ter chegado em sua sala de aula. 

— Qual a sua primeira aula?

— Zoologia. 

— Então te vejo na hora do almoço. 

— Tudo bem. 

Katerina não olhou mais para trás. 

Analisou a sala, que ainda estava relativamente vazia. As cadeiras da frente eram visíveis demais para alguém que já chamava muito atenção por suas peculiaridades e as do meio ainda lhe pareciam ser perto da frente. O fundo, a última fileira, lhe pareceu seguro. Felizmente sua visão era boa o suficiente para a última fileira e isso não seria um problema. 

Olhou para o relógio. Dez minutos adiantada. 

Era o suficiente para começar a leitura do livro daquela matéria. 

Entregou-se a leitura, o suficiente para não perceber a sala aos poucos se encher e a aula começar. Cada linha era o suficiente para a deixar instigada o bastante para continuar a ler sem levantar os olhos. 

Estava presa por entre as esculturas deixadas pelo período mesopotâmico quando sentiu ser chamada. 

Olhou para o lado, a garota com o lápis esticado que tinha usado para lhe chamar a atenção, a olhou por alguns segundos e em seguida voltou-se para frente, fazendo-a perceber que havia sido difícil para ela desviar seus olhos da frente para a chamar. 

Katerina não demorou a perceber o estranho silêncio não qual a sala se encontrava. Nem sequer a voz do professor poderia ser ouvida. 

— Será… que poderia nos responder? — A pergunta veio da frente. 

— Sim? — Katerina voltou sua atenção ao professor. 

— Minha aula não está lhe interessando?

Mas Katerina não conseguiu o responder.

Seu estômago embrulhava como se seu corpo tivesse sido posto de cabeça para baixo. O veneno ardeu em seus olhos e teve de segurar a mesa na qual estava sentada, para impedir a temperatura de seu corpo aumentar. 

Ficou presa por mais um instante à aqueles olhos dourados. 

Imensos olhos dourados.

— Senhorita…? — Ele lhe fez mais uma pergunta.

— Cullen. — Ela respondeu, sentindo sua voz não desejar sair. 

— Então, senhorita Cullen, será que poderia nos dizer o nome desta escultura e de que período está datada? — Com dificuldade, Katerina tirou seus olhos dele. 

Reconheceu a escultura de uma das primeiras páginas que havia lido. 

— É… A Rainha da Noite… Mesopotâmia, aproximadamente 1800 a 1750 antes de cristo. 

— Muito bem. — Ele sorriu em sua direção. — Espero que continue a receber sua atenção até o final da aula. — Disse antes de continuar a aula. 

Mas Katerina não ousou olhá-lo mais uma vez, ainda que sentisse que os olhos dele não haviam a deixado. 

Ouvir o sinal foi um alívio depois de minutos que pareceram se arrastarem por horas. Não esperou que o professor a liberasse e deixou a sala o mais rápido que pôde, sua saída sendo camuflada em seguida por outros alunos que a acompanharam. 

Pôde sentir a palma de suas mãos esquentar e mesmo que as esfregasse uma na outra, seu corpo simplesmente parecia ter deixado de a responder. Os corredores, expostos a qualquer um, deixaram de ser seguros e ela procurou o único lugar no qual conseguiu pensar, perto o suficiente e que provavelmente não teriam tantos olhos por perto. 

O Banheiro feminino. 

Assim que aproximou-se da porta, foi puxada pelo braço. Seu corpo foi jogado contra a porta, obrigando-a a se fechar. As mãos dele pressionavam seus braços, forçando-os a ficarem juntos à lateral de seu corpo. 

Se ela quisesse, poderia ter se soltado em um instante, ela era mais forte. 

Mas, novamente, os olhos dourados a prenderam, forçando-a a permanecer quieta, por hora. 

— Estou curiosa para saber o que tem a dizer. — Katerina disse. 

— Eu..senti a sua falta. 

— Então deveria ter aparecido antes. — Katerina enfim se soltou. 

— Eu precisava resolver algumas coisas…

— Coisas que não poderiam ser resolvidas se ficássemos juntos, Caius? — Katerina não tinha se permitido sentir raiva, até agora. — Não foi você que perguntou como eu pude ir embora? Como você pôde ir embora? Hein? Como pôde simplesmente… sem dizer uma palavra… sem deixar nada para trás…

Mas ele não a permitiu continuar a falar. 

Cobriu a boca dela quanto a sua. 

Mostrando que seu corpo sentia tanto a falta dela quanto ela sentia dele. 

E Katerina permitiu-se aproveitar cada segundo daquele beijo. Seu corpo aos poucos despertando depois de ter adormecido por tanto tempo. Suas mãos passeavam por sua pele, debaixo de sua blusa, deixando com que ela sentisse o único toque a quem sua carne respondia. 

Seu corpo se tornou mais e mais quente. 

Era uma coisa de lobo.

E o toque dele se tornava mais e mais frio, tornando-se ainda mais agradável ao calor que às vezes sentia ser insuportável. 

Até que ele parou para a olhar nos olhos. 

— Eu esperei por você...— Ela sussurrou, ainda contra os lábios dele. — Esperei que viesse na primeira lua cheia depois de tudo aquilo… esperei que viesse para o meu aniversário, ou no outro depois daquele...ou no outro… esperei por você na minha formatura… esperei por você todos os dias. 

— Eu queria vir, eu juro que estive muitas vezes, perto demais de vir. 

— Até que eu deixei de esperar. 

— Katerina… — O rosto de Caius foi preenchido por confusão. 

Ela então, se afastou e abriu a porta. 

— Eu não vou ter um caso com o meu professor. 

***

— Tem que ter qualquer outra matéria… qualquer coisa a não ser essa. — Katerina já estava vinte minutos discutindo com a secretária do escritório de Administração. Paciente e sutilmente, procurava influenciá-la com sua voz, no entanto, não podia ir mais além do que isso, o efeito que seu dom parecia ter sobre humanos era bem mais forte do que com vampiros e era preciso ser cuidadosa. 

— Eu sinto muito, se deseja se graduar em História, a matéria é fundamental para o seu curso. 

— Tá… e o que eu tenho que fazer para mudar de curso?

 

(...) Ele estava discutindo com ela em uma voz baixa e cativante. Rapidamente peguei a essência da discussão. Ele tentava trocar o horário de biologia por qualquer outro horário — qualquer outro.  

                                                                                                           — Bella, Crepúsculo.

 

— Eu posso lhe dar o nome de quem pôde procurar...— Os olhos da secretária finalmente pareceram encontrar algo mais interessante do que as próprias unhas, bem mais interessante. — Bom dia Senhor Volturi. — O rosto dela, por completo, se iluminou enquanto suas bochechas aos poucos tingiam-se de vermelho. 

Katerina estremeceu ao ouvir seu nome, reconhecendo a presença dele antes que seu corpo pudesse virar para o receber. 

— Melissa. — Ele a cumprimentou com um sorriso breve, antes de se aproximar da bancada onde Katerina se encontrava. 

A atenção de Melissa, a secretária, não o deixou por um segundo, mas a dele pertencia somente a Katerina. 

— Não acredito que nosso assunto tenha terminado, Senhorita Cullen. — Os olhos dourados, novos, conseguiam ser ainda mais intensos do que os vermelho que costumava carregar. 

— Sinto muito, Senhor Volturi, tive a impressão de já ter sido clara o suficiente. — Katerina voltou-se mais uma vez para Melissa. — Eu volto depois para buscar o nome que me disse. 

Renesmee estava a porta, seu rosto entregando o quanto estava surpresa. Katerina passou por ela e fez questão de a puxar pelo braço forçando-a a caminhar consigo, para ter certeza de que ela não ficaria para trás e faria algo além do que deveria ser feito. 

— Aque..?

— Sim. 

— E então?

— O que?

— Katerina… você está esperando por ele a três anos… e aí? — Renesmee forçou-a a parar. — Como foi ver ele?

— Foi melhor do que perceber que estava viva. — Katerina permitiu-se sorrir. 

Para ser mais clara, Katerina tinha sentido-se finalmente liberta de todas as lâminas imaginárias perfuradas contra seu peito.  

— Não foi o que pareceu…

— Eu ainda tenho um pouco de respeito por mim mesma. 

***

Estava presa à sua escrivaninha, em seu computador, procurando pelos livros adicionais da lista que um de seus professores tinha lhe passado. A esta altura, nem sabia se seu esforço seria compensando quando mudasse de curso, ou se permaneceria no curso e arriscaria suportar Caius três vezes na semana. Ao menos leitura não seria desperdício. 

A presença dele logo pôde ser sentida na janela. 

Katerina, de alguma maneira, esperava que ele a procurasse. 

— Eu sei que está aí. — Disse sem remover os olhos da tela do computador. 

— Eu estarei onde estiver. — A voz dele provocava cócegas em seus ouvidos e a fazia desejar sorrir. 

— Sabe… isso não era verdade a uma semana atrás. 

— Eu precisei ir Katerina, eu…

— Eu sei o motivo pelo qual foi embora Caius. — Katerina, enfim, virou-se para o encarar. — Eu entendo o que significou ter sido você quem tirou a vida dela… entendo o que fez com você… o que você não percebeu, é que de uma uma maneira ou outra, me deixou por causa dela, então mesmo morta ela venceu. 

— Não foi só por causa de Athenodora. — Os olhos dele agora encaravam as próprias mãos. — Depois de séculos… eu finalmente me vi livre dos Volturi e precisei de um tempo para organizar meus pensamentos e saber onde começar a pisar… além…— Ele pareceu hesitar. 

— ..Além…? Por mais que eu entenda todos os seus motivos, não entendo o que o fez demorar tanto tempo… O que eu me tornei é assim tão repulsivo para você? — Katerina sentiu-se grata por não poder chorar. 

Ele a ouviu e então foi como se tivesse recebido um soco no estômago. 

Levantou-se e foi em direção a ela e antes que Katerina pudesse o impedir, trouxe-a para perto de si… o suficiente para que a ponta de seu nariz fosse em encontro a dela. Não queria mais ficar um centímetro longe. 

— Nunca mais pense nisso. — Sussurrou, grave e forte, fazendo-a vibrar apenas sob o som de sua voz. — Você é magnífica… tudo em você, faz com que eu me surpreenda todos os dias. Você é a criatura mais incrível que já vi. 

— ...Então..? — Se ele não a sustentasse, suas pernas teriam lhe traído agora.

— Todos os dias, saber o quão longe de você eu estava, era tortura suficiente para uma eternidade. — O toque dele, aos poucos, se tornava mais e mais suave. 

— Então por que não voltou antes? — Ela, aos poucos amolecia. — É tudo o que desejo saber. 

— Porque eu precisava me tornar digno de você…  Eu não era o suficiente. 

Ele não precisou continuar a falar. Katerina tomou liberdade para procurar em seus olhos, pelas imagens que ainda não conhecia e as lembranças da qual não fazia parte. 

Caius havia a deixado e mudado para que ela não tivesse de mudar por ela e por mais que aquilo não fosse totalmente verdade para ela, a sinceridade com a qual ele enxergava as coisas a fez encontrar algo que já tinha visto nele antes, mas agora parecia estar ainda maior… humanidade. Ele não tinha a esquecido. 

— Eu vejo. — Ela abaixou os olhos. 

— Não foi fácil para mim a observar de longe. — Disse, fazendo Katerina perceber que então não estava louca todas as vezes em que pensou sentir a presença dele. — Ou ver alguém colocar as mãos em você e não poder fazer nada. — Então ele realmente estava na festa na noite passada. 

— Eu poderia ter te ajudado. 

— Pela primeira vez, era algo que eu tinha que fazer sozinho… para deixar de ser aquele que eu mesmo construí. 

— Muito bem. — Ela suspirou. — Eu não sabia que tinha continuado a ser um Volturi.

— Estou esperando você casar comigo para mudar o nome. — Ele então, tirou do bolso a pequena caixinha que carregava até então, revelando o anel solitario decorado por um rubi em formato de coração. — Era da minha mãe, a pedra. 

— Eu não posso me casar com o meu professor. — Katerina mordeu os lábios para conter o sorriso. 

— Tudo o que é proibido tem o sabor melhor. 

Disse, sorrindo maliciosamente, antes de a beijar. 

— Agora… acabou?

— Merecemos um epílogo doce depois de tudo o que passamos. 

Continuou o beijo.

Antes de a tocar mais e mais. 

A felicidade se expandiu como uma explosão dentro de mim — tão extrema, tão violenta que eu não sabia se sobreviveria a ela. 

— Para sempre — Edward fez eco em meus ouvidos. 

Eu não conseguia mais falar. Ergui a cabeça e o beijei com uma paixão capaz de incendiar a floresta. 

E eu nem teria notado. 

                                                                                                           — Bella, Amanhecer.

 

***

— Tem certeza de que não está muito apertado? — Alice questionava a escolha de Rosalie quanto ao vestido. 

— Não! Está perfeito, veste o corpo dela como uma luva…. — Rosalie escondia-se atrás de Katerina enquanto terminava de fechar os botões. — Você só está amarga porque ela preferiu o meu vestido no lugar do seu. 

— Tanto faz, os sapatos e as jóias foram eu que escolhi. — Alice cruzou os braços. 

O vestido era magnifico. Vestia-a justamente até a cintura, onde também perdia sua leve transparência, ganhando corpo e abria-se delicadamente até seus  pés, em um tecido tão fino que parecia flutuar. As mangas caíam-lhe aos ombros e aos poucos ganhavam forma até os pulsos, repleto de flores. 

— Eu adoraria se as duas pudessem parar de brigar, não estão exatamente me ajudando com todo esse negócio de nervosismo e tudo mais… —Katerina, que não precisava respirar, respirava mesmo assim, irregularmente, esquecendo-se de como seu corpo funcionava. 

— O dia está lindo lá fora...— Esme se juntou à sala. — Eu trouxe o seu “Algo emprestado.” — Disse enquanto colocava o delicado colar prateado, com um único diamante ao centro, assemelhando-se à uma gota de água sobre a penteadeira. — Carlisle me deu de presente quando nos casamos… é para representar as lágrimas que não pode derramar. 

Katerina sorriu, era o que lhe faltava. 

— E o seu “algo azul”? — Esme perguntou. 

Rosalie apontou para o buquê de rosas azuis dentro da caixa de vidro. 

— “Algo velho”? 

— A pedra no meu anel de noivado… deve ter pelo menos dois mil anos. 

— Perfeito então. — Esme sorriu. 

— Pronta? — Carlisle surgiu à porta. 

— Pronta. — Katerina, antes de caminhar em sua direção, apanhou o pequeno diário antigo que estava sobre a penteadeira e o escondeu rapidamente atrás de seu buquê. 

Finalmente tinha começado a ler.

Karizma… o mesmo nome que também carregava, era o nome de sua mãe e Agatha era o sobrenome que tanto sempre desejou saber. Seu pai se chamava Hadrian e aparentemente, ele era a maior felicidade que ela conhecia. Eles a amaram quando souberam que a viria e agora, ela amava a memória que restava deles. 

Finalmente tomou o braço de Carlisle. 

— Eu não sei exatamente o que lhe dizer… — Carlisle sussurrou enquanto caminhavam pelo chão de pedras do belíssimo castelo de Angelokastro. 

— Só… não me deixe cair. — Katerina apertou o braço de Carlisle um pouco mais.

O castelo ficava ao topo mais alto da ilha de Corfu, na Grécia, permitindo-os sentir o cheiro de areia e água salgada por todos os lados. Katerina permitiu-se distrair-se com a visão à medida que iam mais e mais alto, mal percebendo que já estavam perto o suficiente. 

Sentiu-o então.

Mais forte do que qualquer outra coisa. 

Quando o olhou nos olhos, soube enfim que era real e que seria para sempre. 

Quem assistia deixou de importar, não parecia haver mais ninguém por perto. 

Ele caminhou até o meio do caminho e gentilmente tirou-lhe de Carlisle, depois de uma troca singela de olhares por entre os dois. 

— Confia em mim? — Caius sussurrou. 

Katerina balançou a cabeça, concordando. 

Seus votos constituíram-se de palavras já muitas vezes ditas por ambos, porém, que pareciam jamais perderem sua força. Não os restava muito a dizer um para o outro, quando tudo já se era dito a cada olhar e a cada toque. O amor que sentiam, agora só podia ser compreendido por aqueles que também o tinham em mesma intensidade, palavras não mais bastando para exemplificar a poder do que nutriam dentro de si. 

O mundo finalmente tomou o lugar certo. 

Era hora de se dizer as palavras decisivas. 

— Eu aceito. — Caius disse.

— Eu aceito. — Katerina respondeu. 

“Enquanto estivermos vivos.” 

 E assim, alegremente, continuamos aquela parte pequena e perfeita de nossa eternidade. 

                                                                                                           — Bella,  Amanhecer.

 


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