Contemplou o céu noturno e sorriu tristemente. Havia um milhão de estrelas no céu, mas era como se empalidecessem se comparadas com a escuridão.

-Volte para mim, Allen-kun. -

 Sussurrou a ninguém em particular enquanto apertava com força os lábios para segurar as lágrimas e sentia o gosto metálico do sangue. Doía, mas nada comparado ao pesadelo que estava vivendo acordada.

 -Lenalee.- Às vezes era seu irmão que vinha ver como estava, mas geralmente Lavi e Kanda se davam ao trabalho de vê-la pelo menos em algum momento do dia. A chinesa apenas ficava parada, olhando fixamente para o céu esperando que todos fossem embora e ficasse novamente sozinha.

-Ele não vai voltar... –

Não.

 -Tentamos fazer o máximo possível, mas não foi o bastante. Allen e-está... –

Não!

 -... Morto. E não há nada que possamos fazer para trazê-lo de volta. E como eu gostaria de poder fazer qualquer coisa para nos encontrarmos todos na cozinha enquanto ele come uma daquelas montanhas de comida e nós iríamos rir... Sorrir e tudo ficaria bem, como sempre ficou apesar de tudo que passamos. –

 Ela continuou ali sem responder, a brisa suave acariciando seu rosto enquanto o sangue escorria pelos lábios.

 -E-eu... Depois eu venho trazer alguma coisa para você comer. Ele não gostaria que você deixasse a vida passar diante dos seus olhos. Você tem que seguir em frente. Era isso que ele diria não é?-

 Ela não se virou. Nem se moveu enquanto ele saía, apenas continuou parada tentando inutilmente segurar as lágrimas.

 Ele não era uma criança querida por Deus. Era apenas um menino que levava o peso desse mundo nojento e corrompido nas costas. E um dia...O peso ficou grande demais para aquelas mãos tão frágeis que insistiam em carregá-lo sozinho.

 Não era justo ele morrer, não quando ainda tinha toda uma vida pela frente, tantos lugares para conhecer e tantas experiências para vivenciar. Por que ele, que fez mais do que todos os outros?

 Não era justo também o mundo continuar depois de perder alguém como ele, aqueles olhos de bondade em forma de prata e o sorriso doce e reconfortante que nunca deixava o rosto jovem (jovem até demais para uma guerra tão grande).

 Lenalee parou e pensou em todas as palavras que nunca viriam a dizer, os momentos que agora se tornariam uma vaga lembrança e, sobretudo, pensou no sorriso que mais do que nunca desejava ver agora.

 -Sorria,  Allen-kun. Nem que seja por um momento. Porque é o seu sorriso que me dá forças para continuar a me levantar todos os dias. Pela última vez... Porque só assim eu consigo seguir em frente por nós dois. –

 As palavras que agora lhe escapavam dos lábios banhadas pelo sangue quente (dela, dele. Já não conseguia mais distinguir ao certo.) doíam também. Era como se o seu coração estivesse morrendo aos poucos, ou talvez ele tivesse morrido junto com ele.

 Lenalee Lee sabia. Ela poderia passar todos os dias de sua vida implorando aos céus para trazê-lo de volta, mas ele jamais entraria por aquela porta sorrindo e pedindo para ela se acalmar, tudo iria ficar bem.

 Porque dessa vez, as coisas nunca mais ficariam bem novamente.