A Despedida escrita por Mayumi Sato


Capítulo 1
A despedida


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por lerem esta fic! Por favor, desfrutem de sua leitura e deixem comentários ao terminá-la! Este, para variar, é um "Harukyon" . Futuramente, pretendo trabalhar mais com o Koizumi - eu tenho uma queda secreta por ele -, mas, particularmente, eu gostei bastante desta one-shot, por isso, espero que vocês gostem também.



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Era um dia comum, e ao mesmo tempo, não era. Subi aquela velha ladeira, mais dotado de melancolia, do que propriamente de cansaço. Deveria ficar alegre, por ser aquela a última vez em que eu seria forçado a cumprir aquele exercício diário, mas não estava. Olhei para o prédio da escola. Pela primeira vez, consegui vê-lo. Antes, o enxergava, mas não o via. Aquele era um prédio tão grande, tão antigo. Eu conheci cada um daqueles corredores, ao longo daqueles anos. Eu vivenciei inúmeros momentos em cada parte daquela construção. E agora, eu via cada um daqueles momentos, desfilarem perante minha presença. Ao mesmo tempo em que sentia a estranha sensação de fazer parte do cimento que construía aquele colégio, nunca me senti tão deslocado em relação a ele. Quantos estudantes, naquele espaço de sessenta anos, já haviam concluído seus ensinos e olhado para aquele colégio do mesmo modo que eu? Nenhum deles estava gravado lá, e assim, eu também não estaria. Assim que saísse daquele lugar, o próprio lugar me trataria como um intruso. O colégio somente poderia viver como uma lembrança, assim como todos os momentos em que vivenciei nele.

O lugar estava praticamente vazio. As aulas de recuperação ainda não haviam começado e somente alguns membros de clube, kouhais, estavam por lá. Por alguma razão, a pequena diferença de idade que eu tinha com os kouhais, pareceu incomparavelmente maior. Eu me sentia velho ao vê-los participando casualmente e despreocupadamente de atividades do clube, como se aquilo já tivesse acabado para mim.

“A verdade é que a última coisa que vivenciei nesses três anos, foram momentos casuais e despreocupados” – concluí, com um sorriso melancólico.

O motivo de ter ido lá, naquele dia, foi porque o impulso que sempre me levava à sede da brigada, ainda que a rejeitasse, tinha permanecido em meu corpo. Eu não poderia mais entrar, naquela sala, portanto, ao menos queria vê-la uma última vez. Eu não conseguia compreender este sentimento. Essa sensação deve similar a das pessoas que tornam a visitar os lugares, em que sofreram traumas. Racionalmente, não havia qualquer motivo para ir àquela sala. Eu deveria estar dormindo ou vendo algum programa entediante, na televisão. Mesmo assim, meus passos não paravam.

No caminho para sala, passei pela área onde havia ocorrido o festival cultural. Eu conseguia ver Haruhi vestida buny-gail, distribuindo os panfletos. Também conseguia enxergar a árvore, onde havíamos conversado após a rara atitude altruísta, dela.  Tudo isso me remetia à produção daquele fatídico filme de Asahina-san, que somente ganharia um prêmio, se estivesse concorrendo ao "prêmio framboesa". Ou se Haruhi fizesse um dos jurados, tirar fotos comprometedoras com Asahina-san. Enquanto passava por esta área, frases soltas de “God Knows” e o ritmo da guitarra da Yuki ecoavam em minha mente, como uma trilha sonora.

No corredor, passei pela sala do clube de informática. Estava vazia. Eu provavelmente não teria mais que participar de disputas imbecis para conseguir um computador. Aquele presidente não mais apareceria nos desafiando, e nos ofendendo, mas sempre sendo, no final, vítima dos planos de Haruhi.

Quando peguei na porta, lembrei-me da primeira vez em que Haruhi a mostrou para mim. Ela sorria de tal modo que parecia me mostrar o tesouro perdido do rei Salomão. Naquela época, a única coisa que havia na sala, era a própria Nagato Yuki e o entusiasmo de Haruhi. Também por aquela porta, havia passado Asahina Mikuru, uma linda e adorável viajante do tempo, que havia usado diversos cosplays e sido a principal vítima de Haruhi. E eu tinha uma queda por ela ou algo assim, no passado, não era? Koizumi Itsuki também havia passado por lá. Na primeira vez em que ele apareceu, suspeitei dele, imediatamente. Ele parecia sorridente demais para alguém que participaria de um clube fundado pela Haruhi. Entretanto, esse se revelou um bom parceiro para jogar jogos de tabuleiro, então esqueci essas suspeitas vãs. Nagato Yuki nunca teve que passar pela porta, pois ela sempre esteve dentro da sala.

Quando, finalmente, abri a porta, percebi um vulto sentado sobre a mesa, de costas para mim, com as pernas cruzadas. A sala parecia tão vazia quanto a primeira vez em que a vi, mas, agora, o entusiasmo de Haruhi parecia ter se cessado.

- Olá... - comentei, constrangido, como se por algum motivo, não tivesse direito de estar ali.

- Olá. – respondeu ela, sem voltar-se para mim.  

- Finalmente, esse dia chegou, não é? O último dia de aula.

Ela permaneceu calada. Eu fui beber chá. Eu já havia bebido chá, em um espaço restrito, quando o mundo estava próximo ao fim, não seria o constrangimento pela situação que me impediria de bebê-lo, agora.

- Onde estão as coisas para fazer chá?

- No lixo. – ela respondeu, áspera.

- Que pena. E onde estão as outras coisas que estavam na sala?

- No lixo. – ela repetiu, severamente.

- Ei. Se você não aprender a importância da reciclagem, o nosso planeta não vai conseguir se sustentar, sabia?

- Quem liga!?! – ela berrou, mas pude sentir muito mais desespero, do que raiva, na sua voz. Ela, finalmente, voltou-se para mim, e pude ver seus olhos de ébano carregados por algo ácido e triste – Quem liga para a sustentação ecológica do planeta, em um momento assim!?! Esse mundo é tão terrivelmente entediante! Que ele se acabe! Eu não me importo!

“ Não diga algo assim. Mesmo que seja apenas uma explosão de cólera, se você disser isso, realmente haverá algum efeito.”

- Não diga algo assim. O que acabou foi o ensino médio, não a esperança da humanidade, ou a sua capacidade cardíaca...

- Eu nem sei porque estou discutindo isso com alguém idiota, como você. – retrucou, ela, ferida, fuzilando-me com os olhos – Você nunca se importou com esse clube. Você deve estar aliviado, pois essa terrível tortura acabou! Você nunca gostou desse clube! A única coisa que lhe prendia aqui, era a sua maldita obsessão pela Mikuru-chan!

- O que você está dizendo? – perguntei, sentindo a raiva subir por mim, gradativamente.

´- Você só esteve aqui, durante esses três anos, pois sua doce e meiga, Asahina-san, estava aqui! Porque você tinha essa maldita tara insuportável por maids! E agora que ela foi embora, não há qualquer motivo para você se importar com esse clube! Na verdade, eu nem sei o que você está fazendo aqui! Você sempre detestou o clube! Você sempre reclamou de tudo que fazíamos! Você tentou até mesmo me bater, naquele dia em que...!

- FIQUE QUIETA!

E Haruhi, de fato, ficou. Ela não parecia do tipo que gosta de sofrer, antes de obedecer. Acredito que sua reação deveu-se ao choque, já que eu raramente agia de um modo tão agressivo.

- O que você sabe a respeito do que eu sinto? Se você soubesse metade do que eu sinto, você nem sequer teria feito esses comentários tão estúpidos. Sim, seu clube era estressante, cansativo, era completamente insano, bizarro, colocava-me em situações extremamente inconvenientes, e me torturava psicologicamente e fisicamente, como faz a polícia secreta dos países que vivem em um regime ditatorial, mas eu o amava! Eu amava esse clube ridiculamente insano, tanto quanto você! Então, não aja como se fosse a única sentindo qualquer pesar, por aqui! Tentando transparecer fragilidade assim, você me parece extremamente idiota! E o que diabos você tem contra Asahina-san!?! Se você a detestava tanto assim, por que a chamou para o clube, em primeiro lugar!?!

- É você que não está entendendo! Você nunca entendeu nada! Esta é a última vez em que vamos nos ver, e você ainda não entendeu nada!

Eu a encarei seriamente. Algo havia pesado dentro de mim, com as últimas palavras de Haruhi, e, de repente, cada pequeno movimento de meu corpo parecia desconfortável.

 

Esta é a última vez em que vamos nos ver

 

Era verdade. O ensino médio havia acabado. O clube, conseqüentemente, havia acabado. Nagato recebeu ordens de não se aproximar mais, para que não despertasse as suspeitas de Haruhi.

 

- A entidade de dados integrados, concluiu que a coincidência do mesmo encontro de duas pessoas em outros ambientes, é um fato considerado relativamente raro, e em alguns casos, sua incidência pode demorar anos e mesmo nunca acontecer. Um número repetidos de incidentes com baixa probabilidade em um curto espaço temporal, leva as formas compostas por carbono, suspeitarem que os eventos não foram aleatórios, e sim, provocados. Contudo, se um evento que deveria ser provocado, não é assumidamente feito por alguém, isso desperta suspeitas. A suspeita de Suzumiya Haruhi é algo que a entidade não deseja, portanto, serei afastada do caso.

- E o que vai acontecer com você?

- O funcionamento será interrompido, para uma transmissão de dados concretos, e para a permanência de funções orgânicas ter sua extensão prolongada.

- O quê?

- Basicamente, eu hibernarei até que a entidade tenha outra missão para mim.

- Sei...E quanto tempo, aproximadamente, isso irá demorar?

- Para que não aja risco do reconhecimento da forma “Nagato Yuki”ao meu retorno, a entidade estipula que o tempo necessário para que todos que tiveram qualquer forma de contato comigo morram, seja de cento e sessenta e três anos, quatro dias, e cinco meses.

 

Asahina-san voltou ao seu tempo presente.

 

- Eu não posso ser precisa, Kyon-kun, mas no final do ano, teremos que nos despedir.

- Você irá resolver alguma coisa?

- Temo que sim. E será uma medida permanente.

- O que seria?

- Informação confidencial.

- Você vai voltar ao seu tempo?

-...!

- Eu apenas deduzi que seria isso. E o que aconteceria se você não voltasse?

- Informação confidencial.

- Você me encontrará novamente?

- Informação confidencial.

-... No seu tempo presente, você tem um namorado ou algo assim?

- I-Informação confidencial!

 

Koizumi parecia ser o único que se manteria por perto.

 

- Todos irão embora, não é, Koizumi? Você irá, também?

- Por que esse brilho de ansiedade, nos olhos? Isso me ofende.

- Se realmente ofende, não diga isso sorrindo.

- A agência disse que eu já havia cumprido minha missão e disseram que eu poderia me afastar do caso.

- Então, você realmente irá...

- Não. Eu ficarei. Eu pedi para permanecer com ela.

- Por quê?

- Eu tenho uma missão. Independente ao fato do clube e do ensino médio, encerrarem-se, eu e Suzumiya-san ainda estaremos vivos. Em uma expectativa positiva, claro. Eu ainda terei uma missão, portanto, pretendo cumpri-la.

-...Você está sendo sincero?

- Quem sabe? Talvez isso tudo seja apenas uma desculpa para continuar com a Suzumiya-san, pois ela possui características que me atraem, mas pouco me importa. Os motivos não me interessam, eu quero continuar a observar a Suzumiya-san.

-...

- E você? O que quer?

 

O que eu queria? O que eu realmente queria? O que eu almejava com todo o meu coração?

 

Esta é a última vez em que vamos nos ver

 

Eu passei tanto tempo, deixando minhas dúvidas como divagações, que acabei deixando tudo para os últimos momentos. Eu sabia, exatamente, o que aquela brigada significava para mim. Eu sabia o quanto ela me destruía e ao mesmo tempo, sabia o quanto ela havia sido importante em minha vida monótona. Eu não era alguém especial. Não tinha qualquer característica que me distinguisse dos demais adolescentes de minha idade. Ainda assim, aquele mundo fantástico havia aparecido perante meus olhos atônitos, e vendo que eu estava paralisado, me puxou pela gravata. Aquele clube me deixava exausto. Aquele clube me deixava feliz. Desde aquele dia de neve, eu havia percebido isso, mas apesar de ter percebido, eu nunca tinha assumido, até então.

Para Asahina-san, meu significado naquela brigada, era como a de uma pessoa que exerce muita influência na Suzumiya-san. Para Nagato, eu era uma anomalia na análise sobre a entidade Suzumiya Haruhi. Koizumi, para me explicar o que achava que eu era, havia interrompido o nosso jogo de damas, e pegado duas peças.

 

- Vê esta peça negra e esta peça branca? Elas compõem um jogo de damas. Um jogo não poderia ter somente peças brancas ou somente peças negras. Ainda que elas sejam rivais, elas se unem quando formam um jogo de damas.

- Não pegue as peças, no meio da partida, para fazer uma metáfora horrível! Principalmente, quando você está perdendo!

- Você é o racional, enquanto Haruhi é o emotivo. Você é a ordem, e ela, o caos. A princípio, pensávamos que você somente estava ao lado de Suzumiya-san por uma escolha sentimental dela, mas acabo de pensar que talvez não seja simplesmente isso. Assim como Nagato-san, como eu e como Asahina-san, você também é um personagem para Suzumiya-san. Você é o equilíbrio. Você foi criado para representar a parte de Suzumiya-san que, no fundo, não acredita verdadeiramente nas mudanças do mundo. Se você sumir, provavelmente aparecerá um substituto com características próximas às suas. A escuridão e a luz, o silêncio e o som... São coisas que fundamentalmente se complementam. Você também é um complemento. Por isso, você é essencial para a Suzumiya-san.

 

Koizumi havia dito tudo aquilo, mas eu não conseguia me enxergar como um complemento de Haruhi. Nem muito menos como uma influência, ou como uma anomalia. Eu era apenas uma pessoa comum que havia encontrado uma garota extremamente excêntrica. Ainda que aquilo tudo dissesse respeito ao subconsciente de Haruhi, pouco isto me interessava. Eu gostaria de saber o que ela realmente pensava de mim. O que motivava o seu comportamento. Eu queria entender como Haruhi me via, pois aquilo decidiria se eu gostaria ou não, de saber o que ela representava para mim. O clube havia acabado. O ensino médio havia acabado. Haruhi deveria ter acabado, também. Entretanto, ela estava perante mim, prestes a fugir, mas ainda estava em minha frente. Eu ainda poderia alcançá-la. Ela não parecia uma pessoa melhor ou pior. Haruhi, disjunta do fim de tudo em que fazia parte, continuava a ser Haruhi. E o que exatamente era Haruhi? E o que exatamente eu representava para ela?

 

- Se eu não consigo entender, explique. – pedi, seriamente – Diga porque você ficava tão irritada com Asahina-san, diga o que pretende fazer agora, e diga, como estou envolvido nisso. Eu irei escutar.

- Eu não quero que você escute... Você sempre está escutando!

- É o que eu consigo fazer. Escutar e fazer algumas reclamações. Se isso a incomoda tanto...

- Você é um idiota! – ela exclamou – Idiota! Idiota! Idiota! Sempre esteve evidente, durante esses três anos...Sempre! Mas você finge não enxergar! Parece que acha isso mais conveniente, eu não sei...! De qualquer modo, você deveria parar de agir de um jeito tão egoísta e parar de ferir as pessoas! O que eu quero!?! Eu quero o meu clube, para encontrarmos aliens, viajantes do tempo, UFOs, espers, e nos divertimos com eles! Eu quero que você me auxilie como co-fundador, e continue a fazer os serviços braçais!

- O clube acabou, Haruhi! Acabou! Eu não sou mais o co-fundador! Eu não sou mais o membro que faz serviços braçais! Eu sou apenas alguém que estudou com você, no ensino médio!

- Cale a boca!

Ela jogou a bolsa em mim, e aproveitou o impacto, para correr. Eu atirei a bolsa por cima da mesa, e corri atrás dela. Haruhi...Quantas vezes, eu teria que correr atrás dela? No século vinte e um, um cara somente corre atrás de uma garota, quando estão em uma maratona, ou quando quer assaltá-la, e ainda assim, os revólveres costumam evitar essa necessidade, no segundo caso. Entretanto, lá estava eu, correndo atrás de Haruhi.

Passei pela sala de aula, onde estudamos por tantos anos, e onde ouvi Haruhi falar sobre sua idéia de criar um clube, onde a ouvi falar sobre o grande tédio universal, onde ouvi a sua apresentação bizarra e a memorizei, como se fosse um estranho haikai. Passei também pela escada, onde ela havia puxado a minha gravata, quando ordenou que eu a ajudasse a fundar o clube, como se estivesse fazendo uma extorsão.

Eu corria, corria, como se estivesse fugindo de algo, e ao mesmo tempo, tentando alcançar alguma coisa.

Finalmente, ao chegarmos na área, consegui agarrar sua mão. Eu estava tão exausto que a morte não seria suficiente para garantir meu descanso, naquele momento. Como havia agido, quase por reflexo, eu segurava a mão de Haruhi com força. Ainda não queria deixá-la escapar.

Ainda não queria deixá-la escapar.

Quando eu havia pensado em algo assim?

- Haruhi...escute-me.

Ela não se voltava para mim.

Eu queria que ela entendesse que eu não queria machucá-la, mas para mim, aquela brigada, de fato, havia acabado. Assim como a minha relação de “chefe de brigada e seu subordinado”.  Aquilo havia encerrado.

Eu tinha vontade de rir. Em um momento daqueles, eu finalmente havia dado-me conta que Haruhi e a brigada eram entidades distintas. A brigada havia acabado, mas eu simplesmente não conseguia encerrar Haruhi. Ela queria continuar a me ver como um membro da brigada, e isso era algo que eu não poderia tolerar com tanta facilidade.

Eu via Suzumiya Haruhi. Uma garota. Uma garota excêntrica, bizarra, teimosa. Uma garota. Eu queria que só por um momento, ela me enxergasse como um cara. Assim, seria menos constrangedor dizer aquelas palavras. Sigh. Eu estou sempre me justificando, para prosseguir com a minha ignorância a respeito dos fatos. A Terra, em toda sua existência, deu menos voltas do que eu. Todavia, eu não poderia mais fazer isso. Eu sempre agi de tal forma, pois era conveniente. Aquilo, agora, não me parecia conveniente, pois se não a encarasse, eu a perderia, definitivamente.

Eu coloquei as mãos nos ombros dela. Que estranho...Novamente, eu sentia aquela vaga sensação de familiaridade.

- Haruhi...

Ela encarava-me, parecia odiar-me. Suspirei. Era difícil dizer qualquer coisa quando ela me observava de tão perto...

- A brigada acabou e eu não sou mais seu subordinado, mas as coisas fantásticas não acabaram. Você pode persegui-las por aí. Lance essa proposta para um reality-show e consiga dinheiro com isso. Entre na cadeira de ufologia ou para uma comunidade hippie. Há tantos métodos de procurar por coisas estranhas... você não precisa de Asahina-san, de Nagato ou de Koizumi para conseguir isso! Para ser franco, eu sempre achei o Koizumi, um inútil! Além disso, a Asahina-san podia ser útil para as suas extorsões, no passado, mas se você continuasse a fazer isso com ela, nessa idade, você poderia acabar sendo presa.

- Segundo a sua lógica, eu também não preciso de você, correto? Por isso, você está abandonando a brigada... - disse ela, com um sorriso irônico, mas irritado. Haruhi era a única pessoa, excetuando Koizumi, que conseguia ter um sorriso mais irritante do que uma expressão de ódio.

- Haruhi, foi você que não entendeu nada, em todos esses anos. – afirmei, segurando com mais força em seus ombros. Ela parecia fazer um esforço para continuar a encarar-me e eu tinha certeza de que estava fazendo esse esforço. Afinal, estávamos próximos demais. – Eu quero ser necessário para você, mas não como um membro da sua brigada. Afinal, a sua brigada acabou, agora. Eu quero ser importante para você, simplesmente por ser importante para você. Além disso, com a modernização das máquinas, um subordinado que faz serviços braçais, com o tempo perderia a sua importância e...

- Kyon. – ela me interrompeu, pondo a mão sobre a minha boca. Nem sequer tive coragem de encará-la. Bem, a poesia não nasceu em mim. Sei valorizar pequenas coisas, como o fato de ter um filtro com água gelada, quando percorro uma longa distância de bicicleta, mas não sei descrevê-las, ou senti-las de um modo poético. Sou simples. E isso que me coloca na posição de um secundário, mas é somente assim que posso ser sincero. – Você é idiota?

Quando olhei para ela, e, especificamente, quando ouvi aquela frase, entendi porque aquela cena me parecia tão estranhamente familiar.

Da última vez, minha ação havia destruído um espaço restrito. Vamos ver o que ela destruiria, agora.

- Uniformes universitários... me excitam.

- O quê!?!

- Você provavelmente vai ficar tão bem em um uniforme assim, que deixar de lhe ver agora, seria um crime.

-... Você é idiota!?!

Apesar de ter dito isso, ela fechou os olhos imediatamente, após dizer essa frase. Ela, provavelmente, já previa o que eu faria. Fechei os olhos, e ignorei que aquela era minha ex-chefe de brigada. Eu beijei Haruhi. Aquilo era tão confuso...mas por que diabos tinha que ser tão bom!?! Eu podia sentir o calor da boca dela, as pequenas variações de sua respiração, e podia sentir seus ombros sob minhas mãos, tudo isso, invadia-me, de modo que eu não simplesmente não conseguia parar. Era como se toda a minha necessidade de oxigênio já tivesse sido suprida. Eu simplesmente continuava a beijar Haruhi, como se não houvesse nenhum outro sentido em qualquer outra coisa da vida.

Quando finalmente nos desvencilhamos, ela pegou no meu rosto, e disse, vermelha, e irritada, como no dia em que fiz toda a brigada fazer os exercícios de verão, comigo.

- Quem lhe deu autorização para fazer isso?

- Eu não preciso de autorização. Eu não sou mais um membro da brigada.

- Eu não vou ser meiga, frágil ou tolerante... e eu não vou vestir roupas de maid, entendeu?

- Que desperdício.

Ela me bateu.

- Eu farei você compensar essa sua ação impulsiva estúpida, entendeu!?! Você será punido! Definitivamente, será punido! Você terá que me encontrar sempre que eu pedir, e se não chegar cedo, será duplamente punido! E você também terá que me encontrar, mesmo sem ser chamado, para me fazer uma surpresa!

- Você está pedindo uma surpresa? Isso não é um paradoxo?

- Quieto! Bem, nós poderíamos levar o Koizumi-kun e...!

- Não leve o Koizumi.

- Por quê!?! Eu não entendo a sua implicância com o Koizumi-kun! Ele é como um leal labrador! Quem não gosta de labradores!?!

- Eu também nunca entendi sua implicância com a Asahina-san... – repliquei, aborrecido, deixando uma comparação implícita.

-...Você é mesmo idiota...- ela murmurou, olhando para o céu, profundamente azul.

- Eu cuidarei de você. Não se preocupe. Eu não quero ser punido. Eu realizarei, inclusive, o seu desejo do Tabanata de fazer com que o mundo gire em torno de você. Agora, o de fazer com que ele gire ao contrário, é com a NASA.

- Eu também realizarei o seu desejo estúpido. A casa em que pretendo morar tem espaço para você brincar com o seu cachorro, mas se você me pedir dinheiro...!

Eu sorri e peguei na mão de Haruhi, enquanto saíamos do colégio. Que cena nostálgica. Ela, por diversas vezes, havia agarrado a minha mão, enquanto saíamos do colégio. Entretanto, agora, era eu que pegava a dela. E ao contrário do usual, eu não pretendia soltá-la.

 

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FIM


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem esta fic! Se gostam do casal, leiam as outras fics da série "O excêntrico e o racional"! Ok?

PS: Eu estou tão feliz...O nyah está ficando lotado de "Harukyons"...Houve um tempo em que só haviam cinco fics de "Suzumiya Haruhi" e em todas elas, a Haruhi era apenas uma personagem secundária que aparecia naqueles universos que misturam personagens de animes...Eu devo me sentir mal, por envaidecer-me do fato que estreei o "Harukyon" no "Nyah!"?º
Eu já li e gostei de algumas fics "Harukyons" muito boas, aqui no site. Inclusive, irei comentá-las e recomendá-las assim que possível - *pessoa que gosta mais de fazer recomendações do que comentários*!
PS2: Louise-san, eu pretendo continuar minhas outras fics, nas férias, mas no período de aulas, como estou no ensino médio, somente posso escrever one-shots. Desculpa mesmo...-___-º

PS3: Assistam a segunda temporada...e o filme. Sério. PS4: Se alguém tiver uma sugestão de uma imagem melhor para colocar nesta fic, seria ótimo. A atual imagem realmente não combina com o que eu queria transmitir...-___-º