Abstrato escrita por roux


Capítulo 13
Prontos para Partir




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— Eu sei que você está comigo. E você não sabe o quanto isso é importante para mim. Eu não sei. Eu realmente não sei o que seria de mim agora se estivesse lá sozinho. O meu pai... — Ele disse e eu percebi que ele segurava o choro. — Eu não aguentaria passar por isso sozinho.

— Não está sozinho. Nunca mais estará! — Eu disse com toda convicção que tinha. Era isso que eu tinha decidido. Era ele. E eu não o deixaria ir sozinho. Ele pareceu perceber porque sua expressão mudou.

Eu o encarei nos olhos. Ele balançou a cabeça em negativa, mas eu continuei encarando. Respirei fundo e toquei seu rosto, então colei nossos corpos. Lucas estremeceu e me olhou como se pedisse para eu parar.

— Você não vai! — Ele disse baixinho e encostou a testa na minha. — Não quero que vá, você não está bem.

— Eu vou com você. É claro que vou, e você disse que não me deixaria sozinho novamente, lembra? — Eu falei sério e selei os lábios de Lucas. — Nós estamos juntos nessa.

Lucas soltou um som que pareceu um gemido irritado e segurou meu rosto com as duas mãos. Ele me beijou de forma lenta e carinhosa. Ficamos nos beijando por um tempo. Então eu afastei arfando. Respirei fundo.

— Eu vou avisar aos meus pais e pedir o carro emprestado. É melhor você ir dirigindo do que esperarmos ônibus. — Eu disse baixinho. — Você arruma nossas coisas. Até porque é você que sabe o que devo vestir.

Ele apenas assentiu com a cabeça e eu saí do quarto. Corri em direção ao quarto dos meus pais e entrei mesmo sem bater. Os dois estavam sentados na cama e conversavam algo, pararam quando me viram entrar e ficaram encarando. Eu fiquei encarando de volta e tentando recuperar o folego pela pequena corrida que tinha dado. Eu ainda estava fraco.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou meu pai me olhando preocupado. Ele até tentou parecer menos preocupado, mas estava estampado em seu rosto o desespero para saber se eu estava bem.

— Então, Eduardo? — Mamãe disse e caminhou até mim, ela me abraçou pelos ombros e me puxou até a cama me fazendo sentar. — Está tudo bem?

— Não! — Eu disse e senti um peso nos ombros. Era horrível falar sobre aquilo quando eu mesmo quase tinha morrido dias antes. Como é que meus pais iriam dizer para meus avôs? Ou Lucas para seus pais? — O pai do Lucas, ele morreu hoje.

— Caralho, que triste! — Foi tudo que papai disse. Ele ficou olhando para mim. Eu me senti mal, porque senti que seu olhar parecia dizer “melhor ele que você”. Fiquei quieto.

— Eu sinto muito. Cadê o Lucas? — Perguntou mamãe. — Ele deve estar arrasado, nós precisamos dar apoio nesse momento. Ele foi tão carinhoso, se preocupou tanto quando liguei para avisar sobre você. Ele largou tudo, largou até o pai doente lá para vir atrás de você.

— E tem mais. — Eu comecei falando baixinho. — Nós precisamos do carro de vocês para ir para a cidade dele. A mãe dele está lá sozinha e não vai conseguir resolver tudo sobre enterro e todas as outras burocracias estando sozinha. — Eu completei ainda mais baixo.

Eles ouviram bem.

— Nós? — Mamãe falou me olhando. — Você sabe que não vamos deixar você ficar longe de nós, não é mesmo? Não depois de tudo que aconteceu. Seria loucura.

— Mãe eu estou bem, certo? — Eu digo me exaltando um pouco. — Eu só não posso deixar meu namorado sozinho no momento que ele mais precisa. Quando eu precisei, quando vocês precisaram, ele esteve aqui do nosso lado. Eu não vou deixa-lo. E eu irie com ele nem que eu precise fugir de casa...

— Eduardo...

— Ele tem razão Edna. Ele está certo. Não pode deixar o Lucas sozinho! — Papai falou para surpresa de todos. Eu o olhei nos olhos. Ele estava sério. — O Edu precisa acompanhar o menino. E eu acredito que ele não vai tentar nada. O Eduardo é um homem. E não vai fazer loucuras quando alguém que ama tanto precisa muito de sua ajuda. Estou certo? — Ele me perguntou.

Eu balancei a cabeça em afirmativa e fiquei esperando. Respirei fundo e cruzei os dedos lentamente para ele não mudar de ideia.

— Eu empresto o carro com certeza. — Papai disse e eu não dei mais espaço me joguei em sua direção e o abracei. — Ei, calma. Eu estou velho... — Ele riu baixinho.

— Obrigado pai. Muito obrigado de verdade... — Eu completei antes de beijar seu rosto.

— Vocês vão quando? — Papai perguntou.

— Agora! — Falei com toda a convicção. — Eu já volto.

Eu corri até meu quarto e encontrei Lucas fechando minha mochila. Eu olhei para ele, estava tão desnorteado que me perguntei se ele estaria mesmo em condição de dirigir. Eu fui até ele e toquei seus cabelos, fiz um leve cafuné.

— Lucas. Os meus pais vão nos emprestar o carro. Estamos prontos para ir? — Eu perguntei baixinho e beijei sua cabeça.

Ele se virou para mim e então levantou do chão ficando de pé novamente me olhou nos olhos. Balançou a cabeça em afirmativa. Eu fiz o mesmo gesto e ele pegou as mochilas. Eu não podia fazer esforço com os braços e as mãos. Meus pulsos tinham aberto uma vez só porque fiz força para abrir o registro do chuveiro.

Caminhamos juntos até a sala onde meus pais estavam. Mamãe segurando Marcela nos braços e com uma cara de funeral. Eu entendia, era complicado demais. Ela já tinha perdido o pai também. Ela entendia a dor de Lucas. Ela veio e abraçou Lucas. Os dois conversaram baixinho.

— Eu vou deixar vocês a sós. E, é eu vou abrindo o portão. — Eu inventei a primeira desculpa que consegui. Por sorte nosso portão não era automático e eu tinha essa.

Eu caminhei para fora de casa e abri o portão de ferro branco, por sorte o mesmo não era nada pesado. Empurrei as grades e abri o mesmo sem dificuldade alguma. Então saí dos terrenos de casa em direção à calçada, e então o vi. Eu encarei Guilherme que estava na calçada de sua casa a poucos metros da minha. Ele ficou me olhando e eu retribuí o olhar. Então o vi caminhando em minha direção em passos rápidos.

“Droga, mais essa agora!”

— Você está melhor? — Ele me perguntou quando chegou próximo a mim e segurou o portão. Ficou me encarando.

— Estou sim! — Eu disse de forma seca e sustentei o olhar em sua direção.

— Eu fiquei muito preocupado quando vi a ambulância em sua casa. Eu corri direto para cá. Mas os seus pais estavam realmente nervosos, eles não me deram respostas. Eu fui até o hospital depois, porém... Era apenas a família que tinha acesso a informações. Não entendi quando seus pais liberaram a entrada daquele seu amigo Lucas e não a minha.

— Ele é meu namorado. — Eu falei e notei a cara de espanto que Guilherme fez. Ele parecia o que? Enciumado? Como se ele tivesse motivos para isso. Como se ele pudesse pensar qualquer coisa sobre isso. — Pelo menos eu acho que é ele não me deu a resposta ainda.

— Entendo. Fico feliz que você está bem. — Ele disse. Então coçou a cabeça. — Nós precisamos conversar Edu.

— Agora não posso. — Eu respondo de forma seca.

— Por quê? — Guilherme perguntou e coçou a cabeça novamente. Os olhos azuis parecem mais azuis. Ele esteve chorando? Não importa digo para mim mesmo e ouço-o terminar. — Está ocupado?

— Estou de viagem agora. — Disse e vejo o carro vindo de ré em direção à rua. Papai e mamãe caminhando logo atrás. Eu saí da frente e dei espaço para o carro passar.

— Viagem? — Ele perguntou meio confuso. — Mas...

— Você vai se cuidar? E nos ligar o tempo todo não é mesmo? — Mamãe pergunta e me abraça. Beija-me no rosto e depois vê Guilherme. — Oi, Guilherme. — Ela diz constrangida, talvez lembrando que não deu muito atenção para o garoto na última vez que eles se viram.

— Sim, mamãe. — Eu disse ignorando os meus pensamentos. — Agora vou indo. A gente se fala Guilherme! — Eu falei e encarei o garoto que me olhava triste e confuso, eu sabia que ele não estava bem. Ele era meu amigo. Senti o peito apertar, mas agora eu tinha prioridades.

Eu caminhei até o carro e bati a porta. Passei o cinto e olhei Lucas. Ele estava meio aéreo.

— O que aquele cara queria? — Ele perguntou provavelmente lembrando-se de tudo que disse para ele minutos antes. — Ele é mesmo muito cuzão. — Completou, mas não deu muita bola para o assunto. Ele estava nervoso com outras coisas.

— Vamos? — Eu perguntei e toquei a coxa de Lucas.

— Sim, vamos! — Ele arrancou com o carro.

Lucas ficou pensativo por todo o caminho. E eu me perguntei o que eu iria fazer quando estivesse lá. Nunca pensei em velórios que não fossem o meu, porém o meu não chegou a acontecer. Fechei os olhos e fiquei quieto. Sabia que Lucas também queria ficar quieto.


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