Abstrato escrita por roux


Capítulo 10
Amei te Ver




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— Eu te amo, Edu. Eu te amo demais, quero muito ficar com você! — Guilherme diz enquanto me olha nos olhos. — Você é tudo que eu quero tudo que eu sempre quis e não sabia!

Eu me sinto surpreso. Isso parece errado. Fico encarando meu amigo. Ele parece diferente, parece mais próximo, mais carinhoso. Eu respiro devagar sentindo minha respiração quase parar.

— Você tem certeza disso? — Eu pergunto baixinho.

Ele caminha para frente até colar seu corpo forte e malhado no meu. Os olhos azuis me encaram e parecem querer me afogar. Eu me pego sorrindo mesmo sem querer. Ele sorri de volta e toca minha bochecha com a ponta do dedo. O dedo meio áspero me tocando com carinho. Eu fecho os olhos e sinto seu hálito fresco perto da minha boca. Abro os olhos, pois quero vê-lo. Quero morrer afagado naqueles olhos.

— Eu tenho total certeza, mas tem uma coisa que quero que você faça antes de ficarmos juntos! — Guilherme fala com um sorriso sacana nos lábios.

Eu sorri de forma maliciosa também, e sinto algo se remexer em minhas entranhas.

— O que? — Pergunto num sussurro sensual.

— Quero que se afaste desse seu amigo Lucas. — Gui diz segurando meu pescoço. Não me aperta, mas mostra que não devo me mexer. — Você vai se afastar dele e nós vamos ficar juntos, ou...

Ele insinua quebrar meu pescoço e eu entro em pânico. As mãos dele me apertando começam a me sufocar.

“Não!” Eu acordo gritando e me sento sobre a cama. Estou suando. Ouço barulhos pelo quarto e então a luz acende. Lucas está me olhando confuso. Ele parece preocupado e olha pelo quarto a procura de alguma coisa. Então me olha novamente. Eu o encaro.

— Pesadelo? — Ele pergunta calmo e caminha até a minha cama. Ele senta ao meu lado e me puxa para ele. Eu o abraço sem reclamar ou dizer nada. — Estou aqui. Nada vai acontecer, anjo. — Ele diz baixinho e beija minha cabeça.

Aquele foi o sonho mais bizarro que tive em dias. Fazia um tempo que vinha tendo sonhos estranhos. Desde que Lucas chegou aqui e que eu passei a dormir mais cedo, minhas noites passaram a ser conturbadas, e o meu corpo não está habituado a dormir e ficar vulnerável no período da noite. Eu me aperto em Lucas.

— Não fica assim foi apenas um sonho ruim, Edu. Estou aqui contigo e aquela realidade com a qual sonhou acabou. — Lucas diz tentando me passar segurança e fica me fazendo carinho.

— Eu sei, foi apenas um sonho. — Eu digo triste. Sonhar com alguém que gostamos é sempre bom, mas não quando esse alguém está tentando nos matar. — Sim, só um sonho.

Ele me beija a cabeça novamente.

— Eu vou ficar aqui com você, quero que tenha sonhos bons agora e descanse, porque amanhã vamos ter um dia agitado. Eu tenho uma surpresa para você! — Lucas sussurrou em meu ouvido e deitou na cama me deixando por cima de seu peito.

Surpresa?

Eu fechei os olhos e fiquei pensando no sonho. Pensando em mim em Lucas. Eu tinha ideia do que aquele sonho queria me dizer, minhas mentiras iriam me deixar num barco cheio de consequências e pronto para afundar, apertei Lucas com mais força. Eu demorei a pegar no sono.

Acordei com uma sensação estranha aquele dia, mas ver o sorriso de Lucas em cima da minha cabeça me animou. Eu esqueci algumas coisas. Eu preferi não pensar naquele sonho estranho e nem nas coisas que eu estava fazendo.

— Bom dia. — Eu disse sorrindo e mordendo meu lábio. — Você sempre dorme demais, o que está acontecendo nos últimos dias?

— Estou de férias com a melhor pessoa desse mundo, eu não quero perder tempo dormindo demais. — Lucas diz sorrindo e levanta da cama. — Eu preciso falar com a sua mãe. Ela está me ajudando com a surpresa, eu vou ficar ocupado, mas nos vemos pela tarde.

Ele sorri de forma sapeca. Está aprontando mesmo algo, então logo saí do quarto me deixando sozinho. Eu fico deitado na minha cama em silêncio, mas então rio e suspiro.

A manhã é triste. Estou sozinho. Em casa. No quarto. Como nos velhos tempos. E isso me deprime. Penso em ligar para Gui, mas acho melhor não fazer. Não quero vê-lo agora, estou confuso em relação a ele. Respirei fundo e fiquei pensando em tudo que tinha acontecido desde que conheci Gui. Ele tinha se tornando meu melhor amigo, me apresentou tantas coisas, me apresentou amigos, foi carinhoso, cuidou de mim. E eu me apaixonei pelo meu amigo.

Sorri sem jeito e me sentei na cama. Olhei minha janela fechada. Eu tinha passado dias e dias ali, espionando para ver se ele estava trazendo garotos para o quarto. E desde que ficamos próximos de verdade ele parou de trazer vagabundas para comer em casa. Eu sabia que era por algum motivo, mas não sabia qual. Eu tinha ciúmes do meu amigo, queria um beijo, queria estar com ele.

Balancei minha cabeça e me joguei para trás deitando novamente. Estou deprimido, estou confuso. Eu sempre o quis, e agora que ele quer. Estou confuso e evitando-o. Quando ele me beija me sinto errado, me sinto estranho. Não sei o que está acontecendo comigo. Começo a chorar.

Eu disse me sinto como nos velhos tempos.

 A manhã demorou a passar, mas felizmente passou. E eu tinha uma surpresa.

 

Eu estava com os olhos vendados agora, Lucas tinha entrado no quarto e me olhando sorridente. “Está pronto?” Ele disse. Eu apenas balancei a cabeça em afirmativa e ele me tirou do quarto, colocou uma venda presta em meus olhos e então me tirou de casa. Nós caminhamos muito, eu não sabia para onde estávamos indo, me sentia sem direção nenhuma com aquela venda, então passamos a caminhar devagar pela areia da praia. Eu estava nervoso, porém não conseguia parar de sorrir. Lucas me puxando devagar e com carinho, estava sempre me dizendo onde pisar ou para onde ir. Muito preocupado. Mas ainda assim eu apertei seu braço com um pouco de força para não cair. Não seria nada interessante cair no meio de uma surpresa romântica, assim como Lucas tinha chamado.

— Já estamos chegando? — Eu perguntei sorrindo, minha boca estava começando a dor, mas eu não conseguia parar de sorrir. Aquilo não me incomodava. Eu apertei Lucas com mais força.

— Estamos quase chegando. Nós, porque meu braço com certeza vai ficar no caminho, né? — Ele indagou rindo e eu mordi meu lábio, afrouxei meu aperto. — Eu só estava brincando bobinho. — Ele completou.

Eu voltei a sorrir, mas não apertei o braço dele com força novamente. A venda me incomodando, não enxergar é com certeza uma das piores coisas dessa vida. Lucas parou e eu parei também, olhei para o lado em que ele estava, mesmo que eu não pudesse vê-lo.

— Nós já chegamos? — Eu perguntei baixinho. Nós estávamos na praia, isso eu sabia pela areia. Porém ele deveria estar aprontando alguma coisa. — Pelo amor dos deuses, diz que chegamos!

— Sim, nós chegamos! — Lucas disse rindo e puxou minha venda dos meus olhos. Eu o encarei. Estava parado na minha frente e sorriu da forma mais linda. — Espero que você não ache isso aqui uma bobeira. — Ele fala e saí da minha frente.

Então eu vejo. Há uma toalha sobre a areia com algumas coisas. Uma cesta com flores e outra fechada. Ele preparou um piquenique? Eu noto a toalha e percebo que é da minha mãe. Sorriu. Sim, ele preparou um piquenique. A minha mãe teve coragem de contar meu maior segredo para ele. É isso que dá confiar em sua mãe quando ela está tentando juntar você com alguém.

Eu respiro fundo e olho para ele. Ele pisca sem graça. Pelo menos ele tem a decência de sentir-se envergonhado.

— Um passarinho me contou que você gosta de piqueniques então eu resolvi fazer um para você. Eu espero que goste! — Lucas diz sorrindo carinhoso.

— Esse passarinho chama-se dona Edna? Minha mãe? — Eu pergunto sendo irônico e olhando sério para Lucas.

— Eu não revelo minhas fontes! — Ele diz rindo. Eu sorrio. Gosto disso. — Então, vamos aproveitar?

Ele senta na toalha e arranca os tênis e as meias. Eu fico olhando para ele. O sol está se pondo e ele fica lindo com aquela luz morna do sol indo embora. Os cabelos estão soltos e balançando rebeldes com o movimento do balanço do vento. Eu sento ao lado dele e arranco meus tênis também.

— Espero que você não esteja com chulé hoje! — Ele diz enquanto eu começo a puxar minha meia.

— Eu não tenho chulé! — Digo sério e puxo a meia do pé esquerdo.

— É claro que você tem! — Ele respondeu rindo de mim e segurando o nariz com os dedos. Ele falou com a voz anasalada. — E é bem forte.

— Eu não tenho chulé não! — Eu falo meio constrangido e meio irritado, pego a meia que acabei de arrancar do pé e cheiro. Está com cheiro de talco. Nada de chulé. Eu olho feio para ele que está se acabando de rir. — Cara isso não tem graça.

Armo uma tromba e fico olhando sério para ele. Ele se aproxima e se acalma, para de rir e fica me olhando com cara de bobo.

— Você fica lindo quando está bravinho. Eu adoro ver isso em frente ao computador, mas prefiro mil vezes aqui! — Ele disse baixinho e mordeu meu queixo.

Abri a boca e segurei o gemido que queria fugir. Fechei meus olhos e fiquei quietinho. Ele me beijou a boca e eu retribuí. E foi nesse momento que precisei admitir que eu estava viciado naquele beijo. Ele me deitou na toalha e ficamos nos beijando ali por um tempo. Eu sorri quando ele ficou me olhando. Então notei que tinha algo errado, ele tinha um brilho no olhar, mas não feliz. Estava parecendo triste.

— Eu comprei várias coisas gostosas. Aquele monte de doce que você diz gostar toda vez que falamos na webcam as três da manhã e que você não pode sair para compra-los por conta do horário. — Lucas diz levantando e fugindo do meu olhar. Mas não me importa eu vou perguntar. Eu me sento na toalha.

Ele me mostra um potinho cheio de jujubas roxas. São as minhas favoritas e eu sorrio. Ele se lembrou de algo que eu disse a mais de um anos atrás. Eu fico encarando. Ele é mesmo perfeito.

— São as suas favoritas, estou certo? — Ele perguntou fazendo um biquinho e apontando a caixinha pra mim.

Eu selo seus lábios e pego a caixinha. — Sim, são! — Eu levo algumas jujubas até a boca e sorrio. Eu amo aquilo.

— Você é lindo! — Ele disse.

Eu sorri e tenho certeza que meu dente estava sujo de jujuba porque ele riu. E ficou de pé. Estendeu a mão para mim.

— O que?

— Vem...

— Onde? — Eu perguntei olhando para ele.

— Só vem!

Eu segurei a mão estendida e ele me puxou. Fiquei de pé e sorri. Ele arrancou a camiseta dele e olhou para mim.

— Não vou fazer sexo na praia! — Falei sério e sarcástico.

— Haha engraçadinho. — Ele falou irônico. — Tira logo essa camiseta ou eu vou tirar.

Enquanto eu tiro minha camiseta ele esvazia os bolsos e deixa tudo em cima da toalha. Eu faço o mesmo. Não quero contraria-lo. Ele sorriu satisfeito quando me vê jogar o celular na areia.

— Espero que a água não esteja muito fria! — Ele me olhou e sorriu animado.

Eu fiquei encarando então olhei o mar. Essa seria a primeira vez que eu entraria novamente depois de me jogar para a morte três anos antes. Fico olhando aquela imensidão de água e respirei fundo. Olhei para ele novamente e sorri.

— Espero que não esteja! — Eu disse sorrindo. — Quem chegar por último é mulher do padre.

Eu saí correndo e ele veio logo atrás de mim. Estava rindo feito um louco a essa altura. Eu me joguei na água fria e mergulhei. A sensação foi boa. Alguns flashes sobre estar se afogando vieram a cabeça. Eu senti mãos me apertando e um corpo quente me abraçando.

Eu não precisava ter medo. Estava seguro. Ele estava ali.

Ficamos brincando na água por um tempo. Pega-pega. Esconde-esconde debaixo d’água e beijo na boca no escurinho. É isso contou como brincadeira. Ficamos ali até eu espirrar e ele se preocupar em me tirar da água.

— Mas eu estou bem. — Falei.

— Não, chega de água por hoje. — Ele falou sério e me olhando enquanto me sentava na toalha novamente. Retirou uma toalha de banho da mochila e me secou rapidamente. Eu ri achando aquilo engraçado. Então ele me cobriu com a toalha e sentou ao meu lado.

Ficou em silêncio olhando o mar.

Eu fiquei olhando para ele.

Estava distante. Achei estranho e fiquei encarando. A noite já tinha caído, comecinho da noite e escuro, mas eu o via perfeitamente. A lua estava cheia. Eu levei a mão até a sua e segurei.

— Aconteceu algo? — Eu perguntei baixinho.

— Sim. — Ele disse baixo também e passou a brincar com o polegar em minha mão.

— O que? — Eu falei respirando fundo.

— Eu sei que vim para passar as minhas férias com você. Mas minha mãe ligou hoje pela manhã. Meu pai está muito doente. Ele foi internado de novo. — Ele falou triste e eu sabia que ele precisava ir embora. Ele iria embora. Eu senti a tristeza me tomar de uma vez só. — Eu vou voltar para casa. Eu quero estar perto para quando acontecer. Os médicos não dos deram mais esperanças.

Eu fiquei em silêncio. Ele tinha que ir, era o pai dele doente. Mas eu era egoísta demais até para isso. Não queria perde-lo logo agora. Ele, eu, nós estávamos nos dando tão bem. Ele disse me amar. O que a distância iria fazer? Eu senti a dor começar a me tomar. Fechei meus olhos e deitei a cabeça em seu braço.

— Eu comprei minha passagem para hoje a noite. — Ele disse baixinho e eu levantei a cabeça de supetão e o encarei. Ele pareceu muito triste. — Eu não contei antes porque não queria estragar a surpresa que já tinha começado para você. Eu te amo, Edu.

Ele me beijou de leve e depois me olhou no fundo dos olhos.

Fiquei esperando. A respiração profunda.

— Esse imprevisto não vai mudar nada entre a gente. Eu amei te ver. Você é o que eu esperava e muito mais. Esses últimos dias com você foi o melhor da minha vida. Eu te amo para caralho, cara. — Ele disse baixinho com a testa encostada a minha. — Viu? Sai sem eu dizer o tanto que eu gosto de você, sério eu me desmancho quando encosto em você. Eu me deixo inteiro quando me encaixo no seu corpo e sinto o seu cheiro, Eduardo. Eu amei te ver.

— Isso é Tiago Iorc. — Eu digo tentando me obrigar a sorrir. Não consigo. — Você vai completar disse que não vai voltar tão cedo, mas vai voltar porque amou me ver?

— Não amor. É claro que não. Eu volto logo. — Ele diz sorrindo e segurando meu rosto com as duas mãos. — Eu volto assim que...

Ele silenciou e eu entendi por que. Ficamos nos olhando e ele me abraçou com força.

 

Ele foi embora aquela noite. Eu não desci para jantar. Não saí do quarto e não fiz nada. Fiquei apenas encarando meu teto branco. Horas, e horas. Eu desliguei o wifi do celular, não queria que ninguém me encontrasse no whatsapp. Eu evitei o computador. Fiquei apenas ouvindo músicas tristes e pensando em como estava me sentindo. Era como se um buraco tivesse se aberto em mim. O que estava acontecendo? Já era mais de quatro da manhã quando um sms chegou em meu celular. Eu li “Meu amor, eu não queria ter que vir. Estou aqui no hospital. O meu pai está péssimo. Eu vou voltar logo... Espero que já esteja dormindo. Achei estranho não aparecer os dois tracinhos no seu whats. Está tudo bem?” Era do Lucas. Eu ignorei. Não iria responder. Estava quase enfiando o celular na gaveta para não vê-lo mais quando começou a tocar.

Olhei o visor: Guilherme.

Atendi e fiquei em silêncio. Liguei o viva voz.

— Edu? Está tudo bem, bebê? — Ele perguntou. — Estou tentando falar contigo pelo whatsapp e você não responde.

— Está tudo bem sim! — Eu falei. A voz rouca e anasalada. Chorei demais, o nariz estava super entupido.

— Ei, que voz é essa? — Ele falou. — Você está chorando?

— Não, estou meio gripado só. Não se preocupa. — Eu forcei um risinho.

— Podemos sair juntos amanhã? Minha mãe disse que seu amigo foi embora hoje. Aconteceu alguma coisa? — Ele disse preocupado. Eu fechei os olhos.

— Ele precisou voltar. Problemas familiares. — Respondi calmo. Não iria começar a chorar.

— Podemos nos ver? — Ele disse.

— Sim, claro!


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