— Estou preocupado com esse silêncio. — Arthur observava Mera. Ela vestia uma camiseta verde, que ficava tão longa nela que mais parecia um vestido. — Precisa de ajuda?

Ele perguntou, enquanto virava a caixa das mãos dela, onde havia as instruções de como deveria manusear o produto de maneira adequada.

— Então quer dizer que aqui dentro tem uma refeição? — Mera olhou a caixa e a deixou sobre a mesa, depois encarou o forno micro-ondas com um olhar pensativo. Por fim, virou-se para Arthur, que segurava o riso. — Podemos encontrar tudo em embalagens assim?

— Eu diria que tem muitas variedades. Mas nem todas são boas.

— Você costuma se alimentar sempre dessa forma?

Arthur mexeu nos cabelos loiros, embaraçado com a pergunta, mesmo que ela não soubesse que aquela não era a comida mais saudável que era consumida na superfície. Era bastante vergonhoso o Aquaman viver de comida congelada, nem sempre, deveria deixar isso claro.

— Às vezes eu não tenho tempo de comprar comida, então deixo algumas coisas na geladeira para caso aconteça de eu chegar muito tarde em casa. Infelizmente eu não tive tempo de elaborar um cardápio mais a sua altura, foi um dia estressante na Liga da Justiça, espero que me perdoe.

— Vamos então preparar essa lasanha. Quero que me conte como foi seu dia. Fiquei o tempo todo aqui, lendo seus livros e assistindo televisão. Tenho tanto o que falar. — Ela disse entusiasmada, o que deixou Arthur mais animado, e curioso para saber o que ela fez.

Já sabia que Mera não era o tipo de mulher que ficaria aguardando seu retorno todos os dias, e francamente, nem esperava isso. Queria vê-la agir naturalmente, ser quem realmente era. Senão, qual seria o propósito de estarem juntos?

Arthur concordou em fazer a lasanha, em seguida, ensinou-a a usar o micro-ondas. Ele explicou como aquele aparelho funcionava e o que não poderia ser colocado lá dentro para não o danificar. Assim como explicou a importância de diversos outros componentes eletrônicos dentro da casa, como o gerador de energia e as placas de captura solar que dava a possibilidade de eles terem tudo funcionando ali dentro.

Mera estava sempre atenta as suas palavras, fazendo perguntas e aplicando o que Arthur lhe dizia em outros exemplos. Ela era uma mulher inteligente, forte e generosa. Além de bonita e sedutora.

Era clichê. E que fosse. Mas ele estava se sentindo um homem especial. Alguém de muita sorte por ter aquela mulher ao seu lado. Sabia que aquela era uma mudança radical, o mar pela superfície. Mas aquela fora a decisão dela. E aquilo já havia sido bem explicado pela própria Mera, ela quem dava as cartas do jogo.

Assim que o micro-ondas apitou, a lasanha ficou pronta, Arthur dividiu ao meio a massa e serviu nos pratos, finalizando com raspas de queijo sobre a comida. Pegou uma garrafa de vinho que sempre deixava guardado no armário da cozinha, caso precisasse comemorar alguma ocasião especial, nunca se sabe que tipo de convidado ele receberia. Embora, da última vez que recebeu uma visita, a pessoa não passou da porta do Farol onde morava, na baía da Anistia.      

Ele experimentou um gole do vinho, para ter certeza de que não estava estragado, ou algo do tipo, não era muito refinado nesse assunto, mas tentou criar um clima. Buscou algumas velas na gaveta e ascendeu.

Assim que a mesa ficou pronta, ele conduziu Mera para sentar-se.

Aquela não era a melhor lasanha congelada que já comera na vida, mas a companhia ajuda muito. Então sequer prestou atenção no sabor. O vinho também estava agradável e a conversa mais ainda.

— Então essa mulher apareceu e havia um mapa atrás dela, com diversas imagens do sol, tempestades, raios e um tufão. Ela disse que a tarde iria chover, eu esperei para ver, mas não choveu, fez sol o dia todo.

— As vezes a meteorologia não acerta, mas é porque muitas coisas podem mudar ao longo do dia. — Arthur ergueu a mão e acariciou o rosto de Mera. Seus cabelos, de um vermelho intenso, estavam soltos e caíam sobre seus ombros. Ele sorriu, beijando-a no rosto.

— Qual é a graça?

— Eu gosto de vê-la animada com tudo isso. Está em um mundo diferente do que foi criada, mas vem lidando com isso muito bem desde que chegou aqui. O que me deixa muito feliz.

Mera balançou a cabeça, desviando o olhar para a garrafa de vinho que já estava vazia.

— Muitas coisas eu vejo que são incríveis, mas há tanta dor nesse mundo. — Ela sorriu, não muito animada. — Como se em Atlantis fosse um exemplo a seguir.

— Infelizmente não está ao nosso alcance mudar algumas coisas. Por mais que desejamos que elas mudem. — Arthur se ofereceu para lavar os pratos, enquanto contava como a reunião com a Liga da Justiça foi cansativa.

Assim que finalizou com a última peça na pia lavada e seca, preparou um café e ofereceu a Mera uma xícara. Eles sentaram no sofá, onde havia um álbum de fotografias sobre a mesa de centro.

— Espero que não se importe por eu ter mexido nas suas coisas. — Mera segurava a xícara de café, olhando para o álbum. — Achei adorável.

— São fotos da minha infância. Eu viajava muito com meu pai para diversos lugares. São ótimas lembranças.

— Quero poder formar lembranças assim com você, Arthur. Eu quero tudo isso. — Ela deixou a xícara sobre a mesa. — A vida aqui é muito diferente, é verdade, mas não existe outro lugar que eu queria estar, senão ao seu lado.

As palavras de Mera deixou Arthur ainda mais convencido de que estavam fazendo a coisa certa.

Ele a abraçou, suas mãos em volta da cintura dela, puxou-a para seu colo, podendo assim beijá-la no pescoço. Seu cheiro agradável e doce, mexia com suas fantasias. Eles se beijaram na expectativa de uma noite compartilhada, vivendo o romance que decidiram viver.

Acaso os problemas aparecessem, e eles iriam aparecer algum dia, estariam prontos para encarar tudo. Os dois juntos, como decidiram ser dali em diante.