Três dias haviam se passado desde o ocorrido com Ethan e toda aquela notícia da internet.

Três dias do sumiço de Shawn.

Três dias se passaram e tudo que eu fazia era me afogar na minha cama enquanto escutava The Other, do Lauv. Essa música me destruía da mesma forma que Shawn fazia toda vez que partia.

Eu sabia que algo assim aconteceria. Não sou burra. Eu só não estava preparada para ele ir tão rápido assim, sem nem que eu pudesse me despedir, ou dizer tudo o que eu realmente quis dizer desde o primeiro dia que ele voltou.

Eu estava com tanto ódio pelo que Ethan fez. Mais ódio ainda por deixar isso me afetar da maneira que estava me afetando. Eu devia mostrar a ele que estava bem e que mesmo com Shawn longe, nós estávamos bem. Mas não era assim. Shawn não me dava notícias e por mais que eu tentasse entender, ficava mais e mais difícil a cada dia que passava. Eu tentava me manter em pé, de peito erguido, esperando, sonhando que nosso amor superaria tudo, mas tinha uma pequena faísca de realidade e medo que se misturavam em mim e me deixavam da maneira como eu estava agora. Queria poder sorrir toda vez que minha mãe me perguntasse sobre ele. Só que nem tudo é como a gente quer.

Me levantei da cama, me arrastando até o banheiro.

Apertei o celular nas mãos, pedindo a Deus que ele ligasse. Que dissesse tudo que eu precisasse ouvir. Eu precisava saber que ele não me abandonaria de novo. Eu precisava de uma certeza e só.

Mas eu havia esquecido que certeza era a única coisa que eu não teria.

Meus olhos encararam o celular, e uma inquietação tomou conta do meu peito. Um desespero que me fez ter vontade de sair correndo pra qualquer lugar que não fosse ali. Um pavor me abraçava todas as vezes que olhava para a tela do aparelho e não via sequer uma mensagem dele.

Estava acontecendo de novo.

Shawn iria me deixar, meu Deus, Shawn iria me abandonar depois de tudo que fiz por ele.

Não! Ele não podia.

Ele não podia fazer aquilo comigo de novo, eu não conseguiria superar. Ethan estava certo. Meu Deus, ele estava certo.

A porta do quarto bateu, e me virei no mesmo instante, com olhos desesperados.

— Leah? – Minha mãe perguntou, correndo em minha direção ao ver o pavor estampado na minha cara.

— Ele vai me deixar de novo, mãe – Gaguejei, levando as mãos até a cabeça, sentindo as lagrimas invadirem meu rosto com tanta força que chegaram a arder meus olhos. — Ethan estava certo, ele estava... Shawn... Não... – Choraminguei, incapaz de formular alguma coisa que fizesse sentido.

Eu estava me quebrando novamente. Em vários pedaços. Eu estava desesperada. Pensar em passar por tudo de novo me apavorava de uma forma que eu nem imaginava que seria. Eu teria de me remontar por inteira. Catar os pedaços quebrados do meu coração novamente. Até quando? Talvez, até quando não sobrasse mais nada para ser quebrado isso tudo passasse. Isso tudo iria parar. E ai, Shawn não teria como mais me machucar.

— Calma Leah – Minha mãe me abraçou e meus nervos se retesaram com seu toque, num tremelique esquisito. — Só se passaram três dias. Ele vai voltar. Ele só esta ocupado demais com tudo que aconteceu. Calma, meu amor. Shhhh – Seus braços me apertaram, me fazendo chorar mais ainda.

Desde que Shawn sumiu, eu não havia derramado uma lágrima, porque, até então, eu ainda tinha esperanças de que tudo voltasse ao normal. E só agora eu parei para pensar no que realmente aquilo podia significar.

Shawn iria me deixar. E dessa vez eu não iria fazer nada para me recompor. Não teria volta. Eu não iria aceitar aquilo novamente.

Respirei fundo, tentando recompor as lágrimas teimosas que insistiam em sair.

— Eu vou superar – As palavras saíram cortando minha garganta. — Eu vou, mãe.

Minha mãe sorriu fraco e me abraçou rapidamente, antes de eu me afastar. Coloquei o celular em cima da pia e me apoiei ali.

Nesse instante, meu celular tocou.

Meu coração disparou e minhas pernas vacilaram.

Senti meus olhos lacrimejarem.

A foto de Shawn tomava conta do celular, que parecia implorar para que eu atendesse.

— Eu disse... – Senti a mão de Eva em meu ombro, dando uns tapinhas fracos, antes de se virar e ir embora.

Levei os dedos trêmulos até o aparelho e aceitei a ligação de vídeo.

O rosto de Shawn apareceu, lindo e sorridente. Parecia cansado, mas ainda assim, lindo.

Como sou burra.

— Shawn – Minha voz quase não saiu — Me desculpa— Comecei a chorar. Dessa vez deixei que as lágrimas saíssem. — Me desculpa, meu Deus, me desculpa... – Falei, entre soluços, me sentindo culpada pelos pensamentos anteriores.

— Hey, hey! – Ele respondeu, o sorriso sumindo dos lábios. – O que aconteceu? Por que está chorando assim?

— Eu duvidei de você, de novo, Shawn – Tentei conter as cachoeiras de lágrimas que desciam por meus olhos — Duvidei de novo. Deixei que o medo tomasse conta de mim. – Respirei fundo. – Achei que você fosse me abandonar...

A frase pairou no ar e o silencio a segurou.

— Leah – Shawn começou — Eu nunca mais vou deixar você.

O encarei pelo celular e céus, como queria que ele estivesse aqui. Como queria sentir seu abraço. Como queria poder me afundar em seu peitoral e sentir seu cheiro, poder ter a certeza de que ele realmente estaria sempre aqui.

— Sinto muito por não ter te avisado. Sinto muito por ter que ser assim toda vez. Queria poder ter me despedido de você. Mas foi tudo tão corrido que Andrew não me deixou sequer arrumar minhas coisas, tive de pedir para minha mãe mandar pra mim. Andrew ficou bravo, disse que seria inaceitável uma fofoca daquelas e que aquilo seria ruim pra ele. Tentei contestar, mas já viu como é que é. – Explicou, passando a mão livre na nuca — Ninguém mandou você se envolver com esses famosinhos por aí, agora aguenta, Leah!

Eu sorri.

— Não tenho culpa de adorar ter meu coração partido por esse tipo de cara... – Cochichei.

— Esse tipo de cara? – Repetiu, incrédulo. — Sou O cara. Você tem sorte!

Fui até o quarto, me sentando na cama. Meu corpo não havia recuperado as forças desde o ataque de pânico que tive a minutos atrás.

Eu sorria feito uma boba, enquanto o encarava. Poderia ficar ali minha vida inteira que não me importaria. Seu rosto estava pálido, como o usual e embaixo de seus olhos, pequenas olheiras ameaçavam surgir. Ele devia estar cansado. Trabalhando duro, enquanto a imbecil aqui duvidava de tudo.

— Agora limpe essas lágrimas, minha menina. – Fez menção com as mãos embaixo dos olhos. — Hoje quero ver seu sorriso e esses olhos azuis lindos. Azul. Não vermelhos.

— Você vai ficar me devendo essa. – Falei, passando as mãos nos olhos. — Vai ter que me recompensar muito bem, porque não sei se vou te perdoar tão fácil dessa vez!

— Só eu chegar ai e já sei que vai se derreter em meus braços! – Se gabou, dando de ombros e fechando os olhos.

— Promete chegar aqui?

Era uma pergunta boba. Eu sabia o que ele responderia. E sabia mais ainda que aquilo poderia não significar nada. Mas é que as vezes a gente precisa de uma mentirinha boa dessas pra seguir em frente.

— Eu sempre vou voltar. Eu nunca vou embora de verdade, Leah. Porque meu coração vive ai. E independente de qualquer coisa, isso nunca vai mudar.

— Eu acredito em você. Vou ser forte, vou conseguir se souber que você ainda estará aqui no final.

Meus dedos tocaram a tela do celular, numa tentativa inútil de poder toca-lo. Era estranho demais, vê-lo tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Fico imaginando como essas pessoas que namoram a distância sofrem. Ver, mas não poder tocar. Saber que a pessoa esta ali por você, mas ao mesmo tempo, não. Isso devia matar um pouquinho a cada dia.

Eu estava disposta a pagar o preço. Eu sempre estava.

Deitei na cama e apoiei o celular no travesseiro.

— Você parece cansado – Entortei os lábios.

— Você também!

— Bom, se contarmos que não fiz nada que não fosse ficar deitada... Mas isso cansa, pra caramba, sabe? – Shawn riu do outro lado, me fazendo sorrir junto dele.  — Já começaram as gravações? Afinal – Falei, só agora me dando conta. – Onde é que você esta?

— New York – Respondeu, todo animado e pude ver seus olhos brilharem

— Não! Quero foto de todos os lugares que você for, toda hora. Meu sonho!

— Ainda não tive tempo de sair do estúdio, mas assim que tiver uma folguinha, vou correndo andar por aí!

— Tampa essa cara e esse corpo inteiro ai que não quero saber das nova iorquinas olhando meu homem não!

— Burca?

— Não, aparece os olhos. – Fiz uma cara de pensativa. — Tudo bem, pode ser burca.

Shawn revirou os olhos, com um meio sorriso nos lábios. Abri a boca de sono involuntariamente.

— Vá descansar. Vou cantar algo pra você.

Balancei a cabeça em concordância e Shawn começou a cantar.

Never be alone. Sorri assim que reconheci a música. Logo fechei os olhos, como se aquilo me fizesse escutar melhor.

Essa era a nossa música. Porque nenhuma outra combinava tanto com a gente, quanto ela.

A voz de Shawn invadiu, me ninando e por um segundo, pude jurar que ele estava deitado ao meu lado.

— Eu amo você – Sussurrei, já sentindo o sono me embalar.