Lado Obscuro escrita por suellencraft


Capítulo 2
Capítulo 2 - Conhecendo as acomodações


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de dizer que eu gosto muito de comentários, e se favoritarem ou recomendarem eu também fico muito feliz.
Seria um presente de Natal perfeito hahahaha
Enfim, leiam e aproveitem ;)



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Domingo – 30 de Janeiro

Eram nove horas da manhã quando Alexia se levantou em um pulo e correu para arrumar as suas malas. Havia dormido tarde, já que ela e Kentin ficaram jogando Minecraft no Xbox até uma da manhã. Enfiou um conjunto de roupa de cama, todas as suas roupas do armário e alguns objetos encima da sua cômoda dentro de uma mala rosa sem conferir nada e se vestiu rapidamente. A ansiedade estava a matando.

Desceu a escada aos tropeços arrastando a sua mala atrás de si e encontrou Kentin sentado encima de uma mala verde-esmeralda no meio da sala, sorrindo. Ele vestia um suéter verde-musgo e uma calça larga bege, calçando seus costumeiros tênis pretos. Remexendo no seu óculos fundo-de-garrafa, acenou para Alexia, alegria também estampado no seu rosto. Clarisse vem da cozinha, com seus olhos vermelhos e emocionados, segurando uma sacola de comida. Alexia correu em direção à sua mãe, envolvendo-a em um abraço apertado de despedida.

— Ah, mãe... Juro que vou ligar sempre que puder e venho te visitar uma vez por mês, juro! Amo você muito muito muito muito! Vou sentir sua falta, sabe? Quem vai cuidar de você agora, hein?

— Alexia, não se preocupe comigo. – respondeu Clarisse com a voz embargada. – Só quero que você aproveite bastante lá, e tenha muito juízo, viu?

 - Não precisa nem dizer isso, dona Clarisse, eu vou tomar conta dela. – disse Kentin colocando uma mão no ombro dela, sorrindo confiantemente. Alexia virou a cabeça para olhar nos seus olhos e mostrou a língua. – Apesar de sua filha ser desajuizada, ela tem um pouco de semancol.

Alexia se solta da mãe para dar um soquinho no braço dele e os dois caem na risada. Clarisse olha no relógio e se assusta. Eram quase onze horas e o ônibus ia sair do terminal em exatamente uma hora. Ela sai empurrando os dois para a porta junto com as suas malas e entra no carro apressadamente, gritando para que fossem menos lerdos. Os adolescentes se acomodam nos bancos traseiros e dona Clarisse dá a partida no seu pequeno Fiat Uno amarelo neon, saindo à toda velocidade para o terminal de ônibus da cidade. Durante o trajeto, Alexia olhava para a janela nostalgicamente e se despedia mentalmente do lugar onde cresceu, sabendo que uma vida nova estava por vir.

Kentin a observava no banco ao lado. Seus fios azuis da franja caindo sobre os seus olhos cinzentos e brilhantes. As mãos estavam espalmadas no vidro da janela. Era um olhar de saudade, mesmo antes de deixarem a cidade. Ele sorriu. Como ela é linda, pensou ele.

Foram apenas seis minutos até chegarem ao terminal, pois a Clarisse havia literalmente voado com seu carro. Depois de mais algumas despedidas chorosas e promessas de contato frequente, Alexia pega a sacola de comidas e a sua mala para seguir Kentin, que ia em direção ao portão de embarque 25. Passaram pelas catracas e os guardas com suas passagens e, sorrindo um para o outro, eles foram até o ônibus de viagem apreensivos e ansiosos.

Guardaram as bagagens no compartimento lateral do transporte, subiram e se acomodaram nos seus assentos. Um do lado do outro, vale ressaltar. Kentin ficou com o banco da janela e Alexia ficou com o do corredor. Ele virou para ela e relembrou-a de que serão quase sete horas de viagem enquanto abria a sacola de comidas que a dona Clarisse havia preparado e tirava um pacote de biscoitos de chocolate. Kentin havia se preparado para uma viagem extremamente longa e chata, mas Alexia, não. Ela suspirou e reclamou do profundo tédio que vai sentir durante a viagem enquanto catava um biscoite das mãos dele. Kentin sorriu e sacou do bolso seu I-Pod, entregando um fone à Alexia. Ela sorriu, agradecida, mas suspirou dizendo que ia dormir em pouco tempo se ficar só escutando música. Sorte que Kentin havia mais um truque no bolso.

— Toma, meu Nintendo DS.

Alexia escangalhou os olhos diante da maquininha vermelha da edição especial do Pokemon sendo oferecida de boa vontade pelo seu amigo. Ele nunca deixou ninguém tomar naquele Nintendo DS. Ou ele está de muito bom humor, ou ele deve confiar muito nela, pensou Alexia.

Pegando cuidadosamente o game portátil das mãos de Kentin, ela deu start no novo jogo de Pokemon que ele havia adquirido na semana passada pelo Aliexpress. Esperto, Kentin se aproveitou da desculpa de “querer ver o jogo também” para deitar a cabeça no ombro de Alexia. Ela balançou a cabeça, rindo, e continuou jogando pelo resto da viagem, sentindo os cabelos castanhos e suaves de Kentin roçando no seu pescoço, ao som das músicas eletrônicas do I-Pod dele e comendo os seus biscoitos favoritos.

                                    ***sete horas depois***

Enfiaram todas as bagagens no porta-malas do táxi e partiram em direção ao novo apartamento. Pelos caminhos dessa nova cidade, viram uma nova expectativa. Tudo é novo e lindo, bem diferente da cidadezinha do interior de onde vieram os dois.

Parando na porta do prédio bege, taxista cobrou vinte reais pela viagem. Alexia procurou o dinheiro no bolso para pagar enquanto Kentin já estava fora do carro, tirando as bagagens do porta-malas. Atrapalhou-se com o troco, então quando ela desceu, ele já havia levado tudo para o portão de uma vez só, conversado com o porteiro, pegado a chave do apartamento onde ficariam e a esperava encostado no muro de dentro, sorridente, seus óculos pendendo no meio do nariz. Alexia se perguntou como ele teve forças para levar tudo sozinho com essa aparência frágil de sempre.

Pegaram suas coisas e entraram no hall do prédio. Ambos pararam, admirados. Era um hall ou um saguão de um palácio?

A bela luz laranja do teto alto incidia sobre o piso de mármore bege e branco, adornado por faixas douradas que faziam um desenho arabesco no centro do círculo que era o chão do hall. As paredes brancas e douradas eram enfeitadas por quadros majestosos e grandiosos. Os pilares de sustentação eram cilíndricos e perfeitos, como os de Parthenon. Espalhados pelos cantos havia vasos de plantas, lindas e vivas, com flores recém-abertas. Alexia largou tudo e correu para o vaso do outro lado do hall. Kentin sorriu: era o vaso das azaleias brancas, e ela era apaixonada por azaleias brancas.

Ele deixou tudo na porta do hall e foi até a Alexia. Parou ao seu lado e ficou observando silenciosamente. Ela tocava cada flor com carinho e hesitação, como se qualquer movimento brusco pudesse machucá-las. Seus olhos brilhavam de encanto. Azaleia era algo raro de se ver na cidade de onde viera, e ela amava justamente as brancas. Kentin esticou a mão e pegou uma das azaleias cuidadosamente, seus dedos roçando nos de Alexia sem querer. Ele estremeceu, mas não parou no ato. Tirou a flor delicada do vaso e entregou à uma Alexia completamente fora do ar. Ela pegou a azaleia com uma delicadeza de princesa e o encostou no seu peito. Levantou um olhar agradecido ao Kentin enquanto dava um sorriso tímido. Apesar de gostar de flores, ele não sabia do significado de entregar uma azaleia branca à uma garota, então ela preferiu não dizer nada.

Voltaram às bagagens e subiram pelo elevador majestoso. Pararam no 11° andar e procuraram pelos corredores até encontrarem a porta com a placa identificando o apartamento 118. Lado a lado, os dois se entreolharam, respiraram fundo e abriram a porta.

O apartamento era maior do que haviam imaginado. Além de ser mobiliado, era decorado com um gosto impecável e moderno. Na sala havia um sofá marrom claro de três lugares tão grande que caberia cinco pessoas nele confortavelmente. A TV LED 42 polegadas era fixada na parede. Sob a TV, havia uma pequena estante marrom contendo um DVD, um Nintendo Wii – para alegria dos dois gamers— com seus controles em um suporte chique e o roteador do Wi-Fi.  As paredes eram cobertas com um papel de parede creme de relevos que imitava um padrão arabesco. As janelas iam de uma ponta da parede à outra, cobertas por uma cortina branca opaca de tecido. A sala de estar ficava junto à sala de jantar, onde havia apenas uma elegante mesa retangular de vidro de seis lugares com quatro pés de madeira se entrelaçando por baixo do vidro majestosamente e as seis cadeiras de couro branco e pés prateados de aço. Entrando mais, via-se o corredor que levava para uma entrada da cozinha e três portas de marfim: dois quartos idênticos, um de cada lado do corredor, e um banheiro com box no meio deles.

Sem investigar o banheiro, cada um puxou as suas bagagens até os respectivos quartos. Alexia ficou com o quarto da esquerda e o Kentin, com o da direita.

Alexia entrou no seu quarto e analisou a situação: havia uma cama de solteiro que parecia mais uma cama de casal, uma escrivaninha branca, uma cadeira de rodinhas preta novinha em folha, um guarda-roupa branco que tomava uma parede inteira do quarto, um criado-mudo preto com um despertador digitar encima dele e, para sua surpresa, uma varanda coberta por uma cortina azul-bebê. Ela amou aquele quarto. Abriu a sua mala e começou a desempacotar as coisas jogadas às pressas nela.

No quarto ao lado, Kentin nem parou para analisar suas acomodações. Apressadamente, tirou suas coisas da mala e saiu guardando. Havia coisas que Alexia não poderia ver, senão o seu segredo iria por água abaixo. Sorte que a escrivaninha tinha muitas gavetas para isso. Antes, por não morarem na mesma casa, Kentin não se preocupava muito com isso, já que Alexia nunca ia para a casa dele. Era sempre ele que ia para a casa dela. Agora, terá que tomar muito cuidado com o que deixa à vista por aí.

Alexia guardou todas as roupas e ajeitou suas baboseiras encima da escrivaninha. Fotos, miniaturas do Minecraft, perfumes e inúmeras baboseiras. Mas então ela percebeu que esquecera de trazer tudo que tinha no banheiro. Shampoo, condicionador, sabonete, pasta de dente, escova e umas coisas de mulher. Recorda-se vagamente que enquanto estava no táxi, tinha visto um mercadinho na esquina do quarteirão de baixo. Precisava fazer umas compras de emergência. Levantou-se do chão e foi até o quarto de Kentin, entrando sem avisar.

Kentin escutou o barulho de Alexia entrando no seu quarto e quase enfartou. Enfiou o que estava na mão dele debaixo das roupas que estava guardando e tentou disfarçar. Ela franziu o cenho, mas não disse nada sobre isso.

— Eu vou lá no mercado da esquina de baixo, Ken, esqueci de trazer os produtos de higiene. Vou aproveitar e já trazer as coisas para fazer a janta. Você vai ficar aí?

— Sim, preciso terminar de guardar as minhas... Roupas. Então você traz as coisas e eu faço a janta.

Alexia assentiu sorrindo e saiu do quarto, indo à procura de sua carteira na sala onde a havia largado. Pegou o cartão de crédito, enfiou no bolso da calça e saiu pela porta, fazendo barulho ao fechá-la.

Finalmente o Kentin soltou o ar que estava prendendo inconscientemente. A garota quase vira algo que não devia ter visto. Sorte que ela ia no mercado, assim ele poderia esconder suas coisas em paz. Ele havia ocultado o seu lado obscuro de Alexia a vida toda, e não ia ser agora que ela ia descobrir por acaso. Não ia, mesmo.

Alexia saiu pelo portão do prédio, respirou fundo e foi caminhando alegremente até o mercado, olhando tudo ao seu redor como se fosse mágica. Era tudo tão simpático! Chegou ao mercado em um piscar de olhos, comprou tudo que precisava para sua higiene, além do arroz, uma bandeja de contrafilé, alho, óleo, sal, shoyu e uma sacola inteira de vagens para fazer o jantar. Passou o cartão na maior tranquilidade, pegou as sacolas e foi em direção ao prédio onde agora reside com orgulho.

Parou no semáforo e esperou abrir. Olhou para seu lado e viu que na rua ao lado tinha um restaurante japonês. Ela amava comida japonesa, e com certeza viria nesse restaurante assim que pudesse. Sorrindo, virou-se para atravessar a rua. Infelizmente, deu de cara com algo duro e caiu para trás, derrubando as sacolas no chão.

— Ai!

— Você deve olhar para frente quando atravessa a rua, sabia? – disse uma voz masculina com um toque de sarcasmo, enquanto a ajudava a levantar. Alexia ficou de pé, tirou os cabelos azuis da frente dos seus olhos e viu que era um garoto da sua idade, todo vestido em preto, com os cabelos tingidos de vermelho-vivo. Sua expressão era uma mistura de irritação e divertimento. E ele era muito gato. Um ruivo marrento e gato, pensou ela. Seu lado sarcástico não se segurou e soltou a verba.

— Acontece que você também devia ter me visto, não acha? Sabe, na rua, meus cabelos chamam mais atenção do que os seus. – retrucou Alexia, sorrindo ironicamente enquanto pegava suas sacolas do chão. A cara do garoto marrento se fechava, mas ela enxergava um toque de surpresa nele por ter recebido uma resposta dessas. – Agora, se você puder sair da minha frente, senhor ceguinho, a ceguinha aqui agradece.

Desviando de um ruivo indignado, Alexia seguiu seu caminho sem olhar para trás. Rindo consigo mesma, voltou para a casa desfilando. Quando entrou pela porta do 118, Kentin estava esparramado no sofá, vestindo um conjunto de pijama moletom verde-limão, assistindo Master Chef Canadá. Rindo, ela foi guardar suas coisas no banheiro. O banheiro era grande, limpo e chique. Havia dois armários, e um deles tinha uma toalha verde encima. Supondo que aquele fosse de Kentin, ela guardou as suas coisas no outro. Quando voltou para a sala, Kentin já estava fazendo a janta na maior animação. Suspirou e sentou-se no sofá, decidida a descansar um pouco o corpo travado da viagem longa de ônibus. Em poucos instantes os seus pensamentos foram longe, parando em uma certa cabeleira ruiva.


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Notas finais do capítulo

Aceitando presente de Natal, amores.



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