O Mundo Secreto de Bonnie escrita por CarmenGrandier


Capítulo 27
Lindas mentiras, verdades grotescas


Notas iniciais do capítulo

http://secretworldofbonnie.tumblr.com/



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Bonnie se levantou suando frio e respirando ofegante como era de costume, sua visão voltou ao foco periodicamente e ela pôde ver Avalon com seus cabelos loiros e olhos azuis totalmente penetrantes olhando para ela, a garota segurava com pano e molhava a testa de Bonnie delicadamente, o quarto cheirava camomila e chá de mirtilo.

—Você teve muitas revelações hoje não foi? Sabe, na maioria das vezes as pessoas não conseguem visualizar nada mais que sombras ou algumas vozes na primeira sessão. Mas você – ela fez uma pausa molhando o pano da água morna – Me contou tudo e com detalhes. Bonnie suspirou se endireitando na poltrona. –Mas quem garante que nada disso não foi a minha imaginação?

—Quando se é hipnotizada você não controla sua própria mente, ela libera tudo que fica guardado do seu subconsciente. Não posso negar que a casos em que a imaginação flui um pouco, mas a essência do que você viu é real. – Avalon disse calmamente. Bonnie pensou um pouco em como era estranho um garota que tinha a sua idade ser tão sábia, ou quem sabe tão boa mentirosa. –De onde você é? Seu sotaque não é daqui.

—Nem o seu.– Avalon disse - Orange Count, na America. E você de onde é?

—Eu nasci na Tijuca no Rio de Janeiro, depois me mudei para a Irlanda e aos seis anos pra Capitalia na Inglaterra.

—É uma vida e tanto. – a loira riu. – Acho que você já pode ficar em pé, e então para quando você quer a próxima consulta ? Bonnie empalideceu, ela não queria magoar Avalon que havia sido tão gentil com ela mas também não queria mentir para Sam, a sessão havia dado resultado satisfatório mesmo sendo a sua primeira, quem sabe o que ela descobriria depois de mais experiência em regressões.

—Para a próxima segunda? O mesmo horário?

Avalon balançou a cabeça em tom de aprovação e conduziu Bonnie até a saída.

—Muito bem Bonnie – disse a garota assim que chegou ao ponto de táxi- E agora, o Sam vai te matar...e como você vai entrar na escola? –Bonnie fez sinal para o táxi que passava em baixa velocidade a sua frente. Entrou e seguiu apreensiva novamente para a escola, o táxi a deixou nos fundos da escola, ela pagou os doze euros que devia ao motorista e se despediu andando cuidadosamente sobre seu salto, Bonnie espiou para ver se a porta que dava para o corredor de troféus e logo depois dela o ginásio estava aberta e sim, estava. Parece que as pessoas daquela escola colocam regras como "Não saia em horário letivo." para serem quebradas...era impossível, pensou Bonnie. Passando pelo corredor ela chegou a quadra e...

—Ah não...- sua visão se cobriu de rapazes sem camisas que corriam atrás de uma bola, ela focou no que lhe importava, Sam estava lá. -Eu estou totalmente ferrada. Bonnie se afastou e se escondeu atrás do pilar que havia lá antes que saísse do corredor.

—O que eu faço agora? – Bonnie choramingou pra si mesma, logo ela ouviu um apito e uma voz forte masculina gritando. -Pausa para a água, vocês tem cinco minutos.

—Salva pelo gongo...ou pelo apito. – ela sussurrou para ela mesma e se esgueirou espiando por traz do pilar. Ela pode ver Toulouse e o namorado de Carmen conversando e seguindo para o bebedor, Sam vinha logo atrás digitando algo em seu celular, ela só tinha que esperar o momento certo, quando ele se abaixou ela correu ou pelo menos achava que estava correndo com aqueles saltos era impossível. Nota metal: Quando estiver mentindo, nunca use salto.

—Ai. - Bonnie tropeçou e caiu de cara no chão. – Merda. Todos se viraram para ver o que era o estrondo que vinha de perto da porta de saída, a vida de Bonnie passou por sua mente em um piscar de olhosToulouse, Sam e Nathaniel corriam a ajuda-la mas antes que eles pudessem chegar perto, ela se recompôs sozinha.

—Você está bem? – perguntou Nathaniel, ele era o único que vestia camisa, uma azul cavada  e com o número oitenta e cinco desenhado em branco.

—Estou, obrigada. – Bonnie deu um sorrisinho e depois se virou para Sam.

—O que você está fazendo aqui Bonnie? – ele perguntou.

—É que... – ela ficou em silêncio e viu que todos os observavam, até o treinador. –Eu vim te ver. Sam apertou o olho e olhou para os lados. – Só isso. Ele não havia acreditado e ela sabia disso, Toulouse deu meia volta e ironicamente Nathaniel o seguiu deixando Bonnie e Sam a sós, ela se aproximou dele e deu um beijo rápido na bochecha que estava salgada devido ao suor.

—Pronto agora que já te vi, vou indo. – Bonnie disse já se preparando para dar meia volta.

—Eu sei que você não estava aqui por isso. – ele disse com a velha ironia.

—Você é muito presunçoso sabia? Ele revirou os olhos. – Eu vou descobrir o que você está tramando. Ouviu-se um apito. – Tenho que voltar a aula, te vejo no almoço. Ela concordou e balançou a mão em forma de adeus.

Olivia acordou no outro dia, com o seu alarme apitando.

—Bom Dia – disse Skye sorrindo, ela usava um aplique azul hoje e Sophie continuava com o mesmo cabelo rosa bola de chiclete.

—Oi gente.

—Você parece acabada... –continuou Connie.

— E estou.- disse a garota se levantando. - São as provas.

—Ah, sei – Connie respondeu se sentando na penteadeira rosa que tinha no quarto delas. – Vem aqui, deixa eu te maquiar, sei que vai ajudar. Enquanto Connie passava o pó no rosto de Demi, ela verificava seu celular,haviam três mensagens de Vincent.

"Você está ai?"

"Nosso café ainda está marcado?"

"Sinto sua falta."

Olivia apenas respondeu, digitando o mais rápido possível:

"Te vejo no Folly&Tea as cinco"

Connie não se atreveu a perguntar com quem ela falava mas ela sabia, e como sabia.

A tarde de verão estava brilhante e amarela com flores cor de rosa caídas pelas ruas e pássaros voando, seria um ótimo dia se nada daquilo fosse acontecer, Não muito longe dali, um passarinho caiu do ninho, se alguém pudesse contabilizar milhares de passarinhos caem dos ninhos todos os dias e milhares de vidinhas se perdem sem nunca terem ganho os céus em voos de liberdade, pois este era um desses passarinhos, Caído, só poderia esperar que um predador qualquer ou alguém de mau coração, e sempre há desses, tanto quanto passarinhos caem dos ninhos.

—O que você vai querer?

—Acho que só um chá.– falou ela

—Eu quero um café duplo expresso com um pouco de canela e rum. A garçonete fez uma bolha com o chiclete, anotou o pedido e saiu.

—Você está linda hoje. –Vincent disse fitando os olhos dela, Oliva não disse nada, apenas sorriu.

—Eu briguei com a Carmen ontem.

—E por que? – ele agia como se estivesse interessado.

— Ela queria que eu voltasse para o quarto com ela e as meninas mas sabe...Eu não tenho mais nada a ver com elas e a Connie me ajuda tanto. Vincent sussurrou o mais baixo que conseguia com a mão entre os lábios. –Você que pensa.

—E tem mais...- ela fez um pausa e tirou um lencinho de sua bolsa – Eu fiz de novo. – a voz era quase inexistente. Ele balançou a cabeça, e segurou a mão dela, vagarosamente deslizando a blusa de manga comprida que cobria seu pulso e observou aquilo. Olivia derramou algumas lagrimas, ele passou os dedos delicadamente pelas cicatrizes e olhou para ela mais um vez.

—Olivia, por favor, você não pode fazer isso com si mesma.

Ela baixou a cabeça.

—Se você não consegue se amar...- Vincent parou e disse o que lhe veio a cabeça – Lembre-se que...eu-eu te amo. Ela olhou para ele arregalando os grandes olhos castanhos, Vincent tentou consertar – Eu não quero que nada de ruim te aconteça e aposto que idem seus pais.

—Eu só quero ser normal novamente, eu quero ser igual a todos. – ela disse. 

Ser normal, passar despercebido, era tudo que ele queria anos atrás, depois da academia militar sua vida havia mudado por completo, ele não queria apenas ser notado queria fazer coisas que o fizessem ser notado e admirado, ele podia ver como ela se sentia, Vincent tirou sua carteira do bolso e pegou uma foto antiga e amassada pelo tempo, estendeu a mão e a entregou para Olivia, ela pegou e olhou brevemente sem entender, viu um garoto magro...muito magro usando um suéter de rena verde e com óculos gigantes, cabelo repartido ao meio, espinhas e aparelho apenas nos dentes da frente. –Esse era eu. Ela olhou para a foto mais uma vez sem acreditar no que via e depois para ele, não disse nada.

—Foi Connie quem me ajudou, ela me ensinou que para você se sentir bem consigo mesmo você precisa não apenas mudar a aparência, precisa mudar suas atitudes. A escola era um inferno, me batiam todo dia. Sabe o que é isso? – ele perguntou – Eu nunca pude reparar o que fizeram com meu emocional. Olivia derramou uma fileta de lágrimas.

—Se não fosse a Connie, eu estaria morto agora, eu teria me suicidado, entende? – ele disse aumentando um grau o tom de voz. O garoto segurou a mão dela mais uma vez.

—Eu sinto muito. –Olivia disse. Depois daquilo, Vincent sabia que não podia fazer o que Connie havia o mandado, ele não iria fazer nem que isso lhe custasse Olivia nunca mais olhar em sua cara, ele não podia destruir a vida dela, o garoto derramou uma lágrima solitária.

—Eu odeio te ver assim. – Vincente segurou a mão dela com mais força e olhou fixamente para ela por alguns segundos. – Eu preciso te falar algo. Vamos.

Olivia ficou sem entender. –Vincent o que está havendo?

—Você tem que vir comigo. Ele agarrou o braço dela e a puxou para fora do Folly&Tea.

—Pra onde vamos? – ela perguntou, colocando o cinto assim que entrou no carro dele.

—Pra minha casa. Vincent acelerou o carro quase ultrapassando o limite de velocidade. No trajeto Olivia achou melhor ficar calada mas quando eles estavam no elevador, ela não se conteve em perguntar mais uma vez. –O que você precisa me dizer? Eu não aguento mais essa espera. Chegando no décimo terceiro quinto, Vincent abriu a porta o mais rápido que pôde e arrastou a garota para dentro. –Pode se sentar?

Olivia se sentou no sofá, colocando sua bolsa em seu colo, o olhar dele era matador.

—Você está me assustando. Vincent se sentou ao lado dela e segurou sua mão mais uma vez.

—Eu sei que depois que eu te dizer isto você nunca mais vai falar comigo. – ele lutava para segurar as lagrimas, acariciou o rosto dela levemente, descendo até o pescoço. –Eu não sou o tipo de garoto que você pensa, ele aproximou seu rosto do dela e sentiu os cílios da garota roçarem em sua bochecha molhada, ela o empurrou de leve e disse: -O que você quer dizer com isso?

—Eu te enganei. Connie ficou seu amiga para tentar atingir a Bonnie. – ele disse rapidamente – Ela queria descobrir alguma coisa suja dela e como você era a mais vulnerável, ela te escolheu, mas parece a que a ruiva é impecável no que faz, então se tornou a diversão dela te torturar. Olivia se levantou do sofá, tentando alcançar a maçaneta da porta.

—Você está louco.

—E eu estava com ela, eu só sai com você pra ajuda-la. – ele fez uma pausa – Eu sinto muito, não sabia a garota maravilhosa que você era. A face da garota estava vermelha e ela, paralisada, Vincent tirou um frasco do bolso e entregou a ela.

—Eu ia te dar isso hoje. É um sonífero, depois ia te trazer aqui e tirar...fotos suas, entregar para Connie e sua vida iria acabar no dia seguinte mas eu não pude...Eu sou fraco, quando eu vi o que estava acontecendo com você, eu não pude...

—Você é doente! -Olivia falou olhando para ele -Eu não acredito que acreditei em vocês, nunca mais se aproxime de mim!

—Você precisa me perdoar. – ele a puxando para perto.

— Me solta. –Olivia gritou

—Eu sei que você gosta de mim, sempre soube. Você não pode fazer isso...Eu te ajudei.

—Ajudou? – ela riu debochada – Você ia foder com a minha vida e tudo que eu contei para aquela vadia psicopata! ? Ela viu a raiva tomar conta dos olhos dele, Vincent segurou a bochecha da garota a prensando na parede, olhos nos olhos.

—Diga que não me ama mais.- Olivia mal podia respirar com a ferocidade que ele a segurava. – Diga! – ele gritou. Ela não podia dizer o que não era verdade. Podia sim. –Eu não te...- ela não pode acabar a frase e ele a segurou mais firme e deslizou seus lábios nos dela. –...amo mais. Tudo que ela sempre sonhara era ele, sua paixão desde que se mudara para Blois foi ele e agora tudo tinha ido por água a baixo. Vincent deslizou a mão pela cintura da garota passando a mão em sua barriga. Ela não sentia mais borboletas no estômago quando ele a tocava, ela sentia nojo.

—Me solta –Olivia, o empurrou o mais forte que pôde e correu para a saída batendo a porta ao sair e correndo pela escada de incêndio. Era isso, o conto de fadas acabou e ela se sentia como a Cinderela mas em vez do sapatinho ela havia perdido seu coração.


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