Liz agradeceu a si mesma por ter escolhido jeans e botas como opção de guarda-roupa para aquele passeio com os tios, pois era exatamente o que aquele dia pedia. Ela teve a certeza disso quando Darcy levou-a para conhecer os estábulos após um tour pela propriedade, se tivesse de vestido e salto alto talvez não tivesse aproveitado tanto.

— Eu não acredito. – Ela disse em tom de brincadeira. – Fitzwilliam Darcy tem um cavalo.

Ele riu.

— Por que você fica repetindo isso? – Perguntou após a terceira vez que Elizabeth, incrédula, afirmou que ele tinha um cavalo. – Eu tenho sim, apesar de que há uma boa chance de ele não se lembrar de mim.

— Como alguém não se lembraria de você? – Elizabeth deu uma risada abafada enquanto Darcy mostrava o caminho até os estábulos.

— Você está flertando comigo, srta. Bennet?

— Talvez. – Ela respondeu em tom de provocação.

Darcy parou e olhou para ela.

— Eu não brincaria com isso. – Ele puxou-a pela cintura e beijou-a fazendo-a rir.

— Sr. Darcy. – Era o jovem garoto que Liz vira com o outro senhor quando chegou com os tios. – Devo preparar o seu cavalo?

Darcy soltou Elizabeth que se afastou um pouco corada. Ainda era estranho para ela que alguém os visse daquele jeito, como namorados de longa data.

— Não sei. – Darcy respondeu pensativo, então virou-se para Liz. – Deve?

Elizabeth não queria parecer tão empolgada, mas fez que sim e abriu um sorriso tão grande que Darcy não teve como resistir. Desde que viu Georgiana no cavalo, com os cabelos ao vento e uma expressão tão compenetrada, ela quis fazer o mesmo. Daria tudo para cavalgar como ela, ao lado de Darcy então? Seria como um verdadeiro conto de fadas.

— Prepare o Estopa e o Eclipse, por favor, Philip.

— Claro. – O garoto assentiu e ia se retirar quando pareceu se lembrar de algo. – A srta. Georgiana vai se juntar a vocês? – Ele perguntou, tímido.

— Talvez mais tarde, Phil. – Darcy respondeu e o garoto seguiu para dentro do estábulo onde estavam as baias dos cavalos.

Quando Darcy voltou sua atenção a Elizabeth, encontrou-a com uma expressão brincalhona.

— Philip, é? – Ela ergueu a sobrancelha.

— Pois é, ele e minha irmã se dão muito bem, aparentemente. – Ele respondeu meio sem jeito.

— E você, o que acha disso?

— O Phil é trabalhador e a faz feliz. – Ele respondeu sério, mas então sua expressão se suavizou. – Apesar de meu instinto de irmão mais velho me dizer para colocá-lo para correr.

Elizabeth riu, estava claro que Darcy também gostava de Philip. Ela o conhecia bem o suficiente para saber que se não estivesse confortável com a presença do garoto, fecharia a cara e então todos perceberiam.

— Mas chega de Philip, agora eu quero te mostrar um velho amigo meu. – Darcy puxou Elizabeth para perto de uma das baias onde um grande cavalo preto estava. – Esse é o Eclipse.

— Ah, meu Deus! Ele é tão alto!

O cavalo pareceu reagir ao barulho das vozes e chegou perto um pouco desconfiado. Darcy o acariciou e Elizabeth tomou coragem de fazer o mesmo.

— Então esse é o seu cavalo?

Darcy concordou.

— É, faz bem o seu estilo mesmo. – Liz disse enquanto continuava acariciando o bicho, embora as vezes se assustasse com um ou outro movimento brusco que ele fazia com a cabeça. – Parrudão, cara de mal-humorado, praticamente uma versão equina de você, Darcy.

— Como é que é? – Darcy fingiu estar ultrajado com o comentário, o que deixou Elizabeth contente. Era tão engraçado vê-lo tão solto perto dela, rindo das piadas e aparentando tanta tranquilidade.

Philip logo apareceu carregando um tipo de cobertor e uma sela que parecia muito pesada. Entrou na baia de Eclipse e colocou as coisas sobre o lombo do cavalo.

— E esse é o Estopa. – Darcy puxou Elizabeth para perto de outra baia onde um cavalo bem menor estava. Ele era marrom e tinha uma aparência muito mais simpática que Eclipse. Seus grandes olhos pidões logo conquistaram Liz.

— Estopa? – Ela riu. – Mas quem foi que deu esse nome para o bichinho?

— Quem você acha? Georgiana, claro.

— Este aqui parece bem mais simpático, posso montar ele?

— Claro. – Darcy respondeu tranquilo, enquanto observava Liz toda animada com Estopa. – Nem aconselharia você montar o Eclipse, ele é meio temperamental.

— Tá vendo? – Liz exclamou e deu um tapinha no ombro de Darcy. – Igualzinho o dono!

Ele fez uma careta, o que fez com que Lizzie continuasse suas comparações entre o dono e o cavalo. Ela só parou alguns minutos mais tarde quando Darcy foi mostrar o resto dos animais para Liz. Ao todo eram uns sete ou oito cavalos, todos muito bem cuidados, pelagem macia e brilhante e alguns eram até um pouco brincalhões. Darcy explicou que Georgiana começou a participar de sessões de equoterapia após o acidente e desde então não quis mais sair de perto dos bichos.

Após algum tempo, Philip apareceu com os dois cavalos selados e preparados. Entregou-os a Darcy que saiu pela outra porta do estábulo que dava direto na entrada do cercado em que Lizzie vira Georgiana montando. Depois de entrar, ele amarrou os cavalos e virou-se para Liz.

— Você já montou antes?

— Nunca. – Liz respondeu, agitada.

— Regra número um, nunca, em hipótese alguma, grite.

— Certo, sem gritos. Acho que consigo seguir essa regra.

Darcy deu um sorriso de canto e disse que ia ajudar Liz a subir em Estopa. Ele nem era tão alto, mas foi uma cena engraçada ou extremamente ridícula na cabeça de Elizabeth. Quando ela finalmente conseguiu montar o cavalo, sentiu uma forte câimbra na perna.

— Preparo físico excelente. – Liz disse, sarcástica, após finalmente conseguir conter as dores, dobrando e esticando a perna.

— O pessoal acha que montar é coisa simples. – Darcy soltou a corda que prendia Estopa na cerca e amarrou-a na sela de Liz. Em seguida fez o mesmo com Eclipse e em um rápido movimento ele colocou uma perna no estribo e jogou a outra por cima da sela. – Mas não é. Vai ver como amanhã você vai acordar toda dolorida.

— Vendo você até que parece bem simples. – Liz piscou para Darcy.

— Anos e anos de prática. – Ele deu um sorriso cínico que fez o coração de Liz quase derreter. – Pronta?

— Com certeza.

Darcy começou a andar e o cavalo de Liz o seguiu. No início, ela ficou tranquila, mas foi só o cavalo acelerar um pouco que ela começou a dar gritinhos assustados.

— Onde eu paro essa coisa?

— Puxe as rédeas. – Darcy respondeu fazendo seu cavalo chegar perto de Estopa para fazê-lo parar. – E não grite, só vai assustar ele.

— Acho que é ele quem está me assustando. – Liz choramingou enquanto puxava as rédeas sem conseguir qualquer reação do cavalo.

— As rédeas. – Darcy conseguiu fazer com que Estopa parasse. Pegou as rédeas que estavam frouxas nas mãos de Liz e ajeitou-as na posição certa. – Assim, se você não encurtar um pouco ele nunca vai obedecer.

— Certo. Assim?

— Isso. – Ele concordou. – Agora tente de novo.

O cavalo voltou a andar, mas quando ameaçou aumentar a velocidade, Liz puxou as rédeas fazendo com que ele parasse.

— Consegui! – Ela comemorou.

— Conseguiu, mas você não precisa ter medo de deixa-lo correr, só tem que se lembrar de que precisa de toda a sua força de perna para se manter em cima do cavalo.

E as aulas continuaram até escurecer totalmente. No final, Liz já estava galopando e sentindo os cabelos ao vento do jeito que queria. Só não imaginava que o vento estaria tão gélido e cortante quando imaginou a cena. Quando desceu do cavalo, com a ajuda de Darcy, suas mãos tremiam, parte pelo frio e parte por ter feito tanta força ao segurar as rédeas.

Darcy guardou os cavalos no estábulo e os dois seguiram em direção a casa. Liz estava toda alegre, recapitulando tudo o que fizera naquela tarde, mas quando passaram pela porta, ela e Darcy foram esmagados por um clima extremamente pesado.

Todos estavam observando atentamente a sra. Gardiner que estava com o celular na mão e o rosto lívido, como se estivesse prestes a desmaiar.

— Precisamos voltar. – Sua voz estava trêmula quando ela finalmente desligou o celular e falou com eles. – É a Lydia.

O coração de Elizabeth disparou. O que poderia ter acontecido?