A Intérprete - Orgulho e Preconceito Moderno escrita por Nan Pires


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!! Já estamos no capítulo 21, o que significa que estamos chegando na metade da fic já :)
Muitas intrigas ainda estão por vir, mas decidi ser legal e para comemorar, o capítulo 21 será super especial (e grandão) lol
Espero muito que vocês gostem!!



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A ideia de mudar de país foi plantada na cabeça de Jane por sua tia quando ela era pequena. Pouco depois de seu aniversário de 15 anos, o casal Gardiner anunciou que estava de mudança para a terra natal da tia a um oceano de distância. Na época, Jane que era muito apegada à mulher, ficou muito chateada. Só que elas continuaram se falando por e-mail (na época as redes sociais ainda não estavam em alta) e não demorou muito para que Jane decidisse seguir os passos dos tios.

A primeira vez que Jane falou sobre sua pretensão à sua mãe, ela tinha 16 anos e quase desencadeou uma guerra. A sra. Bennet ficou revoltada e teve uma briga colossal com seu irmão pelo telefone. Ela acusou a mulher dele de tentar roubar suas filhas só porque eles não tinham nenhuma e aquilo fez com que eles parassem de se falar por um bom tempo. Jane, arrasada, conseguia burlar a mãe algumas vezes e mandava e-mails para a tia sem que ninguém soubesse. Talvez, aquela tivesse sido toda a fase de rebeldia pela qual ela passou.

Anos mais tarde, Jane finalmente conseguiu um grande aliado para vencer aquela guerra. Seu pai, o sr. Bennet, apesar de amá-la muito e demonstrar pouco, entendia que sua filha tinha o direito de decidir o que fazer da vida, ainda mais, porque perante às leis de seu país, ela já era, inclusive, maior de idade.

A ida de Jane aconteceu depois de muito esforço e uma bolsa de estudos. Ela havia iniciado o curso de arquitetura em seu país de origem e terminaria junto de seus tios que a receberam na maior alegria. Só que quando ela terminou, tratou de emendar um mestrado, pois sentia que seria mais feliz ali. Algumas pessoas encontram o seu lar de verdade muito longe de onde nasceram e por mais que Jane amasse sua família, ela tomou a difícil decisão de permanecer lá. E foi assim, depois, com sua irmã Elizabeth, com Charlotte e com tantas outras pessoas que simplesmente decidiram juntar seus medos, sonhos e pertences em uma mala e começar de novo em outro lugar.

Era difícil. Mesmo depois de tanto tempo, alguns dias ainda eram difíceis. Tinha horas que tudo o que ela mais queria era pegar um avião para conseguir um abraço da sua mãe, por mais geniosa que ela fosse. E talvez, os últimos dias tenham sido exatamente assim para Jane. Ela estava cansada e chateada, queria algo familiar, aconchegante e foi então que ela se viu diante daquela incrível oportunidade. Ela iria liderar um projeto ali, pertinho do lugar que há alguns anos a acolheu e a fez sentir amada.

A casa de seus tios não havia mudado quase nada, pelo menos não externamente. Assim que Jane estacionou o carro diante do jardim e se deixou envolver pela brisa gélida, porém familiar, ela soube que tinha tomado a decisão certa. Sua tia, com alguns cabelos brancos a mais do que ela se lembrava, não tardou a aparecer na porta.

— Ela chegou! – A tia correu em direção a Jane, que viera sozinha, já que Liz não tinha carro. – Meu anjo chegou!

— Titia! – O abraço quente da mulher lembrou a ela de todos os dias que ela voltava do campus precisando daquele carinho. Sua tia sempre olhava para ela e dizia que o dia seguinte seria melhor e a convicção dela era tanta, que fazia com que Jane acreditasse.

— Preciso ouvir você dizendo que amanhã vai ser melhor. – Jane balbuciou, estava quase chorando.

— Ah, querida. – A tia a abraçou ainda mais forte. – O que foi que esse mundo fez com você?

As duas seguiram juntas para dentro de casa e assim que passaram pelas portas, Jane sentiu o cheiro de baunilha e maçã das velas aromáticas que a tia colocava pela casa toda. Ela também sentiu o calor do aquecedor e vislumbrou aquela casa tão querida por ela. Os tios tinham feito algumas mudanças do lado de dentro sim, mas no fundo, ela ainda era a mesma. Ainda trazia à Jane toda aquela sensação de segurança e aconchego que ela estava precisando naquele momento.

— Como foi a viagem? – O sr. Gardiner apareceu com toda a sua simpatia e serviu uma xícara do chá preferido de Jane. Ele ainda lembrava.

— Foi muito boa, tio. – E ela sorriu, estava tão contente por estar ali que se repreendeu mentalmente por não visitá-los mais vezes. – Muito boa mesmo.

Já fazia uma semana desde a partida de Jane e Elizabeth estava se sentindo incrivelmente sozinha. Ela era daquele tipo que achava que gostava de passar um tempo isolada, mas quando se via diante da casa vazia, entrava em desespero. Nem uma maratona da sua série favorita estava fazendo aquela sensação de vazio ir embora, então ela ligou para sua amiga, Charlotte.

— E aí, Char? – Ela se fez de desinteressada. – Fazendo o que hoje à noite?

— Eu, hum, tenho um compromisso. – A amiga respondeu do outro lado, misteriosa e um tanto cautelosa.

— Compromisso? – Lizzie percebeu que Charlotte estava meio reticente e isso a deixou curiosa. – Me conta!

— Ah, Liz. Não é nada demais. – A voz dela parecia um pouco ansiosa. – Eu vou sair com um cara que conheci faz um tempo.

— Quem!? – Liz estranhou, já que Charlotte não havia mencionado ninguém nos últimos dias.

— Ah, você não conhece. – A voz dela parecia insegura. – Faz pouco tempo que eu conheci.

— Primeiro encontro? – Liz não queria desligar o telefone e voltar para a solidão de seu sofá, por isso não deixou a amiga em paz.

— Oficial é. Almoçamos outro dia, mas acho que não contou muito, sabe? Não teve nada combinado.

— E como ele é?

— Você está com saudade dela, não é? – Liz pode ouvir o riso contido de sua amiga. – Da sua irmã.

— Não sei mais ficar em uma casa vazia. Não por tanto tempo. – Ela suspirou chateada. – Acho que ela poderia vir para cá, pelo menos nos finais de semana.

— Ela acabou de ir para lá. Você não disse que ela era super apegada à tia? Talvez esteja matando a saudade. Por que você não vai para lá?

— Não sei. Talvez no final de semana que vem. Vou pensar. – Liz respondeu incerta. Queria dar um tempo à Jane, talvez se fosse para lá fizesse ela lembrar do sr. Bingley, ou algo assim. – Bom, Char, acho que você está ocupada, não é? A gente se fala depois, aproveite seu encontro com esse cara misterioso.

Charlotte riu e agradeceu. Cinco minutos depois, Elizabeth estava de volta à sua sala tão sozinha e fria.

— Chega. – Ela disse para si mesma. E então decidiu que pegaria um táxi e iria jantar em seu restaurante preferido. Afinal, ela merecia, certo?

A ideia tinha parecido genial até metade do caminho, quando Liz começou a se perguntar que tipo de pessoa ia à um restaurante italiano em um sábado à noite completamente sozinha. Mas era tarde demais, ela não iria dar uma de doida e pedir para o taxista levar ela de volta. O estrago já estava feito.

Ela desceu do carro um pouco insegura, mas o cheiro de massa fresca que ela sentiu quando um casal saiu do restaurante a encorajou. Ela estava prestes a empurrar a porta quando os viu lá dentro, esperando para serem levados até uma mesa pela hostess. Sua amiga, Charlotte, e o cara misterioso que de misterioso não tinha nada. Era seu chefe, o sr. Collins.

Lizzie quase teve um ataque do coração e rapidamente fechou a porta de vidro sem entrar e foi correndo para o mais longe que pode do lugar. Um grupo de pessoas a olhou com estranheza e ela sentiu seu rosto corar.

— Droga! – Ela praguejou.

Olhou para os dois lados da rua para ver se dava a sorte de encontrar um táxi passando por ali. Não tinha chance dela voltar ao restaurante sabendo que o casal mais improvável do mundo estava lá. Ela foi andando sem rumo, pensando no quão bizarro era aquilo. Charlotte e Collins, Charlotte e Collins, Charlotte e Collins? O mundo estava louco.

Para sua sorte, logo na esquina havia um pub de aparência legal e foi lá mesmo que ela entrou. Ela sentou em um dos banquinhos de frente ao barman e pediu a bebida mais fraca que conseguiu se lembrar. Só precisava de algo que a deixasse com uma aparência ocupada enquanto decidia o que fazer.

O barman logo colocou um copo em frente a ela e voltou-se para os outros e mais interessantes, clientes.

— Perdida por aqui? – Assim que ouviu aquela voz, ela amaldiçoou o momento em que decidiu sair do apartamento. Era melhor ter ficado lá, aproveitando a crise de ansiedade por estar sozinha do que diante dele.

— Dr. Darcy. – Ela disse o nome com aspereza enquanto ele se acomodava no banco ao lado.

— Não precisa do dr. – Ele disse em tom amigável. – Não estamos no hospital.

— Certo, não estamos. – Ela deu um gole em sua bebida.

— Você mora por aqui?

— Não. – Ela riu e respondeu um pouco cínica. – Você se esqueceu que eu sou uma reles imigrante? Não poderia bancar uma casa nessa região. Só nos meus sonhos.

— Então, o que te traz por aqui? – Ele ignorou a indireta de Elizabeth, estava tentando puxar assunto e já não era muito bom nisso, ela ainda não cooperava.

— Meu restaurante preferido fica aqui. – Ela bebeu mais um pouco antes de continuar. – Só que eu estou incapacitada de entrar nele agora.

A honestidade em suas palavras a impressionou quase tanto quanto o sorriso discreto que surgiu nos lábios de Darcy.

— Por causa do sr. Collins?

— Você também viu? – Ela perguntou surpresa. – Meu chefe e minha melhor amiga nem encontro, tudo o que eu precisava ver hoje.

Ele continuou sorrindo, disse que não tinha reconhecido a mulher com que o administrador do hospital estava, mas que tinha desistido de entrar no restaurante, que coincidentemente também era o favorito dele, porque odiava o fato do sr. Collins não parar de bajulá-lo por causa de sua tia sempre que o via.

— Um brinde aqueles que foram impedidos de comer no melhor lugar da cidade por conta de conflitos de interesses. – Elizabeth ergueu um pouco o copo e conseguiu arrancar mais um sorriso do sr. Darcy.

Os dois continuaram no lugar por mais algum tempo, falando sobre assuntos aleatórios. Talvez fosse o ambiente meio escuro, que não permitia que ela fosse surpreendida por aqueles olhos azuis tão expressivos, mas os dois finalmente conseguiram ter uma conversa quase descontraída. E o pior é que ela não tardou muito para perceber que estava gostando da companhia e do jeito sem graça dele. Darcy podia ser bem divertido fora do hospital.

— Me fale sobre a sua irmã. – Elizabeth, em um acesso de loucura, se viu perguntando. Ela apoiou o braço no balcão do bar e observou a expressão do médico. Ela sabia que era um tópico doloroso, mas estava tão curiosa e se sentia tão próxima dele naquele momento, que teve a ousadia de perguntar. – Você comentou algo aquele dia e eu não pude deixar de ficar curiosa.

Ele ficou quieto por um tempo.

— Nem sempre a curiosidade de uma mulher me intriga tanto.

— Mas no meu caso? – Ela sabia que aquilo podia muito bem ser uma tática de evasão da pergunta, mas não pode deixar de provocar.

— No seu caso, acho que a curiosidade combina perfeitamente com você. Você me intriga.

Elizabeth riu de maneira tímida, não sabia se aquilo era um elogio ou se ele a estava chamando de petulante ou algo do tipo.

— Não foge do assunto. – Ela pediu. – Quero saber. De verdade.

— Minha irmã, – Ele começou e Liz pode entender o que havia de errado. Era difícil para ele falar sobre ela, talvez algo muito ruim tivesse acontecido. – Georgiana tem um problema de saúde.

— Eu sinto muito. – Liz ouviu-se dizendo e sentia mesmo. A dor que enxergava na expressão rígida de Darcy era tanta que ela quase desejou que não ter perguntado nada.

— Eu que sou besta de me chatear. – Ele disse por fim. – A Georgiana... A aura dela é tão iluminada. Ela é uma criança tão viva com um amor tão grande pela vida que você não acreditaria pelo que ela passou.

— Eu queria conhecer ela. – As palavras saíram da boca de Liz. Ela queria conhecer a irmã dele, a casa dele, os parentes dele, enfim, cada segredo, cada mania e tudo o que o deixava feliz ou triste.

— Ela iria adorar você. – Darcy disse sério.

— Iria?

— Não tem como não gostar de você. – Ele disse baixinho, quase tão baixo que Liz não teria ouvido se ele não tivesse diminuído a distância entre eles.

E então, Elizabeth teve uma ideia do que estava prestes a acontecer. E seu coração começou a bater acelerado e mil pensamentos passaram em sua mente. Era certo? Errado? Dane-se, era o que ela queria mais que tudo naquele momento.

Ela sentiu os lábios dele encostarem nos seus. Sentiu o gosto do médico enquanto ele aprofundava o beijo lentamente, quase come se pedisse permissão. E todos os pensamentos e o mundo sumiram por um instante. Liz se entregou aquele beijo de corpo e alma e só então percebeu o quanto ela havia esperado, desejado e ansiado por ele. O quanto seu corpo e coração gritavam por Darcy.

Não havia mais vestígio nenhum daquele sentimento de solidão que ela estava sentindo antes de sair de casa. Mais uma vez, era só ela e ele. Os problemas estavam longe, muito longe. Quase nem existiam diante daqueles vibrantes olhos azuis.


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Notas finais do capítulo

E aí?? Fala se não foi muito fofo!? *-*
Quero saber a opinião de vocês, hein??



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