A Intérprete - Orgulho e Preconceito Moderno escrita por Nan Pires


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Mais um fim de semana passou e mais um capítulo está aqui para vocês aproveitarem :)



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Lizzie já estava se acostumando com toda a bagunça de ter uma casa cheia, quando em uma certa manhã, sua mãe fez um anúncio.

— Acho que já vimos tudo o que tínhamos para ver por aqui.

— Mas, mãe! – Jane protestou enquanto Elizabeth tentava se orientar, era cedo demais. – A passagem de vocês é só para daqui algumas semanas. Vocês não estão pensando em adiantá-las, estão?

— Não, querida. – A sra. Bennet respondeu com uma voz meiga. – Lydia nos deu uma ideia ótima!

— Claro que deu. – Elizabeth murmurou. Ainda estava um tanto irritada por ter passado o dia anterior na maior preocupação depois dela sumir e não dar nenhum sinal de vida. Foram achá-la tarde da noite em um bar e Lizzie quase teve uma síncope. Lydia estava alegre, claramente tinha bebido, mas claro, conseguiu convencer a mãe de que tinha ficado só no refrigerante. Quando se tratava de Lydia, a sra. Bennet era extremamente conivente.

— Sim, ela deu. – A sra. Bennet lançou um olhar severo para Lizzie. – Vamos fazer um tour pela Europa com os dias que nos restam! – Ela juntou as mãos com animação.

Lydia deu um sorriso vitorioso na tentativa de provocar Liz enquanto Kitty dançava ao redor da mesa toda alegre. O sr. Bennet e Mary pareciam não partilhar da mesma animação, mas como sempre, iriam fazer a vontade das outras.

— Ah mamãe, vocês têm certeza? Vamos sentir falta de vocês aqui, não é, Lizzie? – Jane falou desanimada, já estava tão acostumada com a presença deles ali.

— Claro, vamos. – Elizabeth respondeu de mal humor. Ela fingia não se importar, mas a verdade era que ela não queria que eles fossem embora. Só que claro, ela jamais admitiria isso.

— Obrigada, Jane querida. – A sra. Bennet ignorou uma Liz um tanto ranzinza sentada à mesa. – Mas já atrapalhamos o suficiente.

— Com certeza não é por isso. Você não se importa mesmo. – Liz murmurou mais para si mesma do que para os outros, mas o sr. Bennet pode ter ouvido, pois abafou o riso com uma tosse forçada.

— Você deveria vir com a gente! – O sorriso da mãe foi de orelha a orelha. – Isso! É uma ideia genial, não é?

— Mamãe, – Jane sorriu com doçura. – Eu voltei a trabalhar esses dias, não posso.

— Nem eu. – Lizzie disse, mesmo que a mãe a estivesse ignorando. – Sabe como é, o trabalho no hospital é complicado.

— Ah, queria que você fosse. – A voz de Mary finalmente fora ouvida. A garota andava quase tão quieta quanto o pai.

— Eu não. – A voz de Lydia saiu estridente. – Você é muito chata.

— E você é uma enxerida, ninguém está falando com você. – A resposta de Lizzie foi instantânea.

— Meninas, não vamos brigar. – Foi o sr. Bennet quem disse. – Não no nosso último dia aqui.

— Último dia? Mas já!? – Jane perguntou chateada,

— O sr. Bennet é muito dramático. – Ele ergueu a sobrancelha ao ouvir as palavras da mulher. – Na volta ficaremos mais alguns dias aqui antes de voltarmos definitivamente.

— Mas vocês já começam o tour amanhã?

— Sim, Jane querida. A Lydia já comprou nossas passagens pela internet.

Lydia estufou o peito toda orgulhosa e mal percebeu o olhar raivoso de Elizabeth em direção a ela.

— Bom, estou indo trabalhar. – Liz disse enquanto levantava e retirava sua xícara da mesa. – A gente se vê quando eu voltar.

— Isso. Eu também vou – Jane começou a retirar suas coisas também. – Pensem em algo para fazermos hoje à noite. Algo especial.

— Vamos as compras! Isso seria especial. – Kitty deu um gritinho animado que fez Jane sorrir e a careta de Lizzie aumentar.

— E você vai enfiar mais coisa aonde? – Mary perguntou impaciente.

— Na sua mala, bobinha.

— Vai sonhando.

— Já chega, vocês duas! – A voz da sra. Bennet foi ficando cada vez mais baixa a medida que Lizzie foi se afastando.

Ela e Jane terminaram de se arrumar e saíram ao mesmo tempo para o trabalho. O lado bom de terem um carro alugado na garagem era que Lizzie podia sair um pouco mais tarde, pois não dependia do transporte público.

— Essa casa vai ficar tão quieta. – Jane suspirou com tristeza.

— Vai mesmo, ainda mais porque você também anda tão para baixo. Aconteceu alguma coisa?

— Não, Liz. É só que eu voltei ao trabalho esses dias e tem tanta coisa acumulada, tanta coisa para pensar! Acho que vou enlouquecer!

— Tem certeza que não tem a ver com um certo médico?

— Já disse que não. – Jane respondeu com a voz baixa, nem ela acreditava em suas próprias palavras. – Ele só anda meio ocupado, só isso.

— Jane, eu só estou preocupada. E daí se ele não te procurou esses dias? O que te impede de ligar para ele?

— Liz, você sabe, eu não sou assim.

— Assim como? – A pergunta de Liz tinha um tom de impaciência. – Normal?

Jane riu. Amava a irmã, mas as vezes só queria que ela entendesse que certas coisas não eram tão simples para ela quanto para outras pessoas. Ela era extremamente tímida e reservada, só de pensar em ligar para Bingley, sua cabeça já doía.

— Desculpa, Jane. Eu sei que estou te chateando, mas você precisa fazer algo quanto a isso! E se ele estiver te testando? Ele pode achar que você não gosta dele, já que você nunca o procura. Pense nisso.

— Vou pensar. – Jane deu um sorriso sem graça, entrou em seu carro e deu a partida.

Elizabeth fez o mesmo e quando chegou no hospital, estava quase decidida a ir confrontar o dr. Bingley. Ela precisava saber a real, se fosse uma tática dele, tudo bem, ele tinha o direito de tentar descobrir se Jane gostava dele de verdade ou não, caso contrário, ela falaria umas poucas e boas. Aliás, ele iria ouvi-la de qualquer maneira, porque aquilo de ignorar era coisa de ensino fundamental! Casais adultos e maduros resolviam tudo na base da conversa, certo?

Ela estava toda inflamada quando passou pelas portas de vidro do hospital e iria direto até Bingley se Sophia, a moça da recepção não a tivesse chamado.

— E aí, Sophia? – Ela cumprimentou.

— Srta. Bennet, – Liz fez uma careta, qual era o de todo mundo com aquele lance de sobrenome? Ela conhecia a moça, elas quase sempre jogavam um pouco de conversa fora, para que tanta formalidade? – Eu queria falar com você, sobre o dr. Wickham.

— O que tem ele? – A resposta dela foi curta e grossa

— Eu não quero me meter, bom, mas já me meti. – A moça deu um sorriso sem graça. – É que eu sei que vocês tinham algo...

— Não, não tínhamos nada.

— Bom, mas ele achava que tinham, então...

— Eu não estou nem aí para o que ele achava.

— Elizabeth, – Ela deu mais atenção à moça agora. – Eu sei, só queria falar para você ter cuidado, ele não é muito confiável, não é bom tê-lo como inimigo.

Lizzie levantou a sobrancelha involuntariamente.

— Escuta, eu não deveria estar me metendo, mas você é gente boa, então achei melhor avisar. Tinha uma enfermeira, ele deu uma de espertinho para cima dela, mas depois eles brigaram, e aí ela foi demitida.

— Por causa dele?

— Eu não sei, as más línguas dizem que sim. Só acho melhor você não ser tão grossa com ele.

— Agora eu sou grossa com ele, é isso que andam dizendo por aí?

— Não! Ninguém anda dizendo nada. É só que ele sempre arruma um jeito de conseguir o que quer e se ele te quiser fora, vai conseguir. Ele é extremamente orgulhoso.

Por mais irritada que Elizabeth tenha ficado, ela não pode deixar de agradecer a Sophia, ainda mais porque algo em seu íntimo dizia que a moça tinha razão e ela não poderia nem pensar em perder aquele emprego.

— Obrigada.

— Imagina, ele é um idiota. Não quero ver mais ninguém legal tendo que ir embora daqui.

— Então, pelo meu próprio bem, vou dar um jeito de não demonstrar o quanto acho ele desprezível. – Elizabeth piscou e a recepcionista deu uma risada.

Depois que saiu dali, perdeu a vontade de ir atrás de Bingley. Ela ficou o dia inteiro pensativa. Será que o dr. Wickham era tão baixo a ponto de conseguir manipular a situação para mandar alguém embora pelo simples fato de não ir com a cara da pessoa? Era difícil acreditar, mas de qualquer maneira, levaria o recado de Sophia em consideração. A gente nunca sabe o que esperar das pessoas.

Mais tarde aquele dia, a família Bennet inteira se reuniu para jantar na lanchonete que ficava perto do apartamento. Eles não queriam voltar muito tarde porque ainda tinham coisas para arrumar, muito embora deixariam metade do que haviam trazido e comprado no apartamento das garotas.

Foi uma noite muito agradável e sem incidentes. Liz resolveu deixar o mal humor de lado e aproveitar a noite em família. Só Jane que precisou se retirar um pouco mais cedo porque tinha que finalizar um projeto para levar para o trabalho na manhã seguinte, mas o restante dos Bennets continuou conversando como uma família normal e feliz. Liz desejou que pudesse ser sempre daquele jeito e que a distância entre eles não fosse tão grande. Ela sentia falta deles, por menos que quisesse admitir.

Quando voltaram para casa, Liz deu boa noite a todos e seguiu para o quarto onde encontrou Jane com a cara toda inchada e vermelha. Ela esteve chorando, e muito.

— Jane! – Ela correu para perto da irmã. – Aí meu Deus, o que aconteceu?

A mais velha abraçou Liz e então recomeçou a chorar baixinho e sem parar.

— Jane, Jane! Está doendo? É a cirurgia? – Liz finalmente perguntou desesperada.

— Não. – Jane soluçou e tentou limpar as lágrimas que não paravam de cair. – Eu liguei. Liguei para ele.

— Bingley? Você ligou para ele, foi isso?

Jane assentiu.

— O que ele disse? Por que você está chorando assim?

— Ele disse... Disse que é melhor, melhor nós – E o choro desesperado recomeçou, ela levou alguns minutos para conseguir concluir. – Nós não nos vermos mais.

— Ah, Jane. Eu sinto muito.

Elizabeth não disse mais nada, apenas abraçou a irmã bem forte e passou a maior parte da madrugada tentando confortá-la em silêncio. No dia seguinte tinha um trabalho a fazer: matar o sr. Bingley. E ele teria uma morte dolorosa, com certeza teria.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelos comentários lindos e maravilhosos!! Espero que vocês tenham gostado desse capítulo também :)



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