A Intérprete - Orgulho e Preconceito Moderno escrita por Nan Pires


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

To um pouco atrasada!! Mas só um dia, vai ^^



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Naquela noite, Elizabeth suspirou aliviada. Sua irmã, Jane, estava de volta ao apartamento recuperando-se da cirurgia, Liz havia feito um novo amigo, que para o seu alívio não vinha com uma irmã falsa de brinde, enfim, tudo parecia estar voltando ao normal, se não fosse aquele telefonema, claro.

Ela tinha acabado de levar uma refeição bem leve para Jane no quarto, apesar da irmã insistir que estava em condições de dar alguns passos até a cozinha. As duas estavam conversando e rindo enquanto Jane mordiscava as torradas que Liz levara quando o telefone tocou. Liz correu para atender na certeza de que era alguém perguntando sobre Jane e acertou.

— Elizabeth! – A Sra. Bennet parecia um tanto impaciente do outro lado da linha, e talvez tivesse motivos para isso. Como os últimos dias foram a maior correria na vida de Lizzie, ela tratou de responder as dezenas de ligações não atendidas da mãe de forma breve. – Como está a Jane?

— Francamente, mãe, – Lizzie suspirou. – A senhora por acaso não acredita em mim? Ela está bem, já está em casa se recuperando.

— Não fale assim comigo não, hein? – Ela esbravejou. – O mínimo que eu esperava de você era que retornasse minhas ligações. Eu e seu pai passamos os piores dias de nossas vidas preocupados com a sua irmã.

Naquele momento, Jane apareceu na sala e Elizabeth lançou um olhar aborrecido para ela, como quem diz que ela não deveria ter saído por aí andando.

— Mãe, eu respondi todas as suas ligações...

— Com mensagens!

— Sim, é isso que as pessoas do século XXI costumam fazer. – Ela tinha consciência de que sua mãe se revoltava quando ela era sarcástica, mas sua paciência era mínima durante as crises dramáticas dela. – Jane está bem, mamãe. Eu não te liguei porque mal parei em casa e não posso ficar ligando para vocês do celular.

Lizzie ouviu a sra. Bennet fazer um muxoxo. Sabia que ela tinha ficado muito irritada com o seu comportamento e no fundo sentiu-se um pouco arrependida. Ela deveria ter entendido o lado da mulher, estava preocupada com a filha. Não fora fácil para alguém tão controladora quanto sua mãe, deixar duas de suas queridas filhas irem para tão longe dela.

— Você quer falar com ela, mãe? Com a Jane? – Perguntou com uma voz amável, na tentativa de se retratar.

— Quero sim. – A voz da sra. Bennet soou um tanto petulante. – Mas farei isso na quarta-feira, quando chegarmos aí.

Elizabeth quase se engasgou e teve medo de perguntar algo. Sua voz saiu tremida quando o fez.

— Como assim, mãe?

— Compramos passagens para amanhã à noite. Será que você vai buscar a gente no aeroporto, pelo menos?

— Mãe! Você não pode estar falando sério! Sabe que eu e Jane trabalhamos, a gente não vai ter tempo. Isso tem que ser planejado.

Jane estava agora com os olhos apreensivos e suplicantes focados na irmã. Queria que Lizzie contasse para ela o que a mãe havia falado, mas ela apenas a ignorou enquanto ouvia a mulher ao telefone.

— A gente cuida desses filhos, dá comida, manda para escola... Tudo do bom e do melhor para depois eles se mudarem e não quererem nem receber os pais por alguns dias.

— Você sabe muito bem que não é isso. Claro que vocês podem vir, mas temos que programar. Talvez nas próximas férias minhas ou da Jane...

— Sinto muito, Elizabeth Bennet, mas já compramos as passagens e elas não são reembolsáveis. Eu mando os dados do nosso voo por e-mail. Até quarta-feira. – E bateu o telefone com força.

Os olhos de Jane, que acompanhara as falas de Lizzie sentada na mesa da cozinha, fitaram a irmã com aflição.

— É o que eu estou pensando?

— É, os Bennet estão vindo aí. – Ela respondeu enquanto escorregava na cadeira em frente a Jane. – Acho que agora sou eu que preciso de um pouco de chá.

Elizabeth estava uma pilha de nervos e no dia seguinte, ela nem quis almoçar no refeitório para não encontrar ninguém conhecido. Ao invés disso, pegou na bolsa um pacote de biscoitos e uma barra de cereal e foi para o lado de fora do hospital. Ela estava sentada na mureta engolindo sua comida e pensando em tudo o que ainda precisava fazer antes da chegada dos Bennet. Eles já haviam estado lá outras duas vezes e sempre acabavam aprontando alguma.

Uma vez, quando sua mãe, que não falava uma palavra de inglês, tentou se comunicar com a funcionária de um mercado, ela jurou que se falasse em português bem devagar, a moça entenderia. Só que a técnica não deu certo e quando a atendente continuou com cara de interrogação, a impaciente sra. Bennet começou a ralhar com ela “Onde já se viu, colocar uma funcionária dessas para trabalhar em um local desses? Tem que ser esperta, minha filha!”. Mas o tom que fora usado não pareceu muito educado para a funcionária, que logo achou que a mulher estava xingando ela ou algo assim. Foi uma baita confusão, uma gritando em português, outra respondendo em inglês, até Elizabeth chegar e resolver a situação. Ela pediu mil desculpas para a atendente e tratou de não aparecer mais lá durante a estadia dos pais.

Na segunda visita, foi o sr. Bennet quem armou a confusão sem querer. Em um final de semana, Liz e Jane decidiram fazer uma pequena viagem até uma cidade litorânea com a família. Apesar de muito bem avisado de que os nativos ali não estavam acostumados com homens desfilando pelas praias só de sunga, o teimoso sr. Bennet resolveu tirar a bermuda. Foi uma confusão generalizada, enquanto algumas garotas que passeavam por perto apontavam e riam, um casal ficou furioso com os Bennet e mesmo com Liz suplicando para que o pai colocasse a bermuda porque todos estavam olhando feio, ele demorou para acreditar que era dele mesmo que todos estavam falando.

— Pensando na vida? – Uma voz conhecida tirou Liz de seus devaneios. – Posso?

— Claro. – Liz respondeu sem dar muita atenção ao sr. Darcy, que sentou ao seu lado na mureta. Mais uma vez, quando ela não estava a fim de ver ninguém, ele apareceu.

— Você parece preocupada.

— Família. – Ela tentou ser breve, realmente não estava a fim de papo. – Às vezes elas podem ser bem complicadas.

— Eu quem o diga. – Ele respondeu todo enigmático. – Algo a ver com Jane, ela está bem?

— Ah não, a Jane é um doce. – Ela sorriu. – Nem parece uma irmã, faz de tudo por mim, aliás, por todos.

Elizabeth não queria conversar sobre o que a afligia, por isso resolveu mudar o foco para ele.

— Mas você não me parece ser o tipo de cara que tem uma família problemática.

Ele sorriu e olhou para o alto, como se estivesse lembrando de algo.

— Não mesmo. Tenho uma irmã e uma tia. Família pequena, mas as vezes elas se superam.

Liz sentiu um aperto no coração. Não sabia a história dele, mas ele pareceu estar amargurado quando disse que eram apenas ele e as duas. Por um instante, ela fez menção de perguntar o que acontecera com seus pais, mas desistiu. Talvez fosse muita indelicadeza da sua parte e ela também não queria abrir-lhe alguma ferida para depois ter que consolá-lo.

— Você é o mais velho? – Perguntou curiosa.

— Sim, bem mais velho. Georgiana é quase dez anos mais nova que eu.

Por algum motivo, Lizzie sentiu que falar sobre a irmã o fazia sofrer. Algo em seus vibrantes olhos azuis a fez pensar que aquele assunto não era dos mais confortáveis para ele e talvez, se tivesse em outro dia, com outro humor, ela fizesse questão de cutucá-lo. Mas ela imaginou que o peso de ser responsável pela irmã não deveria ser fácil de carregar. Ele deveria ter o que? Uns trinta anos e talvez se sentisse muito novo para cuidar da tal Georgiana. Quem sabe a garota não tivesse se tornado mais uma daquelas jovens rebeldes e ele se sentisse culpado por não conseguir controla-la? Liz imaginou várias possibilidades e teve mais curiosidade ainda em saber o que havia acontecido com os pais dele, mas se conteve.

Os dois permaneceram calados por mais alguns minutos, até Darcy quebrar o silêncio e anunciar que precisava voltar. Liz despediu-se dele e acompanhou-o com o olhar até ele sumir na entrada do hospital. Sozinha com a sua curiosidade, ela terminou sua barra de cereal, pegou o bloquinho que trazia no bolso e começou a listar tudo o que ela precisava fazer antes da chegada de sua família. As próximas semanas seriam longas, mas a breve conversa com Darcy ajudou-a a perceber que era melhor tê-los ali bagunçando tudo do que nunca mais vê-los. Afinal, ela amava sua família mais que tudo e deveria estar feliz com a chegada deles.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!! A partir de agora vai ter muito confusão lol
Comentem para eu saber o que vocês estão achando e até quinta :)



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