Candles escrita por Nevaeh


Capítulo 1
In the darkness...


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Tem muito tempo que não escrevo gruvia... O fandom acabou me espantando, mas achei essa história enterrada nos meus arquivos e resolvi terminar ^^
Muito obrigado, Archie-sama, por me dar aquele último empurrão pra poder postar :3
Bem, boa leitura :3



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E, em meio aos livros e a uma vela já pela metade, a madrugada parecia infinita.

Sozinha na biblioteca real como lhe era costumeiro, Juvia procurava como remédio para a insônia uma história qualquer para entretê-la; após horas ali, entretanto, a princesa descobrira que nem o seu conto preferido parecia conseguir prendê-la. Tinha a mente repleta de divagações impróprias, assombrando-a em meio à penumbra, e letra nenhuma conseguia abafar os brados de seus medos. Seu sono a abandonara, e seu único refúgio encontrava-se muito além dos muros do castelo…

Mesmo que tentasse fugir, todos os pensamentos se voltavam a ele; então, rendida, abandonou os óculos sobre o livro aberto e deixou-se engolir pela poltrona macia. Medo, dor e saudade mesclavam-se nos olhos castanhos, o desespero corroía-lhe as entranhas com uma possibilidade tão louca quanto real…

Estava alucinando, não?

Quem dera. A cena permanecia em sua mente como uma pintura de terror, apenas para alertá-la de que aquele talvez fosse o mais perto que chegaria dele. Conservava, entretanto, um pouco da alegria que tivera ao vê-lo, com a sua habitual armadura prateada, guarnecendo o portão leste. Como em todas as vezes que o encontrava, mal conseguira segurar o sorriso, a saudade e a louca vontade de atirar-se aos braços do seu amado e roubar-lhe o melhor dos beijos. Mas, distante demais para qualquer destas coisas, observava-o conversar calmamente com os outros guardas, com os cabelos negros ao vento e o habitual sorriso de canto que tanto a encantava…

Até que a segunda filha de sor Lyon surgisse, com seu apertadíssimo espartilho e ar duvidoso, insinuando-se em olhos e corpo como se não houvesse mais ninguém a observá-los. Jogando os cabelos rosados de um lado para o outro, Meredy tentava envolvê-lo com uma conversa qualquer, a qual Juvia estava distante demais para ouvir. Escondida numa das muitas torres de vigia, limitou-se a observá-lo sorrir solicitamente, aparentemente inocente das segundas intenções da filha de seu superior, e despedir-se com um beijo no dorso da mão da nobre rapariga

Juvia praguejou mentalmente, comprimindo os próprios punhos apenas por rememorar aquela cena. Não conseguira espantar o desgosto daquele momento de modo algum; destruíra travesseiros, praticamente espancara seu instrutor de esgrima e lera mais livros do que se lembrava, e ainda pensava nas mais sórdidas possibilidades de livrar-se daquela rival no amor… Mas acariciou simplesmente os cabelos azulados, deixando que um suspiro se desprendesse dos lábios como um lamento. A momentânea lembrança da rapariga a irritara, mas Juvia já não tinha forças para qualquer demonstração. Estava cansada, de mãos atadas, e a dor era a única marca que ainda permanecia.

Porque se eu estivesse com ele… Enganava-se com a possibilidade de defendê-lo com os próprios punhos, o que era igualmente inútil. Era mais simples por a culpa em outra que perceber a raiz de todo aquele problema. A assombrosa distância crescia vertiginosamente, engolindo suas certezas, deixando-a solitária e impotente. Tinha uma coroa e o nome Lockser pesando nos ombros, mas de nada o seu poder lhe servia, senão para afastá-la do seu amado guerreiro. Era a princesa, afinal.

O correto seria abandonar todas aquelas tolas ilusões, contentar-se em vislumbrá-lo sorrir à distância… As poucas tentativas que fizera nenhum efeito surtiram; sentia-se morrendo lentamente a cada dia sem vê-lo. Conseguiria, entretanto, sair deste maldito mundo de sonhos e tê-lo verdadeiramente algum dia? A resposta, infelizmente, assustava-a.

E, como nunca, a solidão mostrou-se gritante. Envolvida por livros, por lindas palavras, profundas histórias vividas por pessoas inexistentes, Juvia nunca se sentira tão só. Observava a vela chorar suas brancas lágrimas e desvanecer-se lentamente, levando consigo sua luz e esperança. Ao contrário do que diziam os contos, não havia deleite algum em viver um romance proibido. Invejava as plebeias e suas chances de uma vida feliz e boba, sem reis, sem reinos, sem responsabilidades, só amor. Que sorte…

Antes que pudesse recomeçar o choro, a princesa ergueu-se. Juvia estapeou o próprio rosto, fazendo arderem as bochechas, e tomou em seguida sua abandonada xícara de café, sorvendo-o todo de uma vez. Estava a precipitar-se em inseguranças de garotinha, esquecendo-se de tudo o que vivera, das palavras que ganhara, dos inúmeros gestos de amor com que fora presenteada. Afogava-se em meio a café frio e lágrimas, e perdia-se no sentimento de que um dia, certamente, ele se esvairia por entre os dedos.

Este temor fez minar sua tentativa de recuperação e, desolada, Juvia voltou a sentar-se.

Porque tudo o que tinha a oferecer era a distância, suas lágrimas e o peso de um reino. Seu título era um pesado grilhão, e os muros do castelo, o seu limite.  Suspeitas de tal romance corriam em sussuros pelo reino, alimentando desprezo e desconfiança. Guardas secretamente vigiavam-na, surpreendendo-a nos momentos mais inoportunos, numa tentativa de provar que a princesa estava sendo ludibriada por um plebeu e ganhar algo do Rei por isto. A nobreza, nos bailes que o senhor seu pai tratou de apressar, tratava-a como uma meretriz qualquer, como se apenas a sua presença em meio às puras donzelas as contaminasse. Não via mais suas amigas ou irmãs, e todos afirmavam que ela buscou isto.

Juvia buscara apenas o calor dos braços do homem que amava, e não conseguia entender o que isto tinha de tão mau. Agindo conforme esperavam, entretanto, fingia não conhecê-lo quando se encontravam. Escondia-o dentro do guarda-roupa quando entravam em seu quarto sem permitir, trancava os portões e apagava as velas sempre que podia ter um momento a sós com ele. Na escuridão, ninguém os atrapalharia, ou os descobriria. Porque era a princesa, e entregar-se a um plebeu antes do casamento era simplesmente inaceitável; ter a herdeira do reino em uma fogueira era desonra demais para que seus pais pudessem suportar.

E, embora abominasse este tipo de história com todas as forças, Juvia sentia-se num conto de fada – presa, impotente, à espera do príncipe salvador. Gray, entretanto, era apenas um cavaleiro sem posses, dono de olhos profundos e uma determinação inabalável. Ele guerreava, certo do título que os aproximaria; Juvia, entretanto, temia que as coisas não fluíssem assim, tão facilmente.

Mesmo assim, irás amar-me?

Escondeu o rosto lívido com um livro ao ouvir o ranger da porta da biblioteca a abrir-se. Embora estivesse nada apresentável, ficou feliz ao perceber que era um amigo. Natsu surgiu com seu habitual sorriso e, como em todas as suas noites insones, questionou se ela necessitava de algo. Uma noite de sono, um novo livro, a presença dele e uma promessa qualquer para acalmar suas inseguranças. Precisava de muitas coisas, mas nenhuma delas seria possível no momento.

Seus olhos novamente encheram-se de lágrimas, mas resistiu à vontade de pedir que Natsu ficasse.  Alarmando-o, assustaria também Gray, e acrescentar preocupações ao seu amado era o que Juvia menos queria. Não gostaria de ser um peso mais do que já o era.

— Uma luz, por favor… – pediu, e a voz desprovida de emoção chamou a atenção do patrulheiro. Natsu aproximou-se por um momento, preocupado, tentando desviar-se das estantes para vê-la mais de perto. Mas Juvia esforçou-se para manter as aparências, sorrindo falsamente sonolenta, e mostrou-lhe a vela derretida. – A minha está apagando.

E Natsu sorriu-lhe, despedindo-se com a promessa de que logo voltaria com uma nova vela. E imediatamente ela suspirou, cansada e chorosa. O silêncio era o mais sábio a se fazer agora; não queria ouvir aquela esperança vazia de que tudo ficaria bem quando sequer era necessário esforço para perceber que aquela era uma missão suicida.

Porque princesas não se apaixonam, amor é coisa para plebeus.

Mas amava-o. Amava-o com forças que não possuía, com esperanças que não alimentava e com todos os toques que não tinha. Amava-o por palavras não ditas, sorrisos escondidos e vontades que nunca pensou ter.  Amava-o todas as vezes em que o via, perto ou longe. Amava-o ao ponto de arriscar coroa e cabeça para entregar-se de inteiramente a ele, uma vez mais. Amava-o por possibilidades quase impossíveis, como transpor os muros e acordar um dia ao lado dele, que preenchiam sua tediosa existência com tons mais vibrantes.

Amava-o, sem que fosse necessário qualquer outra coisa.

Era uma princesa e ele, um plebeu; algumas distâncias talvez nunca fossem rompidas. Talvez continuasse para sempre no escuro, sozinha, observando-o e amando-o em silêncio. Talvez

Não fez questão de virar-se ao notar que a porta se abrira; continuou letárgica, fingindo dormir sobre a mesa, ouvindo o barulho suave da cota de malha a aproximar-se. Sabia que não era Natsu, a leveza naqueles passos não lhe era comum, mas também não se preocupou em dirigir o olhar ao guarda. Esperou que a nova vela fosse acesa e ele se retirasse, mas o cheiro de vinho quente e a carícia simples nos cabelos azulados preencheram seus sentidos de calor e ternura.

— Aqui está sua luz, alteza…  – A vela foi posta, ainda apagada, à sua frente e o anúncio, num peculiar tom de solenidade, trouxe consigo a voz grave e calma do seu amado. Era ele. Gray exibiu-se rapidamente, numa pequena brincadeira, mas o trocadilho perdeu-se com a ausência de resposta dela. – Tarde demais?

Ela, embriagada demais para formular qualquer resposta, limitou-se a olhá-lo, sem importar-se com as lágrimas que inundavam seu rosto. Gray prontamente retirou o meio-elmo prateado, deixando os desgrenhados cabelos negros à mostra; o rosto, mais bronzeado do que recordava, ainda ostentava aquele misterioso sorriso de canto que tanto amava.

Era ele. As mãos de Gray tocaram seus braços e entrelaçaram-se sob seus seios, e todas as esperanças que tentava sufocar reacenderam com o calor daquele abraço. Juvia retorceu os lábios num sorriso torto, mas os olhos, repletos de lágrimas, ainda transpareciam a insegurança. E se aquele amor terminasse em fogueiras e cabeças rolando? Já haviam questionado isto um ao outro milhares de vezes; por isto, sabendo o que a princesa pensava, o cavaleiro aproximou-se de seu pescoço e, dando-lhe um pequeno beijo próximo à orelha, disse:

— Se nada der certo, fugimos.

Fugir? Juvia sorriu, incrédula. Gray ainda ofegava, exibindo um sorriso de quem sentia valer a pena todo o esforço; a malha de ferro, gelada e pesada, ocultava o suor da corrida à biblioteca, os lábios secos escondiam as horas tentando convencer seu companheiro de patrulha a inventar uma mentira qualquer para vê-la. Gray ainda ouvia a clássica repreensão de que a princesa Juvia era importante demais para ocupar-se com um mero plebeu sem nome, mas… A declaração, límpida e simples, fez com que os olhos dela brilhassem intensamente.

Uma opção óbvia, sem qualquer entrelinha, que se mostrara mais atraente que nunca. Sentia milhares de borboletas voando dentro de seu corpo e, mordendo os lábios, Juvia atreveu-se a mostrar um sorriso. Ser princesa, casar com um burguês qualquer e ser mais uma tola nobre não mais era possível; a ideia de uma vida imprevisível a amedrontava e a excitava. Levantou-se, limpando as lágrimas nas mangas da camisola, e fitou-o. Teria toda esta coragem? Seus braços envolveram-no pelo pescoço, seu corpo arrepiou-se ao encostar-se à fria armadura e ela riu.

— És louco... – disse, aproximando o rosto do dele até que seus narizes se chocassem.  E, mesmo que nada dissesse, a escolha estava feita, a risada se encerrou e a deixa foi aproveitada para um beijo.

Não sabia dizer quando enlouquecera, quando abandonara a capa de princesa submissa e permitira-se sentir o calor daquele homem. Suas mãos tateavam incomodamente a armadura, ansiando silenciosamente por mais contato, e seus olhos fitavam os dele com expectativa; queria apenas Gray, era pedir muito? Talvez fosse, mas era tarde para arrepender-se.

Não que tivesse qualquer remorso. Ser princesa, casar com um burguês qualquer e ser mais uma tola nobre nunca lhe fora o plano mais atraente; o sorriso daquele patrulheiro em particular, entretanto, arrancava-lhe o sono e a enchia de desejos e delírios. Seus dedos foram aos cabelos dele, e o beijo tornou-se mais intenso; e o que era saudade tornou-se desejo, febre, impaciência. Tinha medo de enfrentar uma escolha que fora feita na primeira vez em que roubara um beijo dele; fogueira ou fuga, era o seu destino. Porque planos perfeitos não existiam, a vida não funcinava como o enredo de um romance. Era impossível não machucar ninguém com suas escolhas. E Juvia escolhera ele.

Afastaram-se por um momento, a contragosto, e Gray começou a lentamente retirar a cota de malha. E imediatamente os olhos azuis percorreram o corpo masculino, observando cada detalhe como se fossem sua tentação particular. Não deixou que ele terminasse completamente de se despir; assim que o peitoral finalmente ficou exposto, sem malha ou roupas, unhas roçaram a barriga lisa com vontade, deixando rastros avermelhados na pele e fazendo-o suspirar baixo. Aquele homem era sua perdição, certamente, mas ela queria estar perdida.

Estava louca, mas nunca se sentira tão viva.

Beijou-o na nuca, descendo lentamente pelos ombros e pela curva da coluna, sentindo-o arrepiar-se levemente e fazer o intenso esforço para não se embaralhar no nó de sua calça. E, antes mesmo que ele se despisse por completo, voltaram aos beijos. Sua camisola se perdera em algum momento que não mais recordava, e logo caminharam aos tropeços até a mesa. Tinham muito a conversar; planos precisavam ser feitos, boas e más novas precisavam ser contadas, mas tudo seria deixado para depois.  A vela, em sua última chama, dançava, como se comemorasse; esqueceram-se momentaneamente de quem eram, arrancaram roupas, títulos, distâncias e qualquer coisa que os separasse.

Na escuridão, eram iguais.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Confesso que estou muito nervosa postando essa fic. Aconteceram muitas coisas na minha vida por causa da primeira versão dela (que era um presente de aniversário para o meu amor), porque ela estava muito confusa.
Bem, espero que esteja melhor de entender agora ^^
E espero que vocês tenham gostado também.
Passa lá nos comentários e me diz o que achou!
Beijo e até mais :*



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