Escola de Mutantes [HIATUS] escrita por Gabriel Az


Capítulo 1
00. Prólogo




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Correr já fazia parte da minha vida, não havia diferença entre as marcas de sapato que eram apagadas na areia quente do deserto em que eu andava. Correr e correr, a perseguição era algo cotidiano para mim desde que eu, um simples moleque de quinze anos, estive aparecendo nos jornais. Se você acha que ser mutante é uma coisa boa, me desculpe, mas eu tenho péssimas notícias para você.

Por ser um mutante, eu consegui uma habilidade muito diferente dos demais seres humanos, sou conhecido por controlar a matéria. Não acredito que eu seja um adolescente clichê, por mais que eu saiba que sou, porém, a consequência de tudo que acontecesse comigo me deixou assim, o que eu posso fazer? É, nada. Acho que sou um belo exemplo que responsabilidade depende da pessoa e não de sua idade, por exemplo, por estar aqui no deserto e ter certa de uma multidão me perseguindo eu poderia me virar e retirar todos os órgãos do seu corpo, mas além de eu não ter coragem suficiente, eu não posso fazer isso pelo simples fato que eu não sou um mutante completamente desenvolvido, minhas forças ainda são as mínimas, e como não tenho um incentivo, tenho que ficar vagando, mas também porque não devo ter uma mesa reservada na lista dos seres mais desenvolvidos do mundo.

— Deem mais um passo e vocês sofrerão a minha ira. — me virei e encarei a multidão, levantei meu dedo indicador e uma pequena chama apareceu, mais ou menos do tamanho de um batom, não iria conseguir fazer nada além disso, entretanto, o susto por verem um mutante já os amedrontavam, eu ganhava tempo para pelo menos fugir e não ter que brigar com centenas de senhores e senhoras.

Mesmo com eles correndo, eu ainda sabia que isso poderia acontecer de novo. Iria acontecer de novo se eu não saísse daqui logo, deveria fazer isso não somente pelos desinformados que acham que eu poderia fazer algum mal, mas também pelo motivo que eu já sofria da escassez de alimento e água há alguns dias, se acontecesse algum dos piores desastres que minha mente imagina, provavelmente a minha morte poderia ser pela desidratação. Vale ressaltar que até agora sobrevivi mais que um humano normal porque, como já disse, sou diferenciado e armazeno um pouco mais de água no corpo que o normal, pois sem isso eu já estaria morto. O que não é algo tão bom. O dia estava quase a se acabar, um belo pôr-do-sol surgia no horizonte quase que sem fim, apesar do lugar ser abrasador e muito inapropriado para fazer certas coisas, o sono me venceu, fiquei encarando a beleza do céu azul prestes a escurecer por completo, me lembrava minha mãe, ela também pintava, não era os melhores quadros do mundo, mas isso geralmente me acalmava. Se ela ainda estivesse vida eu poderia estar fugindo com ela agora, apesar d’eu não ter passado muito tempo com mamãe sei que não foi culpa dela, foi traída não por um pai extremamente negligente, mas também um filho da puta, droga, droga! Esses pensamentos de novo. Se o desgraçado do meu pai não a dedurasse tudo estaria em perfeitas condições.

É engraçado como é feita a divisão de raças, os ignorantes acham que nós — mutantes. Vamos fazer algum mal à eles. Lógico que há alguns desgraçados que podem fazer isso, mas são casos isolados. É mais fácil encontrar humanos assassinos do que encontrar pessoas com mutação que fazem a mesma coisa que esses idiotas fazem. Merda, por que não aceitam o fato de que somos iguais? Não posso deixar pensamentos ruins me abalarem, porém, isso é inaceitável, não aceito. Nunca aceitarei. Se a humanidade é burra a esse ponto, quem foi o culpado se não nós mesmos? Urgh, muitos questionamentos desnecessários.

Sei que nesse lugar sem ninguém posso não ter o melhor conforto do mundo e que é quase certeza que eu acorde com a coluna toda quebrada, quem liga? Os dias vão passar e acabarei na bosta que nem todos os outros que acharam que um dia poderiam escapar das mãos do terrível ditador. Nebulosa era a única pessoa diferente que era aceita no meio de tantos filhos bastardos. Com a religião tomando conta do planeta, tínhamos que ter uma espécie de Jesus para nos guiar, e tirando o fato de não ser mão furada, ele foi um dos desgraçados que implantou na cabeça das pessoas que ele era o primeiro e único “mutante puro”, algo que eu não sei explicar muito bem porque não ouço informações completas sobre ele — ou ela, já que também nunca foi revelado o seu sexo.

Felizmente, sucumbi a preguiça e acabei por fechar meus olhos, um novo dia iria se iniciar amanhã, mais coisas a se fazer e bastantes caminhos que não vão ser mapeados sozinhos. Me ajoelhei ali, no sujo mesmo, e bocejei um pouco, hoje foi um longo dia, já é meio clichê dizer isso, mas espero que amanhã seja um dia melhor do que esse, correria não é legal, mas amedrontar é, seria até mais interessante fazer isso mais vezes que o normal. Fechei os olhos e comecei a rezar, que nem ela me ensinou, mesmo que eu não soubesse se existe algo de verdade eu tenho que lembra-la e nunca esquecer que ela esteve comigo.

“Pai celestial, me faz repousar em mais perfeito conforto, peço sua bênção e prometo me comportar em dias futuros sob sua proteção. Não me deixe cair em emboscadas e enganações, que o senhor esteja comigo. Amém.” Deitei-me no chão e não dei importância ao vento que me deixava com frio ou a areia que iria sujar toda a parte de trás de minha camisa, apenas queria descansar e ficar ali prestando atenção nas estrelas que pareciam piscar num céu sem cor. Dormi.

Acordei em movimento, meu sono é leve, mas por algum motivo não acordei. Estou dentro de uma espécie de quarto, não sei ao certo, tem tecidos por todos os cantos e... Cordas? Há cordas me envolvendo enquanto estou deitado no chão, amarrado. Meu raciocínio é dilacerado pela confusão mental que me afeta, o que é isso? Por que estou aqui? Ainda é noite e não consigo focar meus pensamentos nas coisas que acontecem ao meu redor. Ouço conversas estranhas, haviam duas pessoas ali, não sei sobre o que elas falam, mas consigo escutar suas vozes. Decido ficar parado, uou, tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Tudo bem, tenho que sair daqui — mesmo a situação sendo a mais importuna possível, é até fácil, porém, tenho que ser ágil, senão tudo isso será em vão.

Ótimo, ótimo! A charrete — ou seja lá o que for. Estava parando, era minha chance, abri o tecido que me separava de socar o cara que movia a máquina, ele estava de costas para mim, era minha chance de ataca-lo. Uma espécie de madeira separava os dois lados daquilo, consegui chegar próximo do banco do condutor, mas para minha surpresa, lá não havia nada além de um bilhete. Desta vez o veículo começou a ir em uma velocidade absurda, tive que me segurar em algo para não cair, contudo, não deu muito certo. Meu coração disparava de adrenalina, ainda mais quando vi que a única direção que estávamos tinha um riacho enorme, o que era absurdo, porque há tempos eu estava no deserto e nunca tinha visto isso!

Infelizmente, deixei o bilhete cair, mas já nem me importava com isso, eu queria sair dali e lutar por minha sobrevivência, meus poderes não faziam diferença agora. Quero ficar vivo, quero ter uma história para conta, eu quero minha mãe, agora!

De relance, consegui ler o que estava escrito enquanto a água tomava conta de todo o meu corpo e a respiração ficava cada vez mais difícil. Em letras cursivas se entendia a seguinte frase:

“Eu sou a Poeira Cósmica que forma uma multidão, uma constante formação estrelar que cria rebelião. Quem eu sou? Você sabe quem.”

Droga.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado do primeiro capítulo, deem seus reviews e sugestões!



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