8 de agosto

A porta abriu. Minha primeira visão foi Elizabeth sentada no sofá sorrindo ao ler uma carta. Então ela levantou os olhos, espantou-se e corou. “Sr. Darcy?” ela disse. “A que devo a honra de sua visita?” Sua pergunta não me pegou desprevenido, pois havia pensado num motivo mais plausível do que querer vê-la. Não poderia dizer que pretendo conquistá-la.

“Vim agradecer a sua visita a minha irmã no dia de ontem.” Ela então fez um gesto para que eu me sentasse ao seu lado e assim o fiz. “Georgiana não tem experiência como anfitriã e é muito tímida perto de visitas, principalmente alguém que acabara de conhecer.”

“Ela é adorável.” Elizabeth sorriu. ”Acredito que quando crescer será uma dama incrível”.

“Ela ficou muito feliz com a visita que recebeu ontem. El a não esperava tanta cordialidade. E com a felicidade dela, eu também fico satisfeito.”

“Certamente o senhor é um irmão muito cuidadoso e estimado.”

Apesar da conversa estar fluindo, ela não parava seus olhos em mim. Será que minha presença a incomodava? Percebi que tinha permanecido em silêncio e busquei em minha mente algum assunto para falar. Perguntei pelos seus tios e fui informado que eles foram visitar a igreja local e que ela ficara para ler as cartas de sua irmã. “Como está a saúde de sua irmã?” Aproveitei para perguntar, mas logo me arrependi. Talvez ela possa ter uma má interpretação de minhas palavras. Percebo agora como é difícil manter uma conversa com Elizabeth Bennet. Na verdade, nunca tivemos uma conversa inteiramente civilizada. Contudo, ela foi cordial em sua resposta. Senti uma onda de alivio por sua educação e abaixei os olhos, sentindo-me derrotado pelo peso de meus erros com ela.

“Sr. Darcy,” ela disse com um tom mais altivo. ”Os meus tios devem demorar quase uma hora inteira para voltar. Creio que é inapropriado uma dama permanecer sozinha com um senhor por muito tempo em uma sala fechada, longe de seus familiares ou conhecidos.” Ela pausou e eu já estava com meus ânimos afundados. Como eu pude ser tão egoísta ao pensar que ela perdoara-me, após tantas injurias que eu proferi contra ela e sua família? Contudo, ela continuou sua prosa:

“Por isso, se não for incomodo ao senhor, o convido para acompanhar-me em uma curta caminhada pela cidade.” Levantei meus olhos tão rapidamente quando o meu sorriso se formou em meus lábios. Ela desviou seus olhos dos meus. “Como ficaremos apenas alguns dias antes da nossa volta para casa, gostaria de comprar alguma lembrança para minha mãe.”

Aceitei o convite com poucas palavras e ela deixou-me para trocar de roupa. Enquanto permaneci só, tentei ponderar sobre o que aquele convide significava. Seria possível que ela esteja tentando me dar esperanças? Não posso me precipitar novamente. Talvez ela queira apenas ser civilizada comigo. Provavelmente quer mostrar que não existe mais nenhum rancor entre nós. Porém, mesmo que seja apenas esse sentimento que ela tem, minhas esperanças crescem, pois assim, possa ter um caminho mais aberto para conquista-la.

Enquanto caminhávamos, conversamos novamente sobre a região, desta vez com alguns detalhes da minha infância. Ela sorria ao ouvir minhas travessuras e meu peito se encheu de uma felicidade que eu nunca havia sentido. Entramos em algumas lojas, olhando adereços femininos dos mais variados. Por fim, ela escolheu um leque delicado de cor carmesim. Quando saímos da loja, avistamos o Sr. E Sra. Gardiner e decidi que estava a bastante tempo longe de meus afazeres. Despedindo-me de Elizabeth e seus tios, voltei para Pemberley.

“Você esteve fora cedo,” disse Caroline quando eu entrei no salão. “Você esteve visitando Miss Eliza Bennet, talvez?”

 Percebi o ciúme em sua voz e em sua expressão. Percebi, naquele momento que ela realmente almejava ser a futura sra. Darcy. Ou melhor, ser a dona de Pemberley. Acredito que se eu não tivesse posses, minha caligrafia poderia ser a mais uniforme do mundo e ela não teria achado adequado comentar sobre isso.

“Sim, estive.” Eu respondi.

“E como ela está essa manhã?”

“Ela está muito bem.”

“E nós iremos vê-la mais tarde, eu suponho? Como essas pessoas do campo nos aborrecem com suas visitas.”

“Não compartilho de sua opinião, Miss Bingley,” eu disse, tentando manter minha expressão neutra. “Eu não costumo convidar pessoas que me aborrecem, e espero continuar recebendo apenas convidados que aprecio em minha residência.”

Ela baixou os olhos e não respondeu. Encaminhei para a sala de música, onde esperava encontrar minha irmã e assim ocorreu. Observei-a tocar com tranquilidade e prazer. Quando ela terminou e levantou os olhos, assustou-se comigo.

“Está há muito tempo ouvindo-me, irmão?” ela perguntou, encabulada. “Não fique envergonhada Georgiana, está a tocar muitíssimo bem.” Caminhei até onde esta estava e a mesma levantou. “Estive com Miss Bennet hoje de manhã” deixei escapar.

“Espero que ela esteve bem de saúde,” ela afirmou, um pouco alarmada. “Ela ainda virá jantar conosco hoje?”

“Sim, ela está muito bem de saúde e virá, junto com seus tios, jantar conosco mais tarde.” Tranquilizei-a.

“Estou um pouco nervosa.” Georgiana confessou. “É a primeira vez que serei anfitriã de um jantar para recém-conhecidos.”

“Não se preocupe, minha cara. Miss Eliza falou de você em termos muito elogiosos. Creio que ela se tornará uma boa amiga para você, se assim você desejar.”

Deixei minha irmã e fui tratar com meu administrador. Os assuntos da propriedade tomaram todo o meu dia e quando percebi que estava ficando tarde, voltei para casa para aprontar-me.