Eu estava com um ódio tão grande que não cabia dentro de mim. É ruim estar a um fio de matar a pessoa que ama?
Desvio meu olhar para o lado e dou de cara com Valka nos encarando com um semblante apavorado. ''Meu deus! O que eu to fazendo?'' Ainda segurava o machado no pescoço de Soluço. Quando me virei novamente ele já havia pegado a espada e agora segurava sobre o meu peito.
— Você jamais teria coragem, é fraco! - falei, com um sorriso vitorioso.
— Quer apostar, Hofferson. - ele respondeu, pressionando a espada um pouco mais forte.
Ódio, era o único sentimento que eu sentia no momento.
— PAREM COM ISSO. VOCÊS NÃO SÃO MAIS DUAS CRIANÇAS IMATURAS! SOLUÇO, POR FAVOR, SEJA SENSATO, VOCÊ É O CHEFE DE BERK E TEM MAIS O QUE FAZER! ASTRID, SINCERAMENTE EU ESPERAVA MAIS DE VOCÊ. - Valka já estava gritando, balançando as mãos de um lado para o outro, em reprovação.
— EU TE MATO, SOLUÇO! FILHO DE TROL! MONTE DE BOSTA! - gritei, ignorando-a totalmente.
— PULA-NUVEM! - a mãe de Soluço chamou por seu dragão e ele imediatamente levantou-se de sua zona de conforto, vindo até ela desfilando. Um verdadeiro espetáculo.
O gigante parou de frente para sua mestra e abaixou a cabeça, como reverência. E enquanto isso eu e Soluço nos segurávamos para não matar um ao outro. Devo admitir, eu não estava tão mal, SOU uma Hofferson... Já o garotão ali, claramente estava com ódio puro em seus olhos.
— O que foi Soluço? - sorri novamente. - Está com uma aparência terrível, quer um lencinho?
— Pula-Nuvem, resolva isso. - Valka ordenou.
Fiquei sem entender, até ver o dragão aproximar-se de mim e me levantar no ar. Escutei uma pequena risada vindo de Soluço, enquanto os demais apenas nos encaravam com o semblante sério.
— TEMPESTADE! - grito, e ela rapidamente se faz presente. - TIRO DE ESPINHOS!
A cauda de Pula-Nuvem, que estava levantada no ar, foi acertada por uma névoa de espinhos, fazendo-o grunhir de dor. Bati com o cabo do meu machado em sua superfície nasal e ele imediatamente me soltou. Cai por cima de Tempestade, parando diretamente em cima da sela. Voamos até as portas e paramos ali, para fazer meu último pronunciamento:
— Coitado! É tão infantil que o dragão da mamãe precisa salvá-lo. - largo o sorriso mais sarcástico que havia dentro de mim e parto para longe.
Valka me olhou surpresa, mas murmurei um ''desculpa'', que acho que ela entendeu, pois sorriu de canto e assentiu.
— Sabe Tempestade, preciso da Heather aqui comigo. O que acha de irmos fazer uma visita à ela? - falo em um semblante pensativo. Ela grunhe, assentindo.
Foi muito estranho... Assim que chegamos na ilha, encontramos Heather (sozinha), na queda d'água, conversando com o nada. Não deu para entender muito bem, pois saiu algo como um murmurio rápido, mas pelo susto que levou quando me viu... fiquei meio intrigada... porém, quem sou eu pra me meter, não é mesmo? Heather não é daquelas que preferem sair por aí falando da sua vida pessoal.
— Trocou Berk por isso? - perguntei e ri.
— É melhor do que parece, acredite. - ela respondeu, ainda sem me encarar. - Além disso, sabe que gosto de ficar sozinha, ajuda a pensar e refletir.
— É, gostei disso. Enfim, preciso de conselhos. - admiti, recebendo um olhar desconfiado. - Não se acostume, Heather.
— Agora sim. - ela sorriu. - Então, suponho que esses ''conselhos'', sejam para algo relacionado ao Soluço, não?
— Claro que... sim.
— Sabe Astrid, com essa confusão toda eu fiquei pensando em algumas coisas sobre vocês dois, me pareceu que ambos não estão felizes com a decisão que tomaram. Se vocês dois sabem que nada disso que estão passando vale a pena, e que também se amam, porque tanta confusão? Me responda. Por que estão fazendo isso com todos? Não acham que Berk já passou por coisa suficiente? - Heather disparou, andando de um lado para o outro.
— É, acho. Mas não depende só de mim, o Soluço sabe muito bem as decisões que ele vem tomando de um tempo para cá... E sinceramente você sabe tanto quanto eu que o Soluço não é uma pessoa que costuma tomar boas atitudes de cabeça quente.
— Você me entendeu, Astrid. - ela voltou a olhar para frente, virando-se de costas para mim.
Ficamos alguns minutos em silêncio. Até eu me lembrar que já ia escurecer, e que precisava voltar para Berk.
— Vai voltar pra vila comigo? É muito solitário lá, sabe... sem uma amiga.
Ela olhou para mim sobre os ombros e deu um sorriso.
— Claro, desde que me prometa largar de ser tão teimosa.

SOLUÇO ~

Astrid é muito boa em pensar que eu simplesmente não teria coragem para expulsá-la de Berk. Até porque eu não teria mesmo. Nossas brigas já passaram dos limites, eu não sei o quê me deu naquela hora, achei que matá-la seria o certo a se fazer. Como sou novo nessas coisas de ''líder'', acho que é proibido por lei dos vikings desrespeitar o chefe da sua aldeia.
— Banguela! - chamei-o. - Dormiu bem? - perguntei, acariciando suas orelhas.
Ele disparou um plasma para o ar, mostrando que estava melhor do que nunca.
— Soluço? - ouço uma voz me chamar, era minha mãe.
— Sim?
— Astrid acabou de voltar, e trouxe Heather com ela novamente.
— Ah, certo.
Depois que ela foi embora, dei uma passada na ferraria para pegar minha nova espada. E logo em seguida parti até a floresta, já que a época de incendio está chegando, preciso providenciar as coisas para que ocorra tudo bem na passagem do inverno para o verão (que é quando acontece os incendios que denominamos ''épocas de incendio'').