Five Nights At Decennary escrita por FireboltVioleta


Capítulo 7
Torpores e Tremores




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27 DE ABRIL DE 2008

A manhã substituiu a escuridão com uma rapidez surpreendente.

Pelo menos, para aqueles privilegiados que se encontravam fora do pequeno cárcere do trio de Comensais da Morte,

A noite havia sido longa. Torturadamente longa.

Dennis ainda estava encolhido, os olhos injetados de sono e tensão, sem ter conseguido ao menos tirar um cochilo.

Thorfinn, pelo contrário, ainda estava adormecido, parecendo nem ter se incomodado com o coral de vozes diabólicas e arrepiantes da noite anterior.

Vocês os mataram.

Pais. Mães. Filhos. Todos perdidos.

Podiam ser sua família.

Vocês não sentem remorso. Vocês não sentem nada.

Vão ter que pagar. Agora ou no futuro, vocês terão que pagar.

Miguel Untoward já se encontrava desperto, erguendo o olhar para a fresta de luz que emergiu da porta selada atrás de si. A luminosidade fraca do lado de fora banhou o pequeno cômodo, iluminando-o o bastante para que distinguissem paredes puídas e desgastadas ao seu redor. Ambas as esferas luminosas agora encontravam-se apagadas.

— Eles ainda não voltaram – resmungou – não é possível que não tenham encontrado a saída ainda.

Minutos antes, o jovem Comensal havia tentado abrir a porta, sem sucesso. Como desconfiara, desde a aparição do odioso patrono de sua captora, ela não deixaria que se aventurassem à luz do dia, á procura de um meio de fuga.

Ela queria vê-los desesperados. Escapar dali, durante a claridade, provavelmente não teria nenhuma graça em seu pequeno show psicológico.

E ainda tivera a audácia de pensar que aqueles sussurros malditos teriam algum efeito sobre eles. Quanta ingenuidade a dela.

Não havia nada do qual não seria capaz, para dar sequência ao legado que seu mestre tentara conquistar. Honraria a memória de Voldemort, não importava qual fosse o preço. Nunca se deixaria subjugar por patéticas tentativas de punição daquela auror desprezível.

— Acha que… - Dennis murmurou – ...que ela está falando sério? Se ficarmos aqui, podemos… sobreviver?

Miguel revirou os olhos.

— Use a cabeça, menino. Mesmo se não estivesse mentindo… acha mesmo que, no fim de tudo, eles não vão nos matar? Que vão simplesmente nos dar tapinhas nas costas por aceitarmos um julgamento? - fitou o rapaz com desagrado – eles mataram dezenas de nós.

— Mas… - o garoto titubeou – também matamos muitos deles no passado… eu.. eu acho que… devíamos ficar.

Custou-lhe dizer isso. Permanecer naquela sala por mais quatro noites, como a auror havia lhes ordenado, significaria ficar mais tempo ouvindo aquelas vozes perturbadoras, rememorando coisas que – ao menos agora, parando para refletir – ele jamais queria ter feito.

Dúvidas começavam a aflorar na mente de Dennis.

E se estivesse fazendo tudo errado? E se o que crescera ouvindo falar, se tudo que havia aprendido… fosse um completo equívoco?

Untoward não compartilhou de sua reflexão.

— Criança ingênua – ralhou – eles vão acabar conosco se ficarmos. De noite, essa porta estará aberta… e nós três sairemos. Vamos encontrar os patetas do Selwyn e Travers, e deixaremos dessa pocilga. Não há nada lá fora, rapaz. E vou provar para você.

No entanto, sobressaltando ambos, um som alto e calafriante ecoou do lado de fora da porta de saída, como algo afiado deslizando sobre uma superfície plana. O barulho de algo sendo socado contra a parede se seguiu, acompanhado de algo ainda mais surpreendente.

Baixa – mas não inaudível.

Uma risada grave, feminina - e inumana.

— O que foi isso? - ofegou o jovem Rowle, enrijecendo.

Untoward estreitou os olhos, levemente perplexo e assustado, porém não deixando isso transparecer em sua expressão.

— Não faço ideia – soltou um muxoxo – é outra coisa que descobriremos hoje a noite.

Dennis não estava gostando daquilo. Tudo parecia gritar para que ele e os demais permanecessem na pequena sala.

Mas se Miguel estava tão certo de que não havia perigo, por que não confiaria nele? Era mais velho e mais experiente. Sabia do que estava falando.

Tinha que saber do que estava falando…

O dia se arrastou, tal como a noite o fizera. Mesmo depois de Thorfinn acordar, os três se mantiveram a maior parte do tempo em silêncio, encarando entediadamente o teto do cômodo.

No meio da tarde, Dennis repartira algumas das barras entre o tio e Untoward, que aceitaram a contragosto, finalmente sentindo a fome apertar em seus estômagos. De consistência dura e pouco volume, mal saciou a vontade de qualquer um dos três.

Sem o relógio de Dennis – levado por Travers na noite anterior - só podiam averiguar a passagem do tempo pela luz minguante da fresta da porta, cuja luminosidade, algumas horas depois, começou a diminuir gradativamente – até, muito tempo depois, desaparecer por completo, sendo substituída pelas esferas, que voltaram a se reacender.

Thorfinn trocou olhares com Untoward.

— Acha que já está…?

Observaram Dennis se erguer, andando cautelosamente na direção da porta.

Hesitante, segurou a maçaneta da porta, verificando se podia abri-la. Girou-a levemente, confirmando que estava destrancada novamente.

Outra badalada sinistra soou do lado de fora. Dennis recuou, ainda segurando a maçaneta.

Uma voz masculina, indiscutivelmente mecânica

— Bem-vindos à segunda noite – acrescentou, num tom ameaçador – Não dê nem mais um passo. Não abra a porta.

Rápida como surgira, a voz morreu ao longo do corredor do outro lado, junto com o som do sino.

Miguel pareceu perder a paciência, avançando e colocando-se em frente a Dennis, segurando ele mesmo a maçaneta da porta.

— Chega disso – encarou Thorfinn, que cruzou os braços – vamos embora daqui.

Num movimento rápido, Untoward abriu a porta de saída.

Houve um arquejo coletivo de horror.

Dennis guinchou alto, levando as mãos à boca.

Dependurado por uma corda amarrada à parede, os olhos arrancados vertendo uma mistura de sangue e carne, com um sorriso macabro, cortado contra a pele do rosto, o cadáver de Don Selwyn os recebeu adiante, como uma recepção mórbida do que estava por vir.


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