Five Nights At Decennary escrita por FireboltVioleta


Capítulo 4
Armadilha




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LONDRES, NOITE DE 26 DE ABRIL DE 2008

 

— Esses aurores sabem como escolher um lugar para uma reunião, hein? - resmungou Travers, enfiando as mãos no bolso do paletó.

Os cinco Comensais resfolegaram com o ar frio, encarando uma grande construção, com características antigas, que tomava quase todo o quarteirão da rua em que estavam.

— Tem certeza que é este o lugar certo, Rowle? Não me aprece o tipo de lugar onde os aurores se encontrariam- indagou Miguel, franzindo a testa grossa do trouxa cuja identidade tomara com a Poção Polissuco.

— Absoluta… exceto, claro, se nosso informante se equivocou – ergueu a sobrancelha para Dennis, que se encolheu.

— Tenho certeza, tio. Foi isso que ele me disse, enquanto estava amaldiçoado – afirmou categoricamente.

Todos espreitaram a entrada do edifício – uma porta simples de madeira, lateralmente posicionada –, olhando para os cantos, certificando-se de que não estavam sendo observados. Para sua sorte, os aurores evidentemente haviam escolhido um excelente lugar, quieto e discreto, que não levantava suspeita alguma.

— Tudo quieto. Excelente – Selwyn sorriu – andem. Vamos entrar logo. Esse frio está em matando – cutucou Travers – trouxe a Poção do Sono?

— Claro – o bruxo sacudiu a bolsa que continha a fórmula condensada da poção – eu pessoalmente me divertiria mais em matá-los logo de cara. Mas é bom deixar todos incapacitados, antes de qualquer coisa. Quando essas belezinhas detonarem…

Untoward bufou.

— Vamos logo com isso.

Em silêncio, os Comensais da Morte se aproximaram da porta. Dennis, adiantando-se, meneou a varinha para destrancá-la, mas a encontrou surpreendentemente aberta.

— Aberto – murmurou, franzindo o rosto em confusão.

— Devem ter esquecido - Thorfinn piscou, igualmente surpreso, mas sem se demorar a analisar o fato – ande, Dennis.

Ocultos pela Poção Polissuco, qualquer ser vivo que os encarasse veria apenas cinco pessoas trouxas, aparentemente perdidas dentro de um prédio desconhecido.

No entanto, aparentemente, não havia nada vivo que pudesse espreitar os invasores.

— Diabos, como está escuro… Lumos!— sussurrou Travers, acendendo a luz na ponta de sua varinha.

O feixe luminoso revelou o que havia ao redor para os presentes.

Em meio ao breu, puderam distinguir uma pequena sala, de pouco mais de cinco metros de comprimento, desbastada de qualquer mobília - exceto uma caixa de madeira ao canto, estranhamente postada ao lado de um tipo de urinol de ferro. Adiante, uma porta de mogno, toscamente entalhada, de maçaneta de aço, era a única coisa que parecia fazer algum sentido em todo o conjunto visual.

Um som rascante, vindo detrás dos Comensais, sobressaltou a todos, que giraram sobre os calcanhares, apontando varinhas na direção por onde haviam acabado de entrar.

A entrada havia desaparecido. Em seu lugar, uma parede sólida, como se jamais houvesse existido uma porta ali.

— Como? - guinchou Travers, perplexo – impossível!

— O que está havendo? - rosnou Miguel – Lumos!

O ambiente ficou ainda mais iluminado. Nada mudou. Repentinamente, para choque geral, a luz da varinha de Don apagou-se, mergulhando-os novamente na escuridão.

No lugar dela, duas pequenas esferas de luz surgiram no teto, girando lentamente seus feixes em direção ao chão, ampliando-os ao longo do cômodo Ainda escuro o bastante para fazer qualquer retina se apertar, mas claro o bastante para vislumbrar os estranhos objetos e a porta de madeira.

Um novo ponto de luz surgiu diante da única porta que havia restado, aterrissando suavemente contra o chão empoeirado, e tomando uma forma familiar de um animal.

Os meneios das varinhas não surtiram efeito sobre o patrono, que simplesmente se aproximou algumas pegadas, observando os cinco bruxos com os olhos incorpóreos, exalando intimidação.

O focinho do patrono se abriu, formando palavras que não lhe pertenciam, ecoando uma voz ainda mais arredia que a própria posição da lontra.

Tolos.

Houve uma retração em reação à voz do patrono.

Após dez anos ouvindo-a em noticiários e anúncios, até mesmo Dennis pôde reconhecê-la.

O rosto de Thorfinn Rowle se contraiu num esgar de ódio.

— VOCÊ! - berrou, novamente tentando conjurar algum feitiço, sem sucesso.

A lontra balançou a cabeça com desdém, sentando-se elegantemente no piso.

Desista. Toda a construção está coberta por uma magia antifeitiços. Não há como escapar daqui.

Havia um quê de deboche em seu tom, como quem se divertia com as tolices de uma criança.

— O-onde estão os aurores? - gaguejou Dennis, atônito.

Os aurores? O patrono envergou a pequena cabeça, retraindo o focinho e expondo os dentes afiados. Não estão aqui. Nunca estiveram… a reunião não passou de uma isca para trazê-los até este lugar. A lontra subiu na caixa de madeira, pateando sua tampa. Convenhamos… dez anos tentando alcançá-los de qualquer modo… e tudo que precisei, para ter cada um aqui, á minha disposição, foi enviar um colega de trabalho, com uma pista falsa, até o último lugar onde disseram terem visto atividades suspeitas... numa pequena floresta do interior. Vocês extrairiam a informação sobre a falsa reunião… e viriam correndo tentar mudar o rumo de suas vidinhas patéticas. O plano perfeito... e saiu melhor do que eu esperava.

Thorfinn urrou de raiva, fuzilando a pequena lontra com o olhar.

— Por que não ficaram aqui para nos capturar, então? - Miguel disse.

Houve um mínimo tique de cinismo no sorriso anormal do patrono.

Ora, por favor. Pensem comigo. Trazer cada um dos Comensais mais cruéis ainda foragidos para uma armadilha… e simplesmente capturá-los e levá-los á justiça? Confesso que pensei nisso… mas ia ser tão… qual é a palavra certa…? Ah, sim. Tão… fácil.Tedioso, até. Ela se aproximou, ainda ladeando a porta. Não. Vocês cometeram crimes hediondos. Fizeram todo tipo de mal por anos. Eu nunca ficaria satisfeita apenas vendo assassinos, estupradores… bruxos da pior raça… simplesmente serem presos pacificamente. Não.

A lontra rosnou violentamente.

Eu precisava ver vocês SOFREREM. Precisava que fossem atormentados pelos pecados que cometeram. A lontra se virou um momento de costas, numa posição calculista, tamborilando as pequenas garras no chão. E é isso que acontecerá, enquanto estiverem dentro desta sala.

— Bem, e o que nos impede de abrir essa porta e fugir? – Selwyn tentou soar sarcástico, mas sua voz estava distorcida pela hesitação.

O patrono voltou a cabeça para os encurralados, e uma risada – talvez agradável, se não estivesse banhada pela ironia – escapou da boca da lontra.

O que os impede? Ronronou. Nada... apenas... a punição que, a meu ver, vocês realmente merecem. Disse. Essa porta é o único caminho para o resto desse complexo. Mas lá fora... vocês não encontrarão a saída... exceto se esperarem... e aceitarem suportar o que essa sala lhes trará. Há suprimentos naquela caixa, suficientes para cinco dias. Aqueles que estiverem aqui, no fim desse período... esses... vão poder se dar ao luxo de serem julgados.

E se sairmos, o que vamos encontrar...? – ofegou Dennis.

A lontra deu meia volta, postando-se ereta diante da porta. Havia um brilho duro no olhar do patrono.

A morte. Respondeu tenebrosamente. Apenas a morte. O castigo que realmente mereceriam. Mas eu não seria uma completa sádica, afinal. A escolha é de vocês.

— Escolha? – Miguel exclamou – esperávamos mais de alguém que se diz ser tão justa e misericordiosa! Se realmente tem tanto senso de justiça, por que simplesmente não nos deixa a escolha de fugir?

A lontra ergueu as orelhas, e um rosnado bestial ecoou de sua garganta. Encolerizada, tremendo de fúria, pôs-se de pé, parecendo, mais do que nunca, o fantasma de uma alma sedenta por vingança.

Por que não podem... vocês não podem fugir do que fizeram.

A mandíbula da lontra se esgarçou de modo pavoroso.

Vocês venderam suas almas...

As duas luzes do teto piscaram grotescamente.

E está na hora de pagar.

Houve um clarão, as luzes se apagaram, e o patrono desapareceu.

 

 


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