A Teoria das Maçãs escrita por Sohma


Capítulo 1
Capítulo Único




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Olá, tudo bem?

Eu não sei exatamente o que estou fazendo aqui, perdi mais uma noite em claro pensando nas milhares de coisas que eu adoraria escrever pra você. É que... Sei lá, faz tanto tempo que eu te vejo, que eu não falo com você. Isso mesmo, não falo com você. Mas eu te escrevo sempre, mesmo tendo a total certeza de que nenhuma das minhas cartas serão respondidas.

Mas eu sei que, de alguma forma, você ainda se importa comigo. Aliás, recebi seu presente essa semana, e mais uma vez você acertou.

Você já ouviu falar na teoria das maçãs? Ah, por favor, não procure nada na internet, ela não existe de fato. Eu criei essa teoria dentro da minha cabeça, onde eu invento ora ou outra diversas teorias das quais você — com toda a certeza — riria da minha cara. Me chamando de estupido, bobo e soltando seu famigerado “você não bate da cabeça, não é?“.

E eu sinto falta de você.

Tanta coisa que eu queria ter te falado, tanta coisa que eu deveria ter feito.

Desculpa.

Sei que é cansativo ler em todas as minhas cartas as apologias repetitivas que eu faço. Mas é a verdade. Sinto sua falta.

Passei essa noite em claro conversando com eles, contado todos os detalhes de nós, da nossa antiga vida, de tudo o que eu e você vivemos antes do destino nos separar. E justamente por conversar com eles que resolvi escrever novamente, porque fazia (Quanto tempo mesmo? Uma semana? Duas? Não me lembro agora) tempo que eu não falava de você pra ninguém.

E eles riem de mim.

Olha, queria saber se você algum dia vai me responder. Não precisa ser por carta. Pode telefonar. Pode me visitar. A porta está fechada, mas a chave está no mesmo lugar de sempre. Acontece que eu tenho medo de mudá-la de local e você não conseguir entrar. Medo de você ver a porta fechada, as janelas trancadas e desistir de me ver.

Já amanheceu. Faz umas três horas que estou sentado na escrivaninha, tentando (isso mesmo, tentando) escrever algo sem parecer desesperado demais ou carente demais. Mas acho que é impossível.

Sinto sua falta.

Ah, acho que divaguei de novo. Desculpe.

Lembra daquela macieira que plantamos? Ela está dando frutos agora. E como sempre, você acerta nos presentes.

Ah, verdade...

Você já ouviu falar na teoria das maçãs? (Acho que já perguntei isso) Eu criei essa teoria pensando justamente em você. Porque ora ou outra você sempre deixa uma maçã aqui no meu quarto, e o engraçado é que ela está sempre mordida. Uma única dentada. Pequena. Suave. É sua boca. Reconheceria sua dentada de longe.

Mas nesses dias apareceu uma maçã verde aqui.

Foi de manhã. Eu havia acabado de acordar, tinha passado mais uma noite falando com eles, e eles me falaram que a porta não foi aberta, que a chave permanece no mesmo lugar, que ninguém entrou dentro daquele cômodo, onde apenas eu permaneço.

E eu sei que eles mentem.

Você veio. Mas porque vem apenas quando estou dormindo?

Me acorde.

Me abrace.

Me beije.

Eu sinto sua falta.

Dei uma volta no jardim essa semana. Eles não queriam que eu andasse sozinho. Mas eu fui. Estava chovendo, e muito. O cheiro da terra molhada até agora entope minhas narinas, até agora sinto a umidade do ar em meu rosto. Frio. Completamente diferente da sua respiração.

Eles brigaram comigo.

Falaram que eu não podia ter saído sozinho.

Hoje mordi uma daquelas maçãs que você me trouxe. Suculenta. Doce. Você sempre acerta nos presentes.

Queria te ver.

Tem tanta coisa que eu preciso te contar. Coisas limpas, boas, doces. Completamente diferente do desespero e da carência que minhas cartas são regidas.

Você ainda me ama?

Desculpa, não quis parecer ser carente.

Hoje eles reclamaram comigo. Eles disseram que eu precisava jogar fora algumas daquelas maçãs, que você me mandou, no lixo. Estavam podres. Escuras. Juntando bichos.

E eu não queria.

Mas eles fizeram.

Já ouviu falar na teoria das maçãs?

Aquela maçã verde continua aqui. Limpa. Bonita. Guardada.

Eis a teoria das maçãs.

As vermelhas apodrecem. Se decompõe. Morrem. Mas as verdes continuam vivas. São azedas por enquanto. Mas ainda tem uma vida.

Você é a minha maçã verde. Límpida. Viva.

Mas eu sou uma maçã vermelha...

Essa é a teoria das maçãs.

E olha... Eu quero te pedir uma coisa. É bem simples, e creio que você vá conseguir fazer.

Dá próxima vez que você vier. Me traz uma maçã verde. A mais verde que você conseguir encontrar. Uma maçã tão verde que quando você voltar, ela não tenha nem começado a apodrecer.


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