Cartas para você escrita por Esmeralda


Capítulo 1
O e-mail




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Sentada em uma poltrona feita de pele de raposa em frente à lareira, eu costurava para passar o tempo. Estava ansiosa por algo que estava para acontecer. Ventava muito fora do chalé, tanto que as árvores que se encontravam ao seu redor entortavam-se formando desenhos tenebrosos em meio à névoa.

 Uma tempestade inicia, os céus rugem com seus majestosos trovões e os raios a iluminam momentaneamente o espaço aéreo e terrestre deixando a floresta mais assustadora. Uma das quatro janelas da sala abriu violentamente com a força do vento, o que quase me espetou o dedo. Recomposta do susto, me direcionei a janela para fechá-la. Nesse instante alguém bate à porta e, com um grande sorriso de satisfação, me adianto para receber a pessoa do outro lado, sorriso esse que logo se desfaz ao ver duas espadas guiadas por soldados bloqueando meus movimentos.

— Não se mexa bruxa, por ordem do rei vamos leva-la ao palácio. E não se atreva a relutar, estamos com alguém muito especial para você. Tragam o prisioneiro para que ela possa ver. – disse um dos guardas.

Obedecendo aos comandos, mais dois guardas entraram na casa, arrastando um homem. Estava debilitado e apresentava sinais de tortura, em sua pele morena havia cortes e os arranhões, isso me partiu o coração, eu estava sem palavras. Os guardas então o jogaram no chão e ergueram sua cabeça puxando-lhe os cabelos negros, havia um vazio em seus olhos, como se ele não estivesse presente. Tomada por fúria, instintivamente,  enchi os pulmões de ar e gritei o mais alto que pude.

—NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!

E então eu acordo. Tem sido assim todas as noites desde o começo do ano. Eu não tenho a mínima ideia de onde vem esse sonho maluco, mas parece tão real. Enfim, não tenho tempo para ficar pensando em sonhos estranhos se repetindo, estudante não tem tempo para quase nada. Então me levantei do chão e me pus a marchar em direção ao banheiro e... Espera um pouco. No chão? Tenho que comprar um cercadinho pra cama, talvez assim eu pare de acordar no chão.

 Feita minha higiene matinal, encontro minha cama arrumada e meu uniforme prontinho pendurado no puxador do guarda roupa, isso é sinal de que minha mãe já está acordada. Em três minutos já estou vestida com a saia azul e a camisa branca e procurando meus sapatos, sempre os perco quando estou com pressa, olho de relance para o criado mudo ao lado da cama, onde fica o relógio, checando a hora, ainda são 06h40min. Sempre chego atrasada na escola, por isso sempre procuro me arrumar cedo. Não encontrando meu par de sapatos azul, fui até a cozinha procurar alguém que parece ter uma central de vigilância no cérebro, operando câmeras ocultas aos olhos espalhadas por toda a casa.

— Mãããããeeeeeee, a senhora viu meus sapatos? – perguntei a mulher que estava próxima ao fogão segurando uma frigideira. Usava um vestido florido que fazia contraste com sua pele cor de chocolate, os cabelos presos em um rabo de cavalo frouxo com algumas mechas caindo no rosto, e seus olhos cansados fixos em mim de um jeito que me fazia sentir um frio percorrendo a espinha.

— Vi sim filha, o encontrei na rua. Ele me disse que estava indo embora porque você não cuida dele. – respondeu minha mãe ironizando.

—Nossa mãe, que mau humor logo pela manhã. – falei sentando-me à mesa e abocanhando um pedaço de pão que estava a minha frente.

— Está mais que na hora de começar a cuidar mais dos seus pertences, você tem 14 anos. Na sua idade eu fazia de tudo. –disse me servindo café.

— Eu sei mãe. Onde está meu papai?

— Ele já saiu, teve que ir cedo hoje.

— Entendo, vida de empresário é muito corrida, ele nunca teve muito tempo. – E era verdade, meu pai raramente estava em casa, sempre ocupado com as reuniões do trabalho. Ele é dono de uma grande empresa de segurança privada. Recentemente fez parceria com uma empresa de tecnologia do Japão, o que a tornou uma das mais procuradas no mercado. – Quanto tempo fora de casa dessa vez?

— Algumas semanas, ele...

— Bom dia. – falou meu irmão mais novo anunciando sua chegada e sentando-se ao meu lado. – E aê mana?

— Oi Vini, eu estou enganada ou pedi para você não falar gírias comigo?

— Não é gíria, é um trocadilho. ‘’Mana’’, ‘’Ana’’, entendeu?

— Meu nome é Anastásia e não Ana.

— Seus sapatos estão no armário. – interveio minha mãe sabendo o que viria a seguir. Fui então, para a lavanderia e abri a porta do armário, onde encontrei o par de calçados azuis. Os calcei e me dirigi à porta de entrada, onde encontrei minha melhor amiga prestes a bater.

— Oi, vamos? – sem responder a puxei pelo braço porta a fora. – au, isso dói. Me solta, você está me machucando. Nina, para. – só agora notando o que se passava, soltei minha amiga.

— Desculpa Maya, é que eu...

— Já sei, brigou com seu irmão de novo. E daí? Só porque você teve uma discussão com ele não quer dizer que pode sair desmembrando as pessoas. Ainda preciso do meu braço. – Maya é minha amiga desde que me entendo por gente, sempre estamos juntas e ela me entende como ninguém, bom, às vezes. Vamos de ônibus ou a pé? – olhei para o relógio no braço dela. Essa não, 07h30min!

— Acho melhor irmos correndo. Estamos atrasadas. – segurei o pulso dela.

— De novo não.

                                                                  ***

Na escola eu sou apenas uma garota como tantas outras. Não preciso fingir que está tudo bem porque, de fato, está tudo bem. Eu tenho vários amigos aqui, cada um com seus talentos e manias. Sou a única que ainda não achou seu caminho, e não estou com muita pressa.

— Te prenderam em uma torre de novo Rapunzel? – uma jovem de longas madeixas escuras cacheadas veio ao meu encontro. – Sério, quando foi a última vez que você saiu de casa? Eu sei que você é pálida, mas isso está passando dos limites, quer competir com a Branca de Neve?

— Agnes, a Rapunzel não é ruiva. – Maya me provoca.

— E nem eu. – falei cruzando os braços e fazendo bico. Como sempre faço quando estou zangada, mas é sem querer. – Já falei que meu cabelo é castanho.

— Jura? Sempre achei que fosse ruivo. – Sempre acompanhado de seu fiel violão, Carlos se juntou as meninas no complô contra minha pessoa.

— Parece, mas não é. Bom, temos que ir a aula já vai começar.

— Por certo que sim, deveria estar na sala. – todos nós olhamos para a mulher ali presente. Marta, professora de linguagens, tem a aparência esquelética e idade muito avançada, não havia uma alma sequer em toda a escola que não temesse aquela senhora.

— Sim, professora Marta. – dissemos em uníssono e seguimos para a classe.

O resto do dia foi tranquilo, a escola onde estudo é de ensino integral. Após o almoço, eu e meus amigos, nos reunimos e cantamos até as aulas retomarem. Ao chegar a minha casa, me tranquei em meu quarto e como de costume chequei meus e-mails, havia uma solicitação de amizade e uma mensagem de um rapaz que dizia.

‘’Olá, eu sei quem você é. Por favor, não se esconda de mim, não se esqueça de nós. ’’

— Ok, isso é muito estranho. – abri o perfil do remetente e para minha surpresa era o homem dos meus sonhos. Não o príncipe encantado dos sonhos de toda garota, mas o homem que aparece em meus sonhos, o prisioneiro do chalé.


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