2 Hearts, 1 Soul escrita por Júlia Luísa Rocha


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente.
Depois de um ano, consegui finalmente postar o capítulo 4.
Para quem ainda estiver acompanhando, sugiro a leitura desse capítulo ao som de "Wind" presente na OST de Moon Lovers. :)



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Hospital St. Mary's, Seul. 21º andar. 3 de novembro de 2016. Às 18h.

Nem tudo na vida segue um ciclo de começo, meio e fim. O amor verdadeiro é um exemplo de acontecimento que flui e resplandece ao longo do tempo: um milagre que ultrapassa a barreira da efemeridade e inconstância da vida a ponto de se tornar eterno e imutável - mesmo após a morte. O fim não traz consigo o finito, mas a possibilidade de viver um novo começo. E, agora, ao abrir os olhos, ele estava certo de que a força do seu sentimento havia sido grande o suficiente para que esse recomeço se tornasse realidade.

Deitado sobre um leito macio, sentia a fraqueza de seu corpo enquanto observava ao seu redor. Paredes brancas e perfeitamente lisas combinavam com móveis de madeira clara - que seguiam um estilo completamente diferente da decoração de madeira maciça esculpida ao qual estava acostumado. Ao seu lado, escutava um barulho contínuo que, logo percebeu, parecia tentar imitar o ritmo de batidas do coração. Sim, ele estava vivo outra vez. Não, ele não teria a capacidade de sonhar com um lugar como aquele. Suas noites se resumiam a pesadelos constantes com o dia em que descobrira que Hae Soo se fora.

Levantou aos poucos a mão direita em direção ao seu rosto, observando palma e dorso atentamente: as veias espessas e saltitantes em conjunto com dedos compridos e unhas quadradas não negavam de que se tratava de sua própria mão, porém o estado da pele o atordoou por um certo momento. As rugas e a textura frágil e áspera das quais se lembrava desapareceram, dando lugar a uma pele viçosa e aparentemente muito saudável. Sim, ele havia voltado à juventude. E por mais incrédulo que pudesse estar com este fato, não conseguiu deixar de imaginar-se brandindo uma espada novamente e sentiu-se então vigoroso como há muito tempo não sentia.

Tinha urgência em saber onde se encontrava. A possibilidade de realmente estar em outro mundo, o mesmo de Hae Soo, o fez tremer de ansiedade. Precisava levantar-se dali o quanto antes, mas a mera tentativa de ajustar o seu tronco deixou seus músculos vacilarem de dor. Não conseguia mover-se com facilidade, mas suas cordas vocais pareciam funcionar perfeitamente. Antes de gritar por ajuda, no entanto, ouviu passos pesados se aproximarem. O ruído leve da porta de madeira, que deslizava ao se abrir, anunciou a chegada de um homem de meia-idade vestido em um jaleco branco e um par de óculos preto com hastes bem grossas e pesadas.

— Olá, Sr. Jeon. - Disse o médico ao se aproximar da cama com um leve sorriso no rosto. - Soube que acordou. Como está se sentindo?

— Quem é você e por que me mantém aqui? - Perguntou Jeon Jun-Ho abruptamente ao duvidar da identidade e reais intenções do desconhecido.

— Prazer, Dr. Shin Young-Su. Sou o médico neurologista que tem acompanhado o seu caso. - O médico estendeu a mão à Jeon Jun-Ho para cumprimentá-lo, mas Jun-Ho, com os olhos vidrados em Shin Young-Su, não entendeu muito bem aquele gesto e muito menos o que ele havia falado. Neuro-o quê? Por sua vez, Young-Su, ao ver sua mão no ar sem resposta, resolveu tirar o oftalmoscópio do bolso de seu jaleco e seguir em frente. Ao aproximar-se devagar de Jeon Jun-Ho para examinar seus olhos, no entanto, sentiu um aperto forte no braço. Jun-Ho usou toda a força que conseguiu para impedir que o Dr. Shin o tocasse.

— Como ousa se aproximar tanto sem a minha permissão? - Bravou Jun-Ho instintivamente. Ainda não estava seguro de que Young-Su não lhe oferecia nenhum perigo. Também pouco se importava com a presença do médico àquela altura: tinha retornado à vida, era jovem e sabia que se recuperaria rápido. O que ele realmente precisava agora era saber onde estava e o que lhe havia passado. Sua impaciência o fez aumentar a pressão sobre o braço do médico e impor sua voz num tom firme e imperativo. - Responda-me logo: quem sou eu, onde estou e o que aconteceu comigo?

Antes que o Dr. Shin pudesse respondê-lo, ouviram o som de passos rápidos e estridentes. A porta de madeira deslizou novamente anunciando a chegada de uma senhora um tanto quanto peculiar. Com um vestido médio de cor vermelha, bolsa de luxo e salto fino dourados, exalava um perfume adocicado que preencheu o quarto antes mesmo que nele pisasse. O rosto e o cabelo também se destacavam. Lábios vermelhos e olhos bem delineados, além de uma base poderosa que mascarava todas as imperfeições causadas pela idade, compunham um conjunto ousado e elegante com o coque alto e firme sem franjas soltas. Notava-se de longe que era uma mulher de temperamento e personalidade fortes.

— Meu filho! Como está o meu filho, Dr. Shin? - Indagou a mulher num tom de voz aflito enquanto se aproximava da maca. Vendo que o filho se encontrava de olhos abertos, não se conteve e afastou o médico para o lado com um único impulso antes de debruçar-se sobre Jun-Ho. Segurou forte uma de suas mãos e afagou-lhe a face da cicatriz com cuidado para não machucá-lo com suas unhas enquanto verificava se ele realmente estava acordado depois de tanto tempo. - Está melhor, querido? Lembra-se da mamãe?

Jeon Jun-Ho não conseguia mover-se. A mãe a quem sempre amou e que o rejeitou até a morte estava presente ali, afagando-o com esmero e preocupando-se com ele como nunca o fizera antes. Aquele olhar de desprezo que sempre o angustiava em suas lembranças expressava agora um sentimento de amor e acolhimento que ele desejou que não tivesse mais fim. Fechou então os olhos para sentir melhor o seu toque, mas não conseguiu resistir às próprias emoções. Lágrimas começaram a escorrer lentamente pelo seu rosto. O sentimento de mágoa profunda que sentia devido ao abandono e menosprezo de sua mãe agora dissipava-se com aquele simples toque: o toque que representava o carinho materno que ele desejou receber por toda uma vida.

Comovido com a cena, Dr. Shin encontrava-se no fundo do quarto pensando na melhor maneira de contar a notícia para essa mãe. Não demorou muito para que encontrasse a brecha que precisava, aproximando-se novamente da maca.

— Sra. YooDevo lhe dizer que é um milagre que o seu filho tenha acordado depois de passar tanto tempo em coma. Seus sinais vitais estão em perfeito estado. Porém, o traumatismo que ele sofreu no acidente deixou uma sequela que não sabemos se será reversível. - Dr. Shin continuou o discurso mesmo observando que a Sra. Yoo tinha olhos apenas para o filho. - Jun-Ho está sofrendo de amnésia dissociativa e não está reconhecendo a si mesmo. Também parece não se lembrar do acidente. Pode ser que ele não reconheça a senhora e nenhum de seus parentes...

— Está louco, doutor? Um filho meu jamais me esqueceria! - Yoo Mi-Young se virou abruptamente e interrompeu o médico, antecipando sua resposta ao que ele estava prestes a dizer. - Pode deixar. Cuidarei para que Jun-Ho não tenha fortes emoções e recupere o corpo e as memórias o mais rápido possível. Não se preocupe e saia, por favor. Preciso conversar a sós com o meu filho.

O médico, atônito com a resposta que recebera da Sra. Yoo, curvou-se rapidamente para cumprimentá-la sem dizer uma palavra e deixou o quarto. Jeon Jun-Ho ainda encontrava-se de olhos fechados nesse momento, sem saber se a presença e o carinho da mãe eram reais ou parte de um sonho. Yoo Mi-Young então retirou a mão do rosto de seu filho e continuou encarando-o. Jun-Ho abriu os olhos. Assim que ele começou a raciocinar sobre o que gostaria de perguntar primeiro, sua mãe seguiu seu instinto mais uma vez e o antecipou, trazendo as respostas mais importantes:

— Caso não se lembre, seu nome é Jeon Jun-Ho. Você é integrante de uma família muito poderosa na Coreia do Sul. É um dos futuros herdeiros da Isoi, uma das maiores marcas de cosméticos desse país. Mesmo assim, você decidiu seguir carreira no exército contra a vontade de toda a família e ficou preso nessa cama por um ano e meio por culpa dessa teimosia. 

A Sra. Yoo repousou uma de suas mãos sobre a testa e balançou a cabeça, respirando fundo para se acalmar porque sabia que aquele não era um bom momento para repreendê-lo. Avançou em seu discurso com um tom de voz mais terno enquanto voltava a tocar-lhe a face esquerda. - Consegue ao menos lembrar-se de como ganhou esta cicatriz, meu filho?

— Não, não me lembro, mãe. — Jun-Ho ficou extasiado com a quantidade de novas informações sobre a sua pessoa e intrigado com as palavras que ele nunca havia escutado. Coreia do Sul? Isoi? Marca? Tinha muita curiosidade de entender melhor sobre o que ela estava falando, mas um sentimento de medo em revelar sua real identidade para a mãe o fez abster-se das perguntas naquele momento.

— Tudo bem, querido. — Disse Yoo Mi-Young com um sorriso no rosto logo antes de tornar sua expressão e tom de voz mais sérios. - Mas agora que você finalmente acordou, preciso conversar sobre algo mais importante: desde que Jeon Hyun-Seok, seu irmão mais velho, assumiu a Isoi depois da morte de seu pai, as coisas vão de mal a pior. 

Ela respirou fundo e começou a encará-lo fixamente.

— Ele não é um bom administrador e a nossa participação de mercado tem diminuído a cada dia que passa. Os acionistas majoritários querem tirá-lo do cargo de CEO o quanto antes e temo que a nossa empresa caia nas mãos de um terceiro. 

Antes que Jun-Ho pudesse manifestar alguma opinião, a Sra. Yoo tomou a mão do filho de forma delicada e continuou o discurso com perspicácia.

— Jung-Min, seu irmão mais novo, é muito jovem para assumir a posição ainda, então cabe a você, Jun-Ho, essa tarefa. Seu pai sempre acreditou no seu potencial e agora eu também acredito. Irei convencê-los de que colocá-lo no cargo é a melhor escolha, mas preciso que se recupere o mais rápido possível.

Jun-Ho, meio atordoado após escutar o pedido da mãe, respirou fundo e concluiu consigo mesmo algo que ele já temia: a essência de uma pessoa nunca muda. Independente do mundo onde esteja, ela será aquilo que é e sempre foi. No caso de sua mãe, guiar-se pela cobiça, apoiando-se nos outros para conseguir o que deseja nunca deixaria de integrar a sua personalidade. 

Lembrou-se então de como desperdiçou a sua vida passada tentando provar-se para a mãe, tentando fazê-la enxergar o quanto ele era melhor e mais forte que os irmãos para governar Goryeo. Porém, agora via tudo com mais clareza: a única pessoa a quem a mãe sempre amou e continuaria amando de verdade era ela mesma. Isso nunca iria mudar. Cabia a ele, então, decidir se aproveitaria a oportunidade para fazer as coisas de forma diferente ou se cederia à manipulação da mãe para trilhar novamente o triste caminho que o fez passar os últimos dias de sua vida solitário num quarto, enquanto sua própria família esperava ansiosamente pela sua morte. Não foi difícil a escolha.

— Foi para isso que você veio me ver? Para me convencer a fazer o que você quer? - O tom de voz de Jun-Ho soava firme e ríspido. Ele encarou a mãe com frieza em seus olhos e levantou o braço de súbito, apontando-o em direção à porta. - Saia daqui e nunca mais volte. Eu não preciso de você.

Yoo Mi-Young levantou-se em pânico enquanto encarava o filho, ainda perplexa com a raiva e brutalidade que demonstrou ao mandá-la embora. Apesar de Jun-Ho amar as artes marciais e ter passado boa parte da vida treinando soldados, ele era um homem dócil que jamais levantaria um dedo contra alguém de sua família - e muito menos contra ela. Será que a falta de memória poderia torná-lo agressivo dessa forma? Ela não sabia, mas resolveu não insistir e seguiu em direção à porta sem olhar para trás. Jun-Ho corria o risco de piorar caso se exaltasse ainda mais e ela não poderia deixar seus planos estragarem dessa forma. Ela voltaria quando fosse um melhor momento.

Saindo do quarto, Yoo Mi-Young esbarrou em um rapaz alto e foi embora pelo corredor do hospital sem cumprimentá-lo. Dono de um belo rosto de traços finos e pele lisa como a de um bebê, o rapaz vestia uma calça jeans desbotada e uma camiseta que poderia ser considerada branca se não fosse pelo detalhe das pequenas manchas coloridas de tinta à óleo espalhadas principalmente na altura do peito e abdômen.

Ao avistar seu querido irmão Baek-Ah adentrando o quarto com aquelas vestes esquisitas às quais precisaria acostumar-se, Jun-Ho não se conteve e riu de desespero consigo mesmo. Jamais imaginara que encontraria tantas pessoas conhecidas do seu passado em um mundo novo. Ao mesmo tempo que esse sentimento de surpresa o angustiava pela possibilidade da história se repetir novamente, também o confortava, já que as chances de Hae Soo estarem no mesmo mundo que eles só aumentava.

— Oi, primo. Lembra de mim? Sou eu, Jeon Min-Kyu. - O rapaz fechou a porta e andou descontraidamente em direção à maca com um sorriso leve e solícito no rosto. - Como você está? Precisa de alguma coisa?

Jun-Ho também sorriu para Min-Kyu, demonstrando involuntariamente a sensação de alívio que sentia ao reencontrá-lo. O sorriso do irmão que agora era somente primo não negava: ele sabia que poderia confiar em Min-Kyu. 

 - Sim, primo. Preciso que me ajude a encontrar uma pessoa. 


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Notas finais do capítulo

Achei que esse capítulo não ficou tão bom quanto eu esperava.
Se puder deixar um comentário aqui com a sua opinião, agradeceria muito.
Obrigada por ter lido. :)



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