Elentiya escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714039/chapter/1

Naquela noite, quando Archer lhe dissera que planejavam matar Nehemia, Celaena não enxergou nada à sua frente. Naquela noite, justo naquela noite, quando havia deixado o castelo e sua amiga desprotegidos é que resolveram dar o bote. Como se soubessem que ela não estaria por perto.

(Covarde)

E ele sabia de tudo.

Enquanto corria, tão rápido que achou que seus pulmões se estilhaçariam contra o peito, esse pensamento vinha em ondas frenéticas como um mar revolto em fúria na mente de Celaena. Nunca em toda sua vida havia corrido tão desesperadamente ou tão rápido. Nem mesmo quando quis se vingar pela morte de Sam. Nem mesmo segundos antes quando soube que Chaol estava preso por sua culpa. Não.

(Nunca chegará a tempo, pequena assassina. Não importa o quanto corra!)

Corria mais rápido do que Kasida, sua Bebedora de Vento. Diabos, corria tão rápido que o vento não era capaz de acompanhá-la, fazendo cortes frios em seu rosto que eram amortecidos diante da perspectiva de perdê-la, sua única e melhor amiga no mundo inteiro.

(Até quando vai fugir das suas responsabilidades, Celaena?!)

A dor a atingia em pontadas frenéticas sobre todo o corpo. Nunca fora tão selvagem quanto naquele momento, escalando paredes, sentindo suas unhas se romperem tão próximas da carne.

(Haviam brigado. Brigado porque Celaena não era capaz de aceitar o próprio destino. Brigado porque tinha medo. Porque era...)

Os corredores do castelo pareciam infinitos. Pessoas gritavam seu nome - Lilian, Celaena, de que importava? Nenhum desses era o seu nome. Não o nome que ela havia lhe conferido - mas a assassina os ignorava.

Direita, esquerda, para cima. Sempre para cima.

(Vai falhar novamente, pequena assassina! Como falhou com seus pais, como falhou com Sam, como falhará a sua vida inteira, hAhAhA!)

O desespero era tangente. Haviam brigado. As últimas palavras trocadas, insultos dizendo que não retornasse aos prantos quando seu povo estivesse dizimado, morto aos seus pés.

Não.

As coisas não poderiam ficar desse jeito entre elas. Precisava alcançá-la, tomar um último fôlego...

(Tudo que você toca se destrói. Será que nunca vai aprender que tudo que um assassino sabe fazer é matar mesmo quando não deseja isso?)

Era a voz de Arobynn lhe incitando com aquela calmaria que vinha antes da tempestade. Mas a calmaria já havia passado, certo? Havia passado no momento em que matara todos aqueles homens para proteger Chaol. Chaol que havia lhe traído, que não havia lhe contado que existiam pessoas querendo matar Nehemia.

Tudo por causa de sua estúpida lealdade ao rei.

(Corra, Celaena, corra! Mas você sabe o que vai encontrar. Como a covarde que é)

Não.

Ela continuou em frente, ignorando as pessoas que lhe chamavam, ignorando até mesmo o príncipe quando passou por ele pelos corredores - CELAENA! -, ele havia gritado. Não importava. Apenas Nehemia importava. E estava quase lá, quase lá...

O sangue. Espalhado por todo o lugar. E aquela gargalhada fria do seu próprio subconsciente que pregava peças contra sua mente.

(Fracassofracassofracasso)

O cheiro pela primeira vez a enjoava, lhe embrulhava o estômago.

— Nehemia...

Não era capaz de ver mais nada além da escuridão que a envolvia, que se entranhava aos poucos em sua alma.

(Nunca pôde proteger ninguém)

— Nehemia...

Ela não sabia se reverberava aquilo ou se sua própria voz soava em sua mente.

(Você falhou outra vez, Assassina de Adarlan)

— Nehemia...

Não soube quando seus braços envolveram Dorian manchando-o com o sangue das vidas que havia arrancado. Em seu último encontro, Nehemia não a chamara de Elentiya porque não era digna desse nome.

— Ela está...

Dorian havia dito alguma coisa, alguma coisa que não foi capaz de compreender. Sinto muito, talvez?

(Tudo porque não quis ouvi-la. Covarde! Covardecovardecovarde!)

Algo se quebrava dentro de si, algo que jamais se juntaria assim como todo aquele sangue, toda aquela violência espalhada contra a única pessoa em quem um dia pudera confiar.

(Eu te nomeio Elentiya. Use esse nome com honra, quando todos os outros nomes forem um fardo pesado demais)

Não, não era digna. Não agora que ela não estava ali. Não agora que estava quebrada.

(Eu te nomeio Elentiya, Espírito Que Não Pôde Ser Quebrado)

Houve um breve momento, pensou Celaena no meio de toda sua dor, em que acreditou que a felicidade poderia ser alcançada mesmo por alguém como ela, mas estava enganada.

(Vê? Você sempre fracassará com todos ao seu redor. É o seu destino)

A gargalhada ainda ecoava em sua mente quando Chaol entrou. E nele descontou toda sua fúria, o desejo assassino de vingar a morte de Nehemia. Desejou ardentemente nunca ter se apaixonado por ele, nunca ter se deitado com ele, nunca ter ido atrás dele.

— VOCÊ ME TRAIU!

Mais tarde, refletindo nas masmorras, Ress lhe confidenciaria em segredo que aquelas palavras nunca haviam saído de seus lábios, mas era possível ver em seu olhar.

Não podia confiar em Chaol quando ele não era nada além de um capacho do rei.

(Covarde)

Não podia confiar em Dorian quando ele havia feito algo para lhe impedir de matar o Capitão da Guarda Real.

(Fracassada)

Não podia confiar em ninguém, nem em si mesma.

(Patética)

Estava sozinha outra vez.E a solidão nunca doera tanto assim. Nem mesmo depois de Sam.

Havia falhado novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Depois de ler essa cena, não consegui tirar ela da cabeça. Foi tanto sofrimento que tive que continuar lendo pra ver se não era uma daquelas peças que a gente espera que seja, mas que no fim é verdade.

Enfim.

Fic de estreia no fandom. Espero voltar com mais felizes.