Never Gonna Be Alone escrita por SupremeMasterOfTheUniverse


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Oooooi, gracinhas!
Dessa vez, consegui me manter na programação! Ahuahuahua.
Hoje, temos o primeiro capítulo musical! Deixem a seguinte música carregando: https://www.youtube.com/watch?v=m3SjCzA71eM Se você está aqui pelo celular, eu fiz uma playlist só com essa música no Spotify! Hahahaha. https://play.spotify.com/user/raphaelamanzolli/playlist/64IpRdRjiLVX1vMdVNSRGN É Heroes, do David Bowie, então, ouça como achaar melhor. Vai ter uma deixa, obviamente, pra você saber quando é pra dar o play. Esse capítulo ficou um pouco comprido, peço desculpas. Tem bastante interação e pouco diário. Não tenho ideia de qual dos dois vcs preferem, porque ninguém comenta, então... Espero que gostem.
Nos vemos nas notas finais!



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Diário de bordo: Sol 43

por Carter

 

Oi, meninas, tudo bom? No vídeo de hoje eu vou ensinar como deixar de ser uma babaca orgulhosa.

É bem simples, na verdade. Recite um monólogo romântico pro seu marido sobre como você se arrepende de todas as merdas que fez. Estou meio orgulhosa de mim porque finalmente estou desenvolvendo humildade. O Mark não reagiu, na verdade, acho que ainda está processando toda a informação. Mas eu coloquei pra fora tudo o que precisava. Beck estaria muito orgulhoso de mim. Sinto falta dele, Beck era meu maior parceiro aqui enquanto Mark ignorava minha existência. De qualquer forma, eu estou aliviada. É como se estivesse acumulando lixo e finalmente vomitei esse lixo. Acho que deu pra perceber que estou muito bem.

Mark tem estado quieto, mas não tô nem aí. Eu o tenho tratado da mesma forma de antes. Tento ser engraçada. Isso já o conquistou uma vez, pode ser que funcione de novo.

Ah, quanto à água. Estamos produzindo água tranquilamente. Até agora, deu certo. Tomara que não morramos. Não seria maneiro.

Por outro lado, eu pensei nos absorventes. Tínhamos 3 mulheres na equipe da Ares 3. A ideia era que passássemos 31 dias aqui e, levando em consideração que nós três menstruaríamos nesse período, tem absorventes aqui para três períodos menstruais. E eu ainda vou ficar mais quatro anos aqui, então... Bem. Vou ter que pensar em alguma coisa. Certamente terei um resultado bem nojento.

Spoiler: um desses três períodos menstruais já passou então, na verdade, só tenho absorventes para mais dois períodos.

...

A pior parte de ter de desenhar com canetas era o esboço. Carter sempre tinha de fazer o esboço o mais sutil possível porque, depois, ele não saía. E, para alguém que tem uma coordenação motora ridícula e péssimas habilidades manuais, isso normalmente não dava certo. Enquanto reforçava a caneta no desenho que tinha acabado de fazer de um astronauta sentado sobre uma cratera marciana observando o pôr do sol – não tinha muitos cenários em mente em tais circunstâncias – ficava se estressando com o esboço não tão sutil assim.

— Eu não sabia que você desenhava – Carter pulou na cadeira e quase vomitou o próprio coração ao tomar um susto com a voz de Watney.

— Cacete! Desculpa, é que eu não estava esperando por isso.

— Desde quando? – perguntou Watney, com um sorriso de canto.

— Eu... não sei – respondeu Carter com um sorriso tímido no rosto. – Acho que faz mais ou menos um ano e meio. Eu sempre achei desenho muito legal, você sabe – Watney assentiu com a cabeça. – e em algum momento eu comecei a treinar o meu traço, acho. Teve essa época em que eu precisava estar fazendo alguma coisa para não começar a chorar toda vez em que pensava em você e apliquei isso no desenho. Quando sentia que ia chorar, desenhava pacientemente um olho. Um nariz. Uma mão. Aí eu ampliei e tentei começar a desenhar coisas, animais, paisagens... É meio que um hobby agora. Acho que todos nós, nerds virgens, temos falsa obrigação saber desenhar ao estilo anime. Mas eu não gosto do estilo anime, gosto mais realista. Acho que agora é parte de quem eu sou. – Carter deu de ombros.

— Eu acho bem bacana – comentou Watney. – É como um talento secreto.

— É, acho que sim.

— Só nesse diálogo, você já disse a palavra “acho” cinco vezes. Não tem certeza de nada? – perguntou Watney, com um sorriso divertido no rosto.

Tenho certeza de que é um talento secreto, até porque acho que... não me lembro de ninguém além de Beck e Johanssen que saibam que eu desenho.

— Ah, Beck e Johanssen. O que seria de nós sem Beck e Johanssen, não é mesmo? – ironizou Watney.

Carter ergueu uma sobrancelha.

— O que quer dizer com isso? – indagou, inclinando a cabeça e cruzando os braços com desconfiança.

— Nada! – disse Watney erguendo as mãos em rendição. – É só muito legal que Beck e Johanssen sejam tão tudo de bom e saibam tudo sobre você. Sem insinuações. Sem acusações.

— Ah, meu caro Watney, você está com ciúmes do Beck e da Johanssen? – Carter perguntou, achando graça da situação.

Eu? Não, de maneira alguma. – Watney tinha um sorriso no rosto, também estava se divertindo com o próprio sarcasmo.

— Escuta, bonitão, eu só queria te lembrar de que você já foi o meu melhor amigo e já soube tudo sobre mim também. Acontece que você me largou e nisso Christopher Beck e Beth Johanssen foram um porto seguro pra mim, foram maravilhosos em tudo. Então não é nada mais que natural que eles saibam tudo sobre mim, inclusive coisas que você não sabe porque você... Sabe como é. Me largou.

— Que bonitinho. Eles são seus melhores amigos. – Watney cruzou os braços, desafiador. Os sorrisos sarcásticos não deixavam os rostos um do outro.

— É, eles são. – Carter estava delirando de alegria com os ciúmes do marido.

— E vocês... compartilham intimidades e falam de sentimentos uns com os outros?

— Sim, compartilhamos e falamos. Inclusive, o Beck sabia tanto dos meus talentos pra desenho que eu já fiz um nu artístico dele.

Watney não resistiu a essa. Sua pose desafiadora foi quebrada por uma gargalhada alta.

— Fez um nu artístico do Beck?

— Sim, eu fiz. Não precisa ficar com ciúmes até disso, Mark, eu posso fazer um nu artístico seu também. Não tem nada aí que eu já não tenha visto.

— Dispenso. – ele disse, ainda rindo. – Sabe que eu vou precisar ver esse quadro, né?

Carter gargalhou sarcástica.

— Jamais. – negou. – Inclusive ele me fez prometer que não ia contar pra ninguém. Eu estou quebrando essa promessa agora e você ainda está aí com esse ciúme desnecessário causando intrigas e discórdia.

— Ninguém aqui te obrigou a nada, Carter. Você contou unicamente porque quis.

— Hum. Parece que sim. – cedeu Carter.

Nenhum dos dois disse mais nada. Watney apenas ficou a olhando com o sorriso vitorioso no rosto enquanto os pensamentos de Carter passeavam por infinitas questões. A mente dela funcionava de uma forma muito veloz.

— Vou te fazer algumas perguntas e você não precisa responder se não quiser. É só que... a gente meio que já atingiu um nível crítico da situação em que podemos ser completamente honestos um com o outro, né? Quer dizer, eu fui completamente honesta com você. Só quero entender algumas coisas. Não precisa responder se não quiser, ok? – falou. Sua expressão era sutilmente aflita.

— Ok. Tá... tudo bem? – perguntou, só querendo confirmar.

— Tá, é só... Posso ter um pouco de medo das respostas. Você sente ciúmes do Beck?

— Como assim? – disse Watney, apenas enrolando. Queria ganhar tempo para achar as palavras em que poderia não mentir e ainda assim dizer que não sentia.

— Ah, ciúmes. Assim. Tipo... Como se eu tivesse uma relação íntima demais com ele ou coisa parecida.

— Hum. – ele murmurou. – Bem, eu... Não é a palavra que eu usaria. Mas é estranho ver outro cara tendo uma amizade tão íntima com você quanto a que eu já tive, mesmo que de uma forma diferente.

Carter respirou ruidosamente.

— Entendi. Ham... Eu sei que fiz muita merda, sim, mas... por acaso você me deixou com outra mulher em mente?

Watney hesitou. Aquela pergunta realmente o pegara de surpresa.

— Não. Nunca tive outra pessoa em mente.

Carter tentou não parecer tão aliviada quanto realmente se sentia.

— Esteve com alguém? Nesse tempo em que não estávamos juntos?

— Quanto diz o verbo “estar” você quer dizer... ?

— Sexualmente – esclareceu Carter.

— Hum, tá. Não, eu... Não estive com ninguém.

— Nem a estagiária? – Carter pronunciou a última palavra como se fosse um tabu.

Watney congelou por um segundo. A estagiária. Sabia exatamente do que ela estava falando. Só não queria deixar transparecer.

— Que estagiária? – perguntou, fingindo que não se lembrava.

— Aquela estagiária de psiquiatria. Vi você com ela. Era um dia de avaliação psicológica e a Dra. Shields tinha a consulta comigo logo depois da sua. Eu estava indo pelo corredor e aí... Lá estava ela. Flertando com você. Quanto a mim... Bem, eu vi – Ela riu, sem graça, dando de ombros.

— Oh – disse Watney. – Essa estagiária.

— Yep. – disse Carter, estalando os lábios.

— Não, nem essa estagiária – ele revelou. – Foi um período de seca. Não dormi com ninguém.

Carter franziu o cenho.

— Sério? Nem uma única vez?

Watney estranhou.

— É, ué. Nem uma única vez. Por quê? O que tem de errado nisso?

Nossa, Mark! É que... – Carter se interrompeu com suas risadas que saíram involuntariamente. Tentara se segurar, mas não resistiu. – Desculpa. Caramba, Mark, foram dois anos! Se levar em consideração a última vez que a gente se comeu... O quê, dois anos e uns quatro meses? Passou esse tempo todo sem transar?

— Você também passou, Madre Teresa de Calcutá. – rebateu Watney, cruzando os braços. – Ou vai me dizer que ficou a maior sexter nesse período?

— Não, claro que não, mas eu tenho todo o lance do voto de castidade, eu casei virgem e tal, mas você? — Carter gargalhava, divertindo-se com a situação. – Você não tem desculpa. Você é tão virgem! – Apontou e começou a rir mais.

Watney riu em indignação.

— O quê? Por que eu sou o virgem? Você transou pela primeira vez depois de casar e eu que sou o virgem? Será que eu não poderia ter me segurado esse tempo todo só em respeito aos seus sentimentos? Quer dizer, a gente ainda é casado.

— Tem razão. – Carter e esforçou para parar de rir. – Tem razão. Desculpa. Você é muito cavalheiro, eu devia pensar nisso. Você é muito bom pra mim, Mark. Obrigada por respeitar meus sentimentos esse tempo todo.

Carter respirou fundo, encerrando as risadas. Ela e Watney se entreolharam com sorrisos compreensivos no rosto. Conformativos. Cúmplices. Aceitavam aquela situação.

— A gente ainda é casado. – ela repetiu soando mais como uma pergunta. Estava tentando convencer a si mesma.

— Pois é. – concordou Watney. – Nesse tempo todo nenhum de nós se dignou a pedir o divórcio.

— Acho que a gente não tem jeito. – falou Carter com um sorriso tranquilo.

— Não, não tem. – Ele deu de ombros.

— Eu realmente quero fazer um nu artístico seu, Mark.

Watney gargalhou, sarcástico.

— Sem a menor chance. – decretou.

— Por favor! Vai ficar maneiríssimo. Eu não vou contar pra ninguém.

— Como não contou pra ninguém do Beck? Não, obrigado.

...

Quando chegou à cozinha do Hab, Watney achou que ainda poderia estar dormindo. Era uma cena estranha, apesar de não incomum: páginas e páginas do papel não-inflamável próprio da NASA jogadas pela mesa, pelo chão, coladas nas paredes, todas preenchidas com contas, cálculos e equações, além de alguns esboços de desenhos nas laterais. Em meio a tudo isso, Carter, com seus fones de ouvido, imersa no próprio mundo, escrevia freneticamente no papel. Fazia cálculos e desenhava símbolos que nem mesmo Watney entendia.

Ao terminar outra folha, arrancou-a do bloco e empurrou-a pela mesa, deslizando para longe. Quanto esta foi arremessada, reparou na presença de Watney. Tirou um dos lados do fone de seu ouvido.

— Oi, Delícia. – disse, com um sorrisinho malicioso no rosto, voltando para seus cálculos.

— Bom dia, capitã. – ele respondeu, rindo de tudo aquilo. – Vejo que já começou a trabalhar há um tempo.

— Não tanto quanto você acha. São 11h. Você dormiu pra cacete.

— Hum. E o que é tudo isso?

— Estou tentando pensar em formas de nos comunicar com a NASA, em rotas para a Ares 4, no que vamos precisar, suprimentos... Calculando rotas para possíveis sondas com mais suprimentos... Aí, eu quis testar uma coisa nova. Como você sabe, eu calculo melhor ao som de heavy metal, por alguma razão. Não sei, a minha teoria é que a batida acelerada e intensiva de alguma forma acelera o trabalho meu organismo e os estímulos cerebrais se fortificam o que faz com que eu consiga calcular e raciocinar mais rápido. Só que eu decidi testar a outras formas de música. Comecei com a disco music da Lewis e, cara! Eu calculo muito bem ao som de disco music! Praticamente o mesmo efeito de produtividade que o heavy metal. Agora, estou testando Bowie. Descobri que gosto muito de Bowie. Talvez tenha um efeito de produtividade ainda maior.

— Pode ser. – disse Watney. Só enquanto Carter falava já tinha escolhido seu café da manhã e já estava sentado comendo enquanto ouvia. – Por que não deixa tudo isso pra mais tarde? Resolvemos o problema da comida e da água e a Ares 4 é só daqui a 4 anos. Ainda temos bastante tempo. Sou um grande adepto da procrastinação e não é sempre que vamos poder fazer isso aqui, então... Eu recomendaria que você agarrasse essa chance.

Carter parou de riscar o papel. Realmente. Não precisava calcular aquilo tudo agora. Podia deixar tudo para mais tarde.

— É... – disse. Largou a caneta e se recostou na banqueta. – Você tem razão. Vamos procrastinar!

— Vamos procrastinar! – incentivou Watney, maliciosamente.

— Adoro procrastinar. – Suspirou com um sorriso pacífico no rosto. – Esse seria um dos momentos em que a capirota da Patty ia começar a me julgar e criticar por não estar nem aí.

— A Patty é incrivelmente irritante. Se tudo não for do jeito sistemático e absurdo dela, não pode acontecer.

— Pois é. Mas ela tem um problema pessoal comigo.

— Ah, é? Por quê?

— Porque eu tenho peito e ela, não.

Watney começou a rir. Aquilo fora súbito.

— Puxa, não era essa a resposta que eu esperava.

— Esperava o quê? – perguntou Carter juntando-se a ele nas risadas e mexendo repetidamente em sua franja.

— Ah, sei lá. De repente você representa tudo o que ela abomina.

— E eu represento! Uma pessoa que tem todo o peito que ela não tem!

Toda aquela espontaneidade fez com que Watney risse mais. Carter também ria com uma alegria infantil nos olhos.

— Puxa, ficar sem calcular meio que me deixa sem nada pra fazer. – ela concluiu ao fim das risadas.

Watney pôs a mão sobre seu coração em compaixão.

— Considere-se de férias. Férias nas quais você praticamente não pode sair de casa e não tem nada pra fazer dentro de casa também.

Carter bufou.

— Que bosta. Eu tô enérgica hoje. Queria sair pra dar uma caminhada, de repente eu acho alguma pedra bacana que possa desenhar. Acho que só me resta fazer uma maratona pra terminar a quarta temporada de Grey’s.

— Parece uma boa ideia. Enquanto isso, vou ver mais Os gatões.

— Sabe, você pode ver as minhas séries do século XXI no meu pen drive se quiser. – sugeriu Carter, rindo um pouco.

Watney deu de ombros.

Ahn. — grunhiu. – Até que é bacana.

— Você que sabe.

Carter levantou-se da banqueta e digitou um comando eu seu laptop. Tirou o fone de ouvido e deu play, o que fez com que Heroes, de David Bowie, soasse por todo o Hab pelas caixas de som. [N/A: Coloque a música pra tocar agora!] Ela caminhou até seu esposo sentado sobre a cadeira giratória na antiga estação de comunicação e estendeu sua mão para ele, com um sorriso galanteador no rosto.

— Dança comigo, Watney – pediu.

Um pequeno sorriso se formou no canto dos lábios de Watney que deixou seu prato sobre a mesa e pegou a mão dela, aceitando o convite.

Enquanto dançavam completamente confortáveis um com o outro e com a própria falta de talento, Watney só tinha olhos para Carter. Ela dançava muito mal e tinha acabado de descobrir que gostava de disco music, o tipo de música mais ridículo que existia. Era a pessoa mais musicalmente diversificada que ele conhecia. Ouvia heavy metal para trabalhar e lá estava, dançando uma balada de Bowie. Como podia ser tão culturalmente rica? Não importava, era uma de suas características pelas quais Watney era mais apaixonado.

E então travou.

Foi quando lhe ocorreu: Que merda! Era óbvio que ainda era apaixonado por ela. Muito apaixonado. E como não ser? Carter era completamente espontânea. Cada momento com ela era uma surpresa.

Merda, ele a amava.

 

Diário de bordo: Sol 49

por Watney

 

Eu acho que estou apaixonado pela Jessica.

De novo.

É uma sensação muito estranha porque, vamos combinar: eu nunca deixei de amá-la.

*risos*

Desculpa, é tão óbvio que é estranho de admitir. É como se eu constatasse que o Sol é quente. Eu amo a Jessica!

Tá, vamos por partes. A única razão pela qual eu estou falando isso alto é porque ela está lá fora, dando uma caminhada. Como acabou de sair, não deve voltar tão cedo, então, vou falar deliberadamente.

Tudo começou com David Bowie. Como é o único material de uma qualidade mínima que a Lewis deixou naquela coleção obsessiva e doentia dos anos 70, eu tenho ouvido muito. E chega a ser perturbador a quantidade de músicas que se aplicam à nossa situação peculiar. Starman, que fala sobre um cara que mora nas estrelas e quer se encontrar com a Terra, mas tem medo de explodir os cérebros das pessoas (como se fosse voltar dos mortos ou coisa parecida, não é mesmo, senhoras e senhores?)... Space Oddity, onde o astronauta Major Tom tem um problema na comunicação e começam a presumir que ele está morto (essa é um golpe baixo)... Life on Mars? Ah, vai se ferrar, Bowie. Desnecessário dizer.

Mas, aqui, eu quero focar em Heroes. Heroes descreve Mark e Jessica perfeitamente. Se a música não foi composta pensando em nós, não sei pra que ela existe. E hoje de manhã, Jessica estava ligadona e me puxou pra dançar essa música. E foi aí que eu percebi.

É que... Cara! Ela é tão bonita e inteligente e engraçada e... Nem sei mais o que falar. Ela é tão espontânea e faz tudo de uma forma natural, como se só fizesse pra se divertir ou coisa assim, ou só fizesse por fazer. Quando ela ri, ela curva o corpo pra frente e os fios mais curtos que ela tem na franja ultrapassam os ombros e caem pra frente.

Jessica me transforma num garoto de doze anos apaixonado pela primeira vez.

Eu amo minha esposa. E ela também me ama. Só tenho que arrumar uma forma de dizer pra ela.

Enquanto não disser, não posso deixá-la sozinha no Hab, porque acho que ela tem assistido aos meus diários enquanto estou fora. Outro dia, recebi uma mensagem no traje de que minha conta tinha sido logada, mas não podia ser eu, porque eu estava em uma AEV. Não sei se ela sabe que os trajes recebem a mensagem quando estão ativados e a conta do respectivo traje é logada. Sendo assim, vou ficar de olho nela.

Outra coisa interessante é que a água está sendo constantemente produzida, somadas à plantação, o ar está incrivelmente úmido e o calor dentro do Hab é de quase 30 graus. Parece uma floresta tropical aqui dentro! Não temos essa temperatura em Chicago.

Parece que eu me apaixonei de novo. De uma forma diferente. É muito estranho. Eu amo a Jessica.

Eu, eu serei o rei
E você, você será a rainha
Embora nada, nada vá os afastar
Nós podemos vencê-los, apenas por um dia
Oh, nós podemos ser heróis, apenas por um dia

E você, você pode ser má
E eu, eu vou beber o tempo todo
Porque nós somos amantes, e isso é um fato
Sim, somos amantes, e isso é o que é

 

...

 

Watney e Carter observavam a central de produção de água na cozinha do Hab lado a lado, orgulhosos de seu trabalho. Carter tinha os braços cruzados e a cabeça sutilmente inclinada. Usava essa inclinação para, eventualmente, olhar para seu amado. Watney tinha as duas mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta da NASA igual à que a capitã usava. Estava apenas esperando a coragem aparecer para pôr tudo o que precisava para fora.

O rei e a rainha de Marte estavam de folga.

— Sabe, não tenho certeza de que foi uma boa ideia usar as lascas da cruz para acender o fogo – observou Watney.

— Por que não?

— Estragamos o nosso único símbolo religioso e agora estamos vulneráveis a vampiros marcianos.

Risadas desembestaram de Carter, começando pequenas como se ela risse de algo que não deveria ser engraçado, mas logo tornando-se grande diversão.

— Faz sentido. – concordou.

Os dois suspiraram ao mesmo tempo. O clima que se instalava era um pouco estranho havia algumas conversas. Toda aquela sinceridade entre os dois fazia com que a situação fosse sutilmente tensa. Apesar de Watney não se sentir tão confortável consigo mesmo; sabia que não estava sendo totalmente honesto com sua parceira quanto ela tinha sido com ele. E por mais que fosse uma confissão estranha, tinha de ser feita.

— Eu... – começou, apreensivo. Inspirou profundamente e continuou: – Eu não fui totalmente honesto com você.

Carter ergueu uma sobrancelha e olhou-o.

— Quanto a quê? – perguntou, insatisfeita.

— Quanto à estagiária – ele respondeu, sem conseguir olhá-la nos olhos.

Carter entendeu o que aquilo significava. Voltou seus olhos para a central de produção de água, machucada.

Oh — murmurou. – Então, você... dormiu com ela?

— Na verdade, não – admitiu Watney, sentindo um leve alívio. – Mas... quase. Foi por pouco. Acontece que... – Ele coçou a própria nuca, sentindo-se idiota. Caminhou um pouco até o dormitório e sentou-se em sua cama, a mais próxima do chão. Carter o seguiu, curiosa. – O que você viu...

— Você tentando atrair outra fêmea para o rito de acasalamento enquanto, apesar de, mesmo tendo deixado claro que não queria mais nada, ainda ter um compromisso firmado comigo? – Carter sugeriu, severa.

— É – Ele mordeu o lábio inferior. – Isso. Não foi por acaso.

Pausa.

— O quê?

— Não foi por acaso. Eu sabia que o seu horário com a Dra. Shields era logo depois do meu. Eu... via como você e o Beck eram próximos e fiquei meio que com ciúmes... Acho que, quando flertei com a estagiária estava tentando provar tanto pra você quanto pra mim mesmo que já tinha te esquecido. Mas todos nós sabemos que não é verdade.

Ele olhou para o chão, envergonhado. Carter esforçava-se para não sorrir largamente. Ele não só tinha sentido ciúmes dela, tinha tentado causar ciúmes nela. Isso era muito melhor do que podia imaginar.

— Puxa – disse, tentando soar indiferente. Mas não se sentia nada indiferente. – É... Você disse que... foi por pouco. O que aconteceu?

— Eu estava tentando muito tentar me convencer de que tinha te esquecido, então, a chamei para um drink. Estava indo tudo bem. Ela era bem legal. Nós... nos demos bem e fomos pra casa...

— Sua casa ou dela? – interrompeu Carter, curiosa.

— Minha.

Ótimo, ela pensou. Outra mulher comendo o meu marido na minha cama. Realmente ótimo.

— Continua – pediu.

— Nós avançamos o sinal... Estávamos na cama, tirando as roupas...

— Menos detalhes, por favor! – ela pediu, desesperada e enjoada.

— Desculpa! É... Chegou esse momento em que ela disse “Oh, Mark” e, ao invés de dizer “Oh, Camille”, que é o nome dela, eu disse... – Watney tomou fôlego e coragem. Apontou para Carter. – Seu nome.

Carter não soube como reagir. Informação nova. Informação forte. Informação maravilhosa.

— Meu nome? – repetiu, tentando se conformar.

Watney anuiu.

— Seu nome.

Jessica? — confirmou ela, apontando para si mesma.

— É, esse é o seu nome, né? – ironizou ele, perdendo um pouquinho de paciência.

— Uou – disse ela para si mesma.

Tentou ser respeitosa. Sabia que aquela informação era difícil para ele de compartilhar, devido à situação dos dois, além de ter sido muito humilhante para a pobre estagiária. Decidiu que não zombaria dele.

Aquele efeito passou muito rápido.

HÁ! — gritou, apontando para ele. – HÁ-HÁ-HÁ-HÁ-HÁ! – gargalhou. – Você está tão apaixonado por mim!

Watney comprimiu os lábios, exasperado.

— Acho que apaixonado é um termo meio forte...

— Você me ama pra cacete— ela reforçou, rindo na cara dele. – Ai, que maravilhoso, você nunca vai se desprender de mim – disse, orgulhosa, levantando-se e caminhando, enquanto refletia e ria consigo mesma.

Watney a olhou de costas e sorriu consigo mesmo. O sorriso de Carter o fazia sorrir.

— Acho que não vou, mesmo – disse baixo para si mesmo.

...

— Jessie! – gritou Watney, animado. – Jessica!

Carter parou de correr na cozinha, ofegante.

— O que foi? – perguntou, tensa.

— Vem ver isso! – ele disse, ajoelhado no chão, com um sorriso no rosto.

— Que susto, Mark...

— Vem logo!

Carter decidiu não contestar mais. Foi até o local e ajoelhou-se ao lado dele. Logo, a alegria a invadiu também.

Um pequeno broto de batata se erguia do chão. Era pequeno, mas era um broto bonito, saudável, folhas bem verdes e, mais importante: era real.

— Oi, broto – disse Watney, solene e alegre. A alegria contagiava Carter.

Os dois olharam para o brotinho por mais algum tempo. Era um orgulho. Era uma vitória. Era um sinal de que os dois realmente tinham uma chance de sobreviver.

— É como um bebê Watney – ele observou, virando-se para ela com um sorriso malandro no rosto.

— Um bebê Carter-Watney — corrigiu Carter com uma sobrancelha erguida, mas nada abalaria a felicidade daquele momento.

Touché — cedeu ele, os dois voltando seus olhares para o broto. – O importante é que ele existe. Isso aqui representa a nossa real chance de ir embora.

— Nós vamos mesmo conseguir? – disse Carter, emocionada, virando seu corpo para o dele.

— Nós vamos mesmo conseguir – ele confirmou, virando-se também para ela.

Em meio a essa troca de sorrisos naquele ambiente alegre, Carter aproximou seu rosto do de Watney e beijou seus lábios. Beijou-o calmamente, apenas pensando em uma forma de expressar sua felicidade. Watney tocou o rosto dela e tentou depositar todo o carinho que sentia pela parceira no beijo. Uma vez que os movimentos de seus lábios foram sincronizados e estabilizados, Carter afastou seu rosto do dele, sutilmente assustada.

Bem quando ele estava gostando!

Ainda com os olhos arregalados e surpresos, ela sorriu para ele. Watney devolveu o sorriso com cumplicidade.

De várias formas e com vários sentidos diferentes, aquele broto representou um símbolo. Um sinal. Um lembrete. A verdadeira causa de tudo aquilo, de todo o esforço, aquele broto reavivou uma chama dentro deles: a esperança.


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Notas finais do capítulo

Ooooooooh, minha nossa, quantas revelações! Que absurdo! Hihihi, quanta coisa. Carter e Watney trocaram um beijo! Quem diria? Oh, minha nossa, que delícia! Pra mim, esse capítulo foi ótimo. E pra vcs? Mais uma vez eu dei uma olhada nas estatísticas. Ontem (03/01) tivemos 8 acessos. Foi quase um recorde. Adoraria saber o que vocês estão achando. Na verdade, segundo as estatísticas, eu só tenho um leitor fiel. De qualquer forma, eu adoraria te conhecer, saber o que você está achando. Comente qualquer coisa! Um "oi" já vai me satisfazer. O próximo capítulo vai ser meu presente de Natal atrasado, huehuehue. #CarteyIsComing
Até daqui a duas quartas!
Mamain ama vcs ♥



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