Family Portrait escrita por franmadaraki


Capítulo 1
O peso das palavras


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, trago pra vocês a minha terceira oneshot de Voltron, dessa vez centrada na nossa querida Pidge/Katie. Eu sempre a achei uma personagem tão legal e profunda, então queria escrever um pouquinho sobre a visão que ela tem dos personagens e dos acontecimentos que a marcaram.

Enfim, essa é uma fic que é ligada as minhas outras oneshots (Você não precisa ler as outras para entender a história), como eu expliquei em "Quando as luzes se acenderem novamente", as oneshots não possuem ordem cronológica e funcionam como peças de quebra-cabeças.

Aproveitem a leitura e bye-bye o/



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“Mais uma vez a pista não serviu para nada” – Katie pensou enquanto estava mexendo no seu inseparável notebook.

Já fazia quanto tempo que estava no espaço, longe de casa? Sentia falta do pai, do irmão... Até da mãe, com quem sempre brigava. Quando a fatídica notícia foi anunciada, todos os anos pareciam ter chegado de uma vez para a pobre mulher que agora passava a maior parte do tempo apática, olhando pela janela da sala, como se esperasse o marido e o filho voltarem.

Katie achava-a fraca, ela só tinha 14 anos e sabia lidar com a situação melhor do que a mãe, descobriria a verdade, não ficaria se lamentando. Foi com esse pensamento que se disfarçou de Pidge e entrou na academia, porém nunca esperaria que o pai e o irmão ainda pudessem estar vivos.

Entretanto não importava o quanto procurasse, a pista deles sempre lhe fugia pelas mãos. Depois que o momento de euforia pelo Voltron passou, restou-lhe apenas a saudade, que pareceu vir maior o que antes. Pegou-se pensando na mãe, como ela estaria agora, o que estaria fazendo... Mas tratou de espantar aquilo tudo da cabeça.

“Coisas assim só servem para me entristecer, e isso não adianta de nada”

Muita coisa tinha acontecido desde então: Saíram do planeta de Allura a procura do inimigo, libertaram a Balmera e ela mesma quase abandonou a equipe.

Acha que só você perdeu alguém?!

“As palavras de Keith ecoaram na minha cabeça. Apesar de não serem as responsáveis por eu ficar, não posso negar que elas mexeram comigo. Naquela hora eu estava enfurecida e não enxergava muito bem o que estava acontecendo ao meu redor, mas analisando agora com mais calma, eu pude perceber que ele estava com raiva. “

“De mim? Do meu egoísmo? Provavelmente sim, Keith parece sempre estar com raiva, talvez esse seja o seu estado natural. Além disso, muitas coisas foram ditas naquele dia e eu sinto que exagerei com Allura”.

Só que o meu pai está vivo em algum lugar da galáxia!

“Eu não deveria ter dito aquilo

Eu não deveria ter dito aquilo

Eu não deveria ter dito aquilo”

Katie se movia de um lado para o outro, remoendo os erros do passado. Ela sabia o que tinha de ser feito, deveria pedir desculpa para Allura, não iria sossegar até tirar aquele peso do peito, mas estava envergonhada.

— E se eu não tocar mais no assunto e deixar pra lá? Droga Katie, você é tão covarde! – A menina deu tapas no rosto e preparou-se para sair do quarto – Você sabe o que deve fazer, droga!

Por fim estava andando pelos corredores, procurando pela princesa de Alteia, quando viu Hunk e Lance conversando ruidosamente. Aquela cena a fez lembrar dos tempos de academia e por um segundo imaginou o ambiente vazio da nave cheio de pessoas, elas passavam encarando o trio que conversava sem prestar atenção nos demais, Lance era o que sempre falava mais alto, fantasiando sobre as suas futuras conquistas e como venceu Keith.

Ele não o venceu, mas como moreno foi expulso por mal comportamento, como diziam as más línguas, e Lance conseguiu a vaga de piloto, ele dizia por aí que o venceu. Aquilo nunca fez sentido para Katie, mas a burrice do amigo dava-a dor de cabeça, por isso não costumava contestá-lo. Hunk também não, mas porque acreditava que Lance era assim mesmo e não tinha o que fazer, Katie sempre achou Hunk um bom garoto, menos quando ele vomitava no simulador. 

— Ei Pidge! O que tá fazendo aí parado com essa boca aberta?! – Lance contestou.

— Não tô com a boca aberta!

— Tá sim, né não Hunk?!

— Aconteceu alguma coisa Pidge?

— Não, eu hã... Viram a Princesa Allura?

— Ah, o meu amorzinho. – Lance disse, fantasiando.

— Ela preferiria morrer a ser seu amorzinho, Lance.

— Pidge está com inveja porque eu consegui uma mulher linda e graciosa e ele não.

“Mesmo a contragosto eu tenho que tirar o meu chapéu pro Lance. Aposto que se a nossa nave fosse construída com o ego dele, não quebraria nunca.”

— Ela deve estar na sala de treinamento com Shiro e Keith. – Hunk respondeu a pergunta de Katie, ainda ostentando um olhar desconfiado.

— Obrigado, eu vou procurar por lá.

Saiu em direção a sala de treinamento, sem fingir que viu o olhar que Hunk lançou. Os dois perceberam que ela não estava bem, afinal estavam juntos por muito tempo. Mesmo naqueles dias de academia, onde ela parecia sempre tão distante e desinteressada. A menina não sabia por que os dois se aproximaram dela, mas desde aquele dia os três nunca mais se separaram.

A verdade é que Pidge os invejava por serem tão despreocupados enquanto ela estava sofrendo pela perda da sua família. Toda vez que Lance parava para contar sobre a mãe ou sobre os seus numerosos irmãos, Katie sentia algo preso na sua garganta fazendo força para sair. Mas agora, vendo-os assim, ainda com saudades e com a mesma atitude, ela os admira secretamente pela força de vontade. Contudo nunca contará a Lance nem se a sua vida dependesse disso, preferiria cortar a língua.

Quando estava chegando perto da sala de treinamento, ouviu vozes e um baque surdo, indicando que alguém estava treinando com o robô. Aproximou-se da porta e viu Keith no chão, coçando a cabeça.

— Você deixou muita abertura no lado esquerdo! – Shiro falou.

— Eu sei, eu sei...

Keith se levantou e foi em direção ao robô, com a sua espada na mão direita. Allura não estava com eles, então ela não tinha nada a fazer naquela sala, porém o seu olhar demorou um pouco mais em Shiro.

“Esse homem estava com a minha família na missão Cerberus. Ele foi o único que voltou depois de um ano desaparecido.”

O tempo em que Katie e Shiro passaram sob o mesmo teto pode ser dito como conturbado, principalmente quando ela ficou sabendo da alcunha de “campeão” que o líder carregava e que ele atacou a sua família na arena. Naquele momento ela sentiu o sangue ferver, nunca sentira tanto ódio de alguém na vida, chegou a desejar que Shiro morresse e nunca tivesse voltado para a Terra.

Depois Shiro lhe contou que fez aquilo para protege-los, evitando que lutassem, afinal ninguém da família Holt era perito em combate. Katie sentiu vergonha, ainda mais porque o desejo de que a sua família voltasse em vez de Shiro permanecia e as vezes se fazia ouvir em seus pensamentos, sentia-se suja, desesperada.

Keith avançava com cautela, observando se o robô deixava transparecer algum ponto fraco, depois de uns minutos tentando, o paladino vermelho finalmente consegue achar uma abertura e acerta o robô no peito. Contudo o nível de treinamento estava mais avançado, o que faz a criatura mecânica se recuperar facilmente e desferir um golpe certeiro em Keith, que sai rolando pelo chão.

— Eu quase peguei ele!

 Por algum motivo Shiro acha aquilo tudo muito engraçado, esboçando um sorriso que Katie achou estranho. Primeiramente porque o líder quase não sorria, sempre estava sério e pensando em algo que o time preferia ignorar, pois ninguém tinha coragem de perguntar sobre o ano infernal que Shiro viveu com os Galras, nem mesmo Keith.

Segundamente, aquele era um sorriso de alguém que há muito tinha esquecido de como rir. Não era natural e o paladino negro parecia desconfortável, Katie achou a cena de partir o coração. Ela lembrava do antigo Shirogane, os dois não se falavam muito, só trocavam algumas palavras quando ele ia visitar Matt, porém tinha algo no semblante daquele jovem de 21 anos que a fazia lembrar de um personagem daqueles filmes estúpidos de contos de fadas.

Talvez fosse pelo uniforme que combinava tanto com o porte altivo do cadete, adicionado a uma personalidade galante e voilà, temos o nosso príncipe encantado. Katie lembrava como Shirogane estava sempre de bom humor, tudo para ele era motivo de riso, porém o Shiro de hoje é diferente; passaram-se apenas um ano terrestre desde que a tripulação partiu para a lua de Plutão, porém o paladino negro parecia ter envelhecido uns 4 anos.

O seu semblante era pesado e era possível ver algumas linhas de expressão quando ele franzia o cenho, incomum para alguém de apenas 22 anos. Além disso o seu cabelo, que antes era de um castanho escuro muito bem cortado, agora estava branco na região da testa, contribuindo para deixar Shiro ainda mais velho. No rosto era possível ver uma cicatriz extensa, sem falar do assustador braço mecânico.

Katie tremia só de pensar no que deveria ter acontecido para que o líder perdesse o braço e tremia mais ainda em pensar sobre o que aconteceu com a sua família naquela maldita prisão. Estaria o seu pai mutilado também? E Matt? O irmão era um ótimo engenheiro, tudo o que Katie aprendeu sobre mecânica foi graças a ele, porém o pobre Matt era magrelo e desengonçado.

— Tudo bem Pidge?

— Oi? – Disse a garota, voltando a realidade.

— Você... Bem, aconteceu alguma coisa? – Shiro perguntou, coçando a nuca.

— Não, não, eu só estava viajando um pouco.

— Entendo... – O mais velho preferiu não forçar o assunto, já que a mais nova se recusava a falar.

— Viu a Princesa Allura por aí? – Katie mudou rapidamente de assunto.

— Ela não está com Coran? – Keith perguntou a Shiro.

— Provavelmente. Já foi na sala de controle? Ela costuma ficar lá, estudando mapas.

— Irei até lá, obrigado.

Saiu correndo pelos corredores, mais para se afastar de Shiro, pois não queria conversar com ele sobre o que estava pensando, principalmente porque esse assunto também o envolve. Chegou até a sala de controle e Allura estava sozinha, o que é raro, pois Coran sempre estava ao lado da princesa de Altea.

— Princesa Allura?

— Oh, é você Pidge? O que deseja?

— Se eu estiver incomodando, volto mais tarde. – A menina disse timidamente. Saiu do quarto bastante determinada, mas agora sentia-se nervosa.

— Não, tudo bem, eu só estava confirmando a nossa rota.

Katie se aproximou da princesa, envergonhada. Tinha ficado tão imersa em pensamentos que não ensaiou o pedido de desculpas.

— Eu... Hã...Eu... Eu quero pedir desculpas pelo que eu disse naquele dia!

Allura, que sempre mantinha uma postura inabalável deixou transparecer a sua surpresa. Essa não seria a primeira vez que não saberia agir em uma situação, mas era a primeira em que demonstrava insegurança para um membro da equipe, mesmo assim tentou disfarçar o desconforto que sentia.

— Desculpas? Sobre o que?

— Sobre aquele dia em que eu resolvi abandonar vocês.

— Ora Pidge, não precisa se desculpar, no final deu tudo certo e você permaneceu conosco.

— Não é sobre isso que eu vim me desculpar... É sobre o que eu disse aquele dia. Eu não deveria dizer aquilo sobre o seu pai. Eu agi como uma criança mimada e birrenta e não percebi que você perdeu tanto quanto eu, me desculpe.

Allura a olhou emocionada, pois não esperava que Pidge fosse se abrir com ela sobre o assunto,a princesa sempre achou o Palladino verde muito fechado e desconfiado, o que fazia sentido se o que os ratos disseram sobre ele for realmente verdade.

— Eu entendo a sua dor Pidge, eu sei como é quando tudo está bem e de repente toda a sua família se foi, mas você tem razão, o seu pai e o seu irmão ainda estão vivos em algum lugar e nós vamos achá-los.

Katie esfregou os olhos, tentando fazer com que algumas lágrimas parassem de cair. “Que vergonha, eu vim me redimir por um erro que cometi e em vez de um simples eu te perdoo, Allura me dá esperança”. – Pensou a menina.

— Eu sinto muito mesmo Allura, mas é que dói tanto. Eu sempre penso que Keith está sempre com raiva, mas a verdade é que eu também estou. Desde o dia em que eu fiquei sabendo do acidente com a nave em que a minha família estava, o ódio foi o que me moveu, era ele que não permitia que eu ficasse igual a minha mãe, mesmo assim... Mesmo assim o meu peito dói.

A princesa se apiedou do pobre paladino, ela sabia mais do que ninguém quantas vezes se viu lutando contra a vontade de odiar tudo e todos. Talvez ela só conseguiu porque os paladinos e Coran estavam com ela na hora do desespero, se ela tivesse acordado sozinha naquele castelo vazio, com certeza seria tomada pelo ódio e pela tristeza. Sabendo de tudo isso, a princesa abraçou Katie e a deixou chorar, quem sabe as lágrimas levem a tristeza das duas embora?

No dia seguinte Katie tomou outra decisão, iria contar para todos quem realmente era, estava na hora de acabar com os segredos, pelo bem da equipe e de si mesma. Não poderia mais negar, precisava dos amigos e sabia que eles não iriam abandoná-la. Shiro já sabia, agora só faltava o restante da tripulação; Katie ficou imagiando o que Hunk e Lance iriam falar e riu com os próprios pensamentos. Com esse sentimento, ela rumou para a cozinha onde todos se reuniam para o almoço.

Os Galras ainda estão tentando tomar a galáxia e a sua família ainda está desaparecida, mas Katie finalmente compreendeu que se ela ficar junto dos seus amigos, tudo ficará bem, pois eles estarão sempre com ela, na alegria e na tristeza.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem Family Portrait!

Deixem-me saber o que acharam da fic, por favor, significa muito pra mim ^^

Bye e até a próxima o/



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