Ela saiu da cafeteria correndo. Estava preocupada com seu irmãozinho. A quanto tempo ele estaria sozinho? Onde ele estaria? Ela tinha uma breve idéia. Correu o mais rápido que pode em direção ao Central Park. Lá correu olhando à sua volta tentando encontra-lo. Parou ao ver um garotinho sentado no chão, encostado numa árvore, encolhido e abraçando as próprias pernas. Ela aproximou-se delicadamente e reconhecendo seu irmão, abraçou-o com força, sentindo-o tremer.

- Meu pequeno, você está bem?_ ela sussurrou

Ele abraçou-a com toda força que tinha e começou a chorar.

- Shiuu, calma, calma, eu estou aqui._ela ainda abraçava-o, ninando-o, tentando acalma-lo.

- Annnne você sumiu_ ele disse choroso

- Não sumi não pequeno. Não estou aqui?_ ela disse sorrindo para ele.

- Está_ disse olhando-a com os olhinhos cheios de lágrimas.

- O que aconteceu? Por que você saiu do quarto? Eu te disse que ia voltar logo_ ela sentou encostada na árvore colocando Julian em seu colo

- Eu estava assistindo filme, ai a mamãe entrou no quarto e disse que queria sair e ai ela não te viu e começou a falar que você era uma pessoa ruim e irresponsável. E eu falei pra ela que você era uma menina boa_ ele dizia abraçando com força sua irmã_ e ela começou a gritar comigo e ai eu fiquei com medo e fugi._ Angie sorrio ao imaginar a cena de sua mãe sendo afrontada pelo seu irmãozinho_ Ane eu não gosto quando a mamãe grita

Angie sorri abraçando seu irmão_ Nem eu pequeno. Nem eu.

- Ane, por que você ta com a boca machucada?_ ele passou seus dedinhos suaves sobre o machucado dela

- Não foi nada

- A mamãe que fez isso?_ Angie afirmou com a cabeça_ Ela é uma pessoa má. _ Julian encostou a cabeça no ombro de sua irmã e ficou lá sentindo- se  protegido por ela.

~*~

- Hey pequeno, que tal um sorvete?_ ela fala após algum tempo

- Pode ser de chocolate? _ele pergunta sorrindo

- Humm, vou pensar no seu caso_ ela sorri fazendo cara de pensativa

- Aaa, por favorrrr_ ele faz biquinho

- E o que eu vou ganhar?

- Um beijãooooo e um abraço_ ele ri e dá um beijo estalado na bochecha de sua irmã e um abraço bem apertado.

- Então ta. Vamos tomar sorvete de chocolate. _ ela levanta, levando Julian no colo.

~*~

- E eles viveram felizes para sempre_ Angie terminara de ler o livro da Cinderela para Julian, que estava sem seu colo sentado olhando as luzes da cidade, que começavam a se acender.

- Ai Ane... essa história é tão bonita. Isso me lembra de você

- De mim? Por que de mim?_ ela olhava para o irmão que tinha uma cara pensativa

- Porque na história a Cinderela tem duas irmãs e uma madrasta má que judiam dela e ela é muito boazinha e ajuda todo mundo, até os ratinhos._ ele explicava_ E você tem uma mãe má e também é boazinha e me ajuda.

Ela ri do pensamento dele.

- Só que você ainda não perdeu o sapatinho de cristal e ainda não tem um príncipe_ ele franziu o cenho_ sabe eu não quero que você arranje um príncipe.

- A é? E por que não?_ ela riu da expressão dele

- Porque senão você vai amar mais ele e vai me deixar_ ele a abraçou_ eu não quero que você me deixe

- Oww_ ela sempre se derretia por seu pequeno irmãozinho_ eu nunca vou deixar você. E quer saber de uma coisa? Eu não trocaria você por nenhum príncipe do mundo. Pois você é meu principezinho.

Ele sorriu e beijou o rosto da irmã, logo em seguida coçando os olhinhos.

- Está com sono?

- Um pouco

- Então vamos para o hotel. Deve ser tarde, já está escurecendo_ ela olhou para o céu.

Julian pegou na mão dela e seguiram ao hotel, indo diretamente ao quarto.

- Nossa é tarde mesmo._ afirmou olhando para o relógio que mostrava 19:30._ Acho melhor você tomar um banho e dormir. Está com fome?

- Não. Ane eu tenho mesmo que tomar banho?_disse fazendo uma careta

- É claro que tem, seu porquinho_ disse rindo dele_ Vamos, eu vou separar sua roupa enquanto você liga o chuveiro.

- Aaaaa, eu não sou porquinho_ ele protestou parando na porta do banheiro ao ouvir batidas na porta do quarto.

- Julian vá para o banheiro, eu já vou levar sua roupa_ disse indo em direção à porta.

- Onde ele está?_ Susan invadiu o quarto procurando por Julian

- Ele quem?_ Angie perguntava já sabendo a quem ele se referia

- Angie, onde está seu irmão?_ ela estava muito nervosa

- Pra que você quer saber? Você nunca deu atenção a ele.

- Ele precisa aprender uma lição_ Susan andou até o banheiro encontrando Julian que correu porta a fora indo para junto de sua irmã._ Julian volte aqui

- Você não vai encostar um dedo nele_ Angie ficou nervosa. Angie até admitia que sua mãe brigasse com ela, mas com seu irmão não. Ele era um menino quieto e muito educado, nunca aprontava nenhuma arte e quando ele fazia algo errado era Angie que o castigava. Não com tapas, mas sim com uma boa conversa.

- Angie [i]eu[/i] sou a mãe dele. Ele fugiu e me desrespeitou, por isso merece um castigo_ Julian que estava atrás de sua irmã segurando na sua blusa tremeu.

- Você nunca foi mãe. Você nunca cuidou dele ou de mim. Não venha agora querer dar uma de responsável. Quem é você para isso?_

- Angie eu não vou brigar com você_ Susan foi pra cima de Angie, tentando pegar Julian_ Angie saia da frente_ Susan começou a bater em Angie, tentando tira-la da frente.

- Você não vai bater nele_ Angie gritava e Julian foi para o lado da cama e se encolheu chorando.

Susan então empurrou Angie fazendo-a perder o equilíbrio e bater a cabeça na cômoda que havia lá. Ao ver isso Julian gritou e se levantou indo em direção à irmã. Susan olhou para Angie desmaiada no chão e viu sangue em sua cabeça. Ela começou a chorar e saiu do quarto. Julian foi em direção a sua irmã e começou a chamá-la, sacudindo-a.

- Ane...Angie... irmãzinha, irmãzinha fala comigo. _ ele chorava desesperadamente, vendo que sua irmã não acordava_ Angieee_ ele gritava. Resolveu ir buscar ajuda, saiu correndo porta a fora parando um homem no corredor._ Moço, moço, moço, me ajuda_ ele chorava e puxava a mão do homem.

- Ei, ei, ei. Calma ai garoto. O que foi?_ perguntou ele calmamente.

- Ajuda a minha irmã por favor_ ele disse puxando o moço pela mão até o quarto.

Ele entrou e viu Angie caída com a cabeça ferida.

- Angie?_ o homem se espantou ao ver Angie naquele estado

- Você conhece minha irmã?_ Julian perguntou confuso

- É digamos que sim_ ele pegou Angie no colo e saiu do quarto com ela sendo seguido de perto por Julian.

~*~

- Hey Gee onde você tava, eu tava te..._ Bob vinha na direção de Gerard no corredor até reparar que ele estava com Angie em seu colo_ God o que aconteceu?

- Eu não sei Bob, ela estava desmaiada no quarto. Vem vamos leva-la para o hospital, ela parece estar ferida.

Bob foi seguindo na frente, pegaram um táxi e foram para o hospital. Angie foi levada pelos enfermeiros enquanto Gerard, Bob e Julian ficaram na sala de espera. Julian estava sentado encolhido num cantinho chorando muito, Gerard estava indo e vindo da recepção tentando conseguir alguma notícia de Angie e Bob estava sentado olhando.

- Hey Gee é melhor alguém ir falar com ele_ disse apontando para Julian

- Tem razão_ Gerard se encaminhou até Julian, sentando ao seu lado.

- Hey garotinho tudo bem?_ ele perguntou vendo Julian se encolher mais ainda_ você é o irmão da Angie não é?_ Julian levantou a cabeça mostrando seu rostinho vermelho e inchado de chorar.

- Você conhece minha irmã então?_ perguntou entre soluços

- A conheci hoje. Ela parece ser uma garota bem legal_ Gerard sorri e

Julian afirmou com a cabeça. Um enfermeiro entra na sala.

- Vocês são parentes da garota que estava desmaiada?

- Somos amigos_ disse Gerard levantando-se rapidamente.

- Como ela está?_ Bob perguntou

- Ela está acordada e bem. Não teve nenhum ferimento grave. Só uma luxação no pulso esquerdo e uma ferida na cabeça.

- Podemos vê-la?

- Claro. Ela está no quarto 15 B.

- Obrigado_ Gerard agradeceu_ Hey vamos ir ver sua irmã?_ Gerard perguntou a Julian que se levantou correndo e foi para junto de Gerard.

Os três seguiram ao quarto indicado. Gerard bateu na porta e entrou, encontrando Angie olhando pela janela.

- Oi_ ele disse timidamente, tentando chamar a atenção.

- Oi_ ela disse virando-se para identificar quem falava

- Tudo bem?

- É, to bem_ disse sem interesse

- Er..acho que tinha alguém muito preocupado com você_ disse mostrando a porta onde Julian entrava, seguido de Bob.

- Annne _ Julian choramingou e correu até a irmã jogando-se em cima dela a abraçando

- Hey pequeno_ ela sorriu ao ver seu irmãozinho.

- Ele estava realmente muito preocupado com você_ Gerard falou

Angie abraçou Julian. _ calma pequeno eu to bem, pára de chorar.

- Angie você não acordava, eu fiquei com medo. _ ele disse com os olhos inchados.

- Mas agora está tudo bem. Ta tudo bem_ ela acariciava os cabelos dele

- Ele que ajudou você _ Julian disse apontando para Gerard

Angie ficou sem graça ao perceber para quem Julian apontava.­_ Ajudou é?

- É ele te pego no colo e te trouxe pra cá.

Angie abaixou a cabeça. Ela havia ficado vermelha.

- Angie o que aconteceu? Por que você estava com uma ferida na cabeça?_

Gerard perguntou sério

Angie olhou para a janela e depois para seu irmão. _ Hey Julian, você comeu algo?_ Ele sacudiu a cabeça negativamente

- Er... Julian né?!_ Bob falara_ Julian vamos pegar algo para comer? Assim nós trazemos alguma coisa gostosa para sua irmã.

Julian olhou Angie que assentiu com a cabeça. Bob saiu do quarto sendo seguido por Julian. Gerard sentou-se na beira da cama e voltou a perguntar.

- Angie, me fale, por favor. O que aconteceu? Essa ferida foi culpa da sua mãe?

Ela olhou para ele. Não era fácil para ela falar sobre isso. Ela nunca havia contado para ninguém que sua mãe a espancava, apesar disso ficar claro às vezes.

- Sabe, eu não culpo minha mãe. Ela é somente mais uma pessoa que nada sabe da vida e por isso desconta seu fracasso nos outros. _ ela disse pensativa

- Mas o que aconteceu realmente?

- Bem meu irmão fugiu do quarto do hotel, onde nós dois ficamos. Não que isso seja grande coisa, mas para ele é. Sabe, ele é um menino muito responsável, apesar de pequeno. Ele é inteligente e esperto. _ ela sorriu

- Eu reparei. Ele gosta muito de você.

- É ele gosta. Eu sempre cuidei dele, desde que ele era um bebe.._ ela então contou para ele o que ocorreu mais cedo. Desde a briga que havia tido com sua mãe na frente do hotel, o passeio com Julian e a briga no quarto.

- Mas ela já havia batido antes em você?_ ele disse espantado

- Sim, ela desconta as frustrações dela em mim. Mas eu não me importo mais. Eu só não fui embora ainda, porque não quero deixar o Julian sozinho. Ele não agüentaria, eu não quero que ele seja uma pessoa como eu_ ela virou o rosto para a janela, tentando esconder a lágrima que escorrera por seu rosto.

- Hey Angie, você é uma pessoa maravilhosa. Quem mais agüentaria o que você agüenta por outra pessoa? Você é uma ótima pessoa. Bondosa, bonita, delicada. _ Gerard passava a mão pelo rosto dela enxugando a lágrima.

Ela o abraçou e sorriu_ Obrigada.

O médico entrou no quarto, pegando-os abraçados, ele sorriu.

- Caham_ limpou a garganta para conseguir a atenção e conseguindo-a, deixando ambos vermelhos. _ Bem, eu só passei para avisar que a paciente pode sair, ela já teve alta. Não houve nada grave, mas eu só gostaria de saber como você machucou a cabeça?

Angie olhou para Gerard e abaixou a cabeça

- Bem... Er... _ ela estava tentando falar algo_ eu tropecei e cai, bati a cabeça no canto do móvel. _ ela disse olhando para o medico

- OK. Bem dessa vez não houve danos, mas eu te peço que tome cuidado. Feridas na cabeça geralmente acarretam problemas sérios, ta? Agora vou deixar vocês a sós, para que possa se trocar e sair_ o medico acenou e saiu.

- Você não deveria encobrir sua mãe. _ Gerard a censurou

- E o que você queria que e fizesse? _ ela disse levantando da cama e olhando para Gerard_ Se eu acusar minha mãe e ela for indiciada ela pode perder a guarda e meu irmão pode parar num orfanato. Não muito obrigada, eu prefiro proteger meu irmão do meu jeito.

- Bem, er... _ ele olhou Angie que estava com aquelas camisolas de hospital semitransparentes e corou

Ela então percebeu o que ele estava olhando e ruborizou. _ vou me trocar, volto já. _ ela foi rápido para o banheiro e se trocou, saindo sem muita demora, encontrando um Gerard pensativo sentado na cama_ estou pronta, vamos?

- Ah, vamos sim_ ele se levantou e se dirigiu com ela para fora do quarto_ vamos até a recepção pra eu poder assinar sua alta.

Encaminharam-se até a recepção, Gerard resolveu o assunto pendente, fechou a conta no hospital, acertou tudo e foram até a lanchonete onde Bob e Julian se encontravam, o pequeno garoto correu para os braços de sua irmã, sendo recebido por um abraço carinhoso. Foram embora. No caminho de volta ao hotel, Angie se encolheu em um canto do táxi, olhava pela janela pensativa. Tentava organizar sua vida mentalmente, não achava certo que seu irmão crescesse no mesmo ambiente que o seu. Queria uma outra vida para ele, pensou em fazer o que Gerard lhe disse. Denunciar sua mãe por lesão corporal, mas sabia o risco que Julian corria de parar em um orfanato. Não queria ver seu pequeno irmão em um orfanato qualquer. Decidiu ficar quieta, deixar passar. Deixar que o tempo apagasse mais uma cicatriz que sua mãe fez a ela, não fisicamente, mas mentalmente.

Chegaram ao hotel, Angie agradeceu toda a atenção dos meninos, despediu-se de cada um com um beijo no rosto, mas em Gerard, digamos que o beijo foi mais demorado. Corou com isso, subiu rapidamente para seu quarto, colocou seu irmão para dormi. Sua mãe estava no quarto ao lado dormindo. Sentou-se na ponta de sua cama, olhava a lua pela janela que dava de frente para a mesma. Estava pensando naquele belo par de olhos verde-oliva, não sabia o motivo, mas Gerard mexia com seus sentimentos. Não estava apaixonada, não, longe disso. Estava grata pelo que ele fez por ela, simplesmente se importou com seu estado, isso a encantou.

Deitou-se na cama, sorria para si mesma, pensava em sua voz, eu seus gestos. A maneira que seus olhos se apertam quando ele sorria, suas bochechas com uma leve coloração, a pele alva. Os cabelos negros, lisos e perfeitamente bagunçados. Seu nariz perfeitinho, seu sorriso encantador. Ela não sabia o descrever, diria que ele era seu anjo da guarda. Mas, anjos da guarda não costumam mexer com suas protegidas, não costumam ter um toque macio e nem costumam serem lindos.